Os galhos e a folhagem seca eram quebrados a cada passo que a mulher dava em meio aquele terreno vazio meio afastado da cidade. A noite estava extremamente gélida e nebulosa, podia-se ouvir o som da buzina dos carros que circulavam pelas ruas, mas nenhum próximo aquele lugar.

A respiração pesada e os passos cansados mostravam o quanto aquela mulher estava mal, a ponto de desmaiar, mas ela tinha que ser forte e terminar o trabalho. Uma dor aguda a atingiu e fez com que caísse em cima de galhos que lhe provocaram arranhões e muita ardência nas feridas. Era a hora de fazer aquilo, não podia adiantar mais.

Arrastou-se do meio dos galhos para as folhagens e se sentou com certa dificuldade. Começou a fazer força e pressionar a barriga alta e pontuda que carregava há nove meses. A cada dor que a atingia, sentia mais raiva daquele feto que carregava, ela não queria aquele serzinho. Uma última pressão foi utilizada e o bebê escorregou e molhou suas pernas.

A mulher ergueu o tronco e observou aquele pequeno ser humano no meio das folhagens, sem emitir qualquer som. O trabalho estava feito, podia simplesmente ir embora e deixar o bebê lá para morrer, afinal ela nunca quis aquele ser. Arrebentou o cordão umbilical com as mãos e retirou a placenta, jogando-a em qualquer lugar. Começou a se levantar com dificuldade, pronta para ir embora e esquecer o que acontecera. E realmente teria feito isso, caso não estivesse com tanta raiva da situação.

Voltou-se para o bebê que repousava imóvel no meio das folhagens e o pegou, desferindo tapas no bumbum do mesmo até que despertasse. Quando ouviu o choro, colocou o neném entre as folhagens e foi embora. Deixou ali o bebê que parira para morrer de fome e frio.