Gritos ecoam pelo dojo, alguns mais estridentes, beirando a histeria, agudos o suficiente para quebrar um cálice de cristal. Outros mais graves, curtos e pontiagudos, seriam capazes de perfurar o mármore se lhes desse vontade.

Aquele dojo sempre escutou muitos gritos e até conseguiu se acostumar á isso. Se é que se pode criar esse tipo de hábito. Mas ele sabia que dessa vez seria diferente e o dueto logo tornaria-se um solo.

Além dos gritos o dojo começou a ouvir vidro quebrando, objetos chocando com outros objetos, comida, ou algo que um dia foi comida, espatifando contra o chão e fazendo a maior sujeira, choro descontrolado e ameaças. Muitas ameaças.

Antes haviam ameaças também, mas não como essas. Essas tinham em algum lugar uma verdade bem escondida, que a gente não pode ver mas sabe que está lá. Sabe o que vai acontecer.

Até que não ouviu mais nada.

Um silêncio atormentador tomou conta dele inteiro, nem mesmo os relógios atreveram-se a dar o seu tique-taque.

"O que foi que eu fiz? Não era pra ser assim."

E o dojo nunca mais ouviu os gritos agudos, e raramente ouvia fiapos da voz afiada, que agora parecia que não era mais nem capaz de cortar o ar.

Mas foi capaz de cortar a si mesmo e se extinguir. E então o dojo ficou abandonado e hoje em dia pode-se ouvir histórias de um casal que se amava mas não se amou o bastante para conseguir existir.