Sten Akre Tes Filias
By Nix e Mari Marin

Capítulo I – Revelações

É noite na Grécia. As estrelas cintilam tranquilas, pairando sobre o ar ameno e as pedras das casas exalam o calor que lhes fora concedido enquanto o Sol brilhasse. Em frente a uma dessas pequenas casas, em torno do grande Santuário de Athena, um homem e uma mulher conversam à porta.

– Por que não dormes em minha casa hoje, Marin? – Dizia o rapaz, olhando-a com aqueles olhos azuis de uma forma que a fazia tremer nas bases. Mas ela não podia ceder ao apelo dele, por muito que quisesse, e soube usar bem o tom com inclinação para o autoritário que a sua profissão lhe ensinara.

– Não vale a pena insistires, Aioria. Já te disse que amanhã tenho que acordar cedo. É o primeiro dia de aula com os novos aprendizes. – Ele acatou a resposta, decepcionado, mas não se ia deixar derrotar: havia de conseguir algo.

– Tudo bem amor... então almoça comigo amanhã?

– Sim... nos encontramos ao meio-dia e meia na entrada do templo, ok? – Com muito gosto, Marin aproveitou para se deixar cair na trama que sabia que ele lhe estava a estender. Aioria conhecia muito bem, demais até, quais as expressões que tinha de fazer para que ela não tivesse como resistir.

Ele concordou, deu-lhe um beijo de despedida e voltou para o carro onde o esperavam dois amigos.

– Então não tiveste jogo? – Brincou Shura.

– Essa daí é jogo duro, meu amigo!

– Mas ela está certa Aioria, vamos ter que acordar cedo amanhã – disse Shina. – Aliás, podes dirigir mais depressa, que eu estou louca para chegar em casa.

– O que é que se passa com estas mulheres? Vocês desaprenderam a se divertir quando vos botaram essas máscaras? – Falou Shura virando-se para a Amazona que estava no banco de trás.

– Não, Shura... na verdade nunca chegámos a ter esse direito... a vida para vocês Cavaleiros é bem mais fácil do que para nós!

– Haha! Por acaso achas que conseguimos as nossas armaduras brincando? Foi necessário muito suor e sangue derramados para nos tornarmos membros da primeira classe dos defensores de Athena.

– Certamente, mas depois disso veio a glória e o reconhecimento, enquanto que nós temos que provar o nosso valor a todo momento... e ainda temos que usar essas máscaras para esconder nossa feminilidade! Enquanto vocês são admirados, nós enfrentamos preconceitos diariamente...

Os três ficaram em silêncio por alguns segundos, até que Shura falou.

– Pois quero que saibas que tens toda a minha admiração, Shina!

– E a minha – acrescentou Aioria. – E o reconhecimento de Athena, que afinal é o que interessa na verdade...

Neste momento, os três chegaram à casa de Shina, que não ficava muito longe da de Marin. Aioria estacionou o carro e Shina preparou-se para descer.

– Obrigada... até logo – despediu-se ela dos outros dois, sem esperar por uma resposta para se pôr a caminho de casa.

– Boa sorte com os meninos amanhã – falou Shura apressadamente botando a cabeça para fora da janela do carro, antes que ela se escapulisse. A Amazona acenou afirmativamente com a cabeça e seguiu em direcção à porta de sua casa.

O Cavaleiro de Capricórnio acompanhou-a com o olhar até que entrasse em sua casa. Não havia meio de conseguir tirar os olhos dela, aquela mulher o encantava profundamente, e de um modo como nunca dantes sentira. Mal a porta se fechou, os dois partiram e Shura passou as duas mãos pelos cabelos. Virou-se para Aioria e lançou-lhe uma pergunta contra a sua própria vontade:

– Aioria, qual é a cor dos olhos dela?

– Hahaha! Tu não tinhas dito que não querias saber, que querias descobrir por ti?... – arriscou meter-se com ele antes de responder.

– Ela está-me a deixar louco Aioria! Diz-me! – o jeito perfeitamente sedento com que o respeitável Capricórnio falou divertiu o Leão. Mas ele era bem capaz de compreender, afinal tinha passado pelo mesmo durante muito tempo.

– Verdes...

– Da cor dos teus? – Quis saber pormenores, precisava de conhecer aquela cara senão perderia o tino. E beberia tudo o que Aioria lhe dissesse como se fosse água no meio do deserto.

– Não... mais verdes ainda, combinando com os cabelos... Já te disse que ela é muito bonita. – Shura desesperava. Começava a reservar um destino cruel à divindade, quaisquer que ela fosse, que tinha enviado Aioria naquela missão em vez dele...

– Nem me fales, Aioria, nem me fales!

– Ora, tu é que pediste! Quem diria! Então "Shura, o garanhão" está apaixonado!

– Olha só quem fala! O cara mais amarrado desse santuário!

– Ahhh, meu amigo, eu sempre me diverti, mas nunca neguei que amava uma só.

– O que devo fazer Aioria? Preciso tê-la! Mas ela não me dá abertura! – Desta feita, incluiu as leis de Athena em relação às mulheres guerreiras no seu rol de inimigos a abater.

– E sendo uma Amazona nem vai dar! Tu sabes bem qual foi o tempão que eu tive de esperar até me acertar com a Marin.

– Mas o meu caso é diferente... A Marin sempre te amou, só bastou tomares coragem de te declarares para ela! Agora a Shina... ela ama aquele menino, o Seiya...

– Mas o Seiya não a ama, sei do que falo. E quem sabe, talvez mesmo Shina só pense que é amor o que sente e o esteja a confundir com outra coisa... De qualquer forma, aconselho-te a não esperares tanto tempo quanto eu esperei e declarares-te de uma vez por todas para a mulher que amas!

– Não achas que seria demasiado... – Aioria calou-o terminantemente com um gesto. Aparentemente, alguma dessa convicção foi transmitida para Shura. – Então acho que é isso mesmo que vou fazer, Aioria! Assim que tiver oportunidade...

Após um breve silêncio, Shura voltou-se novamente para o amigo, agora com um sorriso a dançar-lhe nos lábios.

– Como a vida dá voltas, não? Quem diria que eu estaria aqui a ouvir conselhos amorosos de um pirralho como tu! Só não te cheguei a mudar fraldas porque não calhou!

– Hahahaha! Pois é, meu amigo, os tempos mudam mesmo!

O Cavaleiro de Capricórnio ficou observando o Leão enquanto este dirigia. De certa forma, sentia orgulho dele. Era fabuloso como aquele menino que perdera tudo e todos ainda tão jovem, se tenha tornado o grande homem que se tornou. Passou por várias provações e superou todas elas com uma coragem e honra exemplares. Treinou sozinho, e por si só conseguira tornar-se o Cavaleiro de Ouro de Leão, um dos mais poderosos, talvez inclusivamente mais poderoso que ele próprio. Sim, Aioria era um homem incrível!

Shura não pôde evitar os pensamentos que invadiram a sua mente então, como um rio bravo que quebrara a barragem que o continha: "Será que ele sabe? Será que Aioria conhece todo o passado? Será que ele sabe que fui eu quem matou Aioros e como tudo aconteceu? Por que será que jamais falou sobre isso?". Esses questionamentos o incomodavam profundamente... Era um peso na consciência de que nunca se livrara nem livraria, seria a eterna expiação dos seus males. Já tinha pensado em conversar sobre o passado com o amigo, mas achava que talvez Aioria permanecesse silencioso por preferir não falar sobre o assunto. Shura seguiu pensativo o restante do caminho até chegarem ao estacionamento do Santuário e começarem a subir as escadarias do templo de Athena.

– Algum problema Shura? Pareces ter a cabeça noutro lado – perguntou Aioria.

– Aioria eu... – Shura preparava-se para falar sobre as suas dúvidas com o leonino, mas depois achou que era uma péssima hora. – Estou com sono, só isso... – E espreguiçou-se bocejando, pois não era mentira nenhuma, estava cansado realmente. – O que vais fazer amanhã? Podíamos treinar juntos...

– Vamos ter que marcar para outro dia... Amanhã vou treinar com o Kanon.

– Com o Kanon? Não sabia que vocês dois se davam, agora! – Shura era da opinião que Kanon e Aioria eram tão opostos quanto a natureza o permitia.

– Não nos damos de todo mesmo, mas ele propôs e eu aceitei...

– Certo! Então marcamos para outro dia... e desta vez vou-te derrubar.

– Vai sonhando Shura, vai sonhando...

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No dia seguinte, Aioria levantou-se cedo, tinha ficado de se encontrar com Kanon pela praia às nove horas. Nunca haviam treinado juntos e ter um novo adversário provavelmente seria divertido para ambos. Ou talvez não...

Quando Aioria chegou à praia onde haviam marcado, o geminiano já o esperava. Acabava de sair do mar e estava completamente nu.

– Ora, ora, vejo que o hábito de banhar-se sem roupas já vem de família! – Disse o leonino com um ar irónico, fronte carregada de desaprovação moralista.

– Bom dia para ti também – respondeu por seu turno acidamente.

– Bom dia...

– Estás atrasado – disse Kanon acusativamente enquanto se secava e vestia calmamente as suas roupas. Não o olhava de frente e o seu tom relembrou Aioria exactamente porque é que eles dois nunca se tinham dado.

– Não, não estou. São cinco para as nove ainda – replicou enquanto tirava o relógio e o esquente que usava como agasalho naquela manhã que ainda não aquecera.

– Não tínhamos marcado para as oito?

– Não. – Conteve-se. Mas com quem é que Kanon pensava que estava a falar! Com algum aprendiz indisciplinado do Santuário!

– Ah, ok... – concedeu displicentemente. – Então, como será nosso treino?

– Escolhe tu. – Talvez tivesse havido um mal-entendido, talvez Kanon não fosse assim tão má pessoa como aparentava e talvez houvesse maneira de ainda corrigir aquele começo tão esquerdo.

– Corpo a corpo?

– De acordo, pode ser.

– Muito bem! Mas nada de cosmo!

– Certo... – Aioria deu um aperto extra às protecções dos braços e ia para aquecer as articulações. No entanto, Kanon já o olhava expectante, o que o desconcertava e fez com que mandasse a preparação às urtigas.

Observaram-se mutuamente por uma breve eternidade, concentrados ao máximo e discutindo com o olhar quem seria o primeiro a avançar sobre o outro, quase telepaticamente.

O rastilho de Aioria foi o primeiro a queimar-se. Alguém tinha que ir primeiro, e aproveitava para começar a testar o seu adversário. Lançou-se directamente contra o outro, punho à frente e apontado com muita prática ao centro dos olhos. No momento do embate, teve a sensação de quase lhe ter tocado, mas ficou na dúvida se teria sido por Kanon estar na disposição de brincar com ele ou se tinham sido mesmo os seus joelhos, ainda frios, que o atrasaram.

Não houve contra-ataque e voltou-se para melhor fazer o ponto da situação. Kanon olhava-o de lado arrogantemente, de sorriso fino e miudinho.

– Tenho notado que tu e o Shura se tornaram grandes amigos, não é mesmo? – Mas queria Kanon falar ou lutar? E por que se interessaria ele em quem era ou deixava de ser amigo dele?

– Sim, e daí? – Respondeu-lhe com uma pontada de indiferença. Antes de ter mesmo terminado a frase, logo foi a vez de Kanon o testar a ele. Foi apanhado meio desprevenido, mas não era conhecido como o Cavaleiro mais rápido do Santuário em vão. Bloqueou o geminiano e fez uso do seu momento para o derrubar com um pontapé.

– Admira-me que tenham superado as diferenças entre vocês... – falou bruscamente Kanon, ar expelido repentinamente por se ter baixado tão violentamente para evitar a perna de Aioria.

– Do que está falando? – Aioria ficou imóvel, olhando confuso para o homem agachado no chão. Se por um lado, Kanon ficara numa posição muito má em termos do combate, por outro tinha Aioria na palma da mão com o que estava prestes a dizer.

– Do facto do Shura ter morto o seu irmão... – disse lentamente, saboreando cada palavra e o efeito absolutamente delirante que elas tinham no Leão. Ao acabar de falar, tirou partido da sua posição e fez uma rasteira a Aioria. O outro caiu redondo no chão, mente demasiado ocupada a digerir o choque da informação para se poder preocupar com que desfecho teria a luta entre eles dois. As posições inverteram-se, e agora era Kanon quem o observava a ele do alto.

Aioria ficou mudo e pensativo, sempre achara que Aioros havia sido morto por Saga. Seria possível? O Shura! Ele era o melhor amigo do seu irmão!

– Que eu saiba foi o seu irmão quem matou o meu... – tentou defender o seu amigo, pois custava-lhe a crer que Shura fosse capaz de cometer algo do género... e ainda para mais, não o ia julgar com base em afirmações soltas, quem sabe se atiradas ao acaso, de alguém como Kanon!

– Enganas-te. Na verdade o Saga o feriu, mas ele não morreu em decorrência desses ferimentos... depois que conseguiu escapar levando Athena consigo, Shura foi avisado que o teu irmão era um traidor. Ele foi atrás de Aioros e o atacou impiedosamente...

– Não digas bobagens! Meu irmão não poderia ser morto pelo Shura... não naquela época! – Aioria estava enojado com o deleite com que Kanon lhe lançava aquelas palavras à cara. – Aioros o venceria!

– Teu irmão mal pode revidar, pois estava sem armadura... e além disso Athena estava entre eles... Mas Shura não teve nenhuma piedade, nem de Aioros, nem do bebé...

– E tu por acaso não estarias a mentir, pois não Kanon? – A única explicação que restava a Aioria, pois não podia, não queria, acreditar nas atrocidades que ouvia.

– Eu achei que soubesses, garoto. Vejo que esconderam muitas coisas de ti sobre o passado deste Santuário. – Kanon sorria cinicamente, olhando para baixo para Aioria, sentado na areia. Satisfeito, decidiu deixar o assunto por ali. Só lhe restava, ainda, deixar o último remate, e disse-lho enquanto se retirava, já de costas voltadas. – Pergunta ao teu amigo o que aconteceu... depois da batalha contra os Cavaleiros de Bronze todos ficaram sabendo disso, muito me admira que não saibas...

Aioria ficou ali naquela praia pensativo por horas... Tentava evitar, mas já estava sentindo ódio por Shura. Como pudera ele matar o seu melhor amigo tão friamente? Sem ao menos ouvir suas explicações? Porque fingia ser seu amigo agora? Porque nunca lhe contou o que acontecera? Sentia-se enganado por todos... Marin! Será que ela também sabia?... Não aguentou pensar mais e atirou seu corpo ao mar, a fim de acalmar sua alma, mas sem sucesso. A revelação de Kanon o tinha deixado fortemente perturbado.

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Shura, por sua vez, aproveitou para dormir até mais tarde. Quando acordou já passavam das onze horas. Shina saltou-lhe imediatamente à memória com extrema tenacidade e recusava-se a largá-lo, afinal havia sonhado com a Amazona a noite inteira. Sentiu-se impelido a vê-la e resolveu dirigir-se para o local de treinamento dos novos aprendizes de cavaleiros.

Ao chegar no ginásio deparou-se com Marin e Shina a treinarem uma turma de garotos, e também algumas poucas garotas de máscaras postas, que já tinham passado o estado de exaustão há muito à conta do rígido treinamento aplicado pelas duas.

– Buenos dias, Marin! – Disse o espanhol, saudando a Amazona que se encontrava um pouco afastada dos aprendizes. Estava bem-humorado só de ter a sua italiana em vista, Shina aplicava uma série de exercícios à rapaziada.

– Bom dia Shura – respondeu a Águia, não deixando de poder deixar de reparar na direcção em que o Cavaleiro estava a olhar. Aioria confidenciara- lhe sob juramento de silêncio quais eram os sentimentos do amigo, por isso ela sabia bem o que trouxera Shura ao ginásio. Ainda assim, fez-lhe a escusada pergunta. – O que fazes aqui?

Shina reparou na chegada do Cavaleiro e foi na direção deles. Não podia deixar de admitir que ficava no mínimo curiosa de cada vez que Shura aparecia.

– Vim ver se precisavam de alguma ayuda – disse o espanhol cordialmente, olho agora inevitavelmente colado à aproximação de Shina.

– Certamente que não! – Disse Shina que mesmo afastada ouvira.

– Bom dia para ti também Shina! É sempre um prazer ver-te! – Disse Shura um pouco entusiasticamente demais, tentando provocar qualquer reacção na máscara com a sua típica ironia.

Ela não lhe respondeu. Passou por ele e pegou seu caderno de anotações, provavelmente para anotar alguma observação relacionada a algum dos aprendizes. Shura olhava para Shina de cima a baixo, parecia querer devora- la com o olhar. A Amazona também não era cega e percebia seus olhares. No fundo, até gostava, mas não perdia sua pose jamais!

– Shura, nós já vamos liberar os meninos, mas já que está querendo ajudar... ajude a Shina a levar os garotos ao refeitório, marquei de me encontrar com Aioria daqui a cinco minutos – disse Marin, juntando suas coisas e indo em direção às crianças para dar-lhes o aviso de que o treino estava acabado pelo dia. Não tinha quebrado a promessa que dera ao Aioria de não contar nada a Shina, mas tinha a certeza que se deixasse aqueles dois a falar por um tempo, se não se matassem primeiro, iam perceber que só podiam ficar bem juntos.

Marin não podia ver, mas tinha certeza que por detrás da sua máscara, a amiga lançava-lhe um olhar furioso. Já por trás da sua escondia-se um pequeno sorriso. Depois de dar o aviso ela partiu, deixando Shura e Shina sozinhos com as crianças. Um dos meninos aproximou-se dos dois.

– Professora, ele é um Cavaleiro? – perguntou timidamente. Shura sorriu com a atitude do rapaz, e perguntou-se qual seria a resposta de Shina. Como podia ela ser uma Amazona tão rígida e dura se convivia diariamente com rapazes como este? Talvez a sua máscara se estendesse a mais que só a cara.

– Sim, ele é um Cavaleiro de Ouro. O Cavaleiro de Capricórnio. – Shina até que era bem gentil, quando queria. O capricorniano alargou o seu sorriso com a revelação.

Logo todas as crianças puseram-se em volta de Shura e começaram a enchê-lo de perguntas acerca dos super poderes dos Cavaleiros de Ouro.

– Tio, você voa?

– Hahahahaha! Sabe que eu até já voei uma vez... mas não foi uma experiência muito agradável...

Shina sorriu, tanto da pergunta do menino, como da resposta do cavaleiro. Também ela analisava o Cavaleiro, e ficou a observá-lo durante o caminho para o refeitório, enquanto este conversava animadamente com as crianças à sua volta que o bombardeavam de perguntas, cada uma mais ridícula que a outra. E as respostas nunca lhes ficavam muito atrás.

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Pernas pesadas e olhos fixos no chão, subia lentamente a escadaria das Doze Casas. Ao alcançar o quinto templo, de Leão, Aioria deu de caras com Marin que o esperava impacientemente.

– Aioria, fiquei te esperando como combinamos e você não apareceu... O que houve? – Obteve o silêncio como resposta do homem à sua frente e ficou ainda mais alarmada quando reparou melhor no estado em que ele vinha. – Suas roupas estão molhadas? O que aconteceu?

– Eu estava treinado com Kanon na praia... – Aioria levantou finalmente a cabeça para a olhar, mas os seus olhos não lhe transmitiam aquele calor que estava sempre reservado para só ela. Desta vez, estavam completamente inexpressivos.

Marin nunca tinha recebido um tratamento tão frio por parte de Aioria. Muito pelo contrário, desde que haviam decidido ficar juntos – pouco depois dele ter voltado dos mortos –a tratava com excesso de carinho. Estava sempre a beija-la e dizia que a amava todos os dias por tudo e por nada. A frieza que ele agora lhe lançava partiu o coração da Amazona de Águia.

– O que é que tu tens? – Ela aproximou-se e encostou seus lábios aos dele, mas Aioria não correspondeu ao beijo... – Aioria...?

– Marin, vou-te perguntar uma coisa e quero que me digas a verdade – disse- lhe sombriamente. Algo lhe pesava, era impossível a Marin vê-lo ou senti-lo com maior nitidez, mas isso não fazia com que ela gostasse da maneira como lhe falava.

– Por que estás falando dessa forma? Eu não tenho nenhuma razão para mentir para você! – Marin não teve tempo de ficar ofendida com as possíveis implicações do pedido, pois logo Aioria continuou e interrompeu-a.

– Tu sabes que foi o Shura quem matou o meu irmão?

– Sim... – respondeu a Amazona abaixando o olhar.

– Então tu também me enganaste! Vocês todos me enganaram! Acabei me tornando amigo do assassino do meu irmão! Como pudeste permitir isso? Por que não me avisaste! – Aioria deu subitamente dois passos atrás, querendo interpor alguma distância entre ele e Marin.

– Aioria, acalma-te! Estás a ser injusto!

Ele a olhou com os olhos queimando de raiva. Sem mais uma palavra, foi disparado para o seu quarto e rapidamente tomou uma ducha e trocou de roupa. Marin seguiu-lhe nos calcanhares.

– O que vais fazer? Para onde vais? – Perguntou como que a receio, pois lia o Cavaleiro como se fosse um livro aberto e suspeitava muito bem de qual fosse a resposta.

– Vou falar com Shura.

– Espera! Ele não está em Capricórnio.

– Imagino onde ele esteja...

– ...tu não vais até lá, pois não?

O cavaleiro dourado não deu-lhe uma resposta, apenas se virou, preparando- se para sair. A Amazona segurou-o pelo braço numa última tentativa de o impedir de possivelmente cometer um erro.

– Tu estás a ser precipitado e irracional, Aioria! Já paraste para pensar no que o teu irmão acharia disso tudo?

Foi a pior coisa, a mais inconveniente e na pior altura, que ela alguma vez poderia ter dito. Ele livrou seu braço das mãos de Marin e partiu sem lhe responder. Se Marin não soubesse tão bem o que realmente lhe ia na alma, ainda podia acabar por pensar que Aioria lhe sentia... nojo. Desistiu. A Amazona tentara, mas conhecia seu homem bem demais e sabia que nenhum argumento era capaz de convencer o leão quando este se irritava. Com certeza ele precisava bater em alguém...

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Depois do almoço, Shina explicou as regras e dispensou as crianças para que explorassem o Santuário dentro dos limites e restrições que lhes estavam impostas. Mas a maioria deles recusava-se a ir, preferiam ficar mais tempo conversando com o Cavaleiro de Ouro.

– Meninos já encheram a paciência do Cavaleiro o suficiente por hoje! Vão, saiam! Saibam que não terão outra tarde livre tão cedo!

– Mas professora...

– Sem mas! Terão outras oportunidades de conversar com cavaleiros...

– Dos de ouro?

– Vão! Andem! – Disse num tom autoritário: agora que esgotou a sua paciência, voltou à mesma de sempre. Os meninos partiram a contra gosto e Shura virou-se para Shina, encarando-a com ares de ironia.

– Por que espantaste os meninos dessa forma? Querias ficar a sós comigo, cariño? – disse-lhe com um ar de inclinações provocadoras.

– Ora! Mas tu és muito pretensioso! Para não dizer abusado mesmo! – Levantou-se da mesa, indignada mas grata pela máscara na mesma. A Amazona deu as costas ao Cavaleiro e logo seguiu em direcção à porta do refeitório. Rapidamente e em três passos, o espanhol pôs-se ao seu lado.

– Espera, Shina! O que vais fazer hoje à tarde? – Disse normalmente, esforçando-se por recuperar o retrocesso que conseguira com uma só frase mal esgalhada. Queria mesmo passar tempo com a Amazona, mas à mínima coisa que ele fizesse ela afastava-se!

– Treinar – respondeu-lhe curta e concisamente.

– Treinar? Por que não vens dar uma volta comigo? – Fez o seu melhor por não deixar transmitir quaisquer outras intenções: iam dar uma volta juntos, isto é, e por definição enciclopédica, andar um ao lado do outro por um certo período de tempo.

– Não posso... – começava-se a detectar alguma indecisão. A resposta mantinha-se, mas Shura começava a saber espreitar por debaixo das palavras para vislumbrar os pensamentos.

– Tu és muito rígida, sabias? – Shina parou de andar e voltou-se para o Cavaleiro. Que se estaria a passar pela cabeça de Shura, a meter-se com uma Amazona tão insistente e atrevidamente?

– Pelo que eu sei tu também és... – Sempre lhe tinham ensinado que a melhor defesa é o ataque. E a atacar ela sempre fora perita.

– Por que dizes isso?

– Mataste o teu melhor amigo para cumprir com as regras... – Shura ficou sem resposta, era um assunto que ainda ocupava um lugar sensível nele. – Isso incomoda-te cavaleiro?

– Não... eu cumpri com o meu dever, o único culpado pela morte de Aioros foi o Mestre Ares... Achas que errei? – Ficou muito sério, muito rapidamente e Shina apercebeu-se do que fizera. Decidiu ser completamente sincera pela primeira vez.

– Não. Te admiro... eu certamente faria o mesmo...

Shina voltou a caminhar e Shura seguiu ao seu lado. Pairou um breve silêncio entre os dois, até que o Cavaleiro retomou o seu ar animado e voltou-se novamente para a Amazona.

– E então, Shina? O que faremos hoje à tarde? Gostas de cinema? – Havia que reconhecer pelo menos uma coisa. A persistência era certamente uma das qualidades de Shura e isso não desagradava de todo a Shina. Mas ainda assim, havia outra coisa que ele tinha que perceber. Ela não queria nada com ele, o seu único amor já lhe causava sofrimento o suficiente, Seiya.

– Não insistas Cavaleiro! Já te disse que vou treinar!

– Então vou treinar contigo! – Shina parou e olhou furiosa para o capricorniano.

– Shura! O que queres tu, hen? – O Cavaleiro parou e se aproximou da mulher, sua expressão voltou a mudar de divertida para uma mais séria...

– Tu sabes muito bem o que eu quero, Shina... – Ele aproximou-se ainda mais e com uma das mãos acariciou a máscara gelada que cobria o rosto dela, aquele rosto que lhe enchia os sonhos. Shina permanecia imóvel, enfeitiçada pelo olhar penetrante do Cavaleiro. Sabia que estava na sua palma da mão, bastava um pequeno movimento para ele lhe retirar a máscara, e ele decerto estava pronto para isso, mas deixou de se importar. O tempo parecia ter parado, quando, de repente, o relógio quis recuperar os seus segundos e os dois sentiram um cosmo bastante agressivo a aproximar-se. Alarmada, a Amazona afastou-se de Shura.

E foi com espanto que os dois perceberam que o cosmo era o de Aioria.

Continua...

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Olá todos!

Aqui quem fala é a Mari Marin e a Nix!

Este é o nosso primeiro trabalho em parceria "made in MSN" ! Esperamos que esteja a agradar! Notaram a mescla entre termos portugueses e brasileiros ?

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Bjssss!