Capítulo I

- Duas semanas antes do Natal -

- Então – Hermione começou – aquela aluna da escola de magia dos EUA, como é mesmo o nome dela?

- Não faço ideia, Granger – Severo respondeu, sem tirar os olhos do artigo que estava lendo. Hermione segurou a vontade de exalar sua frustração com o homem, e continuou.

- Eliza? Elizabeth? Elaine? – perguntou, sem fazer o mínimo esforço para esconder o seu desdém.

- Não faço ideia – ele repetiu distraído, colocando um pedaço de torrada na boca enquanto passava mais uma página do artigo.

- Ela passou quase uma hora conversando com você ontem. Você a conhecia?

- Hm? – ele ainda não estava prestando a menor atenção, e Hermione foi forçada a perguntar com uma entonação mas forte.

- Você a conheceu antes daqui? De Hogwarts? Da escola onde estamos sentados agora, comendo?

- Qual é o seu ponto, Granger? – Ele finalmente perguntou, deixando o artigo e o café da manhã de lado para olhar para Hermione.

- Ela parecia bastante interessada na sua pesquisa. – ela deu de ombros, tentando parecer desinteressada.

- E? - ele perguntou, impaciente.

- E?! Não tem "e", Severo. Só estou dizendo. – ela revirou os olhos, empurrando o garfo com um pedaço de bacon de volta para o prato.

- Se tem uma coisa que você não é, Hermione, é sutil. Então você pode desenrolar para que essa conversa exasperante acabe logo? Tenho um artigo para ler. – Ele disse, pontuando cada sílaba da frase com a sua impaciência.

- Quer saber? - Hermione começou, levantando da mesa abruptamente - Não importa. Se é tão exasperante - pontuou - conversar comigo, estou saindo para o dia. Aproveite seu café da manhã. - E sem olhar de volta, ela deixou um Severo boquiaberto e sussurros curiosos para trás.

- Algo errado, Severo? – Minerva perguntou, estranhando o comportamento abrupto de Hermione. – O que você disse para a Senhorita Granger?

- Eu?! Por que você acha que foi minha culpa? – ele a olhou com raiva, frustrado por sempre presumirem o pior dele.

- Não quis dizer isso, Severo. – Minerva deu um tapinha amigável na mão dele – Quis dizer que as vezes falamos coisas que magoam os outros sem perceber. E você e a Hermione são amigos a quanto tempo agora? Três anos?

- Quatro anos e dois meses. – Severo respondeu, se batendo internamente pela precisão. Se ele não estivesse tão perdido tentando entender o que fizera para Hermione sair daquele jeito teria percebido o olhar malicioso de Minerva. – Ela ficou perguntando sobre aquela estudante americana que você aceitou como estagiária de Pomona.

- Eliza Page?

- Tanto faz. Eu nem sei o nome da garota. Mas parece que, por algum motivo, Hermione não gosta dela. – Severo resmungou, deixando o prato de torradas de lado. Perdera completamente o apetite.

- Oh, Severo! – Minerva riu discretamente, sem atrair a atenção dos alunos e dos demais na mesa – Você é um dos homens mais inteligentes que já conheci, mas não percebe as coisas mais óbvias.

- O que quer dizer, Minerva? Essa garota americana, tem motivos para Hermione não gostar dela? Ela disse algo ruim para Hermione?

- Nada disso, Severo. Merlin, menino, vá falar com a sua garota. – Minerva disse, se segurando para não bater no homem.

- Minha garota?! Minerva! Ela, ela... Ela não é minha garota. – ele gaguejou de volta, corando – Você não pode falar assim dos seus funcionários. Você é a diretora!

- Sim, sim, claro. Vá falar com a Senhorita Granger, então. Sinceramente, não sei como a Hermione aguenta você. Não acha que quatro anos de amizade seriam suficientes para pular os segundos nomes.

- Quando estamos sozinhos nos chamamos pelo primeiro nome, e... Sinceramente? Não é da sua conta. – e com raiva, ele deixou o Grande Salão pela lateral, decidido a não procurar por Hermione.

E ao mesmo tempo sabendo que faria exatamente o contrário.

...

Não foi difícil encontrá-la. Ela estava no lugar que sempre ia quando precisava ficar sozinha, e Severo sabia disso porque ela mesma havia contado. Seu cabelo inconfundível voava para todos os lados enquanto ela inutilmente tentava conter, e era em momentos como estes que Severo sabia que nunca deixaria de amá-la.

- Eu não disse que conversar com você é exasperante - a voz de barítono soou atrás dela, suave. Hermione estremeceu com o arrepio que aquele tom causava nela, fechando os olhos para tentar conter o ritmo do seu batimento cardíaco.

- Está tudo bem, Severo. Eu fui tola. - Ela finalmente conseguiu dizer, resolutamente de costas para ele para que não pudesse ver seus olhos vermelhos de tanto chorar.

- Desculpe se fui rude no café da manhã, o artigo prendeu a minha atenção. – ele tentou, torcendo nervosamente as mãos que estavam cruzadas nas costas.

- Não, está tudo bem. Realmente.

- Você vai me dizer o que está errado? - Perguntou, ainda suave e atencioso, essa parte maravilhosa do homem que ela teve oportunidade de conhecer e amar. Mas isso não facilitava em nada a vida dela. Por que ele não podia ser simplesmente horrível? Talvez fosse mais fácil esquecê-lo.

- Não há nada de errado. Eu só estou... Nostálgica. Essa época do ano é difícil. - Não era uma mentira, o Natal era realmente uma data difícil para ela, uma lembrança constante daquela fatídica noite em que ela e Harry passaram no cemitério, pouco antes de serem atacados por Nagini.

- Entendo – ele se recriminou por não conseguir ter mais tato, por não conseguir se aproximar dela e colocar a mão nos seus ombros delicados, puxá-la para um abraço. – Há algo que eu possa fazer? – perguntou, implorando para que ela percebesse, pelas suas palavras simples, o peso do seu significado. Que ele faria qualquer coisa pela sua felicidade.

- Eu só quero ficar sozinha. – e foi como uma punhalada nas costas do bruxo taciturno. Ela nunca havia pedido isso a ele. Nunca. Eles tinham compartilhado todos os seus traumas e tristezas nos últimos quatro anos, desde que ela começara a trabalhar como sua aprendiz em Hogwarts. Eles gritaram muito uns com os outros no começo, Severo era frio e mordaz com ela, e ela era estridente e irritada com ele, mas no fim eles sempre se entendiam e nunca, NUNCA, se afastavam. Ele simplesmente não entendia o que estava diferente agora.

- Eu... – ele tentou dizer, temendo que sua voz se quebrasse com o peso da decepção.

- Por favor. – ela implorou, ainda sem olhar para ele. - Vou te encontrar no jantar.

E sem saber o que fazer consigo mesmo, ele saiu. O coração batendo rápido e o estômago pesado de medo. Medo de ter feito algo que pudesse quebrar a amizade bonita que haviam criado juntos. E com um último olhar para ela, ele virou as costas. Mas não sem antes lançar um feitiço de aquecimento para protegê-la do frio cortante de dezembro.

...