Não sabia como aquilo havia acontecido, mas de certa forma sentia toda culpa cair em suas costas. Tantos 'talvez' que poderiam ter evitado aquilo, e a maioria envolvia o SEU comportamento.
Parou de se martirizar mentalmente ao se ver em frente ao Hospital, retomando o fôlego perdido pela corrida.
Aquele local era irritantemente branco, e aquele cheiro de remédios e aparelhos, e cirurgias. Claramente o Hospital lhe incomodava em todas maneiras possíveis. Não era por isso que deixaria de visitá-lo. Pode observar a família de quem visitava, parando a uma certa distância deles.
Como se aproximar depois de tudo? 'Oi, tudo bem? Fui eu que causei o acidente do seu filho!' Suspirou, baixando o olhar. Não poderia vê-lo com eles ali. E isso lhe doeu, sem direito algum.
Não percebeu quando alguém se aproximou, e quando levantou o rosto deu de cara com o irmão mais novo. Chegou a arregalar os olhos, um tanto perdido.
-Kibum?
Entreabriu os lábios, não sabendo ao certo o que responder. Ele ainda lembrava de si.
-Oi...
-Achei que você não viria! Nenhum amigo dele apareceu.
Aquela frase, junto com o sorriso fraco do menor acabou lhe machucando ainda mais. Ninguém para apoiá-los. Ninguém para vê-lo. Não era a melhor pessoa para estar ali. Se é que deveria ter ido ate lá, ver o estrago que causou. Acabou retribuindo o sorriso.
-Fiquei sabendo há pouco tempo...Como ele esta? - Não resistiu em perguntar. Precisava saber.
-Está bem...Vivo, graças a Deus.
Certo, uma notícia boa em meio aquele turbilhão de sentimentos. Respirou fundo, tentando relaxar.
-Será que eu posso...vê-lo?
O menor pareceu estranhar aquela pergunta. Claro se fosse antigamente, sairia fazendo as coisas sem perguntar.
-É claro que pode.
Agradeceu mantendo o sorriso. Passou pela família dele, cumprimentando de leve, sem coragem de levantar o rosto e encará-los. Seguiu para o quarto indicado e chegando à porta do mesmo, travou.
O que ele diria ao lhe ver ali? Provavelmente ia sorrir como se nada tivesse acontecido e dizer que estava tudo bem. Sabia que mesmo lhe odiando o mais velho era capaz de tratá-lo bem e...
-Quem esta ai?
Ouvir a voz dele, interrompeu seus pensamentos. Prendeu a respiração, tentando ser forte. Finalmente adentrou aquele comodo igualmente branco como os outros. Mesmo com um ferimento simples sobre sua sobrancelha ele continuava lindo deitado naquela cama de Hospital, Deus.
-Hey... - Sorriu para ele, tentando realmente fingir que nada aconteceu.
O mais velho não respondeu, o que lhe fez perder o sorriso. Havia se enganado. Ele estava tão sério, que sentiu-se completamente culpado agora. Ele não iria lhe perdoar...Na verdade não sabia nem como responder aquele silêncio dele.
Entreabriu os lábios querendo dizer algo, mas apenas os tremeu, tentando segurar aquela angustia que agora tomava conta de si.
-Quem é?
Franziu o cenho com a pergunta.
-Como?
-Eu perguntei quem é você...
Acabou abrindo um sorriso de canto, uma risada meio cínica.
-Ta brincando com a minha cara ne? Não precisa fingir que não me conhe-
-Eu não te conheço para brincar com você.
Silêncio. Certo, isso estava estranho demais. Como assim agora ele não lhe conhecia? E não podia brincar?
-Você me conhece sim! Não lembra de mim mesmo?
Ele apenas negou com a cabeça. Sentiu um aperto no peito.
-Kim Kibum...Tem certeza?
-Tenho, mas...É um prazer te conhecer. Sabe, não vejo ninguém além dos enfermeiros e meus parentes. - E o mais velho abriu seu costumeiro sorriso despreocupado.
Ele realmente não se lembrava!
Sentiu suas pernas fraquejarem, e sentiu seu mundo cair. O que era pior? Ter ido ali e ouvir ele brigar consigo e dizer que nunca mais queria lhe ver ou...Tê-lo sem sequer uma memória sua.
Acabou se aproximando com os olhos cheios de lágrimas, o que assustou o paciente.
-Você esta bem? Parece meio pálido...Eu falei algo que não devia?
-Não é possível que não se lembre...
-Desculpa, mas...Eu realmente não sei quem é você.
Não pode conter que duas lágrimas escorressem por seu rosto, um soluço escapando de seus lábios entreabertos. Estava próximo demais dele, fazendo o mais velho se afastar, encostando-se mais na cabeceira da cama.
-Não faz isso comigo, por favor...
Mesmo sem saber o que acontecia, sentiu-se um pouco mal por fazer o tal Kibum chorar. Ele parecia realmente desesperado. E se fosse uma pessoa importante?
-Olha...O médico disse que eu me esqueceria de algumas coisas...Me desculpa mesmo..
Alguém a mais entrou no quarto, e por sorte era o irmão do rapaz. Assim não precisou desfaçar que chorava.
-Kibum...
-Jongjin! - Ficou feliz em ver o mais novo. -O que esta acontecendo?
-Você não se lembra dele, ne?
Mais uma vez o silêncio. Se ate seu irmão dizia isso, realmente não era para ter se esquecido daquele garoto que chorava. E nem sabia o por que das lágrimas de Kibum lhe machucavam tanto na altura do peito.
-Eu sinto muito Kibum. Quando o médico nos contou, achávamos que ele se esqueceria apenas de coisas simples...
-Tudo bem... - Respondeu entre alguns soluços, parecendo finalmente aceitar aquela situação. Abriu um sorriso em meio a expressão chorosa, não encarando mais o que estava deitado. Caminhou em direção a porta, parando ao lado de Jongjin.
-Tem certeza?
-Kibum...
Aquele chamado, mesmo que não se lembrasse de nada ele ainda conseguia lhe chamar com aquele maldito tom...
-Você sabe...Eu prefiro assim...De verdade...
E saiu, não esperando mais respostas. Acabava de morrer naquele quarto. Por mais que tivesse errado, não achava justo perder tudo assim, sem nem ter uma segunda chance. Toda a vida que construiu, todos os momentos, as lembranças, os erros...
[i]Os beijos, os abraços, o envolvimento...[/i]
Tudo se esvaiou entre seus dedos, sem nenhum segundo para agarrar-se.
Simplesmente havia acabado...
