ABRIGO DAS MENTIRAS
Arashi Kaminari

Prólogo

Aos poucos as peças de roupa que eu vestia foram ganhando o chão. Uma a uma e devagar. Não posso negar que eu tinha consciência do que estava prestes a acontecer, mas em nenhum momento pensei em refrear meu desejo. Eu queria apenas sentir tudo aquilo que eu havia esquecido em algum lugar da minha mente. Entreguei-me sem limites.

Os quentes beijos por sobre a minha pele gelada e molhada. A língua serpenteando por ela, lambendo cada gota de chuva. Uma trilha de saliva sobre um caminho molhado.

Suas mãos libertando os fios de cabelo ruivo do elástico que os prendia. Seu olfato gravando o inconfundível aroma de rosas que exala continuamente de meu ser. O seu nariz roçando em meu pescoço, fazendo cócegas em minha nuca.

Os olhos de cor ímpar fitando minha carência totalmente exposta em meus olhos. Tentando encontrar uma entrada para o meu coração. Descobrindo meus segredos guardados a sete chaves. Uns que eu mesmo não conhecia a existência.

Agitando meus hormônios apenas com as palavras vulgares que dizia ao pé do meu ouvido, enquanto enfiava aquela língua safada por aquele orifício. Mordendo a cartilagem de leve.

Seus toques deixavam um rastro de prazer em meu corpo. Acendendo-me por dentro. Dando vida a lugares remotos. Arrepiando cada pêlo.

Deixei-me ser tocado de todas as formas possíveis e, talvez, as impossíveis. Não pensei nas conseqüências. Eu queria apenas sentir novamente. Mas eu não esperava que quando eu acordasse no dia seguinte e me encontrasse envolto por braços fortes e esguios até então desconhecidos, eu sentiria a culpa recair sobre meus ombros. Corri meus olhos pelo lugar onde eu estava e dei uma breve olhada para meu acompanhante. Eu fui pego desprevenido por aqueles olhos carinhosos e por aquele sorriso tão reconfortante.

E agora, estou sentado nesse maldito divã, tentando pôr em ordem todos os acontecimentos das últimas semanas. Por mais que eu não queira admitir, eu estou perdido.

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Por Arashi Kaminari, 30 de nov e 5 de dez de 2004.