Capítulo 01 O Início
Timidamente os raios de Sol adentram no quarto em que Saori repousa.
A deusa abre os olhos lentamente, espreguiça-se e se levanta. Toma um banho relaxante, enrola-se numa toalha e volta a seu quarto.
No grande guarda-roupas escolhe para si um vestido azul-bebê e, para proteger sua pele sensível contra o Sol da Grécia, coloca uma capa branca com capuz. Penteia seus longos cabelos e sai em seguida para o Salão do Grande Mestre.
O Salão encontra-se decorado com compridas cortinas vermelhas e ao fundo, sobre uma elevação, está o trono do Grande Mestre do Santuário de Athena.
Saori calmamente caminha em direção de uma das cortinas que recobrem as paredes e afasta-a, revelando um grande espelho com linda moldura em relevo dourado. A moça mira-se no espelho por rápidos instantes e, satisfeita, afasta-se, saindo do Salão e descendo as quase infindáveis escadarias do Santuário.
As Casas estão aparentemente vazias, mas Saori não se preocupa com isso e prossegue em seu trajeto.
Um pouco cansada de tanto caminhar, ela vai à um pequeno vilarejo próximo ao Santuário, o vilarejo de Rodorio, local onde a irmã de Seiya ficara quando estivera sem memória.
Alguns soldados do Santuário conversam em um animado grupinho que rodeia uma fonte dágua e não percebem a aproximação de sua deusa. Ela passa despercebida devido ao capuz que lhe cobre o rosto.
- O Santuário está tão sossegado, não? - pergunta o primeiro soldado a seus companheiros.
- Sim... - responde outro dos guardas - Mas é muito monótono, ficamos todo o tempo sem fazer nada...
- E o Grande Mestre não aceita mais a nossa presença nas Doze Casas. - comenta o terceiro soldado - Antes ficávamos por lá todo o tempo, mas depois da Batalha contra os Cavaleiros de Bronze e a chegada de Athena... - Saori pára a certa distância silenciosamente - Não temos mais o que fazer...
- É... - o quarto soldado toma um grande gole de água de um balde - Glup... Mas depois da Batalha de Athena contra Hades... Glup... Ficamos mais afastados ainda de nossa... Glup, glup... Deusa Athena...
- Falando nisso, Athena quase não sai de seu Templo e menos ainda de seus aposentos... - comenta um quinto soldado - Ela deveria sair mais do Santuário, pois ainda é a única herdeira daquela tal família do Japão...
- Mas Athena deve ficar em segurança... - retruca o primeiro soldado.
- Do que adianta proteger a paz sobre a Terra? - rebate o soldado três - Ela faz apenas os Cavaleiros lutarem, mas ela mesma não ajuda muito...
- Tenha mais respeito com nossa deusa! - ameaça o soldado dois, irritando-se.
- Cuidado com o que fala, seu tolo. - diz o primeiro soldado - A Fundação criada pelo avô adotivo da srta. Kido ajuda muita gente...
- Eu sei, mas ela mesma não faz nada... - o soldado três dá de ombros.
Saori prefere não ouvir mais e afasta-se dos guardas, sem que eles percebam que ela escutou a pequena conversa. Após breve caminhada, Saori senta-se sobre um pilar caído no chão, enquanto observa a paisagem, pensativa, sem se dar conta de que é atentamente observada por alguém.
O som baixo de criança chorando é escutado e Saori levanta-se, tentando perceber de onde vem o choro. Encontra, ao aproximar-se de outro pilar caído, uma criança de aparentes 6 anos, trajando um vestidinho surrado, deitada de bruços no chão. Ao perceber a aproximação de Saori, a menina levanta-se e afasta-se um pouco, a face banhada de lágrimas.
- Por favor, não me machuque... - pede a menina, assustada.
- Acalme-se, eu não vou machucá-la... - a menina levanta o olhar, fitando o rosto da deusa - Diga-me, o que houve? - a menina prefere não responder - Qual é o seu nome?
- E-eu... - gagueja a menina - Eu me chamo... Eleni...
- Eleni?... - Saori sorri, tentando acalmar a garota - Meu nome é Saori... - Eleni sorri timidamente e senta-se à frente dela - Quer me contar o motivo de suas lágrimas, Eleni?
- Eu... Eu... - Eleni desvia o olhar de Saori, sem saber o que dizer. Ao voltar a fitar os olhos da deusa, a garota sente-se bem diante dela - Você é estranha...
- E o que quer dizer com isso? - Saori sorri, encorajando-a a continuar falando.
- Seus olhos são iguais a qualquer outro, mas ao mesmo tempo não são... Eu não sei, é que parece que você consegue ler minha mente, entende...
- Se eu realmente soubesse, - Saori continua sorrindo para a garota - não estaria perguntando o motivo de suas lágrimas, algo que você ainda não me respondeu...
- Minhas lágrimas? - Eleni tenta disfarçar, secando os olhos.
- Isso mesmo...
- É que eu... Não quero falar sobre isso...
- Por que pediu que eu não a machucasse?
- É que... que... - Eleni desvia novamente o olhar.
- Realmente não quer contar-me nada... - Saori levanta-se, observando se Eleni estava machucada - Venha comigo. Vamos voltar para o vilarejo...
- Tá... - levanta-se, mas começa a tremer diante de um vento mais fresco.
Saori retira a capa e entrega-a para que Eleni proteja-se do vento, acompanhando-a até o vilarejo. Os soldados que há pouco Saori escutara falando dela aproximam-se rápida e pomposamente de Saori e reverenciam-na, para espanto de Eleni. Esta última esconde-se atrás da deusa.
- Algum problema? - Saori observa os soldados, um pouco séria.
- Não, senhora. - responde o primeiro soldado, sem ousar encarar a deusa.
- Então retornem a seus lugares imediatamente.
- Sim. - os soldados respondem em uníssono, reverenciam-na novamente e afastam-se, enquanto Eleni continua observando-os, muito surpresa.
- Saori... - a menina a chama, puxando levemente o tecido de sua saia - Por que eles fizeram isso? Que eu saiba, isso é uma... uma... - parecendo forçar a memória.
- Reverência?...
- Isso... Eles se curvaram pra você... Minha mãe dizia que isso só se faz com gente importante...
- Sim, tem razão...
- Então você é muito importante, não é? Todos eles fizeram isso... E são soldados do Santuário... Você é do Santuário? Por acaso você é uma Cavaleira?... Amazona? - a menina corrige rapidamente ao perceber que pronunciara incorretamente o título das mulheres guerreiras do Santuário.
Saori sorri, mas prefere não responder às perguntas da garota, fingindo-se interessada em um pássaro que voa perto delas.
- Onde você mora, Eleni? - Saori pergunta após alguns instantes - Está frio para você ficar ao ar livre...
- Ahn? Eu moro ali... - Eleni aponta uma casinha simples próxima.
- Venha... - Saori caminha até a casa indicada, sendo seguida pela garota. Bate na porta e espera pacientemente até que alguém venha recebê-la. Sem demora, a porta abre-se, revelando uma mulher já de idade, vestida com um comprido pano azul-escuro, dos pés à cabeça. A mulher observa Saori e em seguida Eleni.
- Por Athena, Eleni... - a mulher abraça a garota - O que aconteceu com você, querida? Deixou-me muito preocupada... - algumas lágrimas escorrem pelo rosto já enrugado da mulher, demonstrando a felicidade dela por ver Eleni de volta ao lar.
- Desculpe-me, vovó... É que... - a mulher a silencia com um leve gesto de face.
- Eu compreendo, querida Eleni... Mas você deixou-me muitíssimo preocupada... Prometa que nunca mais fará isso...
- Eu... Eu... eu prometo.
- Vamos, Eleni... Você deve estar com fome... - a mulher acompanha a garota para dentro da casa, enquanto Saori permanece em silêncio.
Após alguns minutos, a mulher retorna à porta, segurando a capa de Saori, cuidadosamente dobrada, e devolve-a à dona:
- Não sei como agradecer, querida... Estava muito preocupada com Eleni... Onde ela estava? Espero que minha neta não tenha causado-lhe problemas...
Saori sorri levemente, enquanto veste a capa:
- Não se preocupe, não foi incômodo algum... Encontrei-a chorando perto das ruínas, quando passeava por lá...
- Pensei que Eleni fugiria de qualquer um que se aproximasse...
- Sim, ela ficou com medo de mim... Tentei conversar com ela, mas Eleni nada respondeu-me... Apenas consegui protegê-la do vento com minha capa e assim ela disse-me onde morava... - Saori percebe o olhar triste da velha.
- Eleni está passando por uma fase difícil, pois agora é órfã... Recentemente tinha perdido o pai e agora perde a mãe, minha querida filha...
- Ah, sinto muito...
- Mas graças à Athena e à você, Eleni voltou para casa... Se você não tivesse aparecido, Eleni seria levada à julgamento por invadir um local sagrado, já que estava nos domínios do Santuário de Athena... Não sei como agradecê-la, minha jovem... Mas, por favor, entre e aceite tomar o desjejum em minha humilde companhia...
- Se não for incomodá-la, adoraria... - Saori acompanha a mulher para uma sala humildemente decorada.
Ao centro do pequeno cômodo, a mulher indica uma das cadeiras para que Saori sente-se. A deusa obedece e observa a mulher aproximar-se com uma bandeja com um bule e 2 xícaras, sendo servida com uma xícara de chá e pãezinhos.
- Ainda não apresentei-me... - diz a mulher com um pequeno sorriso - Meu nome é Alcmena...
- Eu sou Saori Kido...