*oneshot*

Ela estava dançando. E eu podia ver o seu tornozelo aparecendo por baixo do longo vestido florido. Ela sorria de olhos fechados, rodopiando, com os cabelos vermelhos presos em um rabo de cavalo.

"Esta ventando muito, acho que você devia ir para a sua casa." Eu resmunguei, sabendo que ela ia ignorar meu conselho e continuar a sua dança.

"Estamos bem aqui." Ela me respondeu sem abrir os olhos ou parar de rodar. "Sabe o que eu mais amo em rodar de olhos fechados? Eu nunca fico tonta. É ótimo, você devia tentar! Com o vento no rosto é ainda mais gostoso."

"Eu estou entediado."

"Então não fique apenas encostado na árvore me olhando e venha rodopiar comigo."

Naquela hora eu não consegui evitar um sorriso. Era difícil saber quando ela estava de olhos fechados ou apenas fingindo, pois ela fazia isso com grande frequência. Ela estava sempre agindo como uma menininha e as vezes eu tinha a impressão de que ela não passava de uma criança grande. Nós já tínhamos 12 anos e em duas semanas voltaríamos à Hogwarts, para o nosso segundo ano..

"Sabe o que minha irmã disse?" Ela parou de rodopiar e abriu os olhos.

"O quê?" Eu perguntei já irritado. Apenas a menção da palavra irmã já me enjoava.

"Que você nunca vai ser capaz de amar ninguém." Ela deu alguns passos em minha direção e virou o rosto para o chão, parecendo envergonhada por ter puxado aquele assunto. "Nunca."

Ela estava parada a minha frente, olhando para o chão, como se esperasse uma resposta. Mas eu não ia dá-la tão facilmente.

"E por que aquela sua irmã iria tocar em assunto desses com você? "

"E-eu não sei." Ela aproximou-se de mim com mais alguns passos. "Talvez porque eu tenha perguntado..."

"Perguntado o quê?"

Ela levantou a cabeça e me encarou. Seus olhos estavam fixos nos meus.

"Você sempre treme a boca quando eu te encaro. Acho que você ama os meus olhos."

"Deixe de ser tola."

"Não." Ela aproximou-se mais. Os nossos narizes estavam quase se tocando e eu podia sentir seu hálito quando falava.

"Você seria capaz de amar alguém, não seria, Sev?"

Eu engoli em seco diante daquela clara demonstração de afeto.

"Eu não-" Mas eu nunca consegui completar a minha frase, porque naquele momento ela me beijou. Não um beijo doce, como talvez eu estivesse esperando por parte dela. Um beijo apressado, triste, angustiado. Como se ela precisasse ter certeza de que eu era capaz de amar alguém.

Pouco mais de três anos depois daquele beijo, ela iria me encarar de cima, enquanto eu estivesse ajoelhado, e iria dizer sem um menor sinal de emoção na voz:

"Você nunca será capaz de amar ninguém."