1.

"Eu não posso mais fazer isso".

Deu pra ouvir o estalo do pescoço de Edward, a tensão no ar. O desejo de saber do que ela estava falando e a sensação de já saber. Deja vú.

"Do que você esta falando?"

Ela hesitou. Ele hesitou. Bile subindo, sua respiração contrita. Uma variação horrenda de emoções, brotando como lágrimas – um cisco no olho.

"Tanya..." Disse, tentativamente. "O que você esta fazendo?"

Ela quebrou, soluçou, mas voltou ao seu estado de nervos rapidamente, as mãos limpando os traços de qualquer coisa. Gostaria de dizer o quando doía fazer isso com ele, mas duvidava que Edward a escutasse. Seu corpo se esticava, antes pacifico agora agressivo. Ele nunca bateria nela. Ela sabia. Mas recuou dois passos do mesmo jeito.

"Eu não te amo mais". Sussurrou, as palavras como um tapa na sua pele pálida. Os olhos verdes se estreitaram. "Eu não te amos mais".

Firme. Audível. Ele queria álcool pra poder cambalear e cair. Queria muitas coisas que não sabia possível. Ele sabia. Ela sabia que ele sabia. Todo mundo devia saber, menos ele. Até agora. Flexionou as mãos, fechando os punhos com forças, as veias saltando. Uma demonstração de autocontrole.

"Há quanto tempo você esta transando com ele?" Dois passos pesados, Tanya arfou, o braço atingiu o centro da mesa fazendo um estrondo. "Mas que porra Tanya! Estou falando com você" um dedo acusativo foi levantado. "e eu quero respostas. Responda! Há quanto tempo você esta transando com ele por trás das minhas costas?"

"Edward" um murmúrio carregado. "não faz assim".

"Meu deus. Não faz assim? Que tipo de idiota você acha que eu sou?" Um suspiro, mãos nervosas passando por um cabelo bronze. "Por quê?"

"Eu não sei." A voz tremeu. Doce. Seu coração se apertou, estava sendo esfaqueado mil vezes. Ele abriu alguns botões da camiseta. Entrou na cozinha, pegou um copo e uísque. Eles se olhavam. "Aconteceu." Ele merecia uma explicação. Alguma coisa. Qualquer coisa. "O que você quer que eu diga? Eu não sei! Meu deus... Não foi assim que eu pensei...".

"Pensou o que?" Exigiu a voz dura e inflexível. O uísque desceu suave. Serviu-se mais um copo. "Nos iriamos mudar juntos. Você já estava morando aqui. Três anos de relacionamento jogados fora por causa de um ex-babaca!" Mais um copo. Ele limpou a boca com a manga da camiseta, chegou perto dela, outro copo, mais uísque, os olhos verdes cintilando de ódio. Ela tremeu, mas não se mexeu. "Ele trepa melhor que eu?"

Ela engasgou. Os dedos se apertaram na alça da bolsa, os olhos azuis não conseguiram encarar os verdes. Tanya não sabia o que dizer ou fazer. Tudo tinha sido um tumulto no ultimo ano, com Garrett entrando novamente em sua vida, com aquele sorriso vestido de conforto e os sentimentos tinham explodido. Um encontro virou dois e o resto é história. Mas Edward estava ali, com o coração sangrando, os olhos molhados de ira e tristeza. Ela não queria fazer isso com ele. Não desse jeito. Ele tinha sido tão paciente, tão amável, tinha sido tudo que Garrett parou de ser após um tempo. Mas ele estava ali de novo e de repente ela pegou se questionando se amava mesmo Edward. Se. Aquilo foi à faísca pra começar uma revolução dentro da sua cabeça e coração.

"Não é sobre isso Edward. Nunca foi".

O vidro se espalhou pela parede da sala, pelo assoalho do apartamento, junto com o liquido amarronzado. Raiva. Ódio. Queria sacudi-la, estapeá-la. Como ela podia ter feito isso com ele? Depois de tudo que passaram juntos. Eles iam morar juntos, pelo amor de deus! Não. Não iam mais, uma voz lhe disse. Ele pensou que seu coração fosse parar tamanha a tristeza que sentia.

"Não foi isso que perguntei Tanya".

Ela não o escutou, ao invés abriu a bolsa e tirou a chave do apartamento. Por algum motivo ele pegou. Não... Não queria deixa-la ir.

"Eu volto depois pra pegar minhas coisas".

Foi desse jeito que ela terminou com ele. Dois minutos depois ele ainda estava em pé, sem saber o que fazer, tudo esmagado dentro de si. Sentiu vontade de vomitar, o uísque alcançou seus pés. Queria chorar.

Encheu mais um copo de uísque.

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