Adaptação: Teste de Paternidade – Sherryl Woods

Capítulo 1

No próximo sábado, Isabella Swan iria ao quinto chá de bebê para o qual fora convidada nos últimos três meses. Parecia que toda vez que ela se virava, mais uma amiga ou colega de trabalho estava grávida. Ela se sentia sitiada por barrigas arredondadas, expressões radiantes e chocalhos de prata.

Isabella se tornara uma freguesa constante da Esme's Baby Boutique.

Esme passara a avisá-la, toda vez que a loja recebia algum artigo especial. As duas rapidamente tinham se tornado amigas, e a butique se tornara o seu lugar favorito, o lugar para onde ela ia depois das aulas, para conversar e tomar um chá.

Como resultado, o tique-taque do relógio biológico de Isabella soava tão alto, que tinha certeza de que poderia ser ouvido pela cidade inteira. Em julho, ela faria 30 anos, o que atualmente não era muito tarde para se ter um filho, mas, definitivamente, era quase muito tarde, principalmente porque ela não tinha um pai em perspectiva.

De volta à butique de Anne, desta vez para comprar um presente para o chá de bebê de Rose Markham, no sábado, Isabella passou os dedos sobre o alegre protetor de xadrez amarelo de um antigo berço de carvalho, o último tesouro de Esme, e suspirou profundamente. Ultimamente ela suspirava demais. Também sonhava muito e divagava.

Estava ficando cada vez mais difícil esconder a sua inveja. Exclamar "Ahs" e "Ohs" embasbacados ao ver um par de sapatinhos de tricô ou mais uma roupinha ameaçava lhe causar uma crise de nervos. E poderia tê-la naquele dia, pensou ela, olhando o berço.

— O que você acha? — perguntou Esme, radiante de orgulho pelo berço encerado. Ainda tinha traços de pó de madeira e de cera sob as unhas. Seu cabelo muito curto estava arrepiado, e ela não passara sequer uma camada de pó no rosto e, muito menos, batom. — Não é o berço mais lindo que você já viu? — perguntou ela.

Isabella tentou disfarçar o desejo de possuir aquele berço, de ter um motivo para possuí-lo, e concordou.

— É adorável.

— Dá para imaginar? — perguntou Esme indignada, esfregando a madeira já brilhante. — Eu o encontrei enfiado em um canto de um antiquário, na Route 3. Você deveria tê-lo visto. Ele foi pintado várias vezes. Quando comecei a raspá-lo, encontrei camadas de tinta branca, azul, rosa e mais outras tantas de branco. Estava tão coberto de tinta que, só quando cheguei à madeira, percebi os detalhes em relevo.

Esme passou carinhosamente a mão sobre o desenho entalhado.

— Uma preciosidade. Você já viu algo tão delicado?

— Nunca — disse Jane, sentindo o desejo de possuí-lo aumentar.

Esme sorriu.

— Eu sei que é muito extravagante para ser dado de presente em um chá de bebê, mas sei que todos que o vissem iriam adorá-lo. Assim que eu o coloquei na loja, senti que precisava avisá-la. Às vezes, eu me deixo dominar pela vontade de compartilhar as minhas descobertas. Espero que você não se incomode por eu ter deixado um recado na escola. Não é que eu estivesse querendo fazer uma venda. Eu sei perfeitamente que você não precisa deste berço.

O comentário casual de Esme fez com que algo se partisse dentro de Jane.

— Eu vou levá-lo — disse Jane, como se quisesse provar que Esme estava enganada. — Assim como está, com o protetor de berço amarelo e tudo. Ponha na minha conta e me mande a fatura.

Ao ver que Esme ficara boquiaberta, Isabella imediatamente se arrependeu do que havia dito.

— Mas... — balbuciou Esme.

Isabella interrompeu o protesto chocado.

— Você pode mandar entregá-lo na minha casa. Certo? Carlisle pode levá-lo no sábado de manhã, não pode? — disse ela, referindo-se ao marido de Esme, que ajudava nas entregas durante os fins de semana.

— Ah, claro, mas...

— Obrigada — disse Jane, cortando as perguntas que a amiga poderia fazer. Perguntas perfeitamente lógicas, mas para as quais ela evidentemente não tinha respostas racionais. — Eu preciso correr. Esta noite, tenho uma reunião de pais e mestres. Todos os professores têm que chegar cedo para receber os pais. Estamos tentando agradá-los, para que ajudem a arrecadar dinheiro para reformar a cafeteria. Não esqueça de embrulhar aquele lindo casaquinho rosa e a touca, para o chá de bebê de Rose. Pode mandar o pacote junto com o berço.

— Claro.

Isabella percebeu que o olhar confuso e preocupado de Esme a seguia, enquanto ela saía da loja e subia a ladeira, na direção da antiga escola de primeiro grau.

Só muito mais tarde, depois da reunião da APM e de ter voltado para casa e bebido um gole de chá, ela reconheceu que Esme tivera motivos para imaginar o que uma mulher solteira e sem namorado iria fazer com um berço. Isabella esperava encontrar uma desculpa plausível, antes que a cidade inteira concluísse que ela se tornara uma solteirona excêntrica, cujos hormônios estavam seriamente descontrolados.

O devotado marido de Esme, ainda bonito e em forma aos 50 anos, entregou o berço às 9h, no sábado. Instalou-o no quarto extra da casa de Isabella e não questionou o motivo da compra — algo pelo qual Isabella jurou que seria eternamente grata.

Depois que Carlisle foi embora, Isabella fez um chá de amora e sentou no pequeno quarto, para admirar o berço. Sonhou com o dia em que seu próprio filho iria dormir entre os belos protetores amarelos, no quarto que ela teria forrado com um papel de parede claro, enfeitado com uma faixa estampada com patos e coelhos, e onde ela teria colocado uma cadeira de balanço em um canto. A imagem era tão nítida, que ela teve uma incrível sensação de que tudo fosse real.

— Mas não é real — disse ela severamente a si mesma, forçando-se a sair do quarto e a fechar a porta com firmeza. A compra daquele berço de repente lhe parecia ter sido uma tolice. Ela estava meses, para não dizer anos, à frente de si mesma.

Daquela vez, seria sua amiga Rose que teria um filho: o terceiro. Rose já tinha dois meninos e descobrira que, desta vez, teria uma menina. Apesar de os meninos já serem adolescentes e de a gravidez ter sido uma surpresa, ela e o marido estavam nas nuvens.

Isabella disse a si mesma que a pontada de inveja que sentia era normal, que era o alarme do seu relógio biológico soando. Mas comprar um berço tinha sido uma reação exagerada. Talvez devesse ligar para Esme, admitir que cometera um erro absurdo e lhe pedir que mandasse Carlisle buscar o berço e levá-lo de volta para a loja. Ela chegou a pegar o telefone, mas não conseguiu fazer a ligação.

Se ao menos...

Isabella se recompôs rapidamente. Não fazia sentido olhar para trás. Edward Cullen, o amor da sua vida, era passado. Eles tinham tomado uma decisão racional e madura ao acabarem com o relacionamento há quase um ano, quando ele recebera uma incrível proposta de emprego em São Francisco. Os dois tinham resolvido, de comum acordo, que o fim do relacionamento seria sem dramas e definitivo. Nada de olhar para trás.

Edward sempre sonhara com o tipo de oportunidade que aquela empresa iria lhe proporcionar. Ansiava pelo reconhecimento que teria como engenheiro e com a estabilidade financeira garantida pelo salário que uma grande empresa poderia lhe oferecer.

Os sonhos dela eram bem diferentes e mais simples: um lar, uma família, assentar raízes em uma comunidade em que os vizinhos se conheciam e se importavam uns com os outros. Seus sonhos reproduziam quase a mesma maneira como ela havia crescido e o modo como queria que seus filhos fossem criados, com tranquilidade, mas com muito maior segurança do que ela tivera com seu pai, que sempre se ausentava.

Desde que Edward fora embora, ela dissera a si mesma, mais de mil vezes, que eles tinham tomado a decisão mais correta e sensata. Às vezes, amar significava libertar. Se eles tivessem sido destinados a ficar juntos, teriam se casado há muitos anos, mas Edward sempre hesitara, querendo garantias de que poderia sustentar uma família de acordo com um estilo de vida que nunca tivera durante a infância.

Mas ela ainda chorava até adormecer, pensando nele.

E concluíra que ser sensata era uma desgraça.

Desde que Edward se fora, ela escolhera a fotografia preferida que tinha dele e guardara-a dentro de uma gaveta, mas, de vez em quando, deparava-se com ela e seus olhos se enchiam de lágrimas. A venda da antiga casa de Edward , bem ao lado da dela, tornara a sua mudança inevitável e definitiva, e ela ficara abalada durante meses.

Tempos depois, ela dissera a si mesma que o esquecera, que precisava esquecê-lo. Mas não tinha conseguido. Nem de longe...

Em algum momento, eles haviam falado em ter um futuro, em ter filhos e em envelhecerem juntos. Mas a oportunidade de ouro, na Califórnia, fora atraente demais para que Edward resistisse e, mesmo que ele quisesse recusar, ela não teria deixado.

Mas ela não estivera pronta e nem disposta a deixar a cidade e o emprego, que lhe convinha perfeitamente. Os dois haviam fincado os pés e não tinham conseguido chegar a um acordo. Portanto, o relacionamento, que uma vez significara tudo para os dois, terminara.

A essa altura, Edward já deveria ter encontrado outra mulher, alguém que se adaptasse mais ao estilo de vida da cidade grande e cuja vida social não se resumisse a chás de bebê, piqueniques e, de vez em quando, um cinema. Ela esperava que sim. Não queria que ele fosse sozinho e infeliz como ela.

Mas, e se ele fosse? E se ele sentisse tantas saudades dela, como ela sentia dele? Se fosse o caso, ele não teria lhe telefonado?

Não, claro que não, Isabella disse a si mesma. Não, se ele tivesse levado o acordo entre os dois a sério. Não, se o seu famoso orgulho irlandês tivesse despertado, assim como o dela despertara. Quando se tratava de teimosia, eles eram o par perfeito.

Ela abriu a porta do quarto e olhou novamente para o berço, imaginando o seu filho ali: o filho dela e de Edward . Um menininho rechonchudo e forte, com grandes bochechas e cabelo negro como os de Edward . Ou talvez uma menininha de faces rosadas, com fios vermelhos no cabelo, assim como ela.

Isabella se perguntou se fechara a porta para esse sonho cedo demais. Aceitara a partida de Edward muito depressa, considerando-se vencida quando deveria ter lutado com unhas e dentes para encontrar um jeito de dar certo?

Deparar-se com aquele berço, na loja de Esme, forçara-a a encarar emoções que ela convencera a si mesma que estavam mortas e enterradas. Se ainda amava Edward profundamente, como sempre amara, não devia aos dois procurá-lo, para saber se restara algo daquele amor, agora que Edward já testara suas asas no tipo de trabalho e de cidade com que sempre sonhara?

O recesso de primavera se aproximava. E também o aniversário de Edward , e ela sempre tinha sido mais sentimental do que ele em relação àquela data. Depois de pagar o berço, a sua poupança estaria baixa, mas daria para uma viagem até São Francisco, sem que ela precisasse recorrer ao dinheiro do seguro que sua mãe lhe deixara para ser usado em dias de chuva. Poderia haver melhor investimento para a sua poupança? Ela acreditava que não.

Talvez ela e Edward voltassem a se apaixonar. Ou talvez dormissem juntos pela última vez em nome dos velhos tempos.

Talvez, por um glorioso golpe de sorte, eles concebessem um filho, pensou Jane, esperançosa. Evidente que isso não era muito provável, mas seria uma bênção! Quer o relacionamento dos dois se restabelecesse ou não, ela sempre amaria o filho e, se preciso, o criaria sozinha.

A decisão de ir a São Francisco foi tomada da mesma maneira impulsiva com que ela comprara o berço. Isabella passou uma hora ao telefone, falando com o agente de viagens para fazer todos os arranjos. Quando desligou, estava atrasada para o chá de bebê de Rose.

Quando ela chegou, a festa estava no auge e, do lado de fora da casa, ouviam-se as gargalhadas e as brincadeiras. Quando Isabella entrou, todas caíram em silêncio e olharam para ela.

— Onde você estava? — perguntou Rose, erguendo-se da cadeira com dificuldade e correndo para abraçá-la. — Você nunca se atrasa.

— Nós tentamos telefonar para a sua casa várias vezes, mas a linha estava ocupada — acrescentou Tânia. — Alice já estava pronta para ir até lá.

— Então? O que aconteceu? — perguntou Rose. — Não me diga que Edward apareceu na sua porta, depois de todos esses meses.

— Nada disso — disse Jane. — Eu só perdi a noção do tempo.

— Você nunca perde a hora — protestou Rose.

— Bem, desta vez, eu perdi — falou Isabella num tom defensivo, que espantou a todas.

Alice, que a conhecia desde a infância, observou-a atentamente.

— Certo. Pode ser que ele não tenha aparecido, mas isso tem algo a ver com Edward , não tem? Ele telefonou?

— Não, ele não telefonou.

— Mas tem algo a ver com ele? — insistiu Alice, com a infalível precisão que só uma amiga de infância poderia ter.

Isabella não estava preparada para revelar seus planos a ninguém, nem mesmo à sua melhor amiga. Ela deu um sorriso luminoso.

— Ei, me esqueçam, certo? Agora eu estou aqui e quero ver os presentes. — Ela entregou o presente que trouxera para Rose, que o juntou à pilha de pacotes que estava a seu lado. — Mãos à obra. Pelo visto, esse bebê pode nascer a qualquer segundo. Quero que você acabe de abrir todos os presentes antes que isso aconteça.

Com alguma relutância, o grupo de moças voltou a atenção para os presentes. Isabella exclamava "Ahs" e "Ohs" como todas elas, mas sua cabeça já estava longe, em algum lugar em uma cidade que ela nunca vira, com o homem que fazia parte do seu coração.