NARUTO NÃO ME PERTENCE, NEM A HISTÓRIA! CAPITULO UM
— Naturalmente você não irá renovar o contrato dele. O Banco Hatake não tem lugar para operado res de fundo incompetentes.
O rosto magro, moreno e belo de Kakashi Hatake estava franzido com um ar severo. Para um banqueiro internacional muito ocupado, essa conversa parecia uma perda de seu valioso tempo.
Gai, seu diretor de RH, limpou a garganta.
— Pensei que... talvez uma conversinha pudesse pôr Matsunaga novamente nos eixos...
— Não acredito em conversinhas e não costumo dar segunda chance — frisou Kakashi friamente. — Nossos clientes, observe bem, também não dão se gunda chance. A reputação do banco se baseia em seu desempenho lucrativo.
Gai Maito refletiu que o próprio renome mun dial de Kakashi como um perito em economia global e produção de rendimentos mostrava ali sua explica ção. O bilionário suíço Kakashi Hatake era o herdeiro de nove gerações ininterruptas de banqueiros priva dos e reconhecido por todos como o mais brilhante. Notavelmente inteligente e bem-sucedido, Kakashi, en tretanto, não costumava ter compaixão com empre gados com problemas pessoais. Na verdade, ele era tão temido quanto admirado por sua impiedosa falta de sentimentalismo.
Mesmo assim, Gai ainda fez uma última tentati va de intervir em favor do desafortunado membro da equipe.
— No mês passado a mulher de Matsunaga o aban donou...
— Sou o patrão dele e não seu conselheiro — revi dou Kakashi, encerrando bruscamente o assunto. — Sua vida pessoal não me diz respeito.
Tendo resolvido a questão com o diretor de RH, Kakashi deixou seu luxuoso escritório pelo elevador pri vativo e desceu para o estacionamento no subsolo. Quando deslizou para dentro da sua Ferrari, conser vava uma expressão implacável de desdém na boca máscula e bem delineada. Que tipo de homem deixa ria a perda de uma mulher interferir em seu desempe nho profissional a ponto de destruir uma carreira pro missora? Uma inaceitável fraqueza de caráter e uma vergonhosa falta de autodisciplina, avaliou Kakashi, ba lançando com desprezo a altiva cabeça precocemente grisalha.
Um homem que se lamentasse por problemas pes soais e esperasse um tratamento especial por causa deles era sempre completamente condenado por Kakashi. Afinal, a vida por si só era um desafio e, devido a uma infância infeliz e severa, Kakashi sabia disso me lhor que ninguém. Sua mãe havia desfeito o casa mento e abandonado o filho quando ele ainda era uma criança de colo, e qualquer vestígio de cuidado terno e amoroso havia desaparecido de sua criação da noite para o dia. Colocado num internato aos 5 anos, ele só tinha tido o direito de visitar a própria casa quando suas notas na universidade atingiram as altas expectativas do pai. Criado para ser duro e insensí vel, Kakashi havia aprendido ainda muito jovem a nem pedir nem esperar favores de nenhuma espécie.
O telefone de seu carro tocou quando ele estava parado no congestionamento de trânsito da hora do almoço em Genebra, lamentando-se pela decisão de não usar sua limusine com chofer. O telefonema era de seu advogado, Asuma Sarutobi. Quando se tratava de assuntos mais confidenciais, ele preferia utilizar os discretos serviços de Asuma ao invés da firma legal da família.
— Eu creio que é meu dever, como seu repre sentante legal, avisar que chegou o momento de uma certa conexão ser discretamente desfeita.
O tom de Asuma era quase jocoso.
Asuma havia sido colega de Kakashi na universidade, e ele geralmente apreciava o vivo senso de humor do outro. Embora ninguém mais tivesse um tal nível de intimidade com ele, Kakashi não estava disposto nesse momento a ingressar num jogo de adivinhação.
— Vá direto ao ponto, Asuma — apressou ele.
— Estive pensando em falar sobre isso há um tem po — Asuma hesitou, embora isso não fosse seu hábito. — Mas estava esperando você tocar no assunto pri meiro. Já faz quase quatro anos. Já não é hora de dis solver seu casamento de conveniência?
Pego desprevenido por essa lembrança, e exata mente quando o fluxo do tráfego voltava a se mover, Kakashi tirou o pé do pedal. A Ferrari deu uma guinada em uma súbita parada e provocou uma saraivada de impacientes buzinadas, mas ele não deu vazão a nenhuma das imprecações de raiva que estavam na pon ta de sua língua.
Do alto-falante do carro a voz bem modulada de Asuma pHyuugaeguia, numa total ignorância do efeito que havia provocado.
— Estava pensando que podíamos marcar um en contro ainda essa semana porque a partir da próxima segunda-feira vou tirar férias.
— Essa semana é impossível para mim — Kakashi respondeu automaticamente.
— Espero que não tenha sido uma intromissão mi nha levantar essa questão — observou Asuma, com um certo embaraço.
— Dio mio! Eu já tinha até me esquecido desse assunto. Você me pegou de surpresa! — afirmou Kakashi, com um riso de pouco caso.
— Pensei que isso fosse algo impossível de acon tecer — comentou Asuma. .
— Terei que lhe telefonar depois... o tráfego está inacreditável — disse Kakashi e encerrou a conversa sem levar adiante o habitual bate-papo.
Sua boca bem delineada estava rígida. Asuma tinha tido razão em tocar no assunto do casamento, que Kakashi não havia visto outra saída senão contrair, quase quatro anos atrás. Como poderia ele ter deixado de lado a necessidade de quebrar aquele pequeno víncu lo com um divórcio? Considerou que levava uma vida incrivelmente ocupada e recordou-se então da situação ridícula que o havia levado a ludibriar os termos do testamento de seu avô por meio de uma esposa falsa.
Seu avô Homaru tinha sido um trabalhador com pulsivo até os 60 anos, mostrando ser um autêntico banqueiro Hatake. Mas depois da aposentadoria se apaixonara por uma mulher com menos da metade de sua idade e havia passado por uma avassaladora mu dança de comportamento. Deixando de lado todas as reservas, Homaru adotara as filosofias da Nova Era e havia mesmo casado com a jovem cavadora de ouro. Seu comportamento indigno havia con duzido a anos de afastamento entre ele e o filho, o conservador pai de Kakashi. O próprio Kakashi, entretanto, havia mantido seu apego pelo velho homem e mantivera contato com ele.
Há quatro anos Homaru havia morrido e Kakashi fi cara estupefato com os termos do testamento de seu avô. Naquele excêntrico documento, Homaru havia estabelecido que no caso do neto não se casar dentro de um certo período, o Castello Hatake, residência tradicional da família, deveria ser doado ao Estado ao invés de herdado por seu descendente. Kakashi, certa mente, lamentara ter dito ao avô que, como as chan ces de um casamento feliz na sua própria opinião eram quase nenhuma, ele não estava visualizando a possibilidade de casar e gerar um herdeiro antes da meia-idade.
Embora Kakashi tivesse sido educado para desprezar o sentimentalismo, havia assim mesmo guardado es maecidas memórias infantis de animadas e alegres visitas ao Castello Hatake. E mesmo sendo rico o bastante para comprar uma centena de castelos anti gos, tivera que admitir que o Castello tinha um peso especialmente forte nos seus sentimentos. Os Hatake haviam habitado o Castello, situado acima de um vale remoto, durante séculos, e Kakashi ficara horroriza do diante da ameaça de que a propriedade deixasse de ser da família, talvez para sempre.
Uns dois meses depois, quando estivera em Lon dres a negócios, ele havia discutido com Asuma pelo telefone celular os complicados problemas criados pelo testamento do avô. Mesmo estando naquela hora num local público — na verdade estava num salão aparando o cabelo — havia presumido que pelo fato de estar falando em italiano a conversa estava sendo tão privada quanto se estivesse falando de seu escri tório. Descobriu que estava errado quando a esteticista mignon que cortava seu cabelo entrou arrojada mente na sua conversa, primeiro para lamentar pelo "estranhíssimo" testamento de seu avô e, depois, para oferecer a si mesma como uma "falsa" esposa, de modo que ele pudesse manter o Castello Hatake na família.
Em síntese, Hinata Hyuuga havia lhe vendido sua mão em casamento em um acordo estritamente de negócios. Que idade teria ela agora?, Kakashi pensou. Vinte e três anos completados no último dia de São Valentino, respondeu sua memória sem hesitação. Ele podia apostar que ela ainda aparentava não ser muito mais velha que uma adolescente. Ela era muito miúda, mas maravilhosamente cheia de curvas, e pelo menos sua maneira de vestir com certeza teria continuado a seguir as extravagâncias da moda. De preto e roxo da cabeça aos pés, botas altas e maquiagem de vampiro, ele se lembrou com um sorriso expressivo ao invés de desagrado. É estranho como um vampiro pode parecer tão sexy, refletiu distraidamente. Antes que o sinal de trânsito abrisse, ele puxou a carteira e com seus longos e ágeis dedos apanhou a foto que Hinata havia lhe dado. Uma foto acompanhada de uma irônica dedicatória — "Sua esposa, Hinata" — e com o número de um telefone atrás.
"Algo para você se lembrar de mim", ela havia dito, balbuciando como um riacho transbordando porque ele já sabia e Hinata tinha de alguma forma percebido que, além de qualquer necessidade legal de controlar seu paradeiro, ele não iria mais procurar nenhum outro contato pessoal com ela.
"Beije-me." Aqueles seus imensos olhos haviam suplicado em um convite silencioso.
Com total firmeza ele havia resistido à tentação. Eles tinham feito um acordo de negócios que devia permanecer isento de sexo: Asuma o havia advertido que se ele consumasse aquilo que fora essencialmen te apenas um casamento no papel estaria se sujeitan do a uma reivindicação no sentido de arcar com o sustento dela.
Ele devia ter apenas imaginado ter sido tentado por ela, disse Kakashi a si mesmo, irritado. Que espécie de atração ela poderia ter suscitado nele? Havia lar gado os estudos aos 16 anos. Era uma moça sem boa formação, com origem de classe pobre trabalhadora. Dio mio... uma cabeleireira! Uma pequena e risonha cabeleireira, com no máximo um metro e meio de altura e totalmente sem interesses culturais ou quer sofisticação! O que havia de comum entre eles era apenas sua humanidade! Finalmente ele se permi tiu olhar para baixo, para a fotografia. Ela não era bonita, fez questão de lembrar a si mesmo, preocupa do por estar tão absorvido por esses pensamentos. Procurou atentar para o fato de que o longo cabelo azulado estava sem corte e sem forma, que os olhos eram claro demais, tanto que quando a viu a primeira vez, poderia jurar que era cega. Mas independente dessas imperfeições, os olhos escuros e brilhantes de Kakashi ainda se detinham no ar alegre e travesso dos olhos dela e no vivo e amplo sorriso que havia na viçosa boca pintada de cor de amora.
Apesar de tudo, ele não podia esquecer a última vez que havia visto sua falsa esposa: seu aceno de mão vivaz, apesar de seus olhos parecerem umedecidos, o sorriso resoluto e desafiador, como lhe dizen do que ela iria encontrar um homem que realmente acreditasse em romance... Teria ela encontrado esse homem ideal? Teria descoberto seu ídolo de pés de barro? Teria sido por isso que ela teve que requisitar o divórcio por interesse próprio?
Cogitando sobre isso enquanto fazia uma curva, Kakashi teve apenas uma fração de segundo para se po sicionar quando uma criança correu da calçada para o meio da rua atrás de um cachorro. Ao frear, ele torceu violentamente o volante, numa feroz tentativa de des viar e evitar atropelar a menina.
Num solavanco, a Ferrari se chocou de frente na parede do outro lado da rua, mas ele ainda teria esca pado ileso se tivesse tido a chance de sair do carro antes que um outro veículo o atingisse diretamente.
Quando aconteceu a segunda colisão, uma dor atordoante irrompeu na base do crânio de Kakashi, deixan do-o desacordado.
Com a fotografia ainda enrascada em seus dedos, ele foi levado às pressas para o hospital. A irmã de seu falecido pai, Harume, foi chamada à sala de emergência. Ela olhou com um desdém arrogante para as duas jovens enfermeiras que reagiam ao char me moreno extravagante de Kakashi com um olhar fa minto de admiração.
Uma mimada e orgulhosa morena, vestida de um modo que os menos bondosos julgariam inapropriado para uma mulher de 60 anos, Harume estava furio sa com a interrupção no seu dia. Kakashi ficaria bom! Kakashi era indestrutível, todos os homens da família Hatake eram. Fora a pancada na cabeça, seus outros ferimentos eram insignificantes. Harume devia voar para Milão no dia seguinte para a inauguração de uma galeria de arte com seu noivo Hawq, e estava disposta a não alterar os planos.
Quando um médico finalmente veio até Harume para lhe dizer que embora Kakashi tivesse recuperado a consciência, ele parecia estar sofrendo de algum grau de amnésia temporária, o aborrecimento e a decepção dela foram intensos.
— A esposa do Sr. Hatake está vindo? — per guntaram depois a Harume.
— Ele não é casado.
Com uma expressão de surpresa o médico esten deu para ela uma fotografia um tanto amassada.
— Então, quem é essa?
Surpresa, Harume observou a foto e a dedicatória reveladora. Kakashi tinha casado com uma inglesa? Meu Deus, como ele não havia contado para ninguém? Mas ele não era famoso por sua reserva e reticência fria, seu desagrado extremo por publicidade? Seu ca samento teria na verdade provocado o tipo de man chete que ele consideraria detestável e intrusiva, ad mitiu Harume. Será que ele planejava comunicar aos parentes que havia casado? Mas ao considerar alivia da que, naquela situação, o fato de Kakashi ter uma espo sa a livrava de qualquer responsabilidade por ele en quanto estivesse hospitalizado, Harume apressou-se em telefonar para a misteriosa noiva do sobrinho.
No instante em que Hinata entrou em seu pequeno apartamento e viu o rosto perturbado de sua irmã Hanabi, um calafrio correu por sua espinha.
— O que houve? — perguntou, largando precipi tadamente o jornal que tinha saído para comprar.
— Enquanto estava fora, uma mulher telefonou... É melhor que você se sente antes que eu lhe diga o que ela falou sobre sua família.
Hanabi era uma morena de estatura mediana e magra com um olhar tão sério nos olhos perolados que sugeria um grau incomum de maturidade para uma moça de 17 anos.
Hinata franziu as sobrancelhas.
— Deixe de bobagem. Você está aqui, e inteira, e é a única família que eu tenho. Quem foi que telefo nou... e qual foi o recado?
— Eu não sou a única família que você tem — disse a irmã em um murmúrio constrangido. — Kakashi Hatake sofreu um acidente de carro.
O rosto de Hinata foi empalidecendo e ela encarou a irmã mais nova com os olhos fixos. Suas pernas vacilaram e ela sentiu-se oscilar.
— Ele está...
— Vivo... Sim!
Passando um braço sobre os ombros frágeis de Hinata, Hanabi fez a irmã sentar-se no pequeno sofá da cozinha, que também servia de sala de estar e de jantar.
— Foi a tia de Kakashi que telefonou. Ela fala muito mal o inglês e só conversamos por uns dois minutos.
— Ele teve ferimentos graves?
— Ele teve alguma espécie de seqüela na cabeça. Tenho a impressão de que pode ser sério. Está sendo transferido para outro hospital. Fique tranqüila, ano tei o endereço. — Hanabi apertou a mão da irmã, num gesto de encorajamento. — Tente respirar fundo, Hina, bem lentamente. Concentre-se no fato de que Kakashi está vivo. Você teve um choque, mas pode estar com ele amanhã de manhã.
Abaixando a cabeça, ainda tonta, Hinata ficou semi-mergulhada no próprio mundo. Kakashi, o precioso e se creto amor de sua vida, mesmo que ela não tivesse sido para ele nada além de um instrumento útil para um certo objetivo. Era estranho e terrível que o amor pudesse despontar assim, pensou, tomada por um so frido arrependimento momentâneo. Kakashi, seu marido querido, que ela nunca nem sequer beijara. O Kakashi alto e moreno, com forte vitalidade, devia nesse exa to minuto estar lutando para sobreviver em uma cama de hospital. O acidente de carro que havia matado sua mãe e seu pai, há quase sete anos, havia estraçalhado a sua vida e a de Hanabi. Nessa ocasião, a espera lon ga e enervante no hospital não havia resultado em nenhum milagre de sobrevivência.
— Estar com ele? — repetiu Hinata depois de mui to tempo. — Estar com... Kakashi?
Poderia estar com ele? Ela ousaria tentar? Uma esperança insensata surgiu dentro de Hinata. Ela po dia ser sua esposa apenas de nome, mas isso não sig nificava que não devia se preocupar com a saúde dele. A tia de Kakashi não havia telefonado para infor má-la do acidente? Obviamente seu casamento não era exatamente o segredo que ela pensava que seria no círculo familiar dele. Parecia evidente também que os parentes dele acreditavam que se tratava de algo mais do que apenas um casamento no papel.
— Eu sei muito bem o que isso significa para você e sabia exatamente o que você iria querer fazer — Hanabi apressou-se em assegurar. — É uma emergên cia, por isso entrei imediatamente na internet e reser vei lugar num vôo para Genebra para você. Ele parte amanhã logo cedo...
— Claro que eu gostaria de vê-lo, mas...
— Sem nenhum "mas"! — Com uma nítida cons ternação e traindo na voz um agudo laivo de tensão, Hanabi ergueu-se bruscamente. — Não deixe que seu orgulho a impeça de correr para lá e ficar com Kakashi. Você é esposa dele e aposto que o que vocês já tive ram um dia juntos pode ainda ser restabelecido. Já tenho idade suficiente para avaliar exatamente quanto problema uma atitude errada minha já causou entre vocês!
O explosivo discurso de Hanabi espantou muito Hinata. Até aquela hora ela não fazia idéia de que Hanabi podia ter se culpado pelo aparente insucesso de seu casamento.
— Meu relacionamento com Kakashi simplesmente não deu certo. Você não deve pensar que teve algu ma influência nisso — frisou ela num protesto desa jeitado.
— Pare de tentar me proteger — gemeu Hanabi. — Eu fui egoísta. Perdemos mamãe e papai e eu era tão possessiva que você tinha medo até mesmo de me deixar encontrar Kakashi!
— Não foi isso que aconteceu entre Kakashi e mim... — Hinata começou com desconforto.
— Sim, foi. Você me colocou em primeiro lugar e me deixou estragar o dia de seu casamento e arruiná-lo antes mesmo que ele tomasse seu rumo. Eu fui horrivelmente rude com Kakashi e ameacei fugir se você me forçasse a morar no exterior. Eu me coloquei en tre vocês dois... claro que sim! — Hanabi suspirou profundamente. — Você estava tão apaixonada por ele... Eu ainda não posso acreditar o quanto fui cruel com você...
— O que a tia de Kakashi disse exatamente?
— Que ele estava perguntando por você — mentiu Hanabi, cruzando dois grupos de dedos atrás das cos tas, como que para pedir desculpas por uma pequena mentira que ela esperava fizesse sua irmã se sentir mais confiante para viajar e encontrar o marido de quem havia se separado.
Kakashi tinha perguntado por ela? Hinata foi tomada por uma surpresa logo substituída por uma onda de pura alegria e, de repente, ela se sentiu capaz de fazer frente a qualquer desafio. Ela andaria até sobre o fogo por ele, atravessaria lagos e escalaria montanhas para estar a seu lado. Kakashi precisava dela! Aquela constata ção derrubou as barreiras. Para um homem com a intimidadora auto-suficiência de Kakashi expressar o desejo de sua presença, ele devia estar muito fraco ou seria mente doente, concluiu Hinata preocupada. Ela correu para o quarto para fazer a mala.
— Mas e o salão? — murmurou, revistando o ar mário à procura de roupas básicas e quase incapaz de pensar direito. — Quem vai tomar conta dele?
— Tenten — sugeriu a irmã, referindo-se a Tenten Mitsashi, assistente de Hinata no salão de cabe leireiro. — Você disse que o desempenho dela era excelente quando você ficava gripada.
No vestíbulo com luz baixa, Hinata pegou o fone, com os olhos claros distraídos mas brilhando. Os ca belos azulados sedosos que emolduravam seu rosto oval cintilavam como um farol. Era aquela tonalidade bri lhante quase tão negra quanto azul, geralmente obtida por meios artificiais. Inúmeras vezes Hinata tinha sido forçada a explicar a clientes incrédulas que seu cabelo era natu ral. Talvez para desculpar-se por não ter tido que re correr a tinturas tão amados por sua clien tela, ela ocasionalmente acrescentava um leve toque de uma outra cor às pontas do cabelo, e nesse mês em particular ela havia utilizado uma pálida e delicada nuance de rosa que conferiu um tom lilás aos fios.
Ela tratou com Tenten para vir pegar as chaves do salão e ligou para uma outra esteticista, que vinha ocasionalmente quando havia muito movimento, para oferecer-lhe jornada de horário integral durante sua ausência. Tomadas essas providências, nem quis pensar em como esses custos extras iriam pesar em suas já curtas margens de lucro. Ela se voltou para a irmã, Hanabi, e titubeou:
— Como posso deixar você sozinha aqui no apar tamento?
— De qualquer maneira minhas férias semestrais terminam amanhã e vou pegar o trem de volta para o colégio — lembrou Hanabi. — Eu creio que posso fazer isso sozinha. Já tenho 17 anos, Hina.
Sem jeito por não ter se lembrado disso, Hinata deu um abraço afetuoso em sua adorada irmã.
Considerando bem, ela só podia se maravilhar com a mudança que o tempo e o auxílio financeiro de Kakashi haviam operado na vida das duas. Ela devia tan to a Kakashi! Na verdade, ela tinha para com ele uma dívida que nunca poderia pagar!
Quatro anos atrás, as irmãs estavam vivendo em um velho apartamento precisando de pintura em um distrito dominado pela miséria e a vida era árida. Hanabi sempre foi inteligente, e Hinata estava deter minada a garantir que a morte precoce e trágica dos pais não impediria que a irmã mais nova realizasse plenamente seu potencial nos estudos. Hinata tinha sido tomada por um sentimento de culpa e de fracas so quando a irmã, ainda menina, se envolvera com más companhias e começara a cabular as aulas. Nessa época, Hinata vinha trabalhando por longas horas como esteticista júnior. Ela não estava numa situação que permitisse mudar-se para um lugar melhor ou ter mais tempo para tomar conta de uma adolescente re belde.
A generosidade de Kakashi tinha transformado total mente suas vidas. Ela não queria aceitar seu dinheiro, mas concluíra que aquele dinheiro lhe daria a melhor chance possível de colocar sua irmã de volta no cami nho certo. Gastara só o necessário para estabelecer seu próprio negócio de cabeleireiro no subúrbio de Hounslow, distante da elegante Londres. Levando em conta as necessidades de Hanabi, na época, Hinata acreditava que tinha tomado a decisão certa. Apenas às vezes se pegava imaginando se Kakashi teria saído da defensiva, a respeitado mais e mesmo feito contato com ela se tivesse mantido sua primeira intenção de simplesmente casar com ele e recusar qualquer outra recompensa.
Afinal, sua intenção ao se casar com ele era a mes ma de uma amiga lhe prestando um favor. Por sur preendente que fosse para Kakashi, um homem que pou co parecia notar que ela existia, teria feito qualquer coisa para agradá-lo ou impressioná-lo. Mas, infe lizmente, uma vez que havia cedido à tentação de deixar que a riqueza dele resolvesse seus proble mas, ou seja, uma vez que ela aceitara o dinheiro dele, havia mudado com isso tudo entre eles, admitiu tristemente.
— Eu prefiro pagar pelos serviços prestados — Kakashi havia falado lentamente, fazendo-a sentir-se como uma agiota. — Assim não haverá nenhum mal-entendido.
No dia seguinte, no meio da manhã, o Dr. Lerther teve dificuldade em esconder a surpresa quando sua secretária anunciou a esposa de Kakashi Hatake, Hinata. A miúda mulher morena cuja ansiedade estava pa tente em seus brilhantes olhos brancos não era de for ma alguma o que ele esperava.
— Eu tentei telefonar antes, mas a telefonista não conseguiu achar o número desse lugar — confiden ciou Hinata numa explicação apressada.
Ela estava muito nervosa. A última palavra em opulência, o hospital não se parecia com nenhum ou tro onde já tivesse entrado e ela tivera que comprovar sua identidade antes de ter permissão para entrar. Ao contrário de sua expectativa de que a tia de Kakashi, Harume, estaria lá para recebê-la e abrir caminho, tivera que apresentar-se a si mesma como esposa de Kakashi Hatake. Tendo feito isso, sentiu-se terrivel mente desonesta, mas estava convencida de que se dissesse a verdade sobre o casamento deles nunca se ria admitida sequer para visitar Kakashi.
— Essa é uma clínica particular e como nossos pacientes exigem discrição e segurança, o número do telefone não está à disposição. — O homem de cabe los grisalhos lhe estendeu a mão. — Estou aliviado por ter podido chegar aqui tão rapidamente...
Percebendo um mau prenuncio naquela afirmação, Hinata empalideceu e murmurou:
— Kakashi?
— Desculpe-me, eu não quis preocupá-la. Fisica mente, além de uma severa dor de cabeça, seu marido não tem nada mais do algumas pequenas contusões. — Com um sorriso confortante, o médico a conduziu pelo seu luxuoso consultório até uma cadeira. — En tretanto, sua memória não teve a mesma sorte.
Com sua pior preocupação acalmada, Hinata afun dou na cadeira de braços e depois pareceu confusa.
— Sua... memória?
— O Sr. Hatake sofreu um golpe na cabeça e esteve inconsciente por algumas horas. Um certo grau de desorientação não é incomum depois de um episódio como esse... Mas, infelizmente, no caso dele, parece ter havido um distúrbio temporário na memória.
Alertada pelo ar de gravidade do médico, Hinata tinha ficado muito silenciosa.
— O que isso significa? — perguntou com a boca seca.
— Um exame de rotina logo que ele recuperou a consciência revelou uma discrepância na sua percep ção de datas...
— Datas? — inquiriu Hinata de novo.
— A memória de Kakashi apagou aquilo que eu esti mo sejam os últimos cinco anos de sua vida. Ele pró prio não havia percebido o problema até que o assina lamos. Ele tem perfeito conhecimento de todos os aspectos de seu passado mais remoto, mas todas as lembranças desse último período estão inacessíveis para ele.
Hinata fixou os olhos no médico, transtornada e incrédula.
— Cinco anos... inteiros? Tem certeza disso?
— Absoluta. O Sr. Hatake não se recorda tam pouco do acidente.
— Mas por que isso aconteceu com ele? — per guntou Hinata, preocupada.
— Não é raro ocorrer perda definitiva de memória como resultado de um golpe na cabeça, mas de um modo geral só de períodos de tempo muito curtos. É o que se chama de amnésia retrógrada. Eventualmen te um trauma emocional ou mesmo estresse podem causar problemas desse tipo, mas eu penso que pode mos descartar essa possibilidade nesse caso em parti cular — avaliou o Dr. Lerther com segurança. — É quase certo que seja uma condição temporária e den tro de dias o que foi esquecido vai ser lembrado, aos poucos, ou até mesmo de uma vez só.
— Como Kakashi está reagindo? — perguntou Hinata com voz fraca.
— Logo que o Sr. Hatake se deu conta de quanto tempo sua mente apagou de sua lembrança, ele ficou muito chocado.
— Claro...
Hinata estava tentando imaginar como Kakashi, que sempre supunha ter cem por cento de controle sobre si mesmo e sobre tudo em volta, iria lidar com essa enorme falha nas suas capacidades.
— Antes dessa revelação, o Sr. Hatake estava a ponto de ignorar todo conselho médico e voltar para o escritório — admitiu o Dr. Lerther pesarosamente. — Para um homem de intelecto e caráter forte como ele, certamente habituado a exercer um poder considerável, um evento inexplicável pode se tornar uma situação muito frustrante para ser aceita.
— Por Deus... Kakashi não vai nem mesmo se lembrar de mim!
— Eu ia chegar a esse ponto — afirmou o médico num tom benevolente. — Mas considero promissor o fato de estar aqui para dar ao Sr. Hatake o apoio de que ele necessita para lidar com essa situação...
A testa dela havia se franzido.
— A tia de Kakashi, Harume, não está aqui também?
— Creio que viajou para o exterior essa manhã devido a um compromisso social urgente — apres sou-se em dizer o Dr. Lerther.
Atônita com a informação, Hinata engoliu com di ficuldade uma exclamação: por Deus, tia Harume! Evidentemente, pouco havia a se esperar dela. Hinata sentia uma espécie de vertigem e uma confusão de pensamentos conflituosos. Primeiramente tranqüili zada pelas notícias de que Kakashi não estava seriamen te ferido, ela havia ficado perplexa quando lhe infor maram sobre a sua perda de memória. Ela tentou se imaginar voltando para o próprio mundo como ele era cinco anos atrás ao invés de como estava agora.
Pensou na responsabilidade que ainda sentia ter com relação a Kakashi e sobre o quanto desejava vê-lo. De uma maneira puramente amigável e desinteressa da, ela podia servir de ajuda e de apoio para ele. Era uma idéia ao mesmo tempo atormentadora e seduto ra. Mas não seria desonesto posar como sua verdadei ra esposa? Ela era sua esposa no papel, mas não de nenhuma outra forma.
Um estremecimento de repulsa e vergonha diante da idéia de manter essa mentira atravessou o corpo delgado de Hinata. Porém ela havia prometido a Kakashi que nunca iria revelar os verdadeiros termos de seu casamento a ninguém e, para aliviar sua consciência, decidiu em vez disso contar uma meia-verdade.
— Eu devo admitir que Kakashi e eu temos estado... bem... separados — disse ela, embaraçada.
— Agradeço-lhe pela confidencia e garanto-lhe que o que me disse ficará entre nós. Mas também lhe peço que não revele nenhum fato potencialmente aflitivo ao meu paciente, se puder evitar — enfatizou o médico, com bastante seriedade. — Embora o seu marido não vá admitir isso, ele já está sob grande estresse e acrescentar algo a essa carga poderia preju dicar a plena recuperação.
Hinata concordou com uma séria compreensão. Da sua boca, Kakashi não ouviria nada que pudesse pertur bá-lo.
— Como esposa do Sr. Hatake, a senhora é sua parente mais próxima e pode fazer o que outros não podem em seu benefício. Ele tem inúmeros emprega dos, que paga para cumprirem suas ordens, mas você está numa posição muito mais importante — opinou o Dr. Lerther animadamente. — Seu marido precisa sentir que tem perto dele alguém em quem possa con fiar. Procure não cometer nenhum equívoco. Seu es tado atual o torna muito vulnerável.
— Não posso imaginar Kakashi como vulnerável...
— Contudo, se posso falar francamente... vai ser responsabilidade sua se colocar entre ele e os homens de negócios que vão procurar ter acesso a ele. As necessidades pessoais dele devem ser postas em pri meiro lugar — advertiu o Dr. Lerther. — O Banco Hatake pode passar sem ele no momento. Ele preci sa descansar e relaxar.
— Posso vê-lo agora?
O médico lembrou a reação inicial de espanto do seu paciente ao descobrir que era um homem casado, mas rapidamente afugentou qualquer apreensão por causa disso. Hinata Hatake poderia muito bem ser mais hábil do que parecia. Ela devia até ser capaz de se defrontar com firmeza com a frieza do caráter despótico e intimidador do marido bilionário... Mas mesmo sendo o Dr. Lerther um habitual jogador, ele não teria arriscado apostar nisso.
Hinata respirou profundamente e seguiu atrás da enfermeira. Em apenas alguns minutos ela estaria vendo o único homem que já havia conseguido fazê-la chorar...
Quis inovar! kkk, espero que acompanhem mais esta adaptação louca!
Beijooos
Adaptação da história "Para sempre em sue coração" de Lynne Graham
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