Nota da autora: Oi, pessoal! Eu quero começar agradecendo a todas as reviews maravilhosas que eu recebi pela outra fic (Boas coisas nunca morrem). Como eu já disse aqui, é importante para nós, escritores, saber o que vocês acham, ler as suas opiniões e críticas. Espero ter cada um de vocês e ainda mais nessa nova história. Segundo, saibam que suas reviews não só me incentivam, mas me ajudam a eternizar esses personagens, em especial, Michelle Dessler que já se encontra morta (e em Lost). Então, obrigada! POV = Point of View (dentro da cabeça de alguém). Releiam a última frase do último capítulo da outra fic, caso não lembrem.
Links importantes: Peço que antes de lerem e quem ainda não viu, vão até o youtube e procurem pelo vídeo chamado 24: A cidade dos anjos. É o vídeo promocional dessa fic. Espero que gostem!
E aqui vai a capa da fic: http: // img396. imageshack. us/ img396 /3690 / la3xo9. jpg (retirar espaços)
Dedicatória: Eu dedico esse primeiro capítulo a Breno Soares, meu Tony Almeida, como mais uma lembrança do nosso 1 ano de namoro (ontem, dia 10 de janeiro). Eu te amo, meu amor.
A cidade dos anjos.
Os acontecimentos a seguir são uma continuação de Boas coisas nunca morrem.
Capítulo Um: Biografia.
Michelle's POV
O silêncio era enloquecedor. A escuridão ao meu redor era ao mesmo tempo tortuosa e confortadora. A dor estava presente em cada parte do meu corpo. Doía tentar me mover. Doía respirar. Doía abrir os olhos. Doía até pensar. E eu queria pensar. Queria lembrar. Lembrar do que havia acontecido antes de tudo que eu pudesse ver fosse o preto da escuridão, de onde eu estava ou por que todos os meus órgãos gritavam em protesto com a mínima tentativa de movimento. As únicas coisas que eu realmente lembrava era meu nome e fatos gerais sobre a minha vida.
"Michelle Dessler Almeida." – A voz de um homem ecoou pelo lugar, seja ele qual fosse. Eu tentei abrir os olhos, dor. Tentei me arrastar em direção à voz, dor. Por fim, eu parei e continuei a escutá-lo. Ele sabia que eu escutava. – "Filha de Steven Liontos e Susan Dessler. Um irmão: Daniel Dessler." – Ele parou de falar e gargalhou ironicamente. - "Tenho certeza que você o chama de Danny ou seria Dan?" – Eu senti a aproximação dele ainda que meus olhos se recusassem a abrir. – "Danny tem dois filhos, seus amados sobrinhos: Peter e Lílian Dessler." – Ele parou de novo e sua voz ficou mais ameaçadora.
"Você é casada com Anthony Almeida." – Ouvir o nome dele fez meu estômago despencar. Onde ele estava? Será que ele estava bem? Quando foi a última vez que eu o vi? – "E seus dois filhos: Matthew e Elizabeth Dessler Almeida." – Ele deve ter se abaixado porque as próximas palavras dele foram ditas diretamente no meu ouvido. – "Matt e Lizzie. Eu gosto de apelidos. Faz você se sentir mais querido." – Depois de uns instantes, ouvi seus passos se afastando de mim. – "Deve ser cansativo para você e seu Tony terem duas crianças em casa. Matt com 4 anos. Lizzie com 2. Eu não sei como vocês, pais em geral, dão conta. Eu não conseguiria." – A risada assustadora ecoou novamente pelas paredes. E nos meus ouvidos. – "Talvez seja por isso que eu não sou pai." – Pausa.
"Amanhã eu volto e continuamos com a sua história de vida. Quero que você lembre de tudo. De cada pessoa. De cada momento. Antes de eu tirar tudo isso de você." – Pela última vez, ele soltou uma risada que junto com as suas últimas palavras fez minhas entranhas encolheram. Eu escutei vagamente uma porta abrir e fechar. Depois, apagão.
***
Se passaram horas, dias ou anos, eu não saberia dizer, mas da próxima vez que eu fiquei consciente, foi ainda pior. As dores haviam aumentado consideravelmente. E a escuridão continuava a me cercar. Eu sabia que se pudesse abrir os olhos, talvez minha mente trabalhasse mais ordenadamente, talvez eu olhasse ao redor e descobrisse onde eu estava, visse uma saída. Talvez, se eu apenas abrisse os olhos, eu descobriria que tudo não tinha passado de um terrível pesadelo. Mas eles não abriam. E meu raciocínio se recusava a ser lógico. Eram mil perguntas, e nenhuma resposta. Pela segunda vez, a voz do homem cortou meus pensamentos e eu me concentrei. Era a única coisa a qual eu podia me agarrar. O único momento em que minhas dores eram ignoradas para deixar que o cérebro acumulasse informações.
"Aos 10 anos, você perdeu seu pai. O canalha se matou na sua frente. Depois de anos, sua mãe não agüentou mais e se mudou para Nova York, onde mora atualmente com seu irmão e seus sobrinhos." – Ele parou e eu o senti novamente aproximando-se de mim. – "Deve ter sido doloroso para a pequena Michelle ver o próprio pai cometer suicídio. Dói mais do que isso?" – Eu senti os pés dele chutando minhas pernas e tentei gritar. Assim como meus olhos não abriam, minha voz não saía. – "Dói mais que isso?" – Ele chutou de novo. – "Responda, sua cadela!" – Outro chute e tudo parou. Ele não falou por segundos e durante esse tempo, eu esperei por outro chute em qualquer parte do meu corpo. Um homem que batia em uma mulher não teria restrições quanto ao local que desferiria seu próximo golpe. Mas nada aconteceu. Uma porta abriu e fechou novamente. E meu cérebro fez o que ele aparentemente mais gostava de fazer agora: desligou-se.
***
A terceira vez teria sido uma cruel repetição das duas anteriores se não fosse pelo barulho da chuva nas janelas do local onde eu estava. Aquele simples ato da natureza me fez reagir. Eu precisava pensar se eu quisesse sair daquela situação com vida. Mentalmente, cataloguei as partes do meu corpo que mais doíam: cabeça, rosto, braços e pernas, especialmente onde eu havia sido chutada da última vez. Provavelmente algumas costelas quebradas. Vagarosamente eu mexi meus dedos das mãos e dos pés. Alguns dedos quebrados. Depois de reunir a coragem necessária, encostei a palma das minhas mãos no chão. E pela primeira vez, percebi que meu rosto estava colado desde do início naquele mesmo chão. Naquele momento, ele estava frio. Eu ia começar a tatear ao meu redor, quando a voz novamente me parou.
"Então você se move." – O tom sarcástico dele era tão evidente quanto a minha inabilidade de falar. – "Eu achei que tinha matado você, sabe? Quando a jogamos aqui. Felizmente, isso só acontecerá depois que eu brincar com você um pouco." – Eu permaneci parada, as mãos abertas contra o piso. – "Vamos continuar com a sua história?" – A pergunta era retórica. – "Você trabalha em Los Angeles como agente federal. É a segunda no comando logo atrás de William Buchanan." – Meu cérebro inevitavelmente gritou "Bill" e eu apertei meus olhos com a menção do nome dele. – "Sua melhor amiga se chama Chloe O'brian Bauer. Casada com Jack Bauer. Você é madrinha do filho deles: James O'brian Bauer. Recentemente, Jack descobriu ter outro filho, Harry Raines." – Ele pausou e eu sabia que ele fazia isso para que as informações afundassem dentro de mim. Pelo modo como ele falava, eu tinha certeza que ele estava lendo de algum lugar. Onde será que ele tinha conseguido a minha biografia? Será que eu a tinha escrito antes de vir parar aqui? Eu sorri interiormente com essa idéia patética. Fazendo piada, bom sinal de recuperação mental. Ou não.
"Jack Bauer ainda tem outra filha, de outro casamento, chamada Kimberly Bauer. Segundo minhas pesquisas, ela é como se fosse uma filha para você e Tony. Aposto que Jimmy também é." – Eu podia ouvir a risada na voz dele. – "Vamos fazer um pequeno resumo, Michelle. Já falamos sobre sua família e sobre seus amigos. Da próxima vez, nosso tópico será: seu trabalho. Você vai amar. Acredite." – Minutos depois, uma porta abriu e fechou. Eu temi que como das últimas vezes, eu fosse guiada pelo ritmo dela. A porta fecha, eu apago. Mas dessa vez lutei para permanecer consciente. Ele havia saído, o que significava, pelo menos era isso que eu achava, que ele não voltaria pelas próximas horas. Minhas mãos finalmente tatearam ao meu redor, mas eu não encontrei nada além de alguns pingos que eu sabia que era meu próprio sangue. Eu me sentia confiante já que havia recuperado meus movimentos nas mãos, ainda que eles fossem limitados a tatear na escuridão, e também pelo fato de eu estar raciocinando mais claramente, então segui para o meu próximo objetivo: me colocar em uma posição sentada. O chão frio contra o meu rosto estava incomodando. Eu cuidadosamente coloquei minhas duas mãos em cada lado do meu corpo e apliquei força para subir. Decisão errada: meu pulso direito cedeu e quebrou. Meu rosto bateu novamente no chão e eu quase grito com a dor. Quase. Antes de entrar no meu regular estado de coma, eu havia chegado a mais uma conclusão: morrer parecia a alternativa mais fácil. Viver seria muito mais difícil.
"O último erro antes que você morra.
Então não esqueça de respirar hoje à noite.
Hoje à noite é o fim, então diga adeus.
Adeus, adeus."
A Modern Myth – 30 Seconds To Mars
