Shou Ai Ni
Prólogo – Yuan Xiao Jie
China - 1365
Via a primeira Lua cheia do ano despontar no céu com a suavidade de um suspiro, refletindo a pálida luz no verde de suas íris, que a observavam encantadas, hipnotizadas. As estrelas começaram a surgir, inicialmente tímidas, mas tornando-se mais fortes e seguras de si pouco a pouco, à medida que a cor alaranjada do horizonte dava lugar ao negro que não tardaria a dominar o céu por completo. Era esse o anúncio para que lanternas das mais variadas cores começassem a ser acesas nos beirais dos telhados de todas as casas, iluminando as ruas niveladas da cidade de Beijing.
Bastou ouvir o seu nome chamado em uma voz conhecida para desviar a atenção do astro, que com complacência permitiu-se deixar de ser admirado pela garotinha que tinha o rosto marcado pelo mais despreocupado e inocente sorriso. Antes de juntar-se ao amigo que a chamara, voltou-se para a jovem que a acompanhava, com uma súplica silenciosa oculta no brilho de seus olhos.
"Pode ir, Sakura." – a jovem sorriu em retribuição à alegria que tomou o rosto da criança. Era impossível responder secamente um não diante daquele olhar – "Eu não poderia impedi-la, de qualquer forma."
"Obrigada, Song!"
Observou a irmã correr com toda a energia que possuía na direção das outras crianças que a esperavam, todas segurando lamparinas, com um meneio negativo da cabeça que contradizia o sorriso que não se desfizera em seus lábios. Contudo, por maior que fosse o seu alívio em ver-se livre da agitação da irmã, sabia que não podia perdê-la de vista. A pequena estava sob sua tutela naquela noite, já que a outra irmã, a do meio, estava ajudando a mãe a preparar o arroz doce para cozinhar o yuan xiao.
Era uma das mais belas noites do ano, e não apenas pela Lua que ostentava sua esfericidade imaculada no céu. Era 15 de janeiro no calendário lunar, o último dia do Festival de Primavera, que se iniciara antes do Ano Novo, durando três semanas. Em todo o território chinês, eram realizadas as mais atrativas comemorações e festividades folclóricas. A partir do dia seguinte, os camponeses dariam início à preparação da terra para a aração primaveril.
E se fosse uma outra noite, ela, como uma jovem de apenas treze anos pertencente a uma família de considerável notabilidade social, não poderia estar fora de casa acompanhada apenas pela irmã, de sete. Somente nos três últimos dias de festa, era permitido que moças e rapazes saíssem às ruas para assistir ao Festival das Lanternas, o que criava uma quase sólida atmosfera de romantismo.
Song seguia a certa distância a irmã caçula, que tomava a mesma direção que as demais pessoas que deixavam suas residências no momento, todas a caminho do ponto central da povoação, onde era realizada anualmente a feira das lanternas. E mesmo já tendo presenciado o evento várias vezes, não deixava de comparecer e de se impressionar com os variados feitios das luminárias ornamentais, exibindo cores que se harmonizavam com perfeição na representação de animais e flores.
Lanternas esféricas alaranjadas brilhavam calidamente nos galhos das árvores, enquanto outras em formato de vitórias-régias flutuavam sobre as águas imóveis e cristalinas de um lago, circundado pelo corpo serpentiforme de dragões igualmente iluminados. Mais ao longe, as pequenas embarcações que deixavam o porto, esculpidas de modo a assemelhar-se também a dragões, contribuíam com a decoração mágica da cidade.
Teve a impressão de que todos os habitantes estavam presentes para contemplar o festival, rindo e se divertindo diante de sua beleza inigualável e dos jogos que convidavam o interesse das crianças. Prendeu o riso quando notou a aflição de sua irmã ao tentar decifrar a charada de uma das lanternas, sem obter êxito. Foi por apenas um minuto que desviou os olhos da pequena, atraídos por uma lanterna cilíndrica em que o branco se mesclava ao rosa em contraste com o preto utilizado para pintar figuras de cisnes. Quando a procurou novamente com o olhar para mostrar-lhe o que vira, não a encontrou.
Vasculhou por toda a feira, perguntou aos conhecidos se haviam visto Sakura, mas ninguém soube lhe informar que caminho a menina havia seguido. O desespero começava a invadi-la à medida que imaginar o que teria acontecido com ela dominava todos os seus pensamentos. E a própria irresponsabilidade pesava sobre seus ombros, já podia até mesmo ouvir as palavras duras de seu pai caso ele tomasse conhecimento daquela falta imperdoável causada por sua desatenção. Já quase desistia quando se recordou que, desde que era um bebê de colo, a irmã parecia adorar a dança dos dragões.
Era sua última alternativa, sua última esperança. Deixou a feira quase correndo, até atingir o local da apresentação, já próxima do fim. A numerosa platéia assistia encantada enquanto dragões coloridos de bocas flamejantes desfilavam em dança fluida, o que dificultava sua passagem pelos vários corpos amontoados. Apenas quando a multidão começou a se dispersar, avistou a irmã. Tinha o rosto delicado coberto pelas lágrimas, uma de suas mãos trazia uma lanterna rosada, enquanto a outra segurava firmemente uma terceira mão, bem maior, que Song descobriu pertencer a um belo rapaz ao erguer seus olhos.
Correu na direção dos dois sem pensar uma segunda vez e ajoelhou-se, tomando a pequena em um abraço apertado, enquanto deslizava os dedos entre os finos fios de seu cabelo.
"Você está bem? Aconteceu alguma coisa com você?" – perguntou, segurando-lhe o rosto e enxugando as lágrimas com os polegares.
"Não aconteceu nada, Song!" – a voz aguda acompanhou um sorriso – "Eu só fiquei com medo quando não consegui encontrar você. Mas o Syaoran me ajudou!" - Song ergueu o olhar para o rapaz de olhos ambarinos e cabelos castanhos desalinhados, que agora também sorria ao observar as duas irmãs.
"Eu disse que nós a encontraríamos, não disse?" – ele tocou carinhosamente a cabeça de Sakura, que respondeu com um veemente meneio afirmativo.
"Em nome da família Kinomoto, eu lhe agradeço por cuidar de minha irmã. Foi um descuido meu perdê-la de vista, não sei o que faria se algo tivesse acontecido a ela. Sou-lhe grata pela ajuda." – Song apressou-se em dizer, com a vergonha a lhe corar o rosto, ao se curvar em reverência.
"Não precisa se preocupar." – ele tocou o ombro da jovem para que ela se reerguesse – "Como a senhorita se chama?"
"Song Kinomoto, senhor. É uma honra conhecê-lo."
"Sou Syaoran Li. Para mim, também é uma honra conhecer tão bela jovem. Mas me diga..." – abriu um sorriso brincalhão – "Realmente pareço um senhor?" – ela o observou por algum tempo antes de negar. Estava longe de parecer velho, deveria ter no máximo dezesseis anos – "Então, não há necessidade de me chamar assim."
"É óbvio que... que sim, Senh... Não, Syaoran."- atrapalhou-se com as palavras, sem conseguir esconder a timidez, nada sua amiga e que agora parecia castigá-la copiosamente - "Mais uma vez, obrigada!"
Sorrindo, o atraente rapaz pegou as duas mãos da jovem, que mais corada e envergonhada não poderia ficar, e beijou-as respeitosamente. O chão sob os pés dela pareceu rodar em um emaranhado de emoções conflitantes. Pela ética que regia a sociedade, sair sem a companhia dos pais era passível de punição, a não ser naquele dia em especial. E ainda era jovem o suficiente para se encantar por qualquer mancebo...
Song só percebeu o papel ridículo que representava quando já não mais sentia o contato frio das mãos do rapaz sobre as suas, que, ao contrário, estavam quentes como sua face. Fechara os olhos e tremera como um bambu seco, agindo como uma criancinha. Imaginava que nem mesmo Sakura, com suas poucas primaveras, ficaria tão nervosa.
"Eu é que devo agradecer a essa linda menina."- esparramando os cabelos da garotinha desajeitada, o rapaz voltou a olhar com uma estranha admiração para o corpo já dono de curvas de Song.- "Devo muito a essa andorinha."
Song não gostou nada do que escutou, tentou inutilmente controlar o ciúme, a raiva, a surdez que a impediam de escutar cada anuência daquela frase mal formulada. Utilizando-se de toda a sua educação, afastou aquele sentimento absurdo. Que tipo de mulher era para ter despeito por sua irmã, que mal conhecia o significado da afeição, e ainda por causa de um homem desconhecido?
"Sakura é um lindo vaga-lume."- concordou, forjando um sorriso simpático - "Em um segundo, ela estava tentando decifrar a mensagem secreta de uma lamparina e, no outro, havia desaparecido! Fiquei apavorada... Enfim," - com gracejou, pegou a mão direita da irmã e puxou-a repentinamente para seu lado, fazendo a lamparina ser sacudida com força -"a encontrei. Graças a sua bondade."
"Que nada!" - falou em gíria vulgar, tirando gargalhadas da pequena com lindos olhos. Iria repetir essa expressão para o pai quando voltasse a casa. Certamente, seu pai, lindo como aquele rapaz, sorriria e a colocaria em cima do burrinho que ganhara em seu aniversario de cinco anos - "Eu é que fui duas vezes premiado, repito. Fui salvo do ataque do dragão mulher, que mais parecia um asco-trasgo, e conheci uma encantadora moça." – concluiu, lançando-lhe olhares que ocultavam um laivo suspeito de malícia.
Apertando as mãozinhas da garota, Song sentia estar caminhando nas nuvens, sem nem ao menos sair do lugar. A falta de contato com um mundo que não fosse cercado pelo adobe composto por vários pavimentos de sua casa refletia um grande problema para sua vida social. Ser mulher não era fácil, era ser torturada por tamancos apertados e por trajes quentes demais no verão e frios demais no inverno, além de ser guiada para o objetivo único de se casar com um homem à altura de seu nome e gerar um varão o mais breve possível. Caso contrário, o futuro de seu clã, liderado pelos punhos de ferro do pai, estaria seriamente comprometido. A pressão maior recaía sobre seus ombros, era a mais velha de três irmãs e nenhum irmão. A ela foram incumbidas as diretrizes que levariam à prosperidade dos negócios da família. Mesmo jovem, sabia que o tempo se esvaía na ampulheta de sua maturidade. Aquela era a última primavera antes de sua menarca, que seria seguida do aval para comunicar à casamenteira que estava pronta para constituir seu próprio lar.
"Bem... Não sei o que falar, além de lhe agradecer pelos elogios dos quais, certamente, não sou merecedora, Syaoran."
"Nem é preciso, querida Song."
Um suspiro de sonoridade romântica escapou de seus lábios. Estava sonhando? Não era possível que estivesse sendo cortejada por um cavalheiro da estirpe de um Li, cuja grandeza e sagacidade era reconhecida até mesmo pelo imperador.
"Você não gostaria de me acompanhar até o lago do desejo concebido?" - perguntou ele, em um tom abaixo do normal.
Mil e um foguetes de Ano Novo soam em minha cabeça... Buda, meu querido Buda, eu, a sem-graça e mais velha fui convidada para um encontro! - arquejando, Song fitou o rapaz, desejosa de gritar um sim... Mas não podia. Desarmada, deixou que os braços pendessem ao longo do corpo.
"Não devo, senhor... Não, Syaoran."
"Por quê?" - arqueando as sobrancelhas, o rapaz deixou o brilho de genuína decepção transparecer nas íris cor de âmbar.
Erguendo a mão esquerda, Song sacudiu a menina espevitada, cujo olhar também não era nada animador - "Não posso deixar minha irmã sozinha."
"Se esse for o problema, pode considerá-lo solucionado." - cortou ele, voltando a se acender como a lamparina segura firme nas mãos da criança.
"Como?" – indagou, confusa.
"Sou um Li, minha cara Song! Para mim, não existe problema que não tenha saída!"
Pouco depois, a pequena Sakura brincava com o filhote de gato persa de uma outra criança, tão belicosa quanto ela ou até mais. A menina morena possuía olhos idênticos aos do rapaz a sua frente e tinha também um nome de flor. Meiling, era essa a sua alcunha. Ela e sua irmã entenderam-se tão bem que, em questão de segundos, esqueceram-se da presença da multidão e dos familiares.
"Claro, titia, serei cuidadoso."- resmungava Syaoran, revirando os olhos enquanto a tia se distraía ao chamar a atenção das meninas, que corriam atrás do pobre gato.
"Não intento soar repreensiva, Syaoran, para mim é um prazer cuidar dessas preciosas jóias," - indicou Sakura e Meiling - "enquanto você se distrai com essa linda jovem, afinal, hoje é o dia dos namorados..." – a tia do rapaz interrompeu a divagação atropelada no instante em que encontrou os olhos de Song - "Quantos anos tem, querida?"
"Treze, senhora." – pôde ouvir um suspiro aliviado vindo da mulher.
"Por alguns instantes, pensei que ainda era uma criança. É tão pequena..." – interrompeu-se novamente, arrancado risos do esposo que estava sentado a seu lado - "Eu, na sua idade, saí pela primeira vez de casa... Foi aterrorizante! Pensei que iria morrer, contudo, tomei coragem e fiz um pedido no lago, joguei meu papelzinho no rio e, em um ano, encontrei o amor."- romântica, a mulher esbelta olhou para o marido gorducho e de estatura que deixava a desejar quando comparado a outros homens.
Song escutava cada palavra com um brilho onírico nos olhos que recaíam sobre o rosto tenso e irônico do rapaz. Ele demonstrava sinais de repúdio ao jeito "agitado" da tia, mas, para ela, era uma admirável novidade conhecer uma mulher que não temia falar mais alto que o marido.
"Seja como for, tia, cuide da pequena irmã de Song. Essa garota vale ouro, além de ser extremamente esperta." - avisou conciso, tomando discretamente a mão da moça - "Junto com a Mei, temo que, por debaixo de seus trajes, as duas coloquem fogo nas lamparinas de papel."
"Vá com Buda, Syaoran, ganhe asas e leve essa bela jovem a um passeio docemente romântico! Aiaiaiaiai!"
Revirando os olhos, Syaoran começou a se afastar, com Song em seu encalço. Detiveram-se ao alcançar as plácidas margens do lado, iluminadas pelos dragões de papel. Em meio aos sabores de tantas cores e luzes, não demorou até que os dois fossem envolvidos pelo transe de romantismo do princípio da primavera, que levou os rostos de ambos a se aproximarem lentamente, até que as bocas se tocassem em delicada carícia.
O alheamento dos fatos que se processavam a sua volta e da própria realidade os impediu de ouvir os ruídos sussurrados entre as árvores próximas. Foi somente o sonoro grito na voz de Sakura em falsete que os despertou, separando-os automaticamente.
"Song!"
"Por que você interrompeu os dois? Eles estavam tão lindos juntos, pareciam os casais apaixonados das histórias que a mamãe me conta!" – a voz de Meiling foi a primeira a seguir a de Sakura, acompanhada por um suspiro sonhador.
"Você já vai ver!" – deu uma piscadela para a nova amiga e correu na direção do casal, que, a essa altura, já estava separado por mais de dois metros e rastreava o chão com os olhares – "Que coisa feia, Song!"- gritou a menina impertinente - "Mesmo sendo mais nova, sei que isso que você fez é constrangedor para a nossa família. E com todo o respeito que tenho por você... sabe o tamanho dele, não é mesmo?"-erguendo a sobrancelha num gesto sagaz, esperou a resposta da irmã. Era ali que a pegaria em sua fraqueza.
"Claro, Sakura." – encarou a irmã, com o rosto tomado por intenso rubor, sem entender aonde ela queria chegar.
"Ótimo! Não se esqueça disso!" – Sakura juntou as mãos produzindo um estalo, enquanto seus lábios se curvavam no maior e mais mal-intencionado sorriso que sua pouca idade lhe permitia – "E você também sabe que o papai não ficaria nem um pouquinho feliz se soubesse que, além de me perder, você ficou sozinha com um homem... fazendo aquela coisa. Não é mesmo?"
Hesitou antes de confirmar vagamente com a cabeça, finalmente percebendo o objetivo por trás daquela conversa cheia de rodeios. Se o pai tomasse conhecimento do ocorrido, ela não apenas seria severamente castigada por isso, mas havia o risco de ele sofrer um ataque fulminante ao cansado e enfraquecido coração, cuja gravidade das conseqüências em muito ultrapassaria a compreensão da irmã caçula.
"E sabe que, embora eu tenha muito respeito por você, também devo respeitar e honrar ainda mais o papai. Então, quando ele me perguntar como foi o festival, faz parte das minhas obrigações como filha contar tudo a ele. Não é? E você sabe que ele sempre pergunta... É claro que eu posso esquecer de citar algumas coisas, mas isso seria muito feio! A menos, é claro, que eu receba uma... recompensa."
Só então, Meiling saiu de trás da árvore de onde estivera assistindo ao diálogo entre as irmãs, observando a amiga com pura incredulidade diante de seu atrevimento, mas começando a se divertir com o desfecho daquela conversa, que já podia vislumbrar.
"Ora, se não temos aqui uma pequena mercenária!" – Syaoran piscava rapidamente ao fitar Sakura – "O que tem em mente para servir como recompensa?"
O sorriso dela se alargou ainda mais – "Quero tudo o que tiver restado do Ya Sui Qian da Song!"
O rapaz teve que se esforçar para não rir ao vê-la retirar de suas vestimentas rosadas um pacote vermelho, no qual ficara guardado o dinheiro que recebera de seus parentes mais velhos no dia de ano novo. Entregou-o a Sakura em meio a um suspiro derrotado – "Nosso pai também não ficaria muito feliz se soubesse dessa chantagem..."
"Não sabia que sua pequena irmãzinha, com esses olhos tão inocentes, era uma cobradora tão fervorosa, Song." - entre gargalhadas, o jovem não percebeu o rubor de vergonha que cobria a face impecável de Song.
O seu ano estava perdido, pensou a jovem chinesa, possessa pela falta de tato para encontrar as palavras certas para dobrar a sagacidade da irmã. Certamente, o rapaz não voltaria a procurá-la e aquele terno roçar de lábios ficaria guardado em sua memória como apenas um momento em que fora feliz.
"Nem eu mesma conhecia direito a minha adorada irmã caçula."-resmungou baixinho.
"O que disse, Song?" - perguntou o rapaz, desviando o olhar da pequena que contava o dinheiro, exatamente como o eunuco responsável pelas finanças do clã havia lhe ensinado.
"Nada... Nada mesmo, Syaoran." - direcionou um olhar ressentido à irmã.
"Meiling, porque não tira esse sorriso bobo do seu primo e também se aproveita da situação?" – cochichou no ouvido da amiga, para que os outros dois não pudessem ouvi-la – "Afinal, você também viu tudo!"
Antes que a garota pudesse decidir entre seguir ou não a sugestão da amiga, o forte estampido dos primeiros foguetes do último dia do Festival da Primavera seduziu a atenção de todos para o céu, que servia de painel negro para a pintura espraiada de uma chuva de luzes coloridas a enfeitiçar os olhos esverdeados de Sakura.
Continua...
N.A.:
Anna respira fundo e dispara:Bem, mas uma loucura boa! Desta vez, tenho uma companheira!
Lanah sorri: Uma companheira muito feliz de ter sido convidada pra trabalhar nesse projeto!
Anna escutando o Diru falar igual (ou quase) ao Kaoru: Eu é que me sinto honrada de ter uma parceira como a Lanah! Se não fosse ela, com certeza essa fic não existiria. Só espero não colocá-la em nenhuma fria... Sabe como é meu "eu" dramatico.
Lanah revira os olhos: Ignorem essa modéstia, existiria com certeza! Afinal, a idéia foi quase toda da Anna, eu só contribuí com alguns detalhes aqui e ali. E nos próximos capítulos vocês vão ver como, nem que eu tentasse, poderia dizer que a idéia foi minha, já que, pelo menos na minha opinião, ela é a cara da Anna (e sim, isso foi uma tentativa de tirar dos meus ombros a responsabilidade sobre algumas coisas que vão acontecer que podem revoltar vocês).
Anna sacode a cabeça: Quase parodiando Frida Kahlo "Anna, talvez, quem sabe!". Nós juntas seremos as irmãs ativas do sec. 21. Aguardem!
Lanah: Sim, sim! Nessa fic, além de apresentar pra vocês um enredo que eu particularmente adorei, vamos tentar explorar algumas coisas sobre a cultura da China medieval. E, para que vocês não se percam muito por isso, vamos explicar algumas coisinhas...
Anna séria: Aham, não que eu tenha preferência, mas sem dúvida a China é o berço de toda civilização moderna, tanto oriental quanto ocidental. Tudo tem seu significado... até mesmo uma carteira ou tamanco. (olhinhos brilhando) Eu amo a China!
Lanah: E agora imaginem se ela tivesse uma preferência! Bom, nesse capítulo, nós usamos o Festival da Primavera, que equivale ao Ano Novo oriental, mas dura três semanas (uma antes e duas depois do primeiro de janeiro). Os últimos três dias são o Yuan Xiao Jie, ou Festa das Lanternas, e toda a comemoração se encerra justamente no dia 15 de janeiro.
Anna: É só depois do dia 15 que os chineses voltam a sua rotina... É um "carnaval" (não que seja um, apenas uma comparação tosca da minha parte, mas que se encaixa a nossa realidade) de que no final muitos saem felizes.
Lanah: E saem felizes justamente porque as mocinhas podem sair de casa desacompanhadas! Não é um conceito muito generalizado, mas o Yuan Xiao Jie é considerado por muitos uma espécie de festa dos namorados. E é linda, linda, linda!
Anna: É bobagem criar um mito, que hoje na China não há isso. Todo mundo tá careca de saber que a China sempre será a China... E as mulheres sempre são coibidas.
Lanah: Olha só, nós nos empolgamos demais aqui. A outra coisa que temos que explicar é o Ya Sui Qian que a Sakura pediu em troca do silêncio dela. É algo como um "dinheiro da sorte" que os mais velhos da família dão para as crianças em um envelope vermelho que só deve ser aberto no primeiro dia do ano (no calendário lunar chinês, claro) e que representa desejos de sorte e prosperidade a quem o recebe.
Anna olha para o relógio: Meia noite é vinte! Tarde... bem tarde. O sono e minhas dores no pescoço recomeçam... acho que é hora de dar Tchau! Bjss!
Lanah: Já passa da hora mesmo. Tchaaaau! Beijos!
