Essa é minha primeira fic... Espero que gostem.

Dor. Era a única coisa que Callie conseguia sentir nesse momento. Ela estava a caminho de Golden Valley, lugar que Burke, o carrasco do reino e negociante de servos, a estava levando. Mas a dor era mais emocional do que física. Isso porque o Castelo Torres sempre foi seu lar. Onde cresceu, onde viveu momentos felizes e momentos terríveis, quando viu o reino de seu pai ser invadido, sua família ser morta e ela mesma se tornar uma serva. E não havia nada que ela pudesse fazer para mudar sua sina. A menos que conseguisse juntar dinheiro para comprar sua liberdade, estava condenada a servidão para o resto da vida. Agora, aos vinte e cinco anos de idade, ela iria para outro reino, servir a corte. Por um lado, ela admitia estar aliviada. Não estaria mais obrigada a se curvar diante do povo que desgraçou-lhe, porém, temia estar indo para um lugar ainda pior que este.

"Chegamos." anunciou Burke, com seu sorriso insolente, que lhe dava nojo. O lugar era bonito, campos verdes floridos, lagos e um castelo digno de conto de fadas, mas não para ela. "Aqui provavelmente você passará o resto de seus dias... Mas não se preocupe, não acredito que sejam muitos." Terminou com uma risada que deu arrepios na espinha de Callie.

A viagem tinha sido longa e seu corpo estava cansado e dolorido. Principalmente pela surra que Burke sempre se mostrou disposto a lhe dar, mesmo que não houvesse motivo. Isso a revoltava, ela era uma mulher e havia sido princesa, mas isso nunca foi um impedimento para o cafajeste... No início de sua vida servil, havia sido castigada severamente, várias vezes, quando recusava-se a obedecer. Agora, aos olhos de todos e até ao seu próprio, Callie era apenas um animal domesticado. E mesmo agora, ela ainda era vítima dos abusos, para simples satisfação cruel de Burke.

No meio do caminho, foram saudados pelo chefe de segurança do reino, Owen Hunt, que recolheu a autorização de passagem para o interior do território.

"Sigam em frente e tenham um bom dia. Bailey estará aguardando-vos ao pé da escadaria." Com um aceno de cabeça, sinalizou uma última vez sua permissão.

A carruagem parou exatamente na entrada do castelo, onde já esperava uma mulher baixinha de meia idade. Preston Burke desceu do veículo, puxando a morena com ele, quase fazendo-a tropeçar em seus pés. Diferente do carrasco, Callie estava apenas em roupas maltrapilhas e sujas, pouco apresentáveis.

"Bom dia, meu nome é Miranda Bailey e eu sou a governanta da família real Robbins." A mulher se apresentou, inexpressivamente. " Você deve ser a nova serva que estávamos esperando. E eu sou a encarregada de mostrar-lhe qual será seu trabalho." Disse, fazendo um sinal para Callie segui-la. Antes que começassem seu caminho pelo castelo, Burke quis valer sua presença.

"Provavelmente trabalhará alimentando os porcos, que é o trabalho mais digno para ela." Comentou dentro, seu sorriso arrogante nunca deixando seu rosto.

Após um momento,Bailey se virou para ele, ainda sem mostrar qualquer emoção. Apenas avaliou-o de cima a baixo.

"Com todo o respeito, creio que as funções da nova serva não sejam mais assunto seu, sir Burke, uma vez que, eu tenho a certeza, vossa Majestade pagou uma quantia generosa por ela. E acredito também que o senhor seja um homem muito ocupado, por isso, não se sinta no dever de permanecer mais tempo por causa desse assunto. Agora, se me der licença, tenho de voltar às minhas funções." E novamente, Bailey se vira para sair, com Callie a sua sombra, deixando o homem sozinho na entrada do castelo. Foi desnecessário, afinal, ele era um empregado de um dos aliados do reino, mas particularmente falando, ela nunca havia gostado de Preston Burke.

Enquanto andavam para dentro do grande local, Bailey foi explicando onde ficava cada lugar necessário, que Callie deveria saber. A morena percebeu o exagerado luxo que a família real Robbins exibia em todas as suas instalações. Não foi diferente do que sua família, um dia, chegou a exibir, mas estava perplexa, há tanto tempo não via de perto. A mulher mais baixa foi dizendo passo a passo de suas tarefas, enquanto sinalizou novamente, para segui-la pela grande escadaria do hall do Castelo, que dava acesso aos aposentos da nobreza. Elas pararam em frente a uma porta dupla, adornada e perfeitamente esculpida. Bailey empurrou as postas abertas, abrindo passagem para ela adentrar no cômodo. Era exageradamente grande, com uma cama QueenSize de centro, com dois criados mudos em seus lados. No canto da sala havia um jogo de sofá e mesa de centro. Todos combinados em veludo vermelho. Um enorme closet atrás em outro canto. Havia três portas dentro do aposento. Uma de vidro dava acesso à sacada e outra, ela supôs ser a do banheiro. Mas a terceira ela não tinha tanta certeza.

"Bem, senhorita Torres... Você deve saber primeiramente que, sua função aqui neste castelo será exclusivamente servir a princesa Arizona em todos os aspectos. Sendo assim, você deverá segui-la aonde ela for e fazer tudo o que ela lhe pedir. Nunca olhe em seus olhos diretamente e só fale quando ela lhe der permissão para. Alguma vez, você serviu exclusivamente alguém?"

"Não, na verdade. Meu serviço sempre foi com os animais, como Burke mencionou anteriormente, senhora." Respondeu Callie de cabeça baixa.

Bailey a olhou de cima a baixo, como se considerando o que ia dizer.

"Bem... Mas eu acredito que você já saiba exatamente o que um servo faz, certo, senhorita Torres? Você já deve ter tido um, penso eu...

"Sim senhora." respondeu simplesmente

O silêncio caiu entre as duas mulheres. Ela havia ouvido o que aconteceu ao reino dos Torres há alguns anos antes... A extinção trágica de toda a família real e a captura da jovem Calliope, condenada para o resto de seus dias à servidão. Como ela lidava ter ido do luxo ao lixo da noite para o dia,Bailey ainda era ignorante. Mas de uma coisa ela tinha certeza, Callie nada lembrava um nobre pomposo que provavelmente foi um dia. Todos eles eram. Não que ela não gostasse de seus senhores, não que fosse desrespeitosa, mas ainda estava lá. Ela, porém, quebrou a atmosfera, voltando a explicar-lhe os detalhes de suas funções.

"A princesa é exigente quanto a horários. Ela gosta que a acordem todos os dias em torno das oito. Durante às segundas, quartas, sextas e domingos, vossa Alteza gosta de cavalgar pela manhã e por vezes ir ao lago refrescar-se. Suas roupas estão deste lado do closet." Apontou para um dos lados do enorme armário. "Ela também gosta de tomar banhos depois de acordar e antes do jantar. As lavagens de corpo de lavanda são pela manhã. As cítricas, à noite. Vou lhe dar a lista de tarefas dela, durante a semana." Diz, lhe entregando um pedaço de pergaminho. "Alguma dúvida?"

Callie pega o pergaminho e abre, dando-lhe uma olhada...Caramba... Eram bastante funções.

"Não senhora." Disse por fim.

"Ótimo!" Disse virando-se, mas para em seu caminho abruptamente. "Ah! Antes que eu me esqueça. A princesa pode ter um gosto um tanto peculiar para roupas de cavalgar... Ela normalmente usa calças."Callie arregala os olhos para a informação. Uma princesa usando roupas masculinas era uma coisa muito inusitada. Que nunca viu nenhuma se quer chegar perto de usar. Será que o rei sabia? Revirou os olhos para si mesma na pergunta, ele provavelmente sabia e, aparentemente, permitia. Mas não poderia deixar de ser estranho. "Eu sei, não faça essa cara... Só... Você vai acabar se acostumando." Disse, fazendo sinal com a mão, a morena seguiu a mulher negra para fora dos aposentos da princesa. Foi para outra porta, no final do corredor, próximo ao quarto da princesa Arizona. Miranda abriu e elas entraram.

"Aqui é onde você vai ficar. É o quarto mais próximo ao de vossa Alteza, para que você possa atendê-la prontamente, quando ela necessitar. Está vendo aquela porta." Disse apontando para uma das duas portas que o interior do quarto possuía. " Ali você cairá diretamente no quarto dela." O quarto era muito mais simples do que o da princesa, mas era de longe o melhor lugar que ela teve para dormir em oito anos. Ele era moderadamente espaçoso, possuía uma cama com um criado mudo, que a seus olhos, parecia muito mais confortável do que os colchões de palha no celeiro que ela tinha usado como cama. Havia um guarda-roupas em um dos cantos da sala e uma janela com uma poltrona em baixo. A outra porta dava acesso à um pequeno banheiro. "Aconselho você a tomar um banho e mudar suas vestes." Dizendo isso, ela foi até o armário, abrindo a porta e pegando um dos vestidos que estavam lá dentro. Eram simples, mas possuíam melhor aparência que seus trapos. E eram limpos. "A partir de hoje, você usará apenas esses vestidos... É importante que esteja bem apresentável para sua majestade e os demais." Disse lhe entregando o vestido e um par de sapatos. " E esses calçados... Acredito que sejam do seu tamanho."

Os olhos de Callie brilharam de satisfação. Naquele momento, ela não poderia pensar em nada mais adequado.

"Você começa amanhã e é claro, você receberá algum dinheiro por seus serviços. Que está claramente explícito no seu contrato." Miranda parou para pensar um momento antes de voltar a falar. "Você já se alimentou?'' Callie fez um não com a cabeça. "Eu imaginava isso... Bem... Tome um banho e se prepare adequadamente... Vou pedir ao cozinheiro que lhe faça algo para comer." Afinal, todos os servos do reino tem de estar bem alimentados. É uma regra no castelo... Servos fracos e doentes não eram de interesse do rei.

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Naquela manhã...

"Não! Definitivamente não! Eu não quero outra serva." Disse uma Arizona meio alterada. A família estava tomando café na sala de jantar real. O rei estava na borda da extensa mesa, sua esposa ao seu lado e Tim ao lado de Arizona. Enquanto Bailey se encontrava respeitosamente afastada, um pouco mais atrás da rainha e Diana, serva de Tim, atrás dele.

"Não creio que você terá escolhas, querida... Você precisa de uma nova serva e eu lhe arranjei uma." Respondeu o rei, não abalado pela explosão de sua filha.

"E quanto a April? Ela ficou comigo por anos! Me recuso a ter outra serva estúpida em meus calcanhares!" Declarou, pronta para deixar a mesa, mas foi segurada por Tim.

"Zona, você sabe que April conseguiu comprar sua liberdade, com a ajuda de sir Avery. O que não me admira. Sua última visita ao castelo, deixou-me bem claro o interesse dele por ela." Tim estava tão impassível quanto o rei Daniel, mas suas palavras não convenceram Arizona.

"E é por esse motivo que não entendo porque devemos pagá-los para nos servir! Só corremos os risco de perdê-los. E o que sir Avery tem na cabeça? A realeza se misturar com a servidão é inadmissível!" Arizona agita os braços, inconformada. "Que direitos ele acha que tinha de tirar-me minha serva?"

"Zona, querida. O amor não escolhe a classe social." Rainha Bárbara interveio na discussão. "Além disso, seu pai fez questão de encontrar uma boa serva para substituí-la. Ela foi verdadeiramente cara." Ainda sim, a expressão corporal de Arizona demonstrava que ela não estava satisfeita.

"A mim, isso não interessa."

"Zona." O rei repreendeu. Sua filha estava começando a passar dos limites. "É apenas uma serva. Volte a tomar o seu café e não quero mais ouvir reclamações sobre." Disse severamente. A princesa revirou os olhos, internamente.

"Além disso, ela não é qualquer serva." Tim falou dentro. "Pelo que fiquei sabendo, ela é última sobrevivente da família Torres. Pobre moça... Sua vida já desgraçou-se o suficiente, para que agora ela tenha que se tornar sua serva, irmãzinha... É realmente cruel." o príncipe provocou, recebendo um olhar nada agradável de Arizona em retorno.

"Timothy, não provoque sua irmã." Bárbara castigou.

"Além disso, os Torres não haviam feito uma aliança conosco, então, de qualquer maneira, não devemos nos preocupar com isso." Daniel virou-se para Bailey. " A propósito, Miranda... Quando chegará a serva?"

"Sua Majestade, acredito que até o fim da manhã, ela já esteja atravessando por aqueles portões."Bailey informou, em uma reverência.

"Ótimo... Vou deixar-lhe responsável para que a mostre todas as suas funções."

"Sim, Majestade. Acredito que amanhã ela já esteja apta para exercer seu trabalho." Ao fim da afirmação, Arizona levanta os olhos de seu café da manhã e olha para todos incrédula.

"Eu vou passar um dia inteiro sem minha serva? Oh isso é o suficiente para mim!" Arizona se levanta e rapidamente deixa a mesa. "Com licença."

"Arizona Robbins! Você não tem autorização para deixar a mesa. Termine seu café e poderá ir!" Daniel disse, autoritário.

"Eu perdi a fome, vou andar a cavalo e não tenho hora para voltar." Arizona informou, momentos antes de sair pelas enormes portas de madeira do salão. Todos presentes observaram a mulher teimosa um pouco estupefatos. Mesmo sabendo o quão severo seu pai poderia ser, ela não media esforços para fazer o que queria, nem que para isso ela tivesse que passar por cima de sua autoridade. Bailey observou como a família real parecia olhar para as portas com pesar. Desde que começou a servir a família há anos, ela via Arizona sempre como uma pessoa difícil, mesmo de uma idade muito jovem. Não que ela tivesse sido uma menina ruim, na verdade ela foi muito amável...Seus olhos azuis sempre brilharam de alegria e seus cachos loiros saltitavam na cabeça, enquanto corria para cima e para baixo no castelo. Ela sempre tratou a todos com respeito. Mas, ao mesmo tempo, ela sempre foi teimosa e um pouco rebelde... Não aceitava um "não" com muita facilidade. Naquela época, o rei ainda conseguia controlá-la. Entretanto, com o passar dos anos, era possível perceber que a princesa parecia estar crescendo frustrada. Diversas vezes dizia, para seus pais ou quem quisesse ouvir que, ficar presa à um reino para o resto de sua vida nunca foi o seu sonho e que ela não estava feliz. Ela queria viajar, conhecer novos lugares, novas pessoas... Ela não se via casando e criando uma família. Ela queria sair em busca de diversão e não a monotonia de um castelo e todas as suas regras. Fora o fato que, no auge de sua adolescência, quando os hormônios estão mais aflorados, foi pega no flagra ficando com uma mulher em um baile de primavera, realizado em um reino aliado próximo. Mesmo que não tenha sido uma surpresa para ninguém do castelo, principalmente Tim (A princesa nunca mostrou qualquer sinal de interesse para rapazes), seus pais manifestaram o desejo de que tivessem tido, pelo menos, um aviso prévio. Agora, com quase vinte e quatro anos de idade, Arizona era praticamente indomável.

"Minha filha está completamente fora de controle... Creio que vou ter de tomar medidas ainda mais severas com ela Bárb." O rei franziu a testa com o pensamento do o que fazer a respeito.

"Com todo o respeito, meu querido rei. Não acredito que isso adiantará... Por mais castigos que já lhe foram aplicados, Zona sempre agiu deste jeito." A rainha suspirou.

"Talvez eles não tenham sido rígidos o suficiente. Damos muitas liberdades a ela, Bárbara. Agora ela simplesmente não nos respeita." Daniel meditou.

"Ela ainda vos respeitam, papai. Mas eu conheço Z como ninguém e devo dizer que toda sua rebeldia é, no fundo, tristeza e frustração." Timothy explicou. "Vocês sabem que ela sempre teve sonhos incomuns à outras princesas...Sonhos modernos. Deem um tempo a ela." Pediu o rapaz de cabelo loiro escuro.

"Acredito, Timothy, meu filho, que ela já teve tempo o suficiente. Ela já é uma mulher adulta e está na hora de assumir responsabilidades. Responsabilidades essas, de uma princesa que está na segunda linha de sucessão do meu trono. Os tempos têm sido difíceis, meu rapaz. Constantes guerras tornam nossos dias mais imprecisos. Esse mundo é muito aleatório, para que ela não pode simplesmente confiar em seus sonhos idealistas de menina. Há pessoas cruéis, mau caráteres e aproveitadoras lá fora. Eu preciso dela segura, dentro das minhas divisas... Vocês dois."

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Callie estava aproveitando o seu dia de folga para seguir os conselhos de Miranda e explorar um pouco mais o lugar, que viria ser sua casa nos próximos anos. Era finalzinho de tarde quando seguia para o estábulo e, até esse momento, ela já tinha percorrido boa parte dos terrenos em volta do castelo. Havia um servo tratando de um dos cavalos, que ela identificou como Árabe. Era simplesmente lindo e isso a fez sentir saudades de seus próprios cavalos. O lugar era agradavelmente limpo e bem organizado, melhor até que o onde dormiu nos últimos anos. Mas Callie estava tão perdida em pensamentos, que perdeu a presença se aproximando atrás dela.

"Quem é você e o que está fazendo aqui?" Perguntou a voz feminina, em alto e bom tom. A morena deu um pulo, assustada, antes de se virar e se deparar com uma mulher loira, de olhos azuis inquisidores e... Calças masculinas? Quando não obteve resposta imediata, Arizona questionou mais uma vez. "Eu lhe fiz uma pergunta. Quem é você e por que está aqui no estábulo?

Quando o reconhecimento atravessou a morena, ela caiu em seus joelhos, como um devido servo há de fazer e engole antes de falar, torcendo para sua voz não sair tão falha perante a mulher imponente.

"Calliope ... Callie, Callie Torres, alteza." Conseguiu dizer, meio engasgado. A Presença forte da princesa a deixava nervosa. "Eu estavamos quase Fazenda UM breve reconhecimento das áreas ... Foi ... Me foi dito que seria BOM." Ele explicou, de cabeça baixa.

"Calliope... Torres." Arizona repetiu o primeiro nome, como se estivesse testando em sua língua. Então... Você é a minha nova serva, Calliope." Não havia sido uma pergunta, mas Callie respondeu mesmo assim.

"Sim, princesa. E sua alteza pode me chamar de Callie. Todos me chamam assim." Apenas sua família havia lhe chamado de Calliope, e ela meio que nunca gostou muito.

Arizona avaliou a mulher no chão de joelhos, frente à ela.

"Então...Calliope..." A loira começou, ignorando completamente o que a morena havia dito. "Você sabe... A menos que esteja com seu senhor ou, nesse caso, senhora, que sou eu." Apontou para si mesma, mesmo que a outra mulher não pudesse ver. "Você não pode estar nesses lados do castelo sozinha... ou sem autorização." Disse cruzando os braços.

"Eu lamento, alteza, eu não sabia." Respondeu Callie, com receio.

"Eu vejo... Se você houvesse tido o trabalho de ler o regulamento dos servos, que provavelmente Bailey deve ter lhe entregado, não teria cometido esse erro."

"Novamente, eu lamento muito... Não queria quebrar nenhuma regra e tampouco chateá-la."Callie disse, ainda completamente curvada aos pés de Arizona, seus longos e ondulados cabelos castanho escuro, caindo em cascata para frente.

Arizona deixou passar mais um momento, antes de responder por fim.

"Tudo bem... Dessa vez eu deixarei passar, mas que seja a última. Não a quero ver perto dos meus cavalos novamente. Fui clara?'' Callie simplesmente acenou com a cabeça. "Agora..." Arizona começou calmamente, enquanto aproximou-se um pouco mais da mulher e firmemente segurou seu queixo, obrigando-a a levantar seu rosto. " Deixe-me dar uma olhada em você."

Arizona observou de perto quando os olhos castanhos expressivos foram revelados por debaixo dos longos cílios. Por um breve momento, a loira ficou atordoada com a beleza natural da morena, antes de voltar à sua face neutra. Ela virou o rosto da mulher de um lado para o outro, como se estivesse analisando, antes de deixa-lo ir de suas mãos.

"Pois muito bem, Calliope... Você está dispensada, mas volte diretamente para dentro do castelo. E isso é uma ordem! Chega de exploração para você hoje." Ao término de sua fala, Callie se levantou rapidamente e pediu licença, correndo para fora do estábulo mais rápido do que Arizona poderia registrar.

Uma hora mais tarde, a princesa deixou seu cavalo aos cuidados do guarda do estábulo, Alex Karev, no qual tinha criado um certo vínculo com a princesa, uma vez que se conheceram desde a adolescência e ambos amavam cavalos, e voltou para dentro do castelo, atravessando o hall e subindo as escadarias até a sua suíte. Orgulhosa, se recusou a receber ajuda no banho de qualquer outro servo resignado no castelo, foi até o closet escolher um vestido e se preparou, antes de descer para o jantar.

Às oito em ponto, Arizona segue até a salão, onde sua família, acompanhada de seus respectivos servos a esperavam. Entretanto, de pé, ao lado de Bailey, estava sua nova serva, em um vestido limpo, azul claro. Ela saudou-os com um simples ''boa noite" antes de ocupar seu lugar ao lado de Tim e então todos puderam iniciar o jantar, em silêncio, até que Timothy se manifestou.

"Ei, Zona..." Tim chamou sua atenção em um cochicho. Arizona se virou para atender seu irmão. "Se você ainda está pensando em dispensar sua nova serva, tudo bem para mim, que eu ficaria com ela." Tim dá um de seus sorrisos de covinhas, a marca dos Robbins, antes de se voltar para seu jantar.

"Vá se ferrar, Timmy!" Arizona rosna baixinho.

"Estou falando sério, Z, eu não me importaria... Ela é linda." Ele lhe dá uma piscadela e volta sua atenção para Callie, que se mantinha respeitosamente afastada.

"Ela é uma serva." Arizona acrescentou estupidamente.

"Como se isso a impedisse de ser bonita." Tim bufou, perante o comentário da irmã. "Mas como eu sou um bom irmão... Vou deixar ela para você e então você...Ai!" Timothy grita ao receber uma cotovelada de Arizona, chamando a atenção dos demais.

"Crianças, comportem-se durante o jantar." Bárbara repreendeu.

"Foi o Tim que começou!" Arizona acusou, infantilmente.

"Eu não! Você irmãzinha que não sabe mais brincar e perdeu toda a graça... Vai virar uma velha rabugenta com vinte e nove gatos em casa!" Tim provocou.

"Não vou!" Arizona rebateu, fazendo beicinho.

"Já chega meninos... Não é hora para brincadeiras e provocações." Daniel disse e assim como voltaram a comer, o rei observou seus filhos. Não importava quanto tempo passasse para eles ou quão adultos estavam se tornando, ainda agiam como duas crianças em torno um do outro. Timothy era seu primogênito e o próximo sucessor de seu trono. E apesar de ser apenas dois anos mais velho que Arizona, sempre foi um irmão mais velho super protetor. E o rei conhecia seu filho. Ele adorava a irmã, mesmo que sempre estava a sua espreita, pronto para provocá-la. Daniel tinha a ligeira sensação que sua filha rebelde já havia entrado em muitas confusões, mas a maioria delas não chegou ao seu real conhecimento por causa de Timothy. O príncipe ajudava-a a esgueirar-se delas, ele tinha certeza. E o rei era secretamente agradecido a Tim por sua lealdade e comprometimento à Arizona.

"Então, Arizona, minha filha." Bárbara começou "não a vimos no almoço. Espero que tenha uma boa razão para faltar aos nossos costumes familiares." A rainha queixou-se.

"Eu havia avisado antes de sair que não era para esperar por mim, mamãe." A loira mais jovem lembrou. "Você sabe que quando saio para cavalgar, eu perco a noção do tempo." Ela suspirou e tomou um gole de vinho. "Aliás, falando em cavalgar, estava pensando em adquirir mais um Quarto de Milha."

"Por que? Há algo de errado com RedFlower?" Perguntou Timothy, meio alheio.

Na pergunta, Arizona revirou os olhos para seu irmão... Tim era ótimo em muitas coisas mas, em se tratando de seus cavalos, seu irmão era completamente ignorante.

"Timmy, Red Flower é um Árabe fêmea, que por sinal, é bastante delicada e sensível. Normalmente eu utilizo Salazar... Ele é um Quarto de Milha e essa raça é ótima para longas cavalgadas, pois são bastante resistentes." Arizona explicou. "Mas é o único que tenho."

"Arizona, minha filha... Há muito mais cavalos no estábulo do que apenas Salazar e Red Flower." Daniel parecia confuso. Ele tinha uma grande frota de cavalos saudáveis e capazes.

"Sim, como Khaliu. Eu fui ao estábulo para dar uma olhada nos cavalos, quando Alex me apresentou o mais novo recém chegado. Ele me pareceu um ótimo cavalo. Forte, alto e imponente, como um animal como esse tem que ser." Tim comentou. Sim, definitivamente cavalos não eram a praia do príncipe, pensou Arizona.

"Irmãozinho, a menos que você queira sair voando pela cela no momento que tentar montar Khaliu, eu não aconselharia. Ele é um garanhão... É arisco demais para ser montado." Ela mostra língua para Tim, que estreita os olhos e solta um bufo. Apesar de gostar de saber que o interesse de Arizona em cavalos a mantinha entretida, seu conhecimento sobre o assunto era, às vezes, irritante.

"Tudo bem, voltaremos a discutir esse assunto mais tarde, no mais, vamos apenas desfrutar do nosso jantar." Todos concordaram com a cabeça.

Enquanto comiam, Arizona se lembrou da presença de sua nova serva e levantou curiosamente seus olhos para a mulher latina, pela primeira vez, desde que sentou a mesa. Tim estava certo no que havia dito. Callie era uma serva, mas a loira tinha de admitir que era muito bonita, apesar desse detalhe. Ela possuía curvas... E Arizona adorava mulheres com curvas. Arg! Bateu-se mentalmente, desviando seus olhos para seu prato. Não devia pensar sobre o corpo de um servo... Servo era servo e tudo sobre qualquer envolvimento real com a "ralé" era apenas horrível. Mesmo que sua serva já houvesse sido princesa. Então lembrou-se do incidente aquela tarde.

"Então, papai... Hoje eu meio que me deparei com uma visitante não autorizada em meu estábulo." Disse a princesa, olhando para Callie com um sorriso desprovido de qualquer simpatia. A morena engoliu em seco. Ser dedurada ao rei logo no primeiro dia, por descumprir uma regra que nem ao menos havia tido conhecimento sobre, não era a primeira coisa que havia imaginado. Daniel olhou para ela, enquanto manteve a cabeça baixa por medo e vergonha.

"Bailey?" O rei pediu à sua governanta calmamente, quando essa parecia ter algo a dizer.

"Desculpe-me majestade. Na verdade, eu acredito que parte dessa situação tenha sido minha culpa. Eu havia lhe dito para fazer uma caminhada, um reconhecimento dos territórios do castelo, antes de começar amanhã. Porém, eu esqueci de mencionar alguns detalhes. Não creio que tenha sido de propósito." Miranda informou, ciente de que estava fazendo isso não só por que ela realmente havia falhado nas informações, mas também não queria que a pobre moça levasse a culpa, quando não tinha em tudo.

"Tudo bem Bailey... Só certifique-se de que outro erro não ocorra novamente." a mulher negra assentiu com a cabeça. Apesar da imagem de rei severo em toda a sua autoridade, Daniel era um homem bom e conhecido por seus súditos por ser generoso e honrado, como um verdadeiro rei deveria ser.

"Sim Bailey, principalmente quando se trata do santuário fedido de Arizona." Tim comentou e riu de sua própria piada, recebendo um olhar azedo da irmã.

"Eu deveria dizer o mesmo daquele seu criadouro de galinhas carnívoras." A loira comentou asperamente.

"Pois fique sabendo que são gaviões. Animais extremamente fascinantes e astutos." Tim corrigiu, orgulhoso.

"Como eu disse, galinhas." Retrucou, abanando as mãos, como quem diz não dar tanta importância. A rainha, que até agora preferiu se manter em silêncio com toda a situação, entrou no modo mãe, como sempre fazia quando o negócio era controlar seus filhos. Era um assunto que ela entendia como ninguém.

"Tudo bem, isso é tudo. Timothy, por favor, pare de provocar sua irmã durante o jantar e Arizona, filha, melhore essa cara. Agora que está tudo esclarecido, podemos voltar ao jantar com conversas casuais e leves? Nenhum incidente como esse irá voltar acontecer, certo? Barbará olhou para Callie, que acenou instantaneamente, em concordância. "Então não há o que discutir."

Após o jantar, a Robbins mais jovem pediu licença para voltar à seus aposentos e Callie instintivamente seguiu-a. Era seu dia de folga, mas não queria mais nenhum motivo para desagradar a princesa. A morena tinha que admitir que, pelo que parecia, não seria nada fácil servir a loira e internamente gemeu. Só não era pior do que servir o rei Tristan Boswell.

Arizona viu quando sua nova serva se moveu para segui-la, mas não fez nada para impedir. Ambas foram em silêncio até o quarto da princesa.

"Bem, Calliope... Visto que esteja de folga hoje, você pode se recolher a seus aposentos." A loira disse ao pé da porta de seu quarto.

"Tem certeza, princesa? Não precisará de nada?"Callie perguntou, prestativa e com certa dúvida.

"Eu tenho. Eu vou apenas me deitar, dessa forma, não precisarei de nada e hoje você não trabalha, de qualquer maneira." Ela se virou para abrir a porta e entrar, mas Callie ainda se mantinha do lado na frente dela, olhando para os pés. "Você tem conhecimento sobre minhas atividades logo pela manhã, certo?" A morena confirmou com a cabeça. "Ótimo, então isso é tudo. Boa noite."

"Boa noite, alteza."Callie se vira para o final do corredor, quando Arizona fecha a porta atrás dela.

Deixe-me saber o que vocês pensam. ;)