A Part Of Me
Sinopse : "Se ele tivesse mencionado amor em vez de apoio financeiro, ela poderia ter agido diferente... Mas aquilo era muito pouco. E talvez tarde demais..."
Música : Broken Strings - James Morrison
Primeira Parte: Cordas Partidas
Por Misty-zune
Ino estava construindo um castelo de areia na praia quando a menininha, que também brincava na areia, de repente tirou o polegar da boca e estendeu-o para cima.
- Homem!
Sentando-se na areia bem perto da água, ela olhou na direção indicada pela criança e seu coração disparou.
Ele voltara...
Com dedos trêmulos, continuou trabalhando na torre de areia, enquanto explicava para a garotinha que o príncipe deveria subir por uma longa trança dourada para resgatar a donzela encantada, conhecida como Rapunzel.
- Hah! - A pequena menina pareceu pensar que aquilo tudo que ela dizia fazia parte de um jogo divertido, e alegremente, destruiau uma das torres de Ino com suas mãozinhas gorduchas.
- Oh, não, querida, estamos construindo as torres, não as destruindo - disse Ino, abrindo os braços para proteger o castelo da garotinha entusiasmada.
O homem, que vinha andando na direção delas, parou ao lado do castelo, abaixando-se para verificar o dano,; a calça enrolada até o joelho, os pés grandes e perfeitos enterrando na areia molhada.
- Parece que vocês precisam de ajuda - murmurou ele, arregaçando as mangas de seu suéter preto.
- Não, obrigada, estamos nos saindo bem - replicou, exatamente quando uma outra torre desmoronou, espalhando a areia úmida, que espirrou em seu rosto.
- Huhn... Que tal se eu encher esse balde de areia? - ignorando-a completamente, ele dirigiu sua atenção ao balde de areia no chão.
Para desgosto de Ino, a garotinha foi alegremente para o lado dele e começou a cavar, enquanto o homem dos seus sonhos enchia um balde de areia.
- Você vai sujar suas roupas - murmurou, notando que ele estava muito bem vestido. - alertou-o para o inevitável.
A quem estava tentando impressionar? - Iindagou-se mentalmente.
- Você também - comentou ele, olhando para o short molhado de Ino com um meio sorriso nos lábios.
Como ela não sorriu, Sasuke voltou a ficar sério.
- A sujeira sai das roupas quando as lavamos - disse simplesmente, ajoelhando-se e voltando à sua tarefa, comprimindo a areia dentro do balde e depois virando-o de ponta-cabeça para produzir uma torre mais perfeita do que a de Ino.
A menininha batia palmas e exclamava:. -Mais!
Ele encheu vários baldes até que houvesse uma fileira de torres, as quais ele uniu com paredes de areia. Ino continuou trabalhando no seu castelo original, que desfazia-se rápido, exatamente como tudo em sua vida...
- Acho que preciso contratar uma decoradora - disse, notando os olhares disfarçados da loira, que fingia-se concentrada.
- Gostaria de ajudar? - Ele pegou um galho seco das dunas de areia.
Ela abriu a boca para recusar, mas então viu os olhos inocentes da criança fixos em seu rosto, revelando ansiedade.
Relutantemente, aceitou a oferta.
- Tudo bem. - Enquanto Ino punha o galho em uma das novas torres, a garotinha começou a remover sua preciosa coleção de conchas do bolso do short e entregar a Ino, uma por uma, para que fossem posicionadas na base das paredes.
Observando-a engatinhar, Sasuke perguntou:
- Você poderia estar fazendo isso? E quanto à sua dor muscular?
Ela não entendeu a preocupação dele. Afinal, Sasuke lhe dera aàs costas em um momento da dor. Não tinha se importado, então, pelo que estava passando.
Deixe eu te abraçar pela última vez
É a última chance para sentir de novo
- Sakura me receitou um anti-inflamatório. A dor passou quase imediatamente.
Ele franziu o cenho.
- Esses remédios não têm efeitos colaterais?
- Se fosse perigoso, ela não teria receitado - respondeu secamente. - Mas se você está tão preocupado sobre isso, talvez devesse ter me perguntado na ocasião, em vez de fugir daquele jeito. Mas esse é um típico comportamento seu, não é? - Sem esperar resposta, voltou-se para a garotinha: - Esta é linda, querida - murmurou, quando a menina pegou uma concha azul-esverdeada da areia.
Mas você partiu meu coração
Agora eu não consigo sentir mais nada
- Aqui, Saya, guarde no seu balde - disse Sasuke, impressionando Ino com o uso do nome da garota.
- Você a conhece?
- É claro que sim. Ela mora por perto. Olhe, Saya, sua mãe a está chamando para ir lanchar.
A mulher com quem Ino falara brevemente mais cedo, tinha pegado a bolsa de praia e estava sacudindo a toalha. Vendo-os olhar na sua direção, acenou para Sasuke e para Ino e chamou a filha, que saiu correndo, sem olhar mais para o trabalho que haviam construído, ao ouvir a palavra "sorvete".
- Bom trabalho - murmurou Sasuke quando ela se levantou. - Não se preocupe. A maré ainda está baixa e as crianças devem descer do ônibus da escola daqui a pouco. Seu monumento será admirado antes que o mar o engula. Aqui. - Ele achou um graveto e escreveu: "Ino e Saya fizeram isso", em grandes letras ao lado das torres de areia.
Ino achou interessante ele ter escrito o nome da garotinha, e não o seu próprio.
- Para alguém que não quer filhos, fico surpresa como você lida bem com crianças - murmurou ela, incapaz de conter o ressentimento. - A maioria das pessoas que não tem muito contato com crianças acha difícil se relacionar com elas.
Inclusive a própria Ino. Nunca tivera muito interesse em crianças até que achou que estava grávida, e, de repente, se descobriu fascinada por elas. Mais uma vez, sentiu aquela sensação de perda que não tinha o direito de sentir. Começou a andar rapidamente em direção à casa.
Quando eu te amo,
É tão falso
Sasuke, internamente, ressentiu-se com as palavras dela.
- Nos orfanatos que fui criado, havia sempre muitas crianças indo e vindo. - Ele se virou-se para segui-la, alcançando-a com passos largos. - É considerado parte da "experiência familiar" fazer os adolescentes ajudarem a cuidar dos menores.
Ele se calou, como se esperasse que Ino fizesse algum comentário, mas ela simplesmente continuou andando, apressando os passos ainda mais.
- Eu voltei, não voltei? - disse ele, enterrando o pé na areia para tocar-lhe o ombro. - Isso deve contar para alguma coisa.
Eu nem ao menos consigo me convencer
Quando estou falando,
É a voz de outra pessoa
- Você acha? - replicou recentida.
- Fiquei longe apenas alguns dias.
Uma eternidade. Todavia, Sasuke sempre fora muito eficiente em seu ato de desaparecer. As vezes, Ino desejava que odiar fosse mais fácil do que amar. Pelo menos, ainda tinha o gatinho para acariciar e abraçar, e para lamber-lhe as lágrimas. Ele tinha dormido em sua cama, fazendo com que Ino não se sentisse inteiramente sozinha.
- Sim, é um recorde no que diz respeito a você. Pensei que ficaria longe muito mais tempo - confessou. - Mas esqueci que tem que trabalhar. E é claro, isso sempre é o mais importante! - Ino estava à beira das lágrimas e ficou aliviada em ver o gramado da frente da casa. Quase correu.
Oh, isso me dilacera
Eu tentei resistir,
mas isso machuca demais
- Ino... não foi por isso que voltei. - murmurou, segurando-a pela manga da blusa. - hHun.. será que poderia me ouvir?
- Eu não quero mas ouvir. - Ela afastou a mão dele. Não sabia mais no que acreditar. - Com licença, acho que vou entrar e vomitar. - Ino subiu a escada correndo, esperando que aquilo fosse o suficiente para ele não a seguir.
Infelizmente, suas palavras tiveram o efeito contrário, e, após uma breve hesitação, ele entrou na casa atrás dela e seguiu-a para o santuário de seu quarto, onde Ino queria ficar sozinha e chorar.
- O que você está fazendo aqui? - perguntou ela, satisfeita por ainda não ter dado vazão às lágrimas.
- Você disse que ia vomitar.
Como a médica previu, os sintomas físicos da gravidez haviam desaparecido, e ela não podia culpar os hormônios por seu acesso de raiva.
- E você queria fazer o quê? Apreciar meu sofrimento?
Eu tentei perdoar, mas isso não é o suficiente
Para fazer tudo ficar bem
- Achei que você pudesse precisar de ajuda. - Ino estava furiosa pela gentileza forçada.
- Você não foi de muita ajuda até hoje. Por que começar agora?
Ele olhou ao redor do quarto, que estava uma bagunça, não combinando com o jeito meticuloso dela.
- Você está fazendo as malas?
- Bem que você gostaria! - respondeu ela. - Mas, diferentemente de certas pessoas, não fujo de meus problemas.
- Então, o que é tudo isso? - Ele gesticulou para algumas sacolas plásticas perto da porta.
- Coisas que separei para pôr no lixo.
Alguns livros estavam caindo de uma das sacolas, e Sasuke inclinou-se para pegá-los e devolvê-los ao lugar, mas então, endireitou o corpo quando leu os títulos.
- Você está jogando fora livros sobre cuidados com um bebê?
Ela deu uma risada amarga.
- Não vou precisar mais deles, vou? Acha que devo doá-los para caridade? Fique à vontade para fazê-lo, se quiser.
Sasuke franziu o cenho.
- Como assim, não vai precisar mais deles?
Ele não era geralmente tão obtuso.
- Bem, se não vou ser mãe, não preciso ler livros sobre bebês.
Você não pode tocar com cordas partidas
Você não pode sentir nada
Que seu coração não queira sentir
Ele achava que ela guardaria os livros para a próxima vez que pensasse em gravidez? Tinha 25 anos e amava um homem que rejeitava categoricamente a idéia de ter filhos, portanto, nunca haveria uma "próxima vez".
Ele agora parecia ainda mais tenso.
- O que você vai fazer? Dar o bebê para adoção?
Ino engasgou, meneando a cabeça, confusa. Sasuke empalideceu.
- Você não decidiu fazer um aborto, pelo amor de Deus. - Ele massageou o peito como se estivesse doendo. - Ino, você não está raciocinando direito. Tem condições de ter um filho... nunca se perdoará se fizer isso. Não é a decisão certa para você!
"Ele não sabia!"
Eu não consigo te dizer algo
que não seja verdade
Ela estava imóvel, quase em estado de choque.
Ele não sabia que não havia bebê! Achou que ele tinha entendido... ao saírem da clínica, quando lhe dissera que fora alarme falso. Só agora compreendera que Sasuke pensou que o alarme falso se referia à ameaça de um aborto.
"Ainda achava que ela estava grávida."
E não queria que abortasse a criança.
"Você tem condições de ter um filho", ele dissera, e não "Nós temos condições". Estava firmemente se afastando de qualquer conexão com a mãe e com a criança.
- Mas essa é a minha decisão - disse em uma vingança cruel. - A menos que você queira ir ao tribunal e lutar pelo direito do feto... rRevelar seu passado, presente e futuro para o mundo...
Oh, a verdade machuca
E a mentira mais ainda
Os músculos no maxilar dele ficaram tensos, mas Sasuke não se moveu.
- Ino, não tome uma decisão baseada na mágoa e na raiva que está sentindo agora. Cada vida é preciosa, porque a vida é passageira e devemos valorizá-la enquanto podemos. Voltei porque você é importante para mim, e esse bebê não muda isso.
Novamente, era "esse bebê", não "o nosso bebê", pensou Ino, magoando-se com cada palavra.
Eu não consigo dar mais de mim
quando eu te amo um pouco menos que antes
- O fato de a gravidez não ter sido planejada por nenhum de nós, não a torna um desastre.
Então, ele estava preparado para admitir que ela não o enganara com o velho truque. Quanta generosidade!
- Sou um homem rico, posso sustentar você e o bebê pelo resto de suas vidas, haverá dinheiro para boas creches, se você quiser continuar a trabalhar.
Ah, lá estava, o apoio financeiro!
Oh, o que estamos fazendo?
Estamos nos transformando em pó
Brincando de casinha em nossas ruínas
- E podemos comprar uma casa com muito espaço, para que você não tenha de compartilhá-la. - Ele estava ficando nervoso com o silêncio de Ino, falando cada vez mais rápido enquanto tentava convencê-la: - Será muito mais conveniente do que seu apartamento. Você não precisará se sentir constrangida se quiser me pedir para passar a noite com você.
Correndo em direção ao fogo
Quando não há mais ninguém para salvar
Se? Aquele grande "se" enviou ainda mais gelo para o coração de Ino.
Agora, ele estava preparado para aceitá-la, e o bebê, numa casa cara em algum lugar? Agora, que não importava mais!Se ele tivesse mencionado amor em vez de apoio financeiro, ela poderia ter agido diferente, mas aquilo era muito pouco, e veio tarde demais.
É como se estivesse correndo atrás do último trem
Quando já é tarde demais
Tarde demais
Ela abriu a porta do quarto num gesto furioso de repúdio.
- Vá embora!
- Ino, só estou tentando fazê-la ver...
- Saia da minha casa! - repetiu com firmeza. Ele hesitou por um momento, mas então, passou por ela, parando à porta.
Você não pode andar em cordas partidas
Você não pode sentir nada
Que seu coração não queira sentir
Eu não consigo te dizer algo
que não seja verdade
- Tudo bem, eu saio, mas não vou embora, Ino. Não novamente. E você não vai sair daqui até resolvermos as coisas. Mais cedo ou mais tarde, teremos de lidar com as conseqüências de nossos atos... juntos. Nosso bebê é tanto parte minha quanto sua, porque, depois de dois anos juntos, você é uma parte de mim.
Sasuke não podia ter dito nada mais calculado para martelar na consciência de Ino.
Oh, a verdade machuca
E a mentira mais ainda.
~~XxX~~
N/A: Inicialmente era uma onshot, mas como ficou muito grande (ao meu ver), eu a dividi em dois caps. ^^
Espero que gostem .
Kissus Grandes
