Capítulo 1 - Permanude
Era um pesadelo se tornando realidade o que aquela garota de cabelos louros estava passando. Alice subiu até o dormitório e tentou abrir suas gavetas. Mas nada. Não havia nelas nada com que a moça pudesse se cobrir. Sendo assim, Alice pegou o lençol de sua cama e se enrolou nele.
- Alice?! Cadê você, Alice?! - A governanta do orfanato de garotas já subia os degraus. Dava para ouvir seus passos lentos e pesados oriundos de seu corpo pesado. - Ah, ai está você. Mas o que está fazendo?
A governanta agarrou o lençol que cobria Alice e puxou com vontade, a menina frágil não tinha a menor chance. Ela estava nua na frente de sua responsável legal. O embaraço fez seu rosto enrubescer.
- Pelas regras do orfanato Santa Efigênia certas transgressões são punidas com humilhação moral.
- O que isso quer dizer? - Perguntou Alice, cobrindo com um braço seus seios e com a mão sua parte intima.
- Você ficará proibida de ter acesso a vestuários ou a qualquer forma de cobrir seu corpo. Quero que todo o orfanato a veja como é.
- Mas qual o propósito disso? - Perguntou a menina quase em prantos.
- Servir de exemplo.
O orfanato Santa Efigênia era uma grande construção, uma mansão secular que já fora um convento um dia. Desde trinta anos atrás a praticidade do local mudou, agora era um orfanato para meninas. A opção por um dos sexos veio da diretoria, formada por freiras.
Freiras, elas tinham um modo curioso de impor disciplina. As pessoas que viviam fora do estabelecimento nem poderiam imaginar.
Alice ficou horas tentando se esconder nos recantos mais obscuros do orfanato. Mesmo assim não houve jeito de se esconder de alguns olhos. Os sorrisinhos de escárnios eram ruins, mas não tanto quanto os olhares de desejo. Mas o pior ainda estava por vir. O horário do almoço, um grande salão onde enormes mesas retangulares reuniam todo o orfanato. As crianças, que não eram tão crianças assim, a diretoria e as professoras (a maioria delas freiras e as que não eram se mantinham coniventes).
Toda encolhida e curvada ela queria sumir, mas era impossível esconder sua alva pele exposta. Seu corpo jovem já começava a formar curvas e dentre tantas mulheres, até em algumas heterossexuais, o libido surgiu. Inclusive na governanta, que se deliciava com aquelas punições e fazia questão de aplicá-las quando podia. A contravenção de Alice? Nem a menina, nem a governanta ou a direção se lembravam.
Alice sentou no canto, feliz que a parte inferior do seu corpo passou a ser escondida pela mesa. Com seus cabelos dourados ela cobriu seus seios. A comida não descia, era difícil ter apetite com tantos olhos apontados como armas em sua direção. - Será que isso nunca irá acabar? - Se perguntava.
Depois do almoço, veio as aulas e mais humilhação. O corpo nu de Alice atraiu a atenção das populares. Como em qualquer lugar onde jovens se unem para estudar há os populares e os não populares, que geralmente são vítimas, Alice fazia parte do segundo grupo. Eram três, tinham em torno de dezesseis e dezessete anos. Faltava pouco tempo para que fossem liberadas do orfanato ao entrarem pela maioridade e parece que por causa disso se tornaram mais cruéis. Era a forma que viam de aproveitar o tempo que lhes restavam.
Sheila, Riana e Maisa. A morena, a ruiva e a oriental. Sendo que Sheila, por ser a mais bonita e a mais velha, era a líder do trio.
- O que você fez para receber a punição permanude? - Perguntou Sheila. Apesar de parecer absurdo o orfanato tinha autorização legal para impor a punição de nudez, permanude, as suas internas. Uma lei foi aprovada no congresso que permitiu aos superiores legais punirem seus afiliados a nudez por tempo indeterminado. Os menores de idade podem ser punidos ao permanude por pais, orfanatos ou escolas. Os maiores de dezoito podem receber essa punição pela lei devido a uma transgressão legal.
- Uma bobagem.
- Entendo. Escute, estamos dispostas a arranjar alguma roupa para que você mantenha a dignidade.
Os olhos de Alice só faltaram brilhar. - Como?
O trio das populares se entreolharam e riram baixinho. Um riso maligno de quem pensava em aprontar uma. - Ao atravessar o rio há o orfanato dos garotos, O São Abelardo. Há uma roupa feminina lá. Se você souber seguir as pistas que espalhamos no lugar terá sucesso.
- Como vocês entraram no São Abelardo?
- Esse é um segredo que você terá que descobrir sozinha.
