Olá,
Então, há muito tempo, quando eu estava lendo fanfics de Sakura Card Captors na internet (mentira, isso foi ontem, e hoje eu vou ler também), eu percebi que na maioria das histórias, a Sakura meio que já tinha o futuro decidido. Parecia que desde o momento que o Shaoran se declarou pra ela, ela tinha que casar com ele um dia, tinha que se tornar a matriarca do clã Li, tinha que viver sua vida em prol do senhor Li. Parecia que ela não tinha escolha... meio predestinação. Sim, eu também achei sinistro. Então, eu fiquei pensando: será que a Sakura sabe em que está se metendo? Afinal, ela é pouco mais que uma criança. Então eu decidi dar uma oportunidade única à senhorita Kinomoto: uma mudança de ares. É isso mesmo, você não ouviu errado. A Sakura vai ficar mais madura antes de tomar a sua decisão. Se depois disso ela ainda sim quiser casar com o Shoran. Bom, pelo menos ela teve uma chance. Afinal, estamos no século XXI, e até ela tem que se adaptar.
Mais uma última observação: esse capítulo ainda está bem SCC... vocês vão ver, ele será diferente dos outros. O sonho da Sakura diz muita coisa. Ah, vamos voltar ao que interessa...
Bem, essa história começa depois do fim do anime, na verdade depois de "A Carta Selada", uns 3 anos depois. O Shaoran e a Sakura estão namorando desde então, mas ele está morando em Hong Kong. Tudo está bem, a vida vai ótima e perfeita... por enquanto.
Capítulo 1 – O FIM
A noite era chuvosa. O parque estava escuro e silencioso, a não ser pelo som dos pingos batendo no chão. Lá estava a mulher. Na verdade, não uma mulher, mas uma garota que deveria ter uns 18 ou 19 anos. Ela era bonita. Não, Sakura pensou, ela não era só bonita, era a garota mais linda que já vira em sua vida. Tinha cerca de 1,70 m, um rosto de feições delicadas, uns grandes olhos verdes da cor de esmeraldas, cabelos castanhos compridos e ondulados. Ela usava um vestido rosa claro sem mangas, cheio de laços e babados,. Um visual um pouco inapropriada para alguém com tal idade, mas era algo que Tomoyo adoraria. De seu pescoço pendia uma corrente dourada, cujo pingente estava escondido dentro do vestido, e uma prateada com uma grande letra "A" pendurada. Sakura não conseguia parar de olhar para ela, pensando em como gostaria de ser assim quando crescesse. A garota estava de joelhos na grama, completamente imóvel. Quando Sakura se aproximou um pouco mais, percebeu que ela estava chorando.
- Por que está aqui sozinha? – perguntou Sakura. Um raio iluminou o céu e ela viu que a garota desconhecida tinha a roupa manchada de sangue.
- Eu estraguei tudo... até para isso eu fui inútil... – a garota tinha uma voz assustadoramente familiar. – Agora eles vão... não, eu não sei o que vai acontecer, mas eu sinto que será horrível. E eu não posso fazer nada para impedir. – as lágrimas começaram a cair com mais frequência. – E ele... ele acha que eu sou... que eu sou...
- Não chore assim, eu sei que tudo vai se resolver. – Sakura tentou reconfortá-la.
- Desta vez não, querida. Eu fiz coisas horríveis e estou sendo punida. Você mesma deveria me punir por estragar sua vida... Não só a sua, também estraguei as daqueles que você ama... Eu perdi o controle... – a adolescente começou a soluçar. – A culpa foi dele. Por que ele tinha que fazer isso comigo?
- Como assim estragar a minha vida? Eu nem a conheço. E o que você fez não pode ser tão ruim assim. – sua voz era quente e tranquila. – Se acalme, talvez eu possa te ajudar.
- Não, você não pode. Ninguém pode. Ele podia, mas escolheu não fazer. Então a vingança dominou meu coração e... eu não consegui impedir. Eu queria aquilo. Eu... eu ainda quero... é por isso que ninguém mais pode me ajudar. Eu queria poder mudar o que vai acontecer com você...
- Mas o que vai...
- SAKURAAAAAA! Quem pôs o despertador às oito?
Sakura abriu os olhos assustada e viu o pequeno ser amarelo sorridente, que em muito lembrava um bichinho de pelúcia. Kero continuou falando, animado:
- Você não ia encontrar com aquele moleque e a irritante da prima dele daqui a pouco na casa da Tomoyo?
- Ah, o quê? Eu não... – Ela viu o despertador. Faltavam trinta minutos para o horário combinado. – Aaaaahhhhh... Kero, por que você não me acordou antes?
- Eu tentei, mas você estava aí com uma cara de morta e não acordava de jeito nenhum.
- Hum... Kero, por falar nisso, eu tive um sonho muito estranho e queria te contar sobre ele, então depois que eu voltar... Ai, ai, eh mesmo, estou atrasada!
Em alguns minutos, Sakura estava pronta. Perguntou a Kero:
- E então, estou bonita?
- Olha, mas está muito bem. Só que você não precisa se arrumar pra encontrar aquele moleque. Qualquer coisa já está ótima pra ele...
- Ai, Kero... – Sakura fechou os punhos com raiva. – Já disse para não chamar ele de moleque. O nome dele é Shaoran e ele é o meu namorado! E você está me chamando de qualquer coisa?
- Namorado... pois é. Acho que você anda precisando de óculos, Sakura. Sua visão anda muito comprometida. E também sua audição... e seu gosto pra namorados. Além disso aquele moleque...
Sakura não estava mais escutando, mas sim fitando-se no espelho do quarto, que refletia uma bela garota de 15 anos, com traços ainda de menina. Seus cabelos lisos e castanhos continuavam curtos, como nos tempos de Card Captor. Os olhos eram verdes e amendoados. Usava uma saia rodada branca e uma blusa azul de mangas curtas. Pegou-se pensando que, afinal, poderia ser uma versão menos deslumbrante da garota do sonho.
- Sakura, você não estava atrasada? – Kero perguntou, tirando-a de seus devaneios.
- Ah, é mesmo. – disse, saindo do quarto. - Tchau, Kero.
Ao descer as escadas, encontrou seu irmão Touya sentado lendo o jornal, e seu amigo Yukito, ao lado, devorando uma tigela de cereais...
- Bom dia pra vocês. Até mais tarde. – Disse Sakura, já se dirigindo para a porta.
- Bom dia, Sakura. – respondeu Yukito, sorridente como sempre.
- Aonde pensa que vai, monstrenga? – Touya disse, olhando desconfiado para a irmã.
- À casa da Tomoyo. E já disse que não sou monstrenga!
- Ah, claro... vai à casa da Tomoyo... e é claro que o moleque vai estar lá. – era fácil perceber a raiva em sua voz. – O que vocês tanto fazem juntos? É melhor...
- Calma, Touya. Sakura já tem idade pra saber se cuidar sozinha. E eu tenho certeza que eles não farão nada de mal, afinal a Tomoyo e a Meilin estarão com eles. E sua irmã está de férias, deixe-a se divertir. – Yukito defendeu.
- Obrigada, Yukito. Ainda bem que você é o sensato dos dois. Touya, se o papai ligar, diga que eu volto a tempo para fazer o jantar. Tchau. – a garota falou e saiu.
- Sabe, Yuki, eu sei que você tem razão, mas só de pensar naquele garoto agarrando a minha irmã... – Touya disse irritado.
- Você sabe como ele é, tenho certeza que eles não ficam "se agarrando" como você imagina. E você também sabe que o destino dos dois está ligado de maneira irreversível, e não adianta se preocupar. Além disso... – Yukito completou. – ...quando as férias terminarem e o Shaoran voltar para Hong Kong, a Sakura vai ficar muito, muito triste... E você vai ficar muito, muito pior por ela. Então deixe-a aproveitar enquanto pode.
- Quanto a isso...sabe, eu sei que perdi meus poderes, mas às vezes eu ainda tenho sensações... Não sei explicar... Sensações sobre coisas que ainda vão acontecer... Nada muito nítido. Mas dessa vez, sinto como se os destinos dos dois... o laço que os une... estivesse sob ameaça... YUKITO, você está ao menos me ouvindo?
- Ah, desculpe, Touya. – o garoto estava distraído comendo. – Mas é que este pão está muito gostoso. O que você tinha dito mesmo?
- Hum... esquece. Não era nada de especial. Pode continuar comendo.
Sakura irrompeu radiante pela porta da mansão de Tomoyo. Chegou à sala e lá estavam: suas melhores amigas Tomoyo e Meilin e... o amor de sua vida, Shoran Li. Ele era tão bonito. Seus cabelos castanhos estavam sempre harmoniosamente despenteados, o que Sakura adorava. Seu coração bateu mais forte. Ele encarou-a com seus lindos olhos âmbar e sorriu, ao que ela retribuiu ficando extremamente vermelha.
- Você está atrasada! – disse Meilin. – Você sempre está atrasada, Sakura. O Shoran já estava quase levantando e indo atrás de você.
- Meilin! – disse o garoto, constrangido.
- Desculpem, é que o meu despertador estava programado para despertar mais tarde e o Kero não me acordou e eu estava tendo...
- Calma, Sakura, tudo bem, ainda temos tempo. O parque de diversões da colina ainda nem abriu... – acalmou-a Tomoyo. – Meilin, por que você não vem comigo até o meu quarto? Eu esqueci de pegar minha câmera.
- Não, Tomoyo, eu tenho certeza que vi você colocando ela na mochila. Você até falou "Meilin, vou levar minha câmera para poder filmar a Sakura no parque. Será tão divertido." Eu me lembro.
- Não, Meilin, eu esqueci de pegar a "outra câmera". – Tomoyo piscou um dos olhos azuis para a jovem Li. – E acho que também devo ter esquecido uma outra coisa...
- Ah, tá, entendi. Ok, eu vou com você. Shoran, Sakura, não saiam daqui. Voltamos daqui a pouco.
- Ou não. – completou Tomoyo, sorridente.
As duas garotas se afastaram, e Sakura sentou-se no sofá, ao lado de Shaoran, e o abraçou.
- Sou muito sortudo. – ele disse. – Tenho a namorada mais bonita e perfeita do mundo. E eu a amo tanto.
- É bom você amar mesmo, porque logo, logo você volta pra sua casa e eu vou ficar aqui sozinha pensando em todas aquelas meninas chinesas que ficam dando em cima de você.
- Nenhuma delas é um décimo do que você é. – ele disse, aproximando seu rosto do dela e a beijando. – É mais fácil você se interessar por um garoto japonês mais bonito enquanto eu estiver fora, mei-mei.
- Isso é impossível. – ela disse, reaproximando o rosto do dele. – Não há no mundo nenhum garoto mais bonito do que você.
Sakura envolveu os braços ao redor do pescoço de seu namorado e colou seus lábios aos dele, num beijo doce e agradável. Toda vez que estavam assim, parecia que seu cérebro ia derreter, e sentia que havia várias borboletas em seu estômago. Aquela sensação era ótima. Ela se moveu para aprofundar mais o beijo, e ele envolveu sua cintura com os braços. Ficaram sem fôlego e se separaram.
- Promete que me liga todos os dias enquanto estiver em Hong Kong? E que me escreverá muitas cartas, e que não vai se esquecer de mim? E que vai voltar o mais rápido possível? E que... – ele a calou com outro beijo.
- Sakura, minha flor, você me faz prometer a mesma coisa todas as vezes. – ele riu. – É bom saber que você gosta de mim tanto assim.
- Eu te amo! – ela disse segura.
- Eu também te amo, mais do que tudo no mundo, mei-mei. Eu nunca vou deixar você. Estou conversando com minha família para ver se me deixam voltar a estudar no Japão, pelo menos por uns tempos. Nada me deixaria mais feliz do que voltar a ficar perto de você todos os dias. – Ele a abraçou. – De qualquer forma, se isso não for possível... quando crescermos mais um pouco, pretendo me casar com você o mais rápido possível.
- E então eu serei a senhora Sakura Li?
- Sim, e eu serei Shoran Li, o homem mais feliz do mundo.
- E eu iria ter que morar na sua casa... em Hong Kong... com a sua família? E ia ter que aprender a falar outro idioma? E aprender novos costumes? E ser...
- Você não gostaria? – ele disse, com uma voz temerosa. Shaoran almejava seu casamento com Sakura mais do que qualquer coisa na vida. Nunca lhe passara pela cabeça que esse poderia não ser o desejo dela.
- Não... – ele fez uma cara assustada, e ela compreendeu. – Não, não foi isso que eu quis dizer... não é isso. – Sakura pensou em como seria triste abandonar toda sua vida na cidade de Tomoeda: sua família, seus amigos, seus costumes, seus lugares preferidos. Mas amava Shaoran mais do que tudo no mundo, e se pra ficar ao lado dele ela tivesse que se mudar para a Lua, Sakura não tinha dúvidas de que iria. Ele era o futuro líder do clã Li, e era claro que, segundo a tradição, ele e a esposa deveriam morar na enorme mansão em Hong Kong, que ela visitara uma vez, havia alguns anos. Sakura se mudaria para lá e esperava ser muito feliz. – É claro que eu quero me casar e ir com você.
- Verdade? – ele respirou aliviado. – É tudo que eu mais quero na vida. Sabe, depois que eu entrar na faculdade de Administração eu pensei em...
- Shaoran, sobre isso... eu sempre pensei que você faria algo mais na área de Arqueologia ou História. Você gosta tanto... Eu sempre te via tão feliz falando com o meu pai sobre pirâmides, e artefatos antigos, e... não sei. Será que você quer mesmo ser um administrador?
- É o certo a fazer, mei-mei. As empresas da família Li devem ser administradas pelo líder do clã, o que eu serei um dia. Não posso ignorar isso. Além disso eu vou ganhar muito bem como presidente das indústrias Li e poderei dar uma vida luxuosa pra você e ...
- Eu não ligo pra isso, Shaoran. Eu só quero que você seja feliz. Será que não há uma outra maneira?
- Receio que não, minha flor. Mas aprecio sua preocupação. Aliás... e você? Pretende fazer faculdade do que? – ele perguntou curioso.
- Sabe, eu nunca pensei muito sobre isso. Afinal, eu sei que você tem uma família muito rígida e eu não sabia se a sua família iria permitir que eu...
- Ora, eu nunca os deixaria se intrometerem nisso. Minha flor pode fazer faculdade do que quiser, e ninguém irá impedi-la.
- Mesmo? Você iria me defender mesmo se eu resolvesse me tornar uma dançarina ou uma nadadora profissional?
- Mas é claro que sim, você tinha dúvidas? – ele a beijou ternamente. – Se bem que eu não iria gostar muito de ver a minha esposa dançarina sendo cobiçada por todos os homens do planeta. Sabe... – Shaoran olhou fixamente para a namorada. – Quero que seja só minha e de mais ninguém. Quero que fiquemos juntos pra sempre.
- Vamos ficar, Shoran. Porque eu te amo, e pra mim isso é só o que importa.
O garoto estreitou os olhos e avisou:
- Você não deveria ter dito isso, Sakura.
Ele segurou novamente sua cintura, mais apertado do que antes. Primeiramente encostou-a em seu peito e ficou ali, só sentindo o perfume dela. Era tão bom tê-la ali em seus braços, mantê-la protegida de tudo e de todos. Ser o único dono do calor de seu corpo. Depois ele a afastou um pouco, deixando seu rosto a centímetros do dela. Ela encostou levemente os dedos nos lábios do namorado, esperando pelo beijo que não vinha. Ele resolveu experimentar um pouco, explorando sua boca, sua orelha, seu rosto, com vários beijos. As borboletas voltaram ao estômago dela, mas dessa vez acompanhadas de outra sensação, uma sensação diferente. Quando os lábios finalmente se encontraram, foi como se o mundo deixasse de existir. Sakura sentia como se sua boca estivesse sendo picadas por um milhão de pequenas abelhas. Estava quase tremendo, e não de medo ou de frio. Era um tremor de felicidade.
Shoran não sabia como, mas num segundo estavam ali sentados e se beijando e no outro ela estava sobre ele no sofá. Ele queria esquecer, mas tinha total consciência de que estavam no sofá da casa de Tomoyo e alguém poderia aparecer a qualquer momento, mas... beijá-la daquela maneira era tão bom. Quando ela começou a intensificar mais os beijos, ele sabia que tinha que parar.
- Sabe, Sakura, isso é realmente muito bom, mas a Tomoyo e a Meilin estão demorando muito. – e completou constrangido, sentando-se. – Não é melhor chamá-las?
- Bem... hum... – ela também estava vermelha, e sabia que ele tinha razão, mas só conseguia pensar em beijá-lo de novo. Aquele progresso no relacionamento era realmente muito bom. – Ok, eu vou lá em c...
Nesse momento, Tomoyo entrou na sala com um enorme sorriso de "eu sei o que vocês fizeram enquanto estávamos fora, e eu filmei", seguida por Meilin, que disse:
- Então, se vocês já cansaram de ficar ai sentado, está na hora de irmos. Eu quero aproveitar o máximo possível dessa cidade antes de ter que voltar para casa. Vamos?
Finalmente chegara o dia. Sakura temera esse momento durante as férias inteiras, mas ele chegara. Shaoran estava indo embora. Indo para longe. E agora, ela estava lá parada, no saguão do aeroporto, abraçada forte nele, com a cabeça apoiada em seu peito.
- Desculpe, Shoran. Estou molhando sua camiseta.
- Tudo bem, minha flor. Não se preocupe com isso. Só não chore, está bem? Eu não suporto te ver chorando. Você vai ver, eu vou voltar antes do que você imagina.
- Trinta segundos já são muito tempo sem você. – Ela levantou para contemplar os olhos castanhos que tanto amava. - Não aguento nem dez.
- E eu não sei? Me sinto da mesma forma. Mas é necessário.
- Odeio coisas necessárias. – Sakura disse, fazendo uma cara emburrada. -Elas quase sempre são desagradáveis.
- Não sei se isso está certo, Sakura. – Ele puxou um pouco o rosto dela e a beijou. – Eu necessito de você para viver, mas não te acho nem um pouco desagradável.
Ela riu. Nesse momento, foi anunciado que os passageiros do voo para Hong Kong deveriam embarcar.
- Por favor, me liga assim que chegar, Shoran.
- Eu prometo. Eu te amo. – Ele deu um último beijo na namorada, apertando-a mais para junto dele, sem se importar com quem estava olhando.
Meilin e Tomoyo, que estavam sentadas do outro lado do saguão, aproximaram-se. Os jovens Lis se despediram e seguiram para o portão de embarque.
- Por favor, Sakura, não chore. – disse Tomoyo para a melhor amiga. – Será só por um tempinho. Logo ele vai voltar pra ficar com você. Shaoran já não te disse isso?
- Disse, mas é que... Tomoyo, eu tenho medo que ele conheça alguém lá e se esqueça de mim.
- Isso não vai acontecer, Sakura.
- Como você sabe?
- Eu sei porque... – ela olhou bem nos olhos da amiga. – Porque você é a garota mais linda, meiga, especial, interessante e esperta do mundo.
O comentário deixou Sakura emocionada. Ela abraçou Tomoyo, com as lágrimas já prontas para escapar, e disse:
- Tomoyo, fico muito feliz que você pense isso de mim. Eu te amo como... como se você fosse minha irmã. Não sei o que seria de mim se não fosse por você. Desculpe-me por ficar aqui chorando e estragando sua tarde.
- Você não estragou nada. Eu também te amo e fico muito feliz em poder te ajudar. Agora, o que acha de ir para minha casa pra experimentar as roupas novas que eu fiz. – Tomoyo fez uma cara sonhadora. – Ai, você vai ficar tão fofa. Tem uma que é azul e verde e tem uns babados e um chapéu combinando... e tem outra que é...
Tomoyo estava entretida contando à sua amiga todos os detalhes das roupas novas. Sakura olhou por um momento para a janela e viu um avião decolando. "Volte pra mim, meu querido Shoran", ela pensou. Estava com um mal pressentimento.
Haviam se passado duas semanas desde que ele voltara a morar em casa. Bem, na verdade ele não sentia mais que ali era sua casa. Mas já tinha feito vários planos sobre o futuro, já tinha conversado com alguns de seus familiares. Shaoran só teria que esperar mais algum tempo, ter paciência, e então nada mais o afastaria do amor de sua vida. Ela seria dele para sempre. E agora estava aquele homem ali, tirando seu chão.
- Tem certeza de que é necessário? Não há... – A voz de Shoran estava falhando, mas não se permitiria chorar, ainda mais na frente daquele homem. – Não há uma outra maneira?
- Receio que não, senhor Li. – disse o homem. Era alto, aparentava ter cerca de 50 anos, tinha um enorme bigode preto e um olhar duro. – É a única maneira de protegê-la.
O mundo de Shoran estava desabando. Como aquele homem estranho se atrevia a ir até a casa do futuro líder do clã Li para tentar arrancar seu coração? Ele não poderia permitir que isso acontecesse.
- Não, eu não posso fazer isso. – Shoran disse. – Eu não posso fazer isso!
- Então ela vai sofrer as consequências, senhor Li. Pensava que o senhor se importasse mais com ela, e não que fosse um egoísta. Depois de tudo que contei e mostrei... até o senhor Eriol acha que...
- Mas que droga. Eu a amo! Eu amo Sakura Kinomoto! Como pode me dizer para deixa-la? Eu quero me casar com ela, quero ter filhos com ela, quero envelhecer ao lado dela! Eu não posso abandoná-la!
- Mas terá, se a ama mesmo... Eu já lhe disse... Ele nunca... O senhor tem que ficar longe dela. É necessário. – O homem parecia impaciente.
Necessário. Sim, Shoran se lembrava do que Sakura dissera. "Odeio coisas necessárias. Elas quase sempre são desagradáveis." Ela tinha toda a razão. E agora ele teria que deixá-la para salvá-la. Mas como abandonar a coisa que mais amava na vida? Ele nunca conseguiria fazer isso, não conseguiria encará-la nos olhos e terminar com ela. Vê-la chorar por sua culpa e não poder abraçá-la. Ele mesmo começaria a chorar também, se esqueceria de que tinha 15 anos e choraria sem se importar com quem estaria olhando. Mas ao pensar que era pelo bem dela... Parecia que Shaoran ia derreter, todo o seu corpo doía, seu coração estava apertado. Mas ele tinha que fazer, pelo bem dela...
- Tudo bem, eu faço. – Dizer tais palavras foi a coisa mais difícil que já fizera até então. – Só tenho que resolver umas coisas, então irei ao Japão e...
- Não, o senhor não pode ir até lá. Deve terminar com ela de outro jeito. Ligue para ela e...
- Que tipo de homem pensa que eu sou? Não abandonarei a mulher da minha vida pelo telefone.
- Pelos céus, vocês ainda são só crianças. E quanto antes o senhor terminar com isso, menos perigo ela estará correndo. Quer arriscar a vida dela indo até lá? Além disso... vejo em seus olhos que assim que ela o olhar, o senhor desistirá do plano.
Não era possível. Shaoran sentia que ia morrer ali mesmo.
- Tu... Tudo bem. Eu... eu faço.
- Faça o mais rápido possível. E não fique assim, não é o fim do mundo. Talvez resolvamos tudo e o senhor possa...
- Ela NUNCA vai me perdoar. – sua voz era de raiva. – Se eu a deixar, ela nunca mais olhará para mim. Eu terei mentido. Eu disse que voltaria, que me casaria com ela... e não o farei. Aos olhos dela, eu serei sempre um traidor mentiroso.
- Senhor Li, eu sinto muito mesmo que o senhor esteja passando por isso. Se eu pudesse, eu ajud...
- Mas não pode. É a minha vida que está desmoronando, e não a sua. É melhor que vá agora, senhor Kinney. Tenho assuntos a tratar.
O homem de bigode saiu, deixando Shaoran sozinho na biblioteca. Assim que a porta se fechou, o garoto não aguentou segurar as lágrimas. Ficou cerca de meia hora ali chorando. Depois, foi até o telefone e discou o número de telefone de sua amada.
Fora um dia cheio. Sakura estava com as roupas todas rasgadas e sujas de lama. Havia usado a carta "CRIATIVIDADE" para criar inimigos e treinar sua magia. Como não estava muito interessada em imaginá-los, ela deixou Tomoyo decidir como eles seriam, mas ela criou um monstro gigante azul com duas cabeças de dragão e rabo de macaco e um minotauro assustador. No final das contas, não fora uma boa ideia.
Mas pelo menos Sakura conseguiu treinar bastante. Depois que todas as cartas foram transformadas, eram raras as oportunidades de treinar sua magia, e Sakura tinha medo de estar ficando fraca. Afinal, Shoran sempre treinava, todos os dias, e se ela não ficasse bem forte talvez a família Li não consentisse com o casamento.
Ela entrou em casa e tomou um banho rápido, pois ainda precisava lavar a louça e fazer o jantar. Vestiu uma roupa leve e já ia descendo quando o telefone tocou. "Talvez seja ele", pensou enquanto corria pra atender.
- Alô. – ela disse. – Oi, Shoran. Estou com tantas saudades de você, como está?
- Bem, obrigada. – Disse um Shoran mais calmo depois da dolorosa conversa. – Sakura, nós precisamos conversar...
O homem de bigode estava sentado em uma cadeira da sala de Fujitaka Kinomoto, na universidade, falando com o professor.
- Eu ofereço essa solução, se o senhor estiver interessado. Nas circunstâncias atuais, eu não vejo outra maneira. – a voz do sr. Kinney aparentava sincera preocupação.
- Eu realmente não sei. – o senhor Kinomoto estava com uma aparência muito triste, e tinha olheiras profundas sob os olhos. – Sabe, em outra ocasião, eu nem cogitaria essa possibilidade, mas agora... Talvez seja mesmo o melhor para ela. Eu só quero que ela pare de sofrer. Aquela não é mais a minha filha. A Sakura passa o dia inteiro chorando e eu... eu já não aguento mais vê-la assim. Eu faria qualquer coisa pra vê-la sorrir outra vez.
- Eu lhe garanto, senhor Kinomoto. Ela será muito bem tratada lá. Temos a melhor estrutura. Ela receberá uma excelente educação. Em momentos como este, a distância é o melhor para esquecer.
- Sim, talvez tenha mesmo razão. – deu um longo suspiro. – De qualquer forma, deixe-me seu cartão. – E lembrando-se de algo. – Senhor Kinney, estou curioso... por que surgiu a oportunidade dessa bolsa de estudos justamente agora?
- Estamos sempre à procura de novos talentos, e sua filha era uma excelente nadadora antes de... Bem, e ela também parece ser muito boa em ginástica, e reconhecemos que sempre gostamos de ajudar quando podemos. A Sakura terá um quarto garantido no colégio, e poderá se alimentar por lá. Os gastos com ela serão praticamente nulos.
- E quanto ao idioma? Ela não sabe... bem, ela não é tão boa em...
- Não se preocupe, senhor. Ela terá as aulas necessárias. Sua filha não ficará sem assistência. Eu lhe garanto, eu lhe garanto...
Sakura chegou à casa de Tomoyo às seis horas em ponto. Não estava com muita vontade de ir, mas não queria mais ver o pai, o irmão e Kero preocupados e tristes por sua causa. Juntou toda a força que tinha e compôs um sorriso, sem muito sucesso.
- Sakuuuuraaa... Que bom que você está aqui! Você parece bem melhor. Venha! Nós temos tanto pra conversar.
Ficara combinado que Sakura dormiria na casa de Tomoyo naquela noite. Kero ficara em casa, disse que não queria atrapalhar, mas Sakura sabia que ele estava cansado dela. Em sua cabeça, todos haviam se cansado dela. Até o Shoran, que tanto dizia que a amava. Foi o primeiro a abandoná-la... porque encontrara outra pessoa. Alguém mais bonita, mais inteligente. Alguém que a família Li considerava mais adequada.
- Ai, Sakura. Você ficou tão linda. – continuou Tomoyo. - Mal posso esperar pra ver você usando magia com ela. Sabe, eu fiz essa...
Magia. Sim, ela ainda tinha a magia. Mas de que adiantava a magia quando não conseguia trazer de volta a coisa que mais desejava?
- Minha mãe me disse que nós vamos viajar para a Europa no próximo verão. Ela disse que eu poderia te convidar para vir conosco. Ia ser tão legal. Já pensou? Eu poderia filmar "As aventuras de Sakura em Paris". E então nós...
Paris. Talvez Shoran levasse a nova namorada a Paris na lua-de-mel. Ele a levaria para todos os lugares que Sakura queria visitar com ele. E dentro de pouco tempo, a jovem japonesa seria apenas uma lembrança esquecida.
Os minutos passavam devagar agora que ele não estava ali. A prova de roupas fora cansativa e entediante. Depois, elas assistiram um filme – que Tomoyo fez questão que não tivesse cenas de beijos – e foram dormir.
Sakura não conseguiu dormir por muito tempo. Teve um sonho horrível, de Shaoran indo embora. Ela estava com ele no meio do saguão de um aeroporto super lotado, mas então ele abraçava uma garota alta e loira, de de olhos azuis, e ia embora com ela... rindo. A japonesa acordou chorando e não conseguiu mais voltar a dormir. Passou mais de uma hora deitada olhando para o teto antes de resolver descer para pegar um copo d'água. Levou o mp4 de Tomoyo para tentar se distrair, e escolheu uma música ao acaso. Apertou o play. Era "In The End ", do Linkin Park.
Time is a valuable thing
O tempo é uma coisa valiosa
Watch it fly by as the pendulum swings
Assista-o voar como o balançar de um pêndulo
Watch it count down 'till the end of the day
Observe a contagem regressiva até o fim do dia
The clock ticks life away
O relógio suga a vida fora
Quando estava no meio da escada, um pensamento súbito a dominou. Não, não era só um pensamento. Era também uma necessidade, uma compulsão. Sakura queria lutar contra aquilo, mas não conseguia. Ela virou-se e subiu novamente, enquanto uma voz em sua cabeça a incitava a continuar.
You didn't look out below
Você não olhou para baixo
Watch the time go right out the window
Observe o tempo indo direto pra fora da janela
Trying to hold on, to didn't even know
Tentando se manter, nem mesmo sabia que
I wasted it all just to
Eu desperdicei tudo isso só para
Watch you go...
Ver você ir
Ela foi andando pelo corridor, passou do quarto de Tomoyo. Parou diante de uma grande porta de madeira: chegara ao quarto principal, o quarto da mãe de Tomoyo. Senhoras como ela geralmente tinham em seus banheiros um armário de remédios.
In spite of the way you were mocking me
Apesar do jeito que você estava zombando de mim,
Acting like I was part of your property
Agindo como seu eu fosse parte de sua prioridade
Remembering all the times you fought with me
Lembrando de todas as vezes que você lutou comigo
I'm surprised, it
Estou surpreso
Ela queria parar, mas não conseguia. Só conseguia pensar em como estava sofrendo e em como queria que tudo terminasse. Todas as pessoas que a amavam e se importavam com ela haviam desaparecido de sua mente, e só restava ele... ele... ele... e a dor que ele havia provocado, e em como ele a havia rejeitado. Doía tanto. Céus, como doía. Parecia que tinham arrancado seu coração e jogado no liquidificador. Não, era pior que isso. Parecia que tinham furado seu coração com uma espada bem afiada. E agora ela tinha que dar um jeito nisso.
I've put my trust in you
Eu coloquei minha confiança em você
Pushed as far as I can go
Empurrado até onde posso ir
For all this
Por tudo isso
There's only one thing you should've know
Há apenas uma coisa que você deveria saber
Sakura entrou no quarto. A senhora Sonomi não estava, havia viajado a negócios. Caminhou até o banheiro e abriu o armário. Lá estava. Não tinha mais forças para continuar, só queria acabar com aquela dor. Estava insuportável. Sem olhar os rótulos, pegou vários frascos, misturou no copo que estava sobre a pia e bebeu tudo. Depois foi até a cama e deitou, esperando o sono chegar. O sono que a levaria para sempre.
I had to fall
Eu tive que cair
To lose it all
Para perder tudo
But in the end,
Mas no fim
It doesn't even matter.
Não importa mesmo
Então, finalmente acabou o capítulo um, se é que estão lendo. Se leram, espero que tenham gostado. Se vão continuar lendo (e eu espero que continuem), eu tenho alguns avisos:
Então, receio que o Shaoran vai sumir por uns tempos. Acalmem-se, não é pra sempre. É só que a Sakura vai crescer primeiro (e não é só do crescer físico que eu estou falando) antes de reencontrá-lo. Eu prometo que ele volta, afinal eu o amooo...
No meio da história, vocês viram o Shaoran chamando a Sakura de "mei-mei". Então, essa é uma expressão que significa algo como "meu docinho". Eu vi em uma fanfic muito legal chamada "Syaoran HeartCaptor", de absolutefluffiness, que eu gostei muito, e estou usando aqui.
A partir do próximo capítulo, vão ter se passado mais de dois anos a partir dessa "atitude" da Sakura. Nesse meio tempo, aconteceram umas coisas misteriosas que vão ser mostradas por meio de flashbacks. Eu acho que vocês vão gostar.
Guarde isso: nova vida... novos personagens... novo nome...
Prepare-se para uma Sakura totalmente diferente, nada a ver com as outras fanfics do gênero.
Mandem reviews. Sabe, dá muito trabalho escrever um capítulo como esse. Se tem uma coisa que eu não gosto quando estou lendo uma fanfic é capítulo muito curto. Tudo bem, talvez eu tenha exagerado, mas eu fiz de coração. Por isso, se gostou, se odiou, se tem uma sugestão, se tem uma crítica... mande review. É rápido e não custa nada.
Divulguem pros amigos... tah bom, vou parar de falar... Xau...
