Escrita por Rhysenn
Traduzida e Revisada por Designer J
Capítulo 1 - Vinho do Paraíso
Vinho envenenado do Paraíso
Um amor anormal, e um ódio ainda mais anormal
Harry caminhava silenciosamente através dos terrenos de Hogwarts, rumo ao corujal. Ia só e lançava olhares cautelosos sobre o próprio ombro, o suave chiado do pasto embaixo de seus pés amplificava uma dúzia de vezes no silêncio de sua mente. As nodosas árvores da Floresta Proibida formavam silhuetas assombrosas e sinistras contra o escuro céu da noite, dando-lhe uma sensação de incômodo.
Sem sua capa de invisibilidade, sentia-se exposto e vulnerável, como se cada sombra corresse aos seus passos e o deixava perfeitamente visível abaixo a luz da lua. Havia emprestado a capa para Sirius, já que este continuava se escondendo e necessitava da proteção da invisibilidade mais do que o próprio Harry. Desde então, Harry havia tido que interromper suas escapadas noturnas, mas esta noite não havia podido dormir, tinha decidido enviar uma carta a seu padrinho. Como Ron já havia ido dormir, teve que se aventurar sozinho.
O ar da noite era fresco, sentia o orvalho e a grama curta e estava extasiado com a essência aromática que emanava das exóticas flores noturnas da Floresta Proibida, que estava em volta. Harry respirou profundamente, saboreando o sutil aroma que refletia a alma do bosque: estranhamente refrescante e escuramente tentadora; tudo ao mesmo tempo.
Rapidamente, um trêmulo flash prateado a sua direita atraiu sua atenção, desaparecendo tão rápido como havia aparecido. Harry olhou atentamente nesta direção, no momento em escutava um suave sussurro que confirmou suas suspeitas. Havia movimento nos escuros arbustos a uns poucos metros dele. Segurou sua varinha com cautela.
Conforme se aproximava, o céu limpou-se um pouco, permitindo passar um generoso raio de luz, e Harry ficou boquiaberto quando seus olhos se puseram na figura ante ele.
"Malfoy!"
A esbelta figura se moveu em resposta e Harry percebeu uma breve luz prateada dos olhos conhecidos que voltaram a o ver, cobertos com uma expressão nada usual de completa surpresa. Harry abriu bastante os olhos conforme percorria rapidamente o corpo de Malfoy e por um momento ficou sem fala entretanto o olhava com genuíno assombro.
Sua voz era débil quando ao fim pode pronunciar algo,
"Malfoy, o que estás fazendo nu?"
Queria ser invisível.
Parado no meio da noite, entre os arvoredos que bordejavam a Floresta Proibida e que se perdiam na escuridão, se sentia mais invisível do que nunca. A cobertura do céu aveludada entretanto desenhava fracos raios de cor marfim, vagamente através do escuro em linho da noite.
Mas é claro, de outro ponto de vista, como o que seria das corujas que dominavam o céu, estava longe de ser parte da noite que o rodeava. Seu cabelo loiro brilhava como a prata líquida à luz da lua, e sua pálida expressão tinha um resplendor sobre natural, como se emanasse de seu interior, recortando sua silhueta contra a noite austera. Destacava-se elegante e arrogante, não com uma atitude doentia, e sim com um ar único de alguém que é diferente.
As botas de Draco avançavam lentamente no lodo úmido e no pasto chiante em acolhida conforme se acercava da Floresta, radiante e cheia de vida na tranqüilidade da noite. Com a mão direita segurou fortemente o frasco que continha um líquido incolor, claro como o cristal mas com um brilho opaco abaixo da luz da lua. Seus delgados dedos seguraram firmemente o pequeno recipiente e observou com cuidado o precioso líquido enquanto se aproximava silenciosamente da Floresta.
Havia estado trabalhando naquela poção em absoluto segredo durante as últimas semanas, reunindo meticulosamente todos os ingredientes necessários – tomando-os do armário pessoal de Snape, comprando-os com um sombrio personagem de um beco de Hogsmeade. Nunca havia conhecido uma poção tão difícil de preparar - não entendia por que tinham que ser misturados certos ingredientes, mas as instruções eram bem claras e ele tinha seguido ao pé de letra. Em mais de uma ocasião havia se perguntado se valia a pena tantos riscos e esforços e cada vez a resposta havia sido afirmativa.
Tinha poucas aspirações na vida e a parte daquelas que lhe haviam sido impostas, havia uma que surgira do fundo de seu ser, o desejo de ser invisível. Sinceramente, podia dizer que não era com intenções voyeuristas - havia desejado esta habilidade desde que era uma criança e essa aspiração fazia-se mais forte conforme deixava a infância para trás, independente das possibilidades.
Tudo o que queria era a capacidade de desaparecer por um minuto, esconder-se e ser ele mesmo. Queria poder afastar-se e observar as outras pessoas sem que elas o notassem, escapar sem que ninguém soubesse aonde ele ia. É claro, ser invisível abria todo um mundo de oportunidades – podia fazer muitas coisas ruins – mas essas não eram as razões principais por que queria tão desesperadamente a invisibilidade.
No verão passado havia encontrado um livro de feitiços na vasta biblioteca de seu pai – o livro era antigo e estava muito maltratado, tão velho que os números das páginas estavam escritos em números romanos. Praticamente estava se desfolhando, um frágil cordão esfarrapado era a única coisa que o mantinha unido e este, rompendo-se, ocasionou a queda das páginas amareladas ao chão. Rapidamente Draco as juntou e foi para o seu quarto, para lê-las. As páginas estavam rasgadas e manchadas pelo uso e nem todas estavam enumeradas claramente pois as orelhas do papel havia se deteriorando com os anos, mas as havia organizado para examiná-las cuidadosamente e para seu maior deleite, encontrou uma página descolorada, meio rasgada, que detalhava uma poção de Perda de Matéria – sorte grande.
O feitiço resultou em ser extremamente difícil – mas crendo-se que era um feitiço poderoso das Artes das Trevas, se tivesse sido tão simples fazê-lo como com um movimento de varinha, Draco teria duvidado de sua autenticidade. Com determinação, reuniu os elementos necessários para a parte final da poção, com exceção de um.
Uma rosa negra selvagem. Era o ingrediente mais difícil de se obter; registrou nas lojas de flores de Hogsmeade a busca de uma rosa negra original e não cultivada por meio mágico. Inclusive mandou uma coruja a Cálice & Corola (a empresa mais bem estabelecida com serviço de pedidos por corujas), mas eram mais caras do que ele podia pagar, devido a serem de temporada e nesta época do ano só nasciam na Escócia. Finalmente alguém lhe disse que a buscasse na Floresta Proibida, onde todas as variedades de vegetação floresciam abundantemente (assim como também a fauna mais selvagem), particularmente ao cair da noite.
E ali estava, pouco depois da meia-noite, acercou-se da Floresta com muitíssimo cuidado, rezando interiormente para que pudesse encontrar a rosa negra em torno da borda e não ter que se aventurar mais adentro (desde seu primeiro ano na escola, havia contraído um profundo medo da floresta à noite).
Estava com sorte; seu coração bateu apressadamente quando seus olhos aguçados pousaram em umas flores escuras, situadas a sombra do Salgueiro Lutador. Tendo cuidado de não tocar na árvore, Draco pôs-se de joelhos e olhou com olhos entrecerrados as pétalas da rosa, cuja cor era quase indistinta na noite.
Seus dedos tremeram ligeiramente ao alcançar a flor, sentindo os afilados espinhos rasparem sua pele quando com muito cuidado a arrancou do solo com surpreendente facilidade. Sacudindo a terra solta do talo, Draco a suspendeu na altura dos olhos para vê-la melhor – as aveludadas pétalas de negro puro capturaram a leitosa luz da lua mas não refletiram nada.
Sorriu satisfeito. A mais bela rosa, pintada com a cor da noite.
Antes de se pôr a trabalhar, admirou durante um momento a perfeita flor que tinha em mãos. Só necessitava das pétalas (de textura de negro cetim contra seus dedos), com extremo cuidado as removeu do talo e as deixou cair, uma por uma, dentro do frasco com a poção que havia preparado com os ingredientes. O líquido claro se tornou de repente avermelhado - não havia rastro da cor negra, e sim um vermelho vibrante. Estava pronta - e tinha que ser ingerida imediatamente. Não havia volta, não agora.
Respirando profundamente, Draco cerrou os olhos e tomou a poção inteira de um só gole.
Queimava. Queimava como fogo debaixo da pele , lacerando seus nervos com uma sensação tão desconhecida que o fez arfar fortemente. Sentia o sangue como lascas de gelo abaixo da pele quente, como ondas de calor sobre as veias frias. Tentou abrir os olhos, mas os voltou a cerrar rapidamente quando a vertigem se apoderou de sua visão anuviada. O cabelo de sua nuca se eriçou e seu corpo inteiro se incendiou com um repentino calor, como um alento quente estremecendo sua espinha, arrasando o frio inicial como se corresse mercúrio em seu sangue.
O calor era sufocante; Draco se perguntou vagamente se esse era um sinal de que o feitiço havia funcionado e buscando aos botões de sua camisa, de um puxão abriu o pescoço e respirou um pouco mais fácil quando o frio ar da noite golpeou contra sua nua e brilhante pele, acalmando o calor que lhe fazia estragos por dentro.
Em um descontrole, seus dedos abriram os botões restantes e a camisa branca caiu ao chão. Meneou os olhos e levantou as mãos ante si, tratando de ver si havia ficado transparente, mas um zumbido persistente dentro de sua cabeça distraiu sua concentração. Um calor pungente o queimava naquelas partes em que estava porém vestido e estava aponto de despir-se da cintura para baixo, quando o forte ruído das ramas secas se quebrando abaixo de seus pés fez com que detivesse o movimento.
Alguém estava chegando.
Draco voltou-se e ficou cara a cara com Harry, que estava boquiaberto com uma expressão de surpresa em seus olhos verdes e o olhava fixamente, incrédulo.
"Malfoy – que estás fazendo nu?"
Uma fugaz expressão de alarme cruzou os olhos de Draco, parcialmente ocultos pela escuridão e fez-se um tenso silêncio antes que finalmente falasse.
"Podes me ver?" Draco não pôde ocultar o desconcerto em sua voz, que quase se encaixava com a expressão assombrada de Harry.
Agora Harry via-se angustiado "Claro que posso te ver. O problema é que não posso ver a tua roupa onde deveria estar. Que diabos estás fazendo?"
Malfoy olhou com uma mescla de consternação e incompreensão, logo olhou Harry outra vez.
"Realmente pode me ver?" repetiu, confuso e perturbado, algo não usual nele. Agachou-se instintivamente para recolher sua camisa que estava na grama úmida.
"Estás aqui fora e nu, seria difícil não te ver!" Harry ouviu-se aborrecido, resoluto deu as costas a Malfoy. "Ponha algo, tudo bem?"
"Não estou nu" replicou Draco com toda a dignidade possível. "Estou vestido da cintura para baixo, se não te deste conta".
"Não, não me dei conta, e dou graças a Deus por isso". Harry fez uma pausa e dirigiu um olhar assassino a Draco, que estava ocupado fechando os botões da própria camisa, sem dar-se conta de haviam ficado mal-postos. "Que diabos estás fazendo passeando na Floresta com o corpo descoberto, Malfoy? Ficaste louco?" Harry meneou a cabeça fingindo desconcerto. "Sempre tive suspeitas sobre ti, Malfoy, mas nunca havia pensado que estivesses tão louco a ponto de correr por toda Hogwarts de cuecas".
"Sim, porque poderia topar com Filch, não? E esta é a tua especialidade" disse sarcástico, encarando a Harry com um olhar igual, entretanto mirando ao pescoço que estava curvado "Aprecio tua preocupação, Potter, mas faz-me um grandíssimo favor, indo-te agora mesmo".
"Posso te denunciar" disse Harry com calma.
"Sim, e podes explicar também o que fazias caminhando na Floresta a estas horas da noite." Respondeu com impaciência Draco. Estava ansioso para se livrar de Harry o mais cedo que pudesse, já que não tinha idéia de quanto tempo lhe restava após ter tomado a poção, para que esta surtisse efeito, e teria que explicar muito mais se Potter o visse desaparecer no ar em frente aos seus olhos.
A expressão de Harry não se alterou em absoluto "Que estás fazendo, Malfoy?" perguntou outra vez, tranqüilo. Parecia muito mais composto agora que Draco estava completamente vestido e aparentemente não ia para nem um lugar sem a resposta que estava buscando.
"Não é de tua maldita conta, Potter" bufou Draco, com um tom ameaçador mas perceptivelmente desesperado "Vai embora". Fez uma pausa e logo com a intenção de ameaçar Harry, disse "Ou te lançarei uma maldição e não acredites que não o farei."
"E tu não acreditas que não posso me livrar" uma nota de raiva se ouviu na voz de Harry, que semicerrou os olhos tentando enfocar Draco na escuridão, já que a nuvem havia tapado a lua e a miserável luz que ficou a parecer neblina.
Harry de um passo adiante, segurando sua varinha entre os dedos.
Draco ficou tenso, cada músculo de seu corpo estava pronto para entrar em ação, seus nervos estavam alterados pela poção que fluía em seu sangue. Era uma sensação estranhamente excitante, em parte havia esperado sentir-se etéreo, como um sonho, como se estivesse flutuando nas nuvens e sua forma física se houvesse evaporado. Mas o que agora sentia era completamente diferente, completamente novo – se sentia mais denso, como se estivesse absolutamente imerso em seu corpo, como nunca antes. Seus sentidos estavam intensificados, afiados como a ponta de uma espada, e o murmuro tênue da intranqüila noite ressoava como um pulso ensurdecedor ao mesmo compasso que as batidas de seu coração.
Sentia-se... estranho. E mal.
Draco retrocedeu, uma sensação de inquietude crescia inexoravelmente dentro dele, uma ansiedade e medo selvagens o anuviaram, parecido ao pânico que sentia como se tivesse esquecido alguma coisa... e agora o espírito de Draco estava concentrado sobre o fato que ele devia fazer Harry partir antes que alguma coisa acontecesse.
"Potter, te juro, se não te..." começou a dizer com a voz enraivecida, quando logo as nuvens se abriram mostrando a lua uma vez mais e os raios macios percorreram o escuro céu noturno, caindo oblíquos sobre a face de Harry, iluminando seus olhos com uma luz pálida, anormal e Draco se deteve abruptamente.
O deslumbrante flash de luz abraçou sua mente sem advertência, não foi acompanhada de dor alguma, mas seguido de outra sensação desconhecida, intensa e pura, que esvaziou seu ser por completo, uma mescla de incomodidade e êxtase ao mesmo tempo. Nublou-lhe a visão momentaneamente, e logo pode voltar a enfocar – podia ver as árvores ao fundo, iluminadas pela luz da lua, e ...
... e Harry.
Harry estava parado em frente a ele, observando nervoso seu estranho comportamento e a única coisa que Draco pode fazer foi olha-lo fixamente, indefeso ante a dolorosa sensação que corria rapidamente por suas veias devorando-o. Havia deixado sua mente sacudida, mas inquietamente clara, como se cada fibra de seu corpo se rendesse a esta aterrorizante e nova sensação que havia se apoderado dele.
O horror brilhou nos perplexos olhos cinzas de Draco que seguiam fixos em Harry, a quem a luz da lua caía sobre os ombros como pérolas líquidas.
"Malfoy?" começou a dizer inseguro Harry e elevou a mão direita para afastar o cabelo dos olhos, mas para Draco foi como se houvesse agarrado seu peito, obrigando-lhe a aproximar-se e adiantou-se atônito, sem vontade própria, até Harry.
Antes que Draco percebesse o que ocorria, havia reduzido a distância entre eles em silêncio. Suas mãos seguraram a assustada face do outro garoto, e no momento seguinte se encontrava beijando-o em cheio nos lábios, duramente, de maneira apaixonada, totalmente desesperada.
Harry apenas teve tempo de raciocinar, seu protesto foi afogado pelos lábios de Draco, cerrando-os sobre sua boca, e a forte impressão o paralisou por uns momentos, deixando-o imóvel. Os lábios de Draco queimavam os seus, beijando-o com o fervor de alguém que caiu em um perigoso vício e passou tempo o bastante antes que sua mente lhe gritasse em meio à confusão "Malfoy está te beijando!" e o fizera entrar em ação.
O empurrou violentamente e tropeçou ofegante, cobrindo a boca com as mãos entretanto a doce sensação do beijo permanecia em seus lábios.
"Malfoy!" gritou completamente aturdido, sem alento pela intensidade do beijo "Maldito seja! Que diabos estás fazendo!" Harry raramente praguejava, a menos que fosse absolutamente necessário e esta situação o merecia.
Quando seus olhos encontraram os de Draco, viu que surpresa do outro era muito maior que a própria.
Draco tinha na face uma expressão de consternação e repulsa que impediu que Harry continuasse falando. Se via miserável e o gesto de sufoco que tinha falado mais eloqüentemente que mil palavras. Olhou fixamente para Harry, desgostoso e incrédulo.
"Que – acaba de acontecer?" sua voz soava tremula e sem expressão alguma.
"Diga-me tu" respondeu Harry furioso, a impressão inicial ia dando lugar à indignação "Maldito seja, que diabos estás tentando fazer, Malfoy?"
"Acabo de – beijar-te?" disse no mesmo tom de voz.
"Sim, por deus que o fizeste". A respiração de Harry mesmo que fosse rápida e artificial, ele estava tentando recuperar a compostura e se apoiou contra o tronco de uma árvore próxima, já que não se sentia firme. "O que foi isso?"
Draco não pareceu escutar a pergunta de Harry. "Isso foi asqueroso." A voz de Draco seguia em uma entonação, quase assombrosa. Cerrou os olhos, sentindo-se estranhamente normal apesar do frenético horror que crescia dentro dele. Sabia o que acabara de ocorrer, mas não podia pensar nisso, nem sequer voltar a lembrar-se jamais.
A raiva incendiou as bochechas de Harry. "Asqueroso? Fostes tu que se jogou sobre mim e dizes que é asqueroso?", parecia que queria enforca-lo, mas dado o que se sucedeu na última vez em que seus corpos estiveram em contato, só um momento atrás, pareceu pensar melhor. Furioso passou a costa da mão sobre a boca "És repugnante, Malfoy".
Draco estava a ponto de responder com uma resposta cheia de sarcasmo, colorida com palavrões, quando as palavras de Harry o apunhalaram, fazendo-o sentir uma desconhecida e dolorosa pontada interior, muito parecida à sensação que estremeceu antes, quando sucedeu o que não queria lembrar.
O que aconteceu? O que me aconteceu?
Essas perguntas demandavam respostas, mas teriam que esperar. Pelo momento, tinha que se defrontar com um lívido Harry que parecia estar a ponto de esmurrá-lo a qualquer momento e considerando seu atual estado de aturdimento, Draco não estava muito seguro de poder revidar.
Buscou o olhar de Harry e novamente ocorreu, como uma sacudida elétrica através do corpo, só que mais intensa e penetrante atravessando sua pele e chegando até sua alma. Sobressaltou-se e um suave arfar escapou de seus lábios; recordou a mesma sensação ardente que ameaçava com...
Podia sentir-se caindo naqueles frios olhos de esmeralda, a cor de jade desterrava sua mente, a cor do desejo, a paixão, o ódio, a urgência e o horror, todos mesclados em uma corda ao redor de seu coração que o arrastava até Harry, ou Harry até ele...
Vai-te daqui. Agora.
Com uma exclamação apagada que soou parecida com um "Oh Deus", Draco furiosamente apartou seu olhar de Harry, sentindo uma dor surda que o rasgava ao fazer-lo, e antes que esquecesse o que tinha que fazer, deu a volta e se afastou na direção oposta. Não se importou em suavizar o som de suas pisadas e tão rápido como suas pernas lhe permitiram, correu pelo terreno sem olhar para trás.
Harry ficou parado ali sem compreender, assombrado, olhando fixamente a Draco, entretanto o garoto girava abruptamente sobre seus calcanhares e foi-se. Estranho, pensou confuso, caiu de joelhos no pasto suave e recolheu um objeto brilhante à luz da lua. Era um frasco de vidro completamente vazio, exceto por vestígios de um liquido vermelho vibrante, que Harry pensou perspicazmente que parecia com sangue, mesmo que não acreditasse que o fosse.
O calor remanescente do beijo entretanto formigava em seus lábios e Harry sacudiu a cabeça, estava completamente desconcertado. Draco Malfoy era a ultima pessoa em que ele teria esperado beijar em sua vida.
Franziu o cenho. Oh, isto é absolutamente angustiante. Malfoy, entre todas as pessoas.
Havendo tido surpresas o suficientemente desagradáveis para uma noite, decidiu regressar para a torre da Grifinória, antes que outra coisa estranha ocorresse e não lhe permitisse chegar completamente ileso. A única coisa que sei, é que se eu me tornar um louco ou desenvolver alguma doença crônica mais adiante, pensou lúgubre, será devido a isto.
Meteu o frasco no bolso, com a carta de Sirius completamente esquecida e voltou lentamente a Torre da Grifinória, onde em silencio subiu ao dormitório e foi até sua cama. Mas foi só depois de muito tempo de ter se deitado, que o sono o venceu.
Oh, Deus. Que acaba de acontecer? Oh, deus.
As palavras remexiam em sua mente como um mantra fervoroso. Draco cerrou os olhos enquanto entrava abruptamente no banho, cerrando a porta com um golpe sem se importar se acordara alguém. O mais estranho era que sua mente havia estado clara e desperta durante todo o incidente, assim não podia alegar ter estado confuso, enquanto seu corpo estava angustiado – com uma estranha e irreal agonia, como se o perseguisse ao recordar de um aterrador pesadelo.
Escovou os dentes cinco vezes para limpar de sua boca o sabor de Harry, até que lhe doeram as gengivas e começaram a sangrar. O sabor metálico de sangue da língua despertou seus sentidos, fazendo aflorar a sensação de pânico outra vez.
Que acabou de acontecer?
Sabia perfeitamente bem o que acabara de acontecer. Havia beijado Harry Potter, isso havia acontecido. Lembrar-se fazia sentir náuseas, enquanto que ao mesmo tempo, no fundo, uma parte de seu ser sentia saudades do perverso e proibido prazer de voltar a faze-lo.
O que saiu errado? Por que a poção não funcionou como devia?
Com a língua machucada e formigante pela pasta dental de menta, voltou ao seu dormitório, buscou o velho livro de feitiços e o levou consigo ao Salão Comunal da Sonserina. Estava escuro e fazia frio, tal como se sentia naquele momento e apontou sua varinha até a lareira. Esta se incendiou com um crepitar de chamas alaranjadas e enquanto que o calor se estendeu através dele o acalmando, não dissipou a persistente pontada que logo seguia atormentado-o: a dor do vazio.
Sentou-se no chão apoiando-se no lado do sofá e abriu o livro, acariciando distraidamente o nó que havia feito no cordão. Buscou a página onde se detalhava a poção de Perda de Matéria e se encontrou olhando fixamente a lista dos ingredientes. Correu-lhe cuidadosamente o dedo, verificando cada elemento que havia usado, repetindo o procedimento mentalmente, tal como o livro indicava. A poção havia sido perfeitamente preparada.
Seus olhos cinzas seguiram o dedo indicador até o final da página e notou uma frase que não havia visto antes, a qual, estava certo, não estava na ultima vez que lhe havia folheado, mas agora estava escrita em uma descolorada tinta azul escura.
Draco se inclinou até diante e entrecerrou os olhos, a escritura era cursiva e estava ligeiramente borrada, mas a frase escrita em latim podia ser lida com claridade.
Traicit et fati litora magnus amor.
Olhou-a fixamente e piscou fortemente. Incrédulo, agarrou o livro e verificou as páginas freneticamente, mas devido ao uso excessivo, os números das páginas estavam em demasia borrados para serem entendidos. Seu corpo interiro se pôs rígido com um medo frio ao ser preenchido de um profundo terror que se infiltrou em sua mente ao compreender a frase:
Um grande amor pode cruzar os limites do destino.
Olhou o livro, os dedos tremeram. Uma página dizia 'Poção de Perda da Matéria' junto com uma breve descrição, as seguintes detalhavam o processo. Mas algo estava definitiva e inegavelmente mal.
A frase em latim, a estranha sensação que fazia estragos em seu corpo, esse – esse sentimento.
Logo se deu conta, a violenta compreensão atravessou sua mente como farpas de vidro: não, não pode ser.
Não era uma poção para Perda da Matéria – de alguma forma devia ter mesclado as páginas quando remontou o livro – em vez disso, havia preparado uma... uma...
Nesse momento nem sequer foi capaz de lembrar uma maldição, devido ao forte impacto de dar-se conta do que havia preparado e que havia infligido a si mesmo, um impacto que o atravessava uivando como se fosse o vento do deserto...
"O que eu fiz?" murmurou horrorizado; mas tinha medo demais da resposta.
Continua...
Próximo capítulo:
Capítulo 02 - Fragmentado
O amor é algo muito fragmentado
Nota do Grupo
Ol�, pessoas.
Vocês devem estar estranhando que essa fic esta sendo colocada de novo. Pois bem, essa fic gerou uma pequena confusão...rsrrs Duas pessoas já a tinham traduzido e foi ela que deu a mim, Anna-Malfoy, a idéia de criar o grupo Os Tradutores.
Sem mais enrolações, o que eu quero dizer é que essa fic será agora do grupo e será postada como tal.
Então, obrigada pela atenção e pode todo mundo deixar as reviews de novo! Rsrsr
Beijos
Anna-Malfoy
