AS APARÊNCIAS ENGANAM

[ShiryuForever94]

Categorias: [Desafio] Otaku Valentine's Day, [Projeto] Ano Zodiacal II, Signo: [AQUÁRIO], Slash, MxM relationship, CDZ, Saint Seiya, Radamanthys de Wyvern e Valentine de Harpia, Songfic (Ellie Goulding - Love Me Like You Do), Universo Alternativo.

Dedicatória: Presente de dez anos para Akane Mitsuko

Disclaimer: Trabalho de ficção feito de fã para fã, sem fins lucrativos. Todos os direitos reservados aos criadores e donos dos personagens (fictícios ou reais) aqui apresentados. Proibida a comercialização sem a expressa autorização dos representantes legais dos mesmos, bem como a reprodução, no todo ou em parte, sem a expressa autorização do(a) autor(a) desta ficção. Todos os direitos são de Masami Kurumada.


A aparência esguia poderia enganar quem olhasse para ele sem prestar muita atenção, fazendo pensar que ele era franzino, talvez frágil demais para o trabalho. Os olhos verdes e os cabelos vermelhos poderiam chamar os olhares para sua aparência belíssima, quase feminina, distraindo a mente de quem se atrevesse a encará-lo. A voz baixa e controlada poderia significar que ele era submisso.

Até que as facas afiadas que ele empunhava com mãos cobertas de luvas de couro negro e o meio sorriso frio mostrassem que aquele homem era um assassino, uma arma de guerra tão perigosa quanto seu namorado.

E amor da sua vida. Não, não deveria estar pensando nele. Afastou rapidamente a imagem do homem que lhe dera motivos para viver e sobreviver.

Valentine de Harpia era um dos homens mais letais de todo o clã de assassinos controlado pelo homem conhecido como Hades. Muitos achavam que eram criminosos, mas Valentine não se importava com rótulos, jamais se importara. Preferia enxergar a essência das pessoas e há muito aceitara que o que faziam era necessário e era justo, não obstante a crença alheia.

No momento, Harpia estava relaxadamente acocorado em cima de um edifício, estudando os arredores com óculos infravermelhos. Tinha um trabalho a fazer e queria ter certeza de poder optar entre pelo menos três rotas de fuga diferentes. Metódico, fizera alguns mapas e memorizara linhas de ônibus e trens.

Deu-se por satisfeito e desceu até a rua fracamente iluminada, montou na motocicleta preta e vermelha de motor potente. Não gostava de chamar atenção, mas era o melhor modo de sair de lá rapidamente.

"Terminou de examinar o terreno, Val?" Radamanthys levantou os olhos de um mapa de ruas da cidade onde estava com o namorado ao vê-lo entrar no quarto do hotel elegante em que se haviam hospedado.

"Está tudo pronto. Não será muito fácil amanhã, mas creio que terminarei tudo em menos de dez minutos." Harpia era seu codinome por ser perigoso e ter traços belíssimos no rosto bem feito. Tal como a ave mitológica, sua face quase feminina escondia agressividade e terror. No mundo animal, as harpias eram consideradas das águias mais poderosas dentre todas as outras.

Valentine de Harpia era poderoso. E mortal.

"Estarei de sobreaviso no teto do edifício de número quatorze se precisar de algo, o que duvido." Radamanthys suspirou e fechou os olhos por alguns segundos enquanto sentia os lábios de Valentine nos seus por mínimos momentos. Podiam ser o que muitos desprezariam, mas eram tudo um para o outro. Eram o amor um do outro e, talvez, a única razão pela qual ainda não haviam enlouquecido.

You're the light, you're the night

You're the color of my blood

You're the cure, you're the pain

You're the only thing I wanna touch

Never knew that it could mean so much, so much

Você é a luz, você é a noite

Você é a cor do meu sangue

Você é a cura, você é a dor

Você é a única coisa que quero tocar

Não sabia que podia ser tão importante

"Eu poderia ter vindo sozinho." Valentine comentou enquanto despia toda a roupa e ficava apenas com a roupa de baixo. "Vou tomar um banho." Soltou os cabelos ruivos com tons de cobre e seus passos em direção à suíte foram acompanhados com atenção pelo loiro alto de codinome Wyvern, ou dragão.

"Não demore." Radamanthys falou casualmente e, tão logo a porta se fechou atrás do ruivo, tirou um caderno de capa de couro já puída e examinou algumas contas. É, talvez pudesse esperar mais um pouco, só que, já não queria mais esperar. Suspirou. Já havia tomado banho, se barbeado, estudado o trabalho com afinco. Não podia sair nada errado. Haviam sido pagos regiamente, com um adiantamento bem polpudo e o recebimento do restante seria tão logo a morte se confirmasse.

Era horrível o que faziam, mas era um trabalho e, enquanto militares recebiam mixarias para morrer em território inimigo sem, muitas vezes, saberem porque lutavam, ele e Valentine sempre sabiam quem iriam matar, os motivos de quem os contratara e, principalmente, escolhiam eliminar ou não quem deveria ser seu alvo.

Trabalhavam para um sujeito esquisito de codinome Hades, líder de uma organização obscura e também conhecido como Imperador do Submundo. O homem dava medo até em santos e merecia sua fama de extremamente justo, mas perigoso. Todos eles o eram. Tal como na mitologia chinesa, eram cento e oito assassinos bem treinados, cada qual com um talento. Hades os reunira com cuidado para, segundo ele mesmo dizia, distribuir a justiça que os humanos pareciam não conseguir fazer, ou querer fazer. Eram uma espécie de irmandade e cuidavam uns dos outros.

No caso do dia seguinte, o alvo era o chefe do tráfico de escravos sexuais local com ramificações internacionais. Um homem que mal chegara aos quarenta anos e que fizera fortuna com a desgraça e a dor de muitas e muitas garotas e garotos. Não raro, os jovens eram sequestrados de suas casas, bastava que fossem bonitos. Jogados em qualquer lugar, eram violentados sem parar, forçados a usar drogas, até que suas vidas já não significassem mais nada além de obediência. Então eram postos para trabalhar com prostituição até que ninguém mais os quisesse. Não sobrava muito deles depois de algum tempo. A grande maioria morria de overdose ou cometia suicídio.

A mente analítica do loiro inglês alto gravara os dados mais relevantes enquanto pensava que havia um motivo para ele ter vindo. Desconfiava de quem aquele homem era pois há cerca de dez anos Valentine fora resgatado por Radamanthys de um desses locais de aprisionamento, justamente naquela cidade. O rapaz ruivo mal tinha dezesseis anos.

Radamanthys dissera ao jovem que estava livre, mas aquela palavra não parecera significar nada mais. Valentine não tinha família, nem casa, ninguém. Era apenas um órfão pobre, magrelo, profundamente destruído emocionalmente e com o corpo cheio de dores e marcas que o loiro realmente não queria pensar como haviam surgido.

Sem muitas opções, e por ter visto algo inexplicável nos olhos distantes e verdes, Radamanthys o levara para o "inferno", a sede dos criminosos de Hades. Alguns dos outros assassinos haviam dito que era muita maldade e Radamanthys rira. Maldade era o mundo, o mundo era maldade e, ao menos ali, Valentine saberia com quem poderia contar.

Valentine sempre poderia contar com ele, apesar de Radamanthys ser um assassino, um monstro, um perdido. Talvez se todos entendessem que Radamanthys também era leal, honrado e digno como poucos outros seres na terra pudessem compreender o liame que passara a unir os dois. Tal como Valentine, Radamanthys também não tinha ninguém. Fora recrutado por Hades justamente por não ter nada a perder. Talvez agora tivesse...

Eram apenas memórias, vívidas memórias.

Desde então, o inglês ensinara ao ruivo seu "ofício" e não demoraram a se apaixonar perdidamente. Valentine sentira muito medo daquele homem. Até entender que ele ao menos jamais mentia. Não importava o que houvesse, Radamanthys sempre estava lá para o jovem de olhos intensos e voz baixa.

Agora eram inseparáveis. Hades aceitara o ruivo, dera-lhe seu codinome e pessoalmente o entregara sob a guarda de Radamanthys para que ambos formassem uma dupla eficiente, fria e forte. Haviam demorado meses para finalmente terem alguma intimidade, mas o vínculo entre eles parecia forte demais para ser mensurado apenas em amor físico.

You're the fear, I don't care

Cause I've never been so high

Follow me to the dark

Let me take you past our satellites

You can see the world you brought to life, to life

Você é o medo, eu não ligo

Pois eu nunca estive tão extasiada

Me siga até a escuridão

Deixe eu te levar além do céu

Você vai ver o mundo ganhar vida, vida

Aceitavam trabalhos solo, obviamente, mas quando Radamanthys achava que o risco era grande demais, acompanhava seu amante sem titubear. O inglês de olhos esquisitos, quase dourados, era apenas três anos mais velho que Valentine, mas tinha muito mais experiência pois aprendera a matar com cerca de oito anos, ou seja, já era um assassino incontrolável quando resgatara o ruivo. Não havia muitas coisas boas na alma do inglês. Valentine talvez fosse uma das poucas coisas que valiam à pena.

"Está tão pensativo. Algo o preocupa?" Valentine reapareceu enrolado numa toalha preta que apenas destacava os olhos muito verdes.

"Andei conversando com Hades a nosso respeito. Creio que dez anos, quase onze, servindo na organização já foram o bastante." Radamanthys fechou o caderno e se levantou, caminhando até o namorado e abraçando-o.

"Do que está falando? Não existe aposentadoria para assassinos como nós. Não existe paz, nem sossego, apena um dia de cada vez. Foi você quem me ensinou isso!" Valentine arregalou os olhos, sem entender. "Vai dizer que nunca me disse nada sobre não haver amanhã?"

"Vai me dizer quem é o sujeito que vamos destruir amanhã? Eu sei que você o conhece. Eu percebi pelos seus olhos quando Hades procurou voluntários e você quase chutou Sylphid quando ele disse que poderia fazer o trabalho." Mudou de assunto habilmente. Era conversa para depois. Ao menos para alguns minutos depois...

Valentine ficou calado por algum tempo e se afastou do namorado indo vestir uma camiseta e shorts pretos. Sentou-se na cama enorme, cruzou as pernas e suspirou. "Ora, você sabe muito bem quem é." Olhava para longe, não para Radamanthys. Sentia intensa vergonha, ódio, temor, tristeza. Não se lembrava muito de sua infância, sequer dos primeiros anos de sua adolescência, mas se lembrava dele muito bem... Aquele homem que o machucara de maneiras indescritíveis. Não queria se lembrar.

Não podia esquecer...

O loiro ficou pensando por alguns segundos e se sentou ao lado do namorado de anos. "Já juntamos dinheiro suficiente. Podemos nos mudar para algum lugar em que ninguém nos conheça. Algum vilarejo florido e perdido no mundo. Eu vou viver com você onde quer que você queira ir, mas tem essa pequena vila na Espanha para onde poderíamos nos mudar. Pode criar cabras, galinhas, pode até ter patos, dúzias de cachorros, gatos, cavalos, o que quiser..." Falou tudo aquilo em tom baixo, com o coração aos pulos. Sabia que alguns dos sonhos do ruivo envolviam criar animais. Ele contara que na sua infância morara em algum lugar rural cheio de animaizinhos. Eram tão poucas as lembranças felizes de Valentine.

"Isso até parece um pedido de casamento." Valentine sorriu e derrubou o namorado na cama, dando-lhe um beijo nos lábios. "Por que isso agora? Sabe que eu vivo o aqui e agora, sabe que eu nunca reclamei, nem reclamo, sobre quem eu sou agora. Eu sou quem eu sou, Radamanthys. Sou um assassino. Não tenho piedade, não tenho vergonha, não tenho arrependimentos." Não era mentira. Valentine há muito tempo deixara de acreditar em vidas coloridas, em sonhos impossíveis, em soluções fáceis.

"Não há ninguém mais com quem eu quisesse me casar. Ter uma família, correr pela relva, ver o sol nascer, ver o sol se pôr. Ter dias péssimos e dias lindos, chorar e rir... Também sou o que você vê. Não há mentiras, nem máscaras entre nós. Eu sei o que você faz, ou fez. Você sabe quem eu sou, o que faço, o que já fiz. Somos mais honestos que quase todos que dizimamos. Não o julgo pior nem melhor que ninguém por fazer o que faz. Sei que também não me julga por isso. Somos quem nós somos. E somos ótimos juntos." Radamanthys abraçou-o com força e beijou-o com paixão extrema. Arfares e um selinho.

"Somos ótimos juntos? Hum... Sei..." Valentine tirou a camiseta que recém vestira, tirou o short. "Somente um ser humano dentre quase sete bilhões de humanos pode tocar em mim do jeito que você toca. Somente esse único ser humano é quem eu amo. Só você..."

Radamanthys gemeu...

"Só você pode fazer amor comigo..." Valentine se estirou na cama e estendeu os braços. "Quer fazer amor comigo?"

Mais gemidos subindo pela boca do inglês. Ele era tão lindo... Valentine era apenas... Apenas...

Amor.

O fogo daquela paixão de anos os incendiou rapidamente. Ofegos, beijos, lamentos, mordidas, abraços, prazer. Amaram-se com lentidão e com pressa, com e sem palavras. Prometeram e fingiram que jamais haviam dito nada a respeito. Beijaram-se e restaram exaustos e nus na cama enorme.

So love me like you do, love me like you do

Love me like you do, love me like you do

Touch me like you do, touch me like you do

What are you waiting for?

Então me ame como só você faz, me ame como você faz

Me ame como só você faz, me ame como você faz

Me toque como você faz, como só você faz

Pelo que está esperando?

"Ele gostava de assistir. Ele mandava seus homens me possuírem, me baterem, me darem choques. Ele enfiou um cabo de vassoura em mim e disse que era apenas o começo..." Valentine murmurou, os olhos fechados, o corpo úmido de prazer, a voz tão pequenina para um homem feito.

"Não precisa completar o trabalho. Eu faço por você." Havia um tom de profundo ódio na voz do loiro alto. Ele sabia... Aquele homem... Ele precisaria de mil mortes diferentes para expiar todos os crimes que cometera.

"Apenas esteja aqui quando eu voltar. Sobre criar gatos, cachorros, patos e cavalos..." Sussurrou beijando seu amor com carinho.

"Depois desse trabalho teremos o bastante para viver uns cinquenta anos mais sem nos preocuparmos." Radamanthys queria escapar daquela vida antes que não conseguisse mais ver luz alguma para onde seguir.

"Não vou dizer que a ideia não é tentadora. Talvez eu aceite. Por enquanto, apenas sigamos em frente com o que viemos fazer. É importante para mim." Valentine se levantou novamente e abriu o estojo com suas facas de pura prata. Afiadas, bonitas, brilhantes, letais. Manuseou duas delas com habilidade. Muitos o chamariam de demônio.

"Corte-o devagar. Sei que pode mata-lo com um único golpe, mas apenas faça durar. Vou arranjar cinco ou seis minutos extras para você."

"Sempre sabe do que eu preciso?" Valentine guardou novamente as adagas perfeitas na caixa e virou-se para o homem que amava.

"Nem sempre, mas eu me esforço. Nós vamos e voltamos nessa vida, Val. Algumas vezes estamos longe um do outro, outras vezes estamos perto. O que importa é que sempre procuremos um pelo outro, sem jamais desistir."

"Posso ter cachorrinhos brancos? Vaquinhas malhadas? Talvez alguns gatos persa que encham a casa de pelos? Que acha de uma dúzia de porquinhos da índia?" Valentine sorriu e aquele sorriso fez Radamanthys ter vontade de chorar. Ele parecia tão inocente...

Fading in, fading out

On the edge of paradise

Every inch of your skin is a holy grail I've got to find

Only you can set my heart on fire, on fire

Yeah, I'll let you set the pace

Cause I'm not thinking straight

My head spinning around I can't see clear no more

What are you waiting for?

Você aparece e some

No precipício do paraíso

Cada pedacinho de sua pele é um Santo Graal que procuro

Só você faz meu coração pegar fogo, pegar fogo

É, vou te deixar guiar o caminho

Pois eu não estou pensando direito

Minha cabeça está girando, não consigo enxergar direito

Pelo que está esperando?

O dia seguinte amanheceu nublado, o que era bom pois diminuiria os reflexos de luz e a visibilidade. Nem eram dez horas da manhã e dois homens vestidos com malhas negras aderidas ao corpo estavam deitados nos telhados dos edifícios que haviam escolhido.

"Harpia, a presa entrou no prédio dois." A voz de Radamanthys soou segura e fria.

"Localizado. Em movimento." Valentine respondeu enquanto se esgueirava pela escada de incêndio e entrava no quarto elegante do hotel de luxo. Nada como ter um alvo que gostava do tradicionalismo e escolhera um antigo hotel reformado para sua estada.

"Distração." Radamanthys respondeu enquanto acionava um controle remoto e fazia algumas bombas pequenas mas barulhentas estourarem uma após a outra num quarteirão além de onde estavam. Logo havia patrulhas, transeuntes e gritaria.

"Por favor... Não... por favor..." A voz de alguém desconhecido soou no comunicado de Radamanthys que apenas esperou.

"Sem perdão, sem hesitação, sem amanhã." A voz de Valentine soou enquanto se ouviam lamentos e o som de algo sendo cortado. A agonia durou pelo menos dez minutos. Não se ouvia som algum vindo de Valentine.

"Trabalho realizado." Valentine falou no comunicador. "Rota de fuga dois." Avisou e esgueirou-se novamente, agora vestindo uma camiseta azul clara sobre a malha preta, uma peruca castanha cobrindo os cabelos ruivos. Encontrou a moto que já utilizara no dia anterior e sumiu por ruas entrecruzadas.

"Para o ninho." Radamanthys falou e desapareceu de onde estava.

Notícias divulgadas ainda naquele dia davam conta da morte horrível de um criminoso local. Ele havia sido picotado em pequenos pedaços, segundo constava ainda vivo. A ação do criminoso não levara mais que dez minutos, mas no entanto os especialistas ouvidos disseram que ele deveria ter sofrido horrores.

No quarto de hotel, Valentine deixava lágrimas silenciosas escorrerem enquanto se aninhava no peito forte do namorado.

"Que tal ovelhas? Podemos aprender a tricotar..." Radamanthys sussurrou enquanto beijava a testa, o nariz e o queixo do homem que tanto amava.

"Ele sequer sabia quem eu era, ele não se lembrava, aquele desgraçado nem se lembrava!" Valentine retrucou, um pouco cansado demais.

"Eu sei quem você é. Eu sempre saberei quem você é." Foi a resposta de Radamanthys.

"Que tal porquinhos rosados?" Valentine sorriu com lágrimas nos olhos. Sua mãe lhe dera um porquinho uma vez.

"Teremos um milhão de bichinhos se você quiser..."

"Promete?" Valentine começou a chorar, a angústia de anos tomando conta dele. Sempre controlado, sempre forte, mas agora mal tinha a idade de quando fora resgatado.

"Jamais descumpro uma promessa. Eu te amo tanto..." Radamanthys o beijou intensamente e deitou-o na cama, cobrindo-o com seu corpo, acalentando-o, cuidando dele.

Love me like you do, love me like you do

Love me like you do, love me like you do

Touch me like you do, touch me like you do

What are you waiting for?

Me ame como só você faz, me ame como você faz

Me ame como só você faz, me ame como você faz

Me toque como você faz, como só você faz

Pelo que está esperando?

"A Espanha é um lugar bonito." Valentine murmurou enquanto sentia os beijos, os toques, o carinho, a força daquele homem. Muitos poderiam achar que ele era apenas um assassino qualquer. Para o ruivo, Radamanthys era a salvação, a perfeição, a honra e o futuro.

"Será ainda mais lindo com você morando lá." Murmurou enquanto distribuía toques, beijos, abraços, murmúrios e amor.

"Me leva..." Valentine suspirou enquanto Radamanthys fundia seu corpo no dele de maneira absurdamente lenta, sensual e carinhosa. "E-eu..."

"Pode perder seu juízo, estou aqui para você, sempre estarei."

Valentine fechou os olhos e deixou seu corpo, sua alma e tudo que havia nele ser passado ao domínio de Radamanthys. Não iria se preocupar com nada mais, não no que dependesse do loiro inglês de voz calma e olhar assassino.

I'll let you set the pace

Cause I'm not thinking straight

My head spinning around I can't see clear no more

What are you waiting for?

Vou te deixar guiar o caminho

Pois eu não estou pensando direito

Minha cabeça está girando, não consigo enxergar direito

Pelo que está esperando?

Seis meses depois, um ruivo esguio corria pelos campos de uma pequena vila na Espanha, mais precisamente na Galícia. Estava cercado de dois labradores e quatro pastores alemães e tinha um sorriso incrível no rosto. A uma pequena distância, um homem loiro montado num cavalo pachorrento observava a cena e sorria.

Não muito longe dali, uma vila inteira, anteriormente abandonada, fora comprada por Radamanthys. Eram cinco casas de pedra com telhados de ardósia num terreno cercado de pinheiros e eucaliptos. O nome do local era "A Barca" e o inglês fizera graça com o nome dizendo que devia ser a barca de Caronte de Aqueronte, um dos assassinos de Hades encarregado de crimes no mar e lagos, que os levaria para fora do inferno.

Por ali também ficava o famoso caminho de peregrinação de Santiago de Compostela, mas os dois enamorados ainda não haviam tido disposição para tanto. Estavam ocupados tentando viver com um pouco de paz após anos de missões quase suicidas, imagens de morte e muita dor.

Algumas das casas ainda estavam desabitadas, mas Radamanthys e Valentine tinham planos de transformarem o local em abrigo para alguns dos demais assassinos do grupo de Hades quando decidissem parar de trabalhar. Infelizmente sempre haveria substitutos pois o mal não parecia querer deixar o mundo e, apesar de tudo, o que Hades fazia era necessário para o equilíbrio da justiça. Não que todo mundo precisasse concordar ou entender. Para os dois "aposentados" não importava mais.

Ninguém estranhara a compra pois os britânicos, como Wyvern, estavam entre os estrangeiros que buscavam comprar esse tipo de lugar para terem um pouco de tranquilidade.

"Ei, ainda temos que fazer o jantar!" Radamanthys comentou enquanto Valentine subia numa árvore para olhar ao longe, ouvindo o latido animado de seus cães.

"Podemos comer qualquer coisa. Venha cá ver o entardecer! É lindo!"

Radamanthys suspirou e apeou do cavalo sendo saudado pelos animais em festa. Subiu na árvore e sentou-se ao lado do agora marido. Casara-se com ele numa cerimônia simples há dois meses. "Senhor Harpia e Wyvern..."

"Senhor Wyvern..." Valentine de Harpia e Wyvern respondeu com um sorriso e um beijo apaixonado. Talvez a vida tivesse muitas voltas, talvez tivessem feito coisas terríveis, mas talvez, só talvez, houvesse uma chance para redenção.


Nota: Presente para Akane. Porque ela se importa.