Rubor


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Lhe foi entregue vestido em rosas e em rosa. Lhe foi entregue com longos cabelos como os de Rachel, mas escuros como os de Vincent. Tão delicado quanto a mãe, ninguém notaria que a infante mais notável no salão se tratava de um menino. Tão elegante quanto o pai, se portava de forma polida. Ciel era tudo o que Angelina mais odiava. Ciel era tudo que Angelina mais amava. A odiosa pária das duas pessoas que Angelina mais venerava.

Um pouco de pó de arroz, um pouco de pintura para realçar os olhos. Ciel evitava o contato visual, constrangido, como água que escapa por entre os dedos. E Angelina achava graça, sorria, tentava cativar. Baronesa Angelina Durless-Barnett sempre quisera ter uma filha e ser chamada de mamãe. Mas se contentava com o "tia Ann" de Ciel. Contentava-se em ouvir as palavras de Ciel, ao invés de ouvir Vincent. Contentava-se em olhar nos olhos de Ciel, ao invés de olhar nos olhos de Rachel. Aqueles doces olhos de sua amada Rachel... E os lábios tão iguais aos dela. Lábios os quais, agora, Angelina deveria tingir de vermelho. Mas não lhe bastava o batom. Não! De forma alguma! Ela era o vermelho verdadeiro, e deveria manchar Ciel de si mesma. Devia manchar Ciel de carmesim de cor de sangue.

E foi por isso que Angelina perdeu a cabeça e colou os lábios nos lábios de Ciel. No desespero. Pra passar, pra dividir, esse rubor sufocante que tanto fascinava-a.
Ao se afastar da jovem dama Phantomhive, Angelina pôde ver seu rubor em Ciel – principalmente em suas faces. Mas seu olhar já não mais era hesitante.

É chegada a hora, ela disse.
E ele apenas assentiu com a cabeça, e saiu, com o rubor em suas faces e em seus lábios.

Vá, querido. E, se sobreviver, volte para mim. Quando sua voz soar como a de seu pai.

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N.A.: Eu e meu tesão reprimido por Angelina e Ciel.