Hiei olhava para o céu entediado. Por que diabos ele tinha que ficar no mundo dos humanos numa hora como aquela?!
O Makai estava sofrendo uma forte rebelião dos youkais mais revoltosos, cansados de serem subjulgados pelo governo tranquilo do novo Rei. Mukuro o mandou patrulhar o mundo dos humanos, porque segundo ela era uma questão de tempo até que eles arranjassem um jeito de dar as caras por lá.
- Mas que droga... - Bufou, lembrando do que Kurama dissera.
"- Vai ser bom pra você, Hiei. O Makai te deixa muito agitado" - Rira o companheiro.
Ainda ultrajado, Hiei sentou-se em cima da lage do prédio em que estava, observando a noite que começava a cair.
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Estava na sala da diretoria. Outra vez. A diretora apertava os punhos com o cenho franzido e uma gota na testa.
- A Senhorita de novo...
- Hehehe, e aí Senhora Harumo? - Ela coçou a cabeça olhando pro teto.
- Creio que transgrediu as regras do colégio novamente. - A mulher ergueu os olhos reprovadores para ela.
- Não, não, Senhora Harumo! Foi só uma brincadeira entre amigos. - Ela abanou as mãos bobamente.
Nesse momento, um garoto arrombou a porta da sala com um pé, fazendo as duas pularem com os cabelos em pé. Ele tinha os olhos em brasa e uma expressão demoníaca no rosto. Estava completamente coberto de graxa.
- MINAMOTOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!
- Senhor Nishida! - A diretora recuperou a pose, horrorizada - Isso não são modos de se entrar na diretoria! O que o Senhor está fazendo aqui?! E o que diabos é isso na sua roupa?
- E aí, Arashi?
- "E aí"?! Como assim "E aí" sua pilantra! - Ele cuspiu os fogos do inferno, descontrolado - Como se atreveu a fazer isso?
- É, acho que você ficou meio sujo.
- SUA...
- Senhorita Minamoto! Senhor Nishida! Calados, os dois! - A diretora se levantou, irritada, enquanto o garoto procurava se acalmar e a garota dava um sorriso amarelo. - Me expliquem já essa história!
- Essa delinquente colocou um balde de graxa em cima da porta do vestiário masculino! - Arashi sibilou, cuspindo óleo.
- A Senhora tinha que ver, foi muito engraçado.
- Calada, Srta. Minamoto! Nishida, por que ela faria algo assim com você?
- Por que? É simples, Senhroa Diretora, ela é um demônio!
- Calma lá, Arashi! Eu só estava brincando com você!
- BRINCANDO?!
- CALADOS!
- Senhora Diretora, isso não deveria ser permitido dentro da escola. - Arashi ergueu a cara melecada para a Senhora Harumo.
- E não é, meu rapaz. Garanto que a Senhorita Minamoto será devidamente punida.
- Punida? Ela deveria ser expulsa, se quer saber o que eu acho!
- Eu também acho, Sr. Nishida, mas infelizmente não é algo tão simples assim.
- Então eu acho que ela deveria levar uma suspensão de pelo menos uns dois anos!
- Não podemos fazer isso. Mas eu também acho que seria muito conveniente.
- E eeeeu acho que está na hora de irmos todos pra casa descansar pro longo dia de amanhã e...
- VOCÊ NÃO TEM QUE ACHAR NADA! -Gritaram os cabeções de Arashi e da Diretora enquanto Minamoto tentava escapulir da sala sem ser notada.
Meia hora depois, Rin Minamoto voltava pra casa arrastando os pés, chutando pedrinhas no caminho, com a cara emburrada. Carregava um formulário de detenção em uma das mãos e na outra uma mochila velha e rasgada. Olhou para o céu e só então percebeu que estava escuro.
Ela deveria ter chegado em casa pelo menos uma hora atrás, mas não conseguiu se controlar. Arashi era tão incrivelmente desprezível que não podia deixar barato! Novamente ele humilhara os novatos do time de basquete no treino daquele dia, e dessa vez teve o que mereceu.
- Vai ficar com graxa nas calças a semana inteira! - Ela levantou um punho, vitoriosa.
Estava quase chegando. Virou mais uma esquina quando avistou, ao longe, três vultos estranhos.
" Xi." Ela segurou a mochila com força, e em seguida balançou a cabeça. "Calma, Rin, esse bairro é tranquilo, ninguém vai tentar te roubar aqui..."
Meio temerosa, ela seguiu firme e forte, procurando não encará-los. Mas os três vultos do outro lado da rua olhavam para ela curiosos. Não havia mais ninguém na rua e as casas ao redor pareciam já ter desligado as luzes.
- Ei, gracinha, aonde vai com tanta pressa? - Perguntou um deles.
"Bêbados", ela constatou, engolindo em seco apavorada.
- É, por que não vem aqui beber um pouquinho com a gente? - Perguntou o outro, que estava sentado na calçada.
- Tem bastante pra nós quatro aqui! - O terceiro levantou uma garrafa.
Ela apertou o passo. Desesperada, percebeu que eles atravessavam a rua atrás dela.
- Ei, ei! Nós dissemos pra voltar aqui, benzinho! - Disse novamente o primeiro deles, com um sorriso malvado.
Antes que pudesse correr de vez, dois dos homens a agarraram pelas costas. O outro parou na sua frente ainda sorrindo. Lentamente, aproximou-se de seu rosto, erguendo seu queixo em direção à luz do poste.
- Nossa, você realmente é uma lindeza, não é?
Ela fez um esforço bruto e conseguiu livrar uma das mãos. Sem parar pra pensar, enterrou com tudo a mochila na cabeça do que segurou seu queixo. O homem deu de cara no chão imediatamente.
Ela saiu correndo.
- EI! PARADA AÍ, SUA NOJENTINHA! - Os outros dois saíram em seu encalço.
"Ai Meu Deus, eu não tenho sido muito boa, eu sei, mas por favor, me tira dessa, juro que nunca mais vou aprontar nada!" Ela rezava consigo mesma completamente horrorizada, correndo o máximo que podia.
Os dois homens se separaram e um deles deu a volta pela quadra, até que a encurralaram. Ela se enfiou num beco, o que certamente não era muito inteligente, pensou, mas não tinha escolha. Eles foram atrás dela.
- Agora nós te pegamos!
Eles começaram à se aproximar sorrindo. Ela encostou-se na parede oposta do beco apavorada. Eles se aproximaram cada vez mais, com os olhos brilhando. Um deles segurou seu braço, e ela gritou com toda a força que podia.
- Calada, garota! - O que segurou seu braço puxou-a para si, e ela sentiu um caco de vidro penetrando em sua cintura, provavelmente da garrafa que eles bebiam. Gemeu de dor, sentindo a ferida abrindo. O outro homem agora pegava sua mochila - Nós vamos te dar uma lição!
- Quem precisa de uma lição aqui são vocês, seus vermes.
- Hã? - Os homens viraram-se, surpresos pela voz desconhecida. Rin olhou por cima do ombro do que a agarrava e viu um garoto moreno de olhos vermelhos com as mãos nos bolsos. Vestia uma capa preta e parecia ter a sua idade, mas, por alguma razão, algo na voz dele a dizia que não era um garoto normal.
- Quem é você, seu imbecil? - Gritou raivoso o segundo homem, que já estava vasculhando a mochila de Rin.
- Não te interessa.
- Se manda daqui, seu pivete! - O homem que segurava Rin virou-se, ignorando Hiei, e voltou a pressionar a garota contra si, que se debatia febrilmente, sentindo que ele cravava mais e mais o caco de vidro em sua cintura.
- Largue essa humana.
- Quem você pensa que é, seu porcaria? - Agora, o que gritara com Hiei levantou e partiu pra cima dele. - Vou te mostrar como acabam enxeridos como você!
Rin nem teve tempo de ver o que aconteceu. Quando se deu conta, o homem que atacara o garoto estava estatelado no chão, e o homem que a segurava tinha o olhar paralisado. Afrouxou lentamente o aperto e caiu no chão, imóvel.
Ela abraçou-se imediatamente, com os olhos cheios de lágrimas.
- Você é burra, por acaso?
Ela olhou pro lado e viu o garoto que a salvara guardando uma espada com os olhos fechados.
- ...Que? - Foi tudo o que conseguiu dizer.
- Eu perguntei se você é burra, garota. - Ele lançou-lhe um olhar congelante - Ir de encontro à youkais medíocres como esses foi muito idiota.
- E-Eu estava só indo pra casa e... "you-que"? - Ela perguntou, abobalhada, ainda tremendo.
Ela olhou pro chão e quase morreu de susto. Agora, os homens pareciam estar "evaporando", e seus rostos adquiriam feições retorcidas que não pareciam humanas. Ela deu um gritinho, se colando à parede.
- Éca!
Hiei terminou de guardar a espada e virou-se para ir embora; mas ouviu um barulho. Parou e olhou para trás novamente, e viu a garota desmaiada no chão, com o corpo meio torto.
Ficou alguns minutos parado, olhando. Então, chutou um dos youkais mortos pra abrir caminho e foi até ela.
Chegou perto e ficou olhando, em pé, o rosto insconsciente daquela humana. Humanos eram realmente frágeis e fracos, desmaiavam com qualquer coisa... Seus olhos caíram numa mancha escura no uniforme escolar da menina.
- Hm?
Ele abaixou-se, examinando a cintura dela. Usou uma das unhas e fez um pequeno rasgo na camisa, descobrindo um gigantesco caco de vidro cravado numa ferida que sangrava sem parar.
- Que idiota. - Concluiu.
Tirou o caco rapidamente, enquanto ela fazia uma careta de dor, sem acordar. A ferida sangrou bem mais, mas logo em seguida pareceu amainar. Hiei ficou mais algum tempo fitando o rosto claro da garota, e sentiu um formigamento entranho na barriga. Piscou com força.
- Devo estar ficando louco.
Ele já ia se levantar, quandoi, então, ela tossiu. Hiei arregalou levemente os olhos, aproximando-se de seu rosto. Ela mexia a boca de leve, como se tentasse falar alguma coisa. Chegou tão perto que podia sentir sua respiração, então ouviu:
- Obrigada...
Ele ficou estático. De repente, sentiu uma porrada violenta na cabeça. Afastou-se na hora, indignado, segurando o cocoruto. Olhou novamente pra ela e viu que ela se virara de lado, desferindo-lhe um golpe com o braço. Um fio de baba descia pela sua boca, enquanto ela sorria feliz, de boca aberta.
- Ela dormiu? - Com uma gota na cabeça, sem acreditar, ele já ia sacar sua katana e fazê-la em pedaços, quando ela começou a falar de novo.
- Nhammm papai não quero ir pra escola hoje... Olá eu sou Rin Minamoto, muito prazer em conhecê-los! Eu moro naquele bairro perto da sorveteria, do lado daquele pinheiro enoooorme, naquela casa azul e nhammmmm quando vamos comer?...Comeeeeeer...
Hiei observava incrédulo enquanto ela falava nada com nada, ainda sentindo a cabeça latejar. O que ele faria com aquela humana ridícula? Ele estava em cima daquela lage porque sentira uma presença estranha, e finalmente descobriu que eram três youkais disfarçados que transitavam por ali.
Destruíra aqueles vermes, mas agora tinha um problema maior. Bom, ele poderia matá-la, não é? Simples assim. Olhou de novo para o rosto adormecido da menina e sentiu outra vez aquele formigamento incômodo. Não sabia porque, mas não parecia uma boa idéia matá-la.
Na verdade, ele não sentia vontade de matá-la.
Sem a mínima idéia do que estava fazendo, Hiei pegou-a no colo. Parou um momento, analisando sua atitude. Iria mesmo levar aquela garota pra casa? Ela continuava falando coisas sem nexo, mas ele entedera muito bem a parte em que ela disse onde morava.
- Realmente estou ficando louco. - Comentou consigo mesmo, bravo, saltando pra longe do beco.
Enquanto a carregava, Hiei podia sentir nitidamente aquele formigamento. Mas que infernos era aquilo? Sentiu sua capa molhar com a baba da menina e uma gotinha nasceu em sua nuca. Mesmo assim, aquela sensação não passava. Ele nunca esteve tão perto de uma mulher daquela forma.
Mas ela não era uma mulher. Era só uma menina humana patética.
Ele sabia muito bem qual era o pinheiro de que ela tinha falado; tinha ficado por lá muitas vezes esperando Yusuke quando tinha uma missão designada. Imediatamente identificou a casa azul. Era uma casa bonita e arrumada, com duas varandas laterais.
- Vou largá-la na porta.
Ele desceu habilmente, mas sentiu a menina segurar sua capa. Olhou surpreso para ela.
- Meu... quarto... A varanda da direita...
Ele piscou, pasmo. Ela ainda parecia dormir. Ele ia largá-la lá mesmo e não estava nem aí, quando lhe ocorreu uma coisa: deixar uma humana como aquela no meio da rua sangrando em plena madrugada com certeza iria causar rebuliço, e Mukuro fora bem direta quando disse que sua missão era evitar problemas causados por youkais.
Bufando, ele pulou em direção à varanda da direita. Quando amanhecesse, aquela garota poderia simplesmente ter pensado que sonhou ou algo assim, e que a ferida fora causada por qualquer outra coisa. E mesmo que se lembrasse sobre os youkais, ninguém acreditaria nela.
Com um sorriso de canto, crendo ter feito um ótimo trabalho, Hiei pulou na varanda ainda segurando Rin. A porta da varanda estava escanrada.
- Essa garota é realmente muito idiota, qualquer um pode entrar aqui...
Ele entrou no quarto e a primeira impressão que teve foi a de pisar em outra dimensão. O quarto era completamente bagunçado. Havia roupas e livros jogados pra todo lado, e cada parede era pintada de uma cor, sendo todas cobertas de folhas com desenhos em preto e branco que pareciam comicamente infantis. Também havia um violão rabiscado num canto e um painel coberto de varetas de madeira.
- Que bizarro. - Ele piscou várias vezes.
A cama da menina parecia intacta, estranha ao quarto tão incomum. Ele a deitou sobre os lençóis, sentindo o formigamento diminuir.
Rin começou à abrir os olhos. Deu de cara com o teto de seu quarto. Ficou alguns instantes encarando o teto e depois sentou-se bruscamente, pronta pra gritar.
Hiei tapou sua boca com a mão e ela olhou para o lado dando conta de sua presença. Ao encará-lo, imdiatamente seus olhos pareceram se acalmar.
Ele retirou a mão, surpreso com o próprio ato.
Eles se encararam durantes longos minutos. Hiei sentiu-se paralisar ao dar de cara com olhos prateados muito claros, quase brancos. Rin sentiu que estava de frente pra algo muito ameaçador.
Como uma rajada em sua cabeça, ela lembrou-se da graxa na cabeça de Arashi, da detenção, do beco e dos "you alguma coisa" que a atacaram. Lembrou-se que gritara à plenos pulmões e que eles a machucaram na cintura. E aquele garoto do lado da sua cama tinha a salvado. Então os "you sei lá o que" começaram a evaporar e...
- Mas como eu posso estar aqui? - Ela perguntou em voz alta, abobalhada.
- Vejo que você acordou - Hiei virou-se em direção à varanda - Agora vou embora.
- EI! ESPERA! - Ela literalmente rolou pra fora da cama, enquanto Hiei já estava alcançando a porta - Espera eu...
Ela tropeçou em um monte de roupas e iria ao chão se não tivesse se segurado na capa de Hiei. Ele olhou pra trás curioso.
- O que foi agora?
- Er... - Ela ergueu-se, sem graça, largando a capa dele. - Qual é o seu nome?
Ele ficou calado, encarando aquela garota estúpida. Por que ela queria saber seu nome?
- Vamos, só um nomezinho. - Ela colocou uma das mãos atrás da cabeça, com um sorriso doce - Você salvou minha vida, né? Ainda bem que não se machucou.
Por que ela se importava se ele saiu machucado ou não?
- Ai! - Ela levou uma das mãos à cintura, apertando os olhos.
- Mas você se feriu - Ele lançou um olhar rápido à roupa manchada dela - Foi uma grande estupidez da sua parte.
- Eu não sabia que aqueles bêbados eram monstrengos. - Ela disse, apoiando-se na escrivaninha ao lado - You... Youkais, lembrei, foi assim que você os chamou! Por que eles vieram atrás de mim?
- Porque você era uma presa fácil e inconsequente.
- Eu não... Pera, você é um deles?! Ahá, tenho certeza que é!
Hiei tinha que sair dali. Ela fazia perguntas demais e ele não gostava de dar respostas.
- Dê um jeito nessa ferida. - Ele disse secamente, voltando à sair.
- ESPERA! - Ela passou à sua frente, abrindo os braços, impedindo sua passagem. Sentiu uma dor aguda na ferida mas nem ligou. Ele não sairia dali sem dizer o nome!
- Você não sai daqui sem dizer o seu nome!
- E quem vai me impedir?
- Bom - Ela virou os olhos - Sabe, eu sou muito poderosa no meu mundo, tipo uma rainha... Isso, uma rainha! E se eu gritar agora, meus súditos irão atrás de você e te queimarão na fogueira, tá entendendo?
Hiei a encarava pasmo.
- Creio que você acha que não conheço o seu mundo, não é?
- Bom, eu... - Ela olhou de um lado pro outro. Suspirou e abaixou os braços. - Desculpe. Você me salvou daqueles youkais e me trouxe pra cá. Eu não sei o que teria acontecido comigo se você não tivesse surgido, provavelmente eu estaria morta agora. Obrigada. Eu só queria saber o seu nome.
Ele lançou-lhe um último olhar, enfiou as mãos nos bolsos e saiu do quarto sem olhar pra trás. Ela ainda foi em seu encalço até o parapeito da varanda. Ele pulou por cima da gradezinha branca enquanto Rin olhava-o tristemente.
Mesmo de costas pra ela, Rin pôde ouvir ele dizer:
- É Hiei.
O garoto sumiu na escuridão e Rin correu até o lugar de onde ele saltou, sorrindo. Encheu os pulmões de ar e gritou:
- O meu é Rin!
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AEW! Primeiro capítulo aí pra vocês, espero que gostem. Geralmente não sou de criar personagens fictícios, mas juntei na Rin um monte de coisas que gosto em outras personagens de Anime e estou com umas idéias bem legais pra essa fic(YOOOOSH!). Só espero receber o bom e velho apoio moral das reviews da vida!
Arigatou à todos que leram!
Kissu, Kissu!
