Dos meus vícios ao cigarro nem me lembro quando foi que começou. Quer dizer, vícios eu sempre tive, desde pequeno, embora não fosse algo assim, tão estúpido e que controlasse a minha vida. Se bem que vício é algo que vicia, torna-se necessário mesmo sem ser.
Bom, daí veio o cigarro... Antes apenas para experimentar, daí por curtição, e tinha sempre aquele cigarrinho pra aliviar o estresse, a tensão do dia-a-dia.
Ah, o cigarro! Um belo dia você se pega acendendo um cigarro e dando a primeira tragada... Aquela tragada! E você se pergunta por que diabos está fumando se não está com os amigos e muito menos está estressado. É, começou então um novo vício. A diferença é que esse dói no bolso. E como dói!
Problemas de saúde? Ah, vou morrer de qualquer jeito! Se não for pelo cigarro, será pela bebida. O mas provável é que seja pela comida da minha namorada... Mas tá tudo certo quando se tem ao menos aquele cigarrinho pra deixar o dia mais feliz.
Falar tanto em cigarro está me dando vontade de fumar... E de ver a minha namorada.
Sabe, ela é uma menina legal, mas não faz muito o meu tipo. Pode-se dizer que eu estou com ela por conveniência. Ela é bonitinha, simpática, beija bem e na cama é quase tudo o que eu sempre quis. Não tenho do que reclamar.
E lá está ela, cozinhando. Já posso sentir o cheiro do arroz queimando. Acho que viverei de nicotina por hoje... Faz menos mal do que a comida dessa menina.
Eu devia contratar uma empregada, isso sim! Só que aí eu teria que pagá-la e iria gastar mais dinheiro, e o cigarro se tornaria um problema... Acho que eu sobrevivo com essa comida. Se não, sempre posso pedir uma pizza. Ou fumar.
Hn, cigarro... Já fumei hoje? Acho que não, são apenas... Que horas são mesmo?
-Temos que conversar...- Alguém falou comigo. Ah, sim, foi ela.
-Conversar? Sobre...?- Pergunto já com o cigarro nos lábios, preparando-me para acendê-lo.
-Sobre nós! Sabe, eu sempre faço tudo e você... - Ela parecia uma pouco ansiosa, eu não sei, não parava de mexer as mãos e andava de um lado para o outro da sala sem nunca me encarar.
-E eu?- Continuo olhando com o isqueiro na mão e o cigarro na boca.
-Olha, serei sincera! Não posso mais viver assim! É sempre isso... Você acorda, fuma, vê televisão, vai trabalhar, fuma, fuma, volta pra casa, fuma! E eu?!- Ela começou a alterar-se e agora olhava pra mim.- Onde eu estou na sua vida?! Diga-me!
Ela deu um tapa na mesa, derrubando os copos. Acho que ela está irritada. Sabe, eu queria mesmo dar uma resposta a altura, mas nada me vinha à cabeça. Quer dizer, nem mesmo eu sabia onde eu estava na minha própria vida!
-Me reponde!- Outro tapa na mesa. Eu podia ver que a qualquer momento aquela menina iria desabar em choro.- Onde eu estou na sua vida!?
-Posso responder mais tarde?
É, nada me veio à cabeça.
Acho que ela ficou chateada, e com razão.
Não sou o homem ideal, e nem pretendo ser, porém ela também não era a mulher ideal pra mim. E quando percebi, ela saiu de casa aos prantos e bateu a porta com força, mas não sem antes me xingar de tudo quanto é nome que conhecia.
Mais uma vez eu estraguei a vida de alguém... Outro vício meu.
O cigarro ainda estava em meus lábios. Acendi-o e levantei-me, caminhando até a janela da cozinha. Podia ver os carros passando e ela correndo apressada. Olhei para o lado - para o fogão - e pude constatar... Pela primeira vez ela não havia queimado o arroz.
Mas que droga! Agora que as coisas poderiam ter se ajeitado entre nós! Agora que ela finalmente aprendeu a cozinhar.
-Ao menos tenho meu cigarro...- Suspirei cansado.
Sirius Black, você não presta.
