Quando era mais nova, a única coisa que via nos olhos das pessoas que passavam por mim era pena. Pobre menina do Seam, perdeu o pai na mina e a mãe está catatônica. Pois passei a ignorar estas pessoas e estes olhares. Prim precisava de mim, não tinha tempo para piedade.

Descobri então os olhos que me encaravam de maneira diferente: Gale, que tinha esse brilho toda vez que saímos para a caça, algo que lhe era particular, como o apelido que me deu; Madge, a filha do prefeito e o mais próximo que eu tinha de uma amiga tinha olhos de curiosidade, de compreensão, de quem sabia a necessidade do silêncio ou simplesmente da solidão; e Prim... Ah Prim, toda admiração e amor que existem no mundo estavam ali toda vez que ela me olhava. Tinha Buttercup, o gato imortal, que tinha olhos só pra patinha e mantinha um ódio mortal por mim. Mas foi a única coisa constante em nossas vidas por um bom tempo.

Então vieram os Games.

Das pessoas do distrito, mais uma onda de piedade e algo mais, que eu creio ser respeito. Das pessoas do Capitol, somente aquele entusiasmo desnecessário por cada tributo. Era tudo sobre aparência e diversão, e é claro o desejo por um vitorioso, deixando a sede de sangue nas entrelinhas, bem a Garota em chamas e os amantes desafortunados do 12, os levaram à loucura. Dentre tanto brilho, detalhes metálicos e cores surgiu Cinna, penso que foi um dos homens mais brilhantes que conheci, dizia-me sem palavras que acreditava em mim, sua garota em chamas. Mataram Rue, a menina que me lembrava Prim, que desejava apenas sobreviver. Tiveram meu sangue e o de Peeta derramado na arena. Saímos com vida e viagiados. E o que se segue é a ''glória dos vitoriosos'', rebeliões, o Quarter Quell, a morte de Cinna, a loucura do Peeta, a revolução, o Mockinjay, a morte de Prim e minha insanidade.

Só então percebo os olhos de um anjo lutando com os próprios demônios para me tirar do meu inferno pessoal. Olhos de um azul tão profundo, tão pacífico, de quem pôs a minha vida acima da própria muitas vezes, mais do que eu pudesse contar, que me fitavam desde sabe-se lá quando, sem que eu ao menos percebesse algo a mais ali. Os mesmos orbes que encarei quando quase morria de inanição(pouco antes que ele me salvasse pela primeira vez), e que espantavam os pesadelos no meio da noite, com a promessa de que a vida continua, não importam quão ruim são nossas perdas. Algo que eu só encontrava em Peeta.

_Você me ama. Real ou não real?

_ Real.