Capítulo 1 – A Decisão

-"Eu não esqueci do meu compromisso, mulher... Kikio! Lembre-se do seu! Vou cobra-lo de você!"

Kikio acordou assustada e olhou tudo à sua volta buscando o dono daquela voz ameaçadora. Puxou as cobertas em volta dos ombros sentando-se na cama, tentando acalmar seus nervos, respirando o mais devagar que conseguia. Estava em sua tenda particular no acampamento recém armado de seu clã, no meio de alguma floresta. O cheiro da mata invadiu suas narinas ajudando-a a se controlar. Não havia mais ninguém ali. Apenas havia sonhado com seu ex-prometido, Sasuke, cobrando-lhe uma promessa de maneira nada doce. Não era a primeira vez e não lhe restavam duvidas de que não seria a ultima. Ele fora alguém muito importante em sua vida, mais do que um prometido, havia sido um amigo... um companheiro. Sasuke sempre esteve ao seu lado, se não em presença, em pensamento. Sua família foi incumbida de cuidar dele, porque era o mais próximo que lhe restou de algo que poderia chamar de "família". Mas seu clã era nômade, fazendo uma espécie de "serviço terceirizado" e realizando missões nos lugares mais longínquos, quase sempre fora do pais do Fogo. Apesar de passar temporadas na vila da folha, eles pouco ficavam por lá e Sasuke acabava muito sozinho.

Pondo-se de pé com o sono completamente perdido, Kikio, saiu para observar o pátio apilhado de outras tendas que circundavam uma enorme fogueira já transformada em cinzas. Com o adiantar das horas e o resto do clã adormecido os guardas já havia apagado também todas as tochas ao redor das tendas, mas a lua estava cheia e iluminava tudo até onde a vista alcançava. Kikio olhou para lua como se assim pudesse iluminar também algo dentro dela, pois tudo estava confuso.

Pra começar, nunca entendera direito o porquê de Sasuke não poder acompanha-los. A desculpa era tão complexa que sequer lembrava qual fora. Mas quando cresceu teve a compreensão do que era obvio: Seu pai, apesar de dizer que gostava muito de Sasuke, só havia tomado a guarda dele como pretexto para acabar com aquele noivado nada conveniente com um clã que já não existia, portanto não tinha a menor influência. O clã Maiko era conhecido por ter uma variação muito grande de alianças com clãs de chakras especiais. E eles, os líderes, faziam questão de ampliar a mistura do sangue com clãs poderosos, como os Uchiha, Nara, Aburame... e os Hyuuga.

Kikio suspirou desviando sua atenção da lua desconfortável. Quando tudo aconteceu não havia se importado com a quebra do acordo de seu casamento com Sasuke. Até porque na época ela era apenas uma criança. Os dois eram. Kikio e Sasuke brigavam mais que cão e gato e ainda se lembrava muito bem de viver se queixando e dizendo que casar com Sasuke seria pedir para morrer de estresse na primeira semana. Porem... o que eram aqueles pesadelos, justamente quando um novo noivado havia sido arranjado? Será que isso era mesmo remorso pelo seu ex-prometido por ter quebrado seus votos? Sera que só estava "nervosa com o novo" como sempre lhe falavam suas tias e anciãs da tribo?

As pessoas do seu clã são educadas para cuidar daqueles que lhes são escolhidos, desde pequenos. E voltar atrás em uma promessa de casamento é algo grave. Ainda que todos tenham entendido e apoiado a decisão do líder do clã, Maiko Kyouya, em adotar Sasuke para que tivesse uma referencia de família, o que foi feito nunca redimiu o sentimento de culpa que foi adquirindo com o tempo e que lhe tirava o sono ultimamente. Sasuke nunca foi realmente incluído no clã. Não convivera com os Maiko mais do que qualquer outra pessoa em Konoha.

Deixar Sasuke sozinho, sem orientação familiar, dentro de uma vila ninja, com todos apontando para ele como sendo um coitadinho ou mesmo um gênio foi o pior que poderiam fazer. E o problema complicou-se ainda mais, pois Sasuke tomou um péssimo caminho. Havia se tornado um desertor e aliado de Orochimaru. Já estava foragido há três anos e este fato ainda a deixava muito abalada.

Tempos atrás ela tinha tido certa esperança de que um loirinho em especial, tivesse posto na cabeça de Sasuke um pouco do seu senso de amizade e companheirismo, mais que isso, posto algo mais que tristeza e abandono em seu coração. Lembrava-se de ter ficado entusiasmada ao saber que os dois estavam numa mesma equipe.

Em uma das temporadas que passara em konoha, antes dos Uchiha serem dizimados, conhecera Uzumake Naruto muito bem. O garoto havia se chegado de mansinho e conquistado seu clã a tal ponto que quase houve uma briga em Konoha para que os Maiko levassem Naruto com eles. Mas infelizmente por motivos que só os antigos têm conhecimento, ele não pôde sair de Konoha, deixando Kikio com uma profunda dor na alma por um bom tempo.

Naruto tinha um coração enorme e era capaz de fazer com que todos a sua volta enxergassem verdades absolutas, que só pareciam absolutas quando ele diz que eram. A força dele era de um verdadeiro líder e estranhamente ela sempre soube disso, desde pequena. Porém também começou a notar esse mesmo dom em Sasuke, depois da tragedia que dizimou seu clã.

"-Vai ver é por isso que ele fugiu. Um líder é líder por não saber ser comandado." – revirou os olhos ao lembrar das palavras do seu irmão mais velho Kyu.

De qualquer forma chegou à uma conclusão: não conseguia negar pra se mesma que havia sim errado com Sasuke. Ela o abandonara igual ao seu pai, tanto como noiva quanto como irma. Não poderia simplesmente firmar um novo compromisso com alguém e deixa-lo sozinho e perdido como estava agora. Precisava resolver os problemas de sua consciência antes de firmar um novo compromisso com os Hyuuga. Entretando seu clã não esperaria que ela fizesse o que quer que tenha que fazer com Sasuke, para noivá-la com Hyuuga Neji. Seu tempo era curto e nem ao menos sabia onde encontrar a pretensão em pessoa que era seu ex-prometido e oficialmente irmão mais novo.

Mas então, como se ligada por uma palavra secreta, sua decisão tornou-se firme. Voltou para dentro de sua barraca trabalhando rápido e silenciosamente como a boa ninja que era. E quase sem saber como, em poucos minutos estava seguindo em direção a Konoha. Se não sabia onde procurá-lo começaria do início. Precisava voltar para casa.