Disclaimer: Harry Potter é propriedade de J. K. Rowling, da Warner Brothers e afiliadas. Sem fins lucrativos.
a love supreme
Ele se lembra do sorriso dela, um dia, e de como ela era errada, e sabe que não há como compará-la a mais ninguém. Não conseguia prever quando estaria mais tímida ou irritada ou quando agiria com surpreendente sensibilidade para uma menina que ria daquele jeito extravagante, como uma verdadeira Weasley. Diz para si mesmo, em outro dia, que provavelmente estava errado, pensava demais dela. Se tivessem tido mais tempo juntos veria que ela não era metade disso, tentaria se afastar sem jeito, Ron ficaria feliz ou nunca mais falaria com ele, não era capaz dizer.
Mas não há espaço para essas condições, essas possibilidades que lhe perturbam mais até que a realidade, então ele guarda a memória que tem dela — doce e corajosa e desconhecida — junto da memória de quem ela fez dele. Gostava muito mais daquele Harry.
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Harry quer que a reconstrução de Hogwarts não termine nunca. Não diz isso a ninguém, mesmo que às vezes sinta que precisa, mas não encontra a coragem. A idéia de não ter nada para ser feito o assusta a todo momento, cada vez que ele se vê no espelho por acidente, cada vez que pára e não consegue se lembrar da última vez em que sentiu vontade de fazer qualquer coisa.
De repente ela está lá, ainda desconhecida, sorri de leve para ele e pergunta daquele jeito solto dela se ele quer almoçar na Toca. Ele ainda espera vê-la com os olhos vermelhos e cheios de tristeza, e ele sabe que não poderia fazer nada, então prefere ficar distante, procura algo para consertar nele mesmo.
A resolução se forma antes que ele perceba, e ele não quer fazer mais nada que não seja desvendá-la.
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Isso poderia ir muito mal e ele sabe, assim como ele é decente o suficiente para parar, mas não consegue encontrar a determinação. A idéia de não gostar dela — dela Ginny, não da menina, não daquela de quem sentiu falta — se dissolve em poucos segundos, que são o tempo que leva para descobrir que, quando pensativa, ela se enrola na ponta do sofá e sorri de leve enquanto fita o jardim.
O mundo pára de girar ou continua, ele não precisa saber, as pessoas lhe fazem perguntas e ele responde sem pensar muito. São as coisas que ele percebe que importam, Ginny e não a idéia dela, o modo como ela olha para Hogwarts, o que ela diz quando ninguém mais consegue achar sua voz, o jeito em que ela deixa as palmas das mãos para cima num gesto inocente.
Ela se vira e lhe dá um beijinho nos lábios, e ele sabe que é tudo mais complicado que isso, mas também que agora não há nada que não possam fazer.
