Eu sei o que você estão pensando: Mais uma fic? Sim \O/ mais uma fic! Essa fic vai lavar a alma de todas as viúvas do nosso amado Erik ;) Eu pretendia posta-la depois de Violinos, mas a ansiedade é muita e eu quero ver se ela será uma substituta a altura quando eu encerrar Violinos.
Espero que gostem.
Boa leitura
O cheiro doce da primavera enchia o ar das ruas de Paris. A neve já estava totalmente derretida e as árvores e plantas começavam a voltar à vida. Era um dia lindo e ensolarado, um pouco quente para abril, mas havia uma brisa fresca que tornava o clima perfeitamente agradável e ótimo para um passeio. E isso era exatamente o que a maioria dos parisienses estava fazendo na tarde de sábado onde começa a nossa história.
Dentre os vários transeuntes havia uma jovem pálida de cabelos loiros. Ela era uma jovem belíssima, mas a sua fronte apática escondia boa parte do brilho da sua beleza jovial. Seus passos pareciam fora de rumo, como se ela não tivesse nenhum objetivo particular nessa caminhada. Suas íris azuis se destacavam contra o tom avermelhado em seus olhos que estava lá para mostrar que essa jovem senhora havia derramado suas lágrimas recentemente.
O motivo dessa tristeza ainda é um mistério para quem a via. O coração da jovem moça pesava de tanta dor, ela não fora preparada para tais sofrimentos. Ela era uma criatura frágil, uma moça simples que não deveria ser exposta a tantas tragédias na vida. Ela mal tinha chegado aos trinta e já havia suportado cargas enormes de dor que valiam uma vida inteira.
Seus pensamentos deprimentes foram repentinamente atrapalhados quando um som angelical atingiu seus ouvidos. Ela se virou na direção do som e viu uma menininha cantarolando na frente de uma loja de roupas. Era uma menina belíssima com cabelos castanhos e grandes olhos azuis de um tom estranhamente brilhante.
Ela cantarolava uma melodia sem palavras enquanto observava os vestidos da vitrine. Havia algo estranhamente familiar no som daquela voz infantil, era algo quase que magnético. Ela estava sendo atraída para aquele som divino.
Quando ela deu por si, ela estava no outro lado da rua a poucos metros da criança. Ela viu que ela deveria ser uma menina rica por causa do vestido elegante que ela usava e de sua aparência muitíssimo bem tratada. Ela parecia completamente distraída e perdida na música de um jeito que a fez lembrar-se de alguém que ela conhecera há muitos anos atrás.
Já se passaram 10 anos. Dez longos anos desde que ela era simplesmente Christine Daae, e não a Condessa De Chagny.
Quando a menina finalmente a notou, ela a encarou com olhos curiosos e fez uma pequena reverência.
"Bom dia, madame."
Christine sorriu para os modos perfeitamente educados da menina que parecia um anjo vindo diretamente dos céus. E ela teria acreditado que era, mas a sua inocência fora levada há anos atrás por outro anjo.
"Madame, está bem?" Perguntou a menina de repente mostrando uma preocupação genuína.
Christine sorriu para a doce menina na sua frente. Como ela gostaria que seu marido se contentasse em ter um anjo doce como aquela menininha.
Mas ela sabia do fardo que assumira ao se tornar esposa de Raoul. Era seu dever conceber um herdeiro.
Há duas semanas ela dera a luz a sua primeira filha, sim, uma menina. Foram dez anos de casamento até eles conseguirem conceber uma criança e, para desgosto de todos, ela dera a luz a uma linda menininha que mal tomara a sua primeira respiração e já era mortalmente indesejada.
"Não se preocupe, querida eu estou bem."
"Papa sempre canta para mim quando estou triste. Ele diz que música cura tudo." Disse a garotinha de voz melodiosa.
Christine sorriu novamente para a menininha. Ela conseguiu esconder a tristeza que isso trouxe a ela. Fazia dez anos que ela abandonara a música, ela nunca mais cantou e sempre evitou qualquer ida à Ópera. Ela sentia tanta falta da música de ouvir alguém cantar novamente.
"Cècille! Cècille!" Exclamou uma mulher a alguns metros de onde Christine e a menininha estavam.
"Maman!" Exclamou a menininha.
A mulher caminhou decididamente até a menina. Christine se encolheu com o olhar severo no rosto da mulher, mas viu seus olhos azuis idênticos ao da filha se suavizarem para uma expressão de alivio.
"Você ainda vai me matar de susto. Eu tiro os olhos de você por dois minutos e você desaparece." Resmungou ela tomando a menina pela mão.
"Desculpe-me, maman." Disse a garota.
A mulher sorriu para a filha.
"Está tudo bem, querida. Cristo! Você e seu pai são iguais, conseguem desaparecer em um piscar de olhos." Disse ela.
Levou um minuto até ela notar Christine. E ao vê-la seu rosto empalideceu completamente.
"Christine? É você?" Perguntou a mulher com grandes olhos azuis parecendo ainda maiores pelo choque.
"Sim, sou eu." Respondeu Christine. "Desculpe-me e você é?"
"Sou eu, Louise! Não se lembra de mim?"
Era claro que ela se lembrava. Louise Arlot, uma das garotas do corpo de ballet. Ela era uma garota sociável e simpática que uma vez havia consolado Christine quando o mestre de canto fora terrivelmente duro com ela. Era o aniversário de morte do seu pai e ela estava em um humor melancólico e seu desempenho estava péssimo naquele dia. Ela e Louise conversavam às vezes e Christine havia se afeiçoado ao seu jeito mãezona de ser. Ela era uma amiga incomum com um instinto protetor magnifico. Christine sorriu ao ver que sua velha amiga tinha encontrado alguém para constituir a família que ela sempre sonhara.
Ela sabia que Louise viera de uma grande família, mas seu pai e todos os seus irmãos menores haviam morrido quando uma epidemia de cólera atingiu o vilarejo onde ela vivia. Ela veio junto com mãe para Paris para tentar a sorte. Sua mãe viveu o suficiente para garantir que ela estivesse segura até o dia em que ela se suicidou para se juntar ao seu marido, deixando a sua jovem filha sozinha no mundo. Louise vivera muitas dificuldades, mas ainda era uma jovem doce e respeitável ao contrario da maioria dos ratos do ballet. Sua fama era conhecida e a sua capacidade de se defender de homens abusivos também.
Christine estava feliz em reencontra-la, mas o sentimento não parecia ser mutuo.
"Eu realmente preciso ir agora, foi muito bom revê-la, Christine. Espero que esteja bem." Disse ela apressadamente levando Cècille pela mão.
"Obrigada, tenha um bom dia." Disse ela com um sorriso educado. "Um bom dia para você também, Cècille."
A menina acenou alegremente para Christine. Ela observou mãe e filha desaparecerem entre os pedestres. Com um suspiro triste ela começou a dar meia volta e voltar para casa.
"Christine!" Chamou uma voz.
Christine se virou para ver a Baronesa De Villers acenando alegremente para ela.
"Olá Monique." Cumprimentou Christine educadamente, mas louca para fugir dali.
"Eu não pude deixar de notar." Disse Monique. "Você conhece madame Martinet?"
"Quem?" Perguntou Christine.
"Louise Martinet. A mulher que você estava conversando."
"Oh! Ela era uma velha conhecida, não sabia qual era o seu nome de casada. Eu a conhecia por Louise Arlot."
"Entendo. Bem, eu estou tentando sonda-la há muito tempo. Ela e o seu marido vieram para Paris há poucos meses. Parece que eles são de Rouen. O marido dela é um arquiteto recluso e ela nunca fala dele."
Christine sentiu um arrepio ao ouvir o relato de Monique. Por que ela estava tendo essa estranha sensação?
"Parece até que ela é casada com um fantasma..."
Christine sentiu o sangue sumir do seu rosto. Ela cambaleou e quase chegou ao ponto de desmaiar.
"Christine!" Exclamou Monique.
Mas Christine se recuperou desse desfalecimento rápido. Ela corou levemente e se despediu de Monique.
"Eu acho que devo voltar para casa, estou meio indisposta." Disse ela se afastando rapidamente e deixando Monique completamente confusa.
Isso não podia estar acontecendo.
Louise atravessou o extenso gramado do jardim de sua casa. Uma bela mansão com um design totalmente original que atraiu a atenção de boa parte de Paris. Todos queriam saber quem era o incrível arquiteto que criara algo tão belo.
Assim que ela subiu as escadas da varanda o som do piano sendo furiosamente tocado dentro da casa fez seu coração aliviar. Ela estava em casa.
Ela e Cècille entraram na casa e a menina atravessou o hall correndo de um modo não muito adequado para uma dama. Louise seguiu a filha até a sala de música onde seu marido estava desempenhando uma de suas célebres composições.
"Papa! Papa!" Chamou Cècille escalando o banco do piano.
Louise sorriu para o modo doce que seu marido colocou a filha sentada ao seu lado.
"Vocês voltaram cedo." Disse ele se virando para Louise.
Ela sorriu.
"O sol estava muito forte, Erik. Não parecia muito bom para Cècille, ela ficaria com o rosto tomado por sardas."
Erik riu com a preocupação tola de Louise. Ela sorriu com o som magnifico que era a risada de Erik.
"Bem, espero que o passeio tenha satisfeito as minhas meninas." Disse Erik alegremente.
"Papa! E a minha prática?" Perguntou Cècille batendo os pequenos dedos nas teclas do piano, gerando um acorde dissonante.
Erik puxou as mãos dela de cima do teclado.
"Você não pode tratar um instrumento dessa maneira." Reprendeu e Cècille fez beicinho.
"Tudo bem!" Disse ele se rendendo aos caprichos da filha mimada. Ele sabia que era o principal responsável por ter criado uma menina tão estragada por seus mimos. Mas ele era incapaz de resistir aos caprichos de sua pequena princesa.
"Bem, vou deixa-los a sós." Disse Louise saindo da sala só para ouvir as notas hesitantes sendo tocadas e o ocasional som da voz de Erik recitando orientações.
Louise passou o dia com uma sensação horrível na boca do estômago. Christine estava em Paris! Era do conhecimento de todos que ela havia se refugiado na Bretanha junto com o marido. Se ela soubesse disso, ela nunca teria aceitado sair de Rouen. Ela não queria trazer velhos fantasmas, não agora que ela e Erik tinham uma filha para criar. Cècille tinha apenas seis anos. Era uma criança muito pequena para correr o risco de perder o pai. Ela temia que Erik não tivesse esquecido o seu amor pela bela soprano.
Quando ele finalmente contou a sua história para ela, Louise quase gritou de raiva. Ela tinha raiva de Erik por ter sido tão tolo e ainda mais por Christine por ser responsável pela quase morte de Erik. Qualquer pessoa capaz de ferir o seu amado era alvo de sua raiva. Ela encontrara Erik em seu pior momento, ele estava à beira da morte e ela nesses anos todos havia conseguido remendar o seu coração partido e reviver o seu gosto pela vida. Ela amava Erik tão profundamente que provavelmente ela morreria de amor se o perdesse. Depois de tanto tempo ela finalmente entendeu a dor de sua pobre mãe depois de perder o marido. Ela sabia que se algo acontecesse com Erik não demoraria muito para que ela tivesse o desejo de deixar esse mundo.
Erik era o seu mundo.
Ela ficou com esses pensamentos sombrios durante todo o dia. E durante a noite quando ela se preparava para dormir sentada na sua penteadeira ela viu um movimento as suas costas.
Erik delicadamente caminhou até ela. Ele usava um longo roupão de seda preto que lhe dava um quase real. Ela observou o brilho que as velas davam em sua máscara branca. Essa máscara foi a única coisa que ela não conseguiu tirar de Erik. Suas feridas eram inúmeras e nem todas era possível cicatrizar. Ela sorriu quando ele se pôs atrás dela, pegou uma escova e começou a escovar delicadamente as suas ondas castanhas. Ela fechou os olhos e se inclinou para trás. Erik sabia o quanto ela adorava que ele fizesse isso.
Ele cantarolava enquanto escovava o cabelo de sua esposa. Esse era um ritual que se repetia durante anos de seu casamento. Ele adorava a maciez e o cheiro maravilhoso daqueles fios. Ele amava cada pedacinho da deusa que estava na sua frente.
"Você parecia preocupada hoje. Aconteceu algo." Perguntou Erik.
Louise abriu os olhos e suspirou levemente.
"Nada muito importante, querido." Respondeu ela.
"Nada que possa deixa-la tão preocupada pode ser considerado não importante." Respondeu Erik.
Louise balançou a cabeça levemente.
"Por favor, não é nada demais. Podemos esquecer isso?"
Erik ficou em silêncio por alguns momentos. Ele parecia estar travando uma batalha interna sobre insistir ou não com a sua esposa.
"Tudo bem." Respondeu ele.
Louise sorriu com a compreensão e se levantou puxando seu marido para a cama.
"Eu te amo." Sussurrou ela se aninhando nos braços de Erik.
Mesmo depois de oito anos de casado essas palavras pareciam atingir Erik do mesmo modo que atingiam quando ela disse essas palavras pela primeira vez. Ele a abraçou com mais força contra ele. Ela podia ouvir o som do coração dele.
"Eu também te amo, minha Louise."
Ela sorriu com aquelas palavras. Ela se concentrou nas batidas do coração do seu marido. Desejando e torcendo...
Que aquele coração realmente pertença a ela.
Alguma declaração? Estou ansiosa pelos reviews ;)
