Disclaimer: Death Note não me pertence. Quem me dera ter a divina idéia de criar o L...


- Um: Abismo

Ele balançou as pernas molemente, para o nada, como se ainda fosse uma criança.

Ele sabia que não era. Mas, em sua mente, era como se implorasse para que voltasse a ser... um alguém inocente, desconhecido de maldade no mundo, que só conhecesse o lado mau quando brincava de vilão. Mas sabia que não era possível.

Talvez, ele nem quisesse voltar a ser criança. Talvez, ele só quisesse voltar no tempo e tentar reverter todos os erros que tinha cometido.

Matsuda levantou-se, fitando o céu que se punha diante dele. A sua frente, o mar de Okinawa, com ondas fortes, preanunciando a chegada da noite. E ele fechou os olhos, tentando esboçar seu sorriso de sempre. Mas, daquela vez, não conseguiu.

Se não estivesse tão seguro de sua decisão, choraria, como em tantas outras vezes. Desesperado, agindo por impulso.

Mas, ao passar dos anos, ele havia aprendido a se controlar. Ele já não era mais aquele calouro, entrando na NPA e seguindo com voz insegura os passos de Yagami Soichirou. Matsuda Touta virara um homem feito, de fibra, carinhoso com a família, amoroso com a esposa e firme no trabalho bem renomado.

Ele "ganhara" a vida, como dizia o velho vocabulário da sociedade japonesa.

"Talvez" murmurara. "eu tive a chance de ser feliz. Me perdoem. Sayu, filhos..."

De nada adiantaria se lembrar da família. Era algo que, com certeza, fazia o coração de Touta ficar mais pesado, culpando-se cada vez mais pelo que havia acontecido. E, como se o mar estivesse falando com ele, o sibilar das ondas sussurrava.

''Rai...to..."

Ele abriu os braços, e olhou para baixo. A distância que o separava do mar era de vinte metros. Mas ele não temia nada.

"Quem diria, você Matsuda" sorriu tristemente. "escapou do Death Note, e agora é você quem procura a morte..."

Ele fechou novamente os olhos, e sua mente guiou-o a um poço de lembranças... contendo Yagami Raito nelas.

"Desculpe, Raito-kun. Eu juro que não quis... juro."

Lágrimas caíram pelo seu rosto. Agradeceu mentalmente pela idéia de ter deixado a família no hotel. As crianças, Sano e Koiti estariam brincando de quebra-cabeças, enquanto Sayu estaria em uma conversa de chá e biscoitos com as amigas. Tudo perfeito. A família-modelo. O casal-modelo.

Tirando o fato, do irmão da esposa e o marido terem se relacionado em uma noite de bebedeira e sexo. E, no dia seguinte, o marido matar o irmão da futura esposa, e, alguns meses depois, se casar com ela.

Isso seria algo modelo? Era o que Matsuda se perguntava todos os dias.

"Ainda não consigo acreditar na minha falta de caráter." Murmurou ironicamente.

Ele admitira desde o começo que Yagami Raito, era de fato um rapaz brilhante. Alguém que conseguia tudo que queria. Alguém que tinha todas as qualidades em perfeita sincronia. Alguém, especial.

Sabia que não era recíproco. O admirável garoto o tratava como se fosse um palhaço, não levando nada a sério quando falava.

Mas Matsuda tratava indiferentemente, esboçando-o como um altar de admiração, para idolatrar.

Não podia culpar-se por não perceber que Raito era Kira. Ninguém havia descoberto, exceto Near e Mello, que visivelmente, tinham um QI mais alto que o dele. Mas não conseguiu se conter ao perceber a traição que este articulara.

E, no seu ato por impulso, desferiu uns belos tiros pelo corpo do jovem gênio. Como na noite passada, desferindo fortes beijos pelo corpo do Yagami.

Ele conseguia se lembrar vagamente do dia. Aizawa trouxera bebidas, falando algo sobre "comemorar" e "encontro com Near". E, com boas doses de saquê e vodka, todos estavam fora de si, até mesmo Raito, que parecia o mais feliz de todos. E, naquela hora, ele havia prensado Matsuda contra a parede, que também, alienado pela bebida, deixou-se levar.

Como ele conseguiria resistir às mãos ágeis de Raito, tateando firmemente seu peitoral, e os seus lábios tentadores, que teimavam em beijar-lhe o pescoço?

"Ninguém conseguiria..."

Foi exatamente o que aconteceu. Eles foram a passos trêmulos até o quarto sem câmeras, caindo na cama pesadamente, beijando-se em efusão. Roupas foram tiradas, e eles se encontravam cada vez mais perto, agarrando-se firmemente. Um momento mágica, mesmo no êxtase do álcool. Até que, em uma única palavra, Matsuda parou a trilha de beijos pelo tórax bem definido de Raito.

"Ryuu-za-ki..."

Mesmo tonto pela bebedeira, ele sabia muito bem sobre o que Yagami estava gemendo. E, com certeza, não era seu nome.

Mas, naquele momento, o orgulho não era o mais forte. E, firme de quem estava ali ao lado de Raito não era L, ele continuou com o seu ritual de luxúria, fazendo Raito gemer mais e mais.

E a noite continuou.

E, quando Matsuda acordou no dia seguinte, com uma bruta dor de cabeça e deparou-se com Raito dormindo nu ao seu lado, não deixou de dar um grito, que acordou o rapaz, que o fitou de forma surpresa.

"Ma...tsuda? O que estou fazendo aqui?"

"Eu é que te pergunto!"

Pouco a pouco, eles se lembraram dos fatos da noite anterior. Raito ficara em silêncio, mas Matsuda implorou para ele não falar para ninguém. Raito olhou-o curiosamente, e assentiu, até dar um pequeno sorriso e sair do quarto.

"Hoje é nosso dia de sorte, Matsuda."

Sabe-se lá o que aquela frase poderia significar... ele nunca viria a saber, na realidade.

Mas, se por uma vida, Matsuda conseguiu desejar Kira indiretamente... ele merecia morrer também.

"Eu fui um canalha com a Sayu."

Não era de fato muito espirituoso você matar o irmão da sua futura esposa, não é verdade? E ainda, ter feito sexo com ele na noite anterior, não é mesmo?

Suspirou profundamente, e segurou as lágrimas. Em passos trêmulos, ele ficou na beirada do abismo. Segurou o riso tristemente, pensando em Ryuuku vir buscá-lo depois de morrer.

"Encontrar todos... talvez... Misa, Raito-kun..."

Fechou com força os olhos, e balançou seu corpo para a frente, jogando-se contra o mar.

Koishikute omoide tadoru you ni
Hitorikiri tatazumu hamabe
Sabishikute namida ga afurete
Namioto dake sawaideta
Hitoshizuku umi ni toketa namida
Setsunakute kimi wo omou yo
Tasogare to yawaraka na nami ga
Ano hi no kimi wo tsurete kuru...


Suicídio do Matsuda alguns anos depois da morte do Raito. Reclamações, dúvidas, sugestões... reviews, onegaai! n.n