Mais um verão se anunciava.

As flores cresciam a cada dia, novas e mais vistosas, de todas as cores e tamanhos.

Mary olhou para o imenso campo verde e um sorriso se fez em seu rosto enquanto algumas imagens se formavam em sua mente. Imagens do passado, de quando ela havia chegado a este lugar, antes cinzento e aparentemente sem vida.

Mas ela sabia que existia vida, que vida era somente o que havia.

Caminhou entre as folhagens exuberantes do jardim, o que ela ainda chamava de "jardim secreto" e enquanto caminhava, podia escutar os pássaros cantando alegres pela chegada da chuva. Ela sorriu mais uma vez à medida que os pingos molhavam a terra e o cheiro forte era emanado.

Ela respirou.

E seus olhos pousaram suavemente no balanço que se sacudia levemente com a brisa.

Ela se aproximou devagar, sem se importar com a chuva que chegava até ela por entre as árvores.

Sentiu seu coração bater mais rápido e descobriu como amava senti-lo assim. Era a vida que fluía dentro dela. Em seu corpo, em suas lembranças no arrepio em sua pele...

Tocou a corda e não pode resistir. Sentou-se. Mas não deu nenhum impulso para se balançar. Preferiu assim, como sempre fora.

Olhou à sua frente, vendo alguns animais brincando ao longe, com seus sons de risadas e alegrias, assim como os pássaros que continuaram a fazer sua festa.

Há quanto tempo havia chegado ali e conhecido Dickon e descoberto o real sentido da vida?

Ele muitas vezes a ensinara, ela muitas vezes o ensinara...

E quantas vezes se sentira culpada por esse amor que crescia dentro dela como as rosas cresciam com a chegada da primavera? Afinal, sabia que seu primo a amava e que ela não poderia correspondê-lo...

Ela sofrera, mas Dickon sofrera muito mais, não somente pela culpa, mas também por não se achar digno para ela, não achar que ele merecia estar com ela, com Mary, porque afinal, ele era apenas um empregado da casa.

Mary nunca havia se importado. Ela sempre o havia amado, muito antes de quando se sentaram pela primeira vez no mesmo balanço que agora ela estava sentada e ele a observava em silêncio, talvez pensado no mesmo que ela, pensando no primeiro beijo que eles trocaram ali, neste mesmo lugar, sentados um de frente para o outro, enquanto o vento passava por eles e os pássaros cantavam alegremente brindando o amor que florescia cada vez mais forte.

Ela abriu os olhos quando a chuva parou, deixando apenas uma garoa fresca que bailava no ar e o vento chegou até ela anunciando que ele estava ali. Ela sabia, ela nunca havia se enganado.

Dickon caminhou até Mary, enquanto seus olhares se encaravam intensos e ansiosos.

Nada foi dito, não havia necessidade de palavras. Seus olhares falavam por si. Seus corações ditavam o ritmo...

Ele se sentou no balanço, da mesma forma de sempre. De frente para ela, ainda se olhando.

Ela sorriu tranqüila fazendo-o também sorrir da mesma forma. Porque era assim que se sentiam agora. Tranqüilos e com a certeza de que tudo estava bem, de que tudo era certo.

Dickon tocou com sua mão a face de Mary, suave, mas o necessário para faze-la se arrepiar. Ele também se arrepiou quando seus dedos encontraram a suavidade da pele dela e sua mão encontrou com a sua.

Se aproximaram. E deixaram que seus lábios mais uma vez se encontrassem. Eles dependiam disso para viver. Era exatamente assim que a vida acontecia.

Tendo um ao outro.

Porque eles se pertenciam.

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De novo o balanço...