LABIRINTO

Meus passos podem parecer firmes e decididos, e eu, a concretização da estabilidade. É a imagem que tento passar, para convencer a mim mesmo, e para que não saiba do poder que exerce sobre mim.

Sou terra, firme, concreta e mundana. Você é fogo que dança na forja, fogo sagrado que me fascina, acalenta… e me amedronta.

Sou capaz de atravessar continentes para estar contigo, para sentir sua presença tão etérea… Mas é quando sua pele, que deve ser tão macia, está ao alcance das minhas mãos… quando ouço sua voz me falando, que eu perco o rumo. O que faria se soubesse que um mero olhar seu me faz tremer na base, duvidando da solidez do caminho que devo trilhar, sem conseguir avançar ou voltar atrás, temendo que um passo em falso ponha tudo a perder?

Às vezes tenho a impressão de que tem consciência dos meus sentimentos. Outras, parece que meus motivos são terrenos demais para que alguém como você, de um povo lndário, os compreenda. Ou talvez saiba decifrar o confuso mapa do meu coração com precisão, mas seja tão magnânimo que prefira não me rechaçar para evitar ferir-me.

Por mais que eu rumine sobre o assunto, não vejo saída.

Sou homem, mas também sou Touro. Será o meu destino como o do minotauro lendário, encerrado num labirinto, sem jamais que meu horizonte nunca mude, sem gozar do prazer de ser visto com outros olhos…?