Calor de Inverno
Capitulo I
A neve caia sem a menor preocupação, como se esse fosse fato mais fantástico que pudesse acontecer no mundo. Era branca, caia em flocos que pareciam algodão, e logo que tocavam o chão se misturava com os outros milhares de flocos, e então a conseqüência era logo visível, um solo escondido, que não se podia nem ao menos caminhar direito.
O vento frio era tão forte que se podia escutar o barulho que causava. Era de dar arrepios apenas pensar na possibilidade de senti-lo batendo contra o rosto, quanto mais se expor.
Porem, se soubesse olhar da maneira correta para a neve, e para as casas que constituíam aquele vilarejo, era possível encontrar uma magia, um ''calor'' sobrenaturalmente aconchegante.
No entanto, o homem que se encontrava debaixo de uma arvore, sobre uma pequena elevação que lhe permitia ter a vista de todo aquele vilarejo, aquele homem que tinha o privilegio de ter uma visão tão bonita e rara para os dias atuais, não conseguia encontrar a mínima gota de afeição por sua situação.
Era certo que ele estava a ponto de ser congelado pela temperatura baixa, deixando o cenário perfeito para uma data importante para milhares de pessoas. Também era certo que o desconforto por não saber o que fazer, e o medo de ficar perdido durante o resto da noite o deixou cego, não permitindo que ele tentasse ver a parte boa das coisas que aconteciam. No entanto, a preocupação não existiria se ele não fosse tão orgulhoso a ponto de cair na indecisão de procurar a ajuda da única pessoa conhecida, ou morrer congelado onde se encontrava.
Não, pensou consigo mesmo, não deixaria seu orgulho de lado, não daria satisfação àquela mulher, não permitiria que ela saboreasse a vitoria de suas previsões, não permitiria que ela soubesse que estava certa e ele errado.
Por mais que lembrasse ate aquele momento de quanto ela era linda quando os olhos brilhavam de satisfação, e como a voz dela era doce e gostosa de se ouvir; ele não se permitiria cair na tentação.
Sentou-se no chão frio, se arrependendo imediatamente de seu ato, mas não desistindo, se apoiou na arvore que lhe fazia proteção contra os flocos de neve, e então se abraçou, uma tentativa quase inútil para se aquecer. Sua roupa era pesada, e usava varias camadas de roupas embaixo do sobretudo, mas mesmo assim sentia que seu corpo estava congelando aos poucos. A respiração parecia pesada, e os dentes batiam contra os outros.
A tempestade de neve era o maior inimigo naquele momento, ele pensava. Se aquela noite estivesse pelo menos sem tempestade, talvez ele conseguisse chegar onde desejava, ou achava desejar, estar.
Parecia fazer horas, mas na verdade apenas minutos tinham passado, quando a imagem de uma pessoa apareceu diante de seus olhos.
A escuridão não impedia que ele observasse aquela pessoa se aproximando, pois o caminho de chão branco deixava que aquele ser se destacasse com suas roupas de cores chamativas.
Tudo que podia dizer, porem, era que a pessoa usava um sobretudo vermelho sangue, como se estivesse tão sintonizada com aquela data que queria se vestir igual a um de seus representantes.
Mas o que queria aquela pessoa? A questão levantada fez com que sua imaginação trabalhasse intensamente. Poderia ser um malfeitor, alguém que se aproveitaria de sua fraqueza diante a tempestade que caia, aliás, ele nunca estivera em uma situação como aquela, fora criado na ensolarada Miami. Poderia ser ajuda, sim, talvez uma pequena ajuda não ferisse tanto seu orgulho.
Fechou os olhos esperando que quando os abrisse encontrasse aquele desconhecido perto o suficiente para matar sua curiosidade.
- Então é aqui o seu aconchegante aposento, Edward? – A voz era doce, e parecia soar com uma pontada de recriminação, como se dissesse : '' eu não te disse?'', sim, ela estava se divertindo exatamente como ele imaginara.
- Estou muito bem aqui, obrigado – Ele respondeu abrindo os olhos e a encontrando mais perto do que esperava. Sentiu raiva de si mesmo, sua voz estava rouca, parecia doer quando se pronunciava as palavras, e tinha gaguejado duas vezes por causa do tilintar dos seus dentes.
Ela então sorriu diante da reação dele, deixou um gemido escapar por sua garganta, e suspirou bem alto, suficiente para que ele pudesse escutar.
Os olhos verdes de Edward se prenderam no castanhos dela, o brilho estava ali, como imaginara, e seus lábios estavam tão rosados que se destacavam em sua pele alva. Ela sorriu, deixou que o sorriso chegasse ate seus olhos.
Era difícil negar retribuir aquele sorriso, mas ele conseguiu, pelo menos tentou com tanto esforço que não permitiu que seus lábios se movessem o suficiente para ser notado.
O vento passou naquele exato momento, onde Edward pretendia ficar calado, e ela, Isabella, procurava um argumento forte para convencê-lo a fazer o que queria. Os cabelos dela, que estava quase todo protegido por um gorro, não conseguiu evitar de se mover na direção que o vento ia, e as mechas marrons voaram escondendo o rosto dela por meros cinco segundos. Bella prendeu os cabelos rapidamente, e sorriu mais uma vez para Edward, escondendo uma careta de protesto contra o frio que sentiu.
- Vamos, aqui está frio. Não vai conseguir sobreviver a essa noite debaixo dessa arvore, Edward, vai morrer congelado – Ela falou dando um suspiro cansado. Sua voz parecia tão quente, era tão bom escutá-la, Edward queria mais, o prazer podia ser facilmente comparado com o calor produzido pelos raios de sol na praia.
- O frio está suportável – Ele respondeu renunciando a deixar seu orgulho de lado.
- A temperatura vai cair daqui a pouco – Isabella observou. Estendeu a mão direita para ele, e inclinou a cabeça, convidando-o a aceitar sua ajuda.
- Não preciso de sua ajuda – Ele falou mais ríspido que desejava – Não preciso de você.
Logo se arrependeu do que falara. Que mentiroso ele era, tudo que precisa naquele momento era do calor dela, tudo que ele desejava era dos cuidados e da atenção de Isabella. Que estúpido sou, pensou consigo mesmo, queria poder voltar algumas horas, e então teria como reverter àquela situação.
Pensou que ela iria embora por causa da sua falta de consideração para com ela, pensou que Isabella iria deixar que ele morresse naquele lugar e esqueceria de verdade a existência dele. Mas estava enganado, muito enganado.
Ela fez exatamente aquilo que ele jamais poderia imaginar. Sentou-se ao lado dele, imitando seu ato sem lógica, uma tentativa certa de suicídio.
- O que esta fazendo? – Ele perguntou vendo-a se acomodar.
- Só saiu daqui com você do meu lado – Ela respondeu parecendo mais que decidida com suas intenções.
- Então vamos passar a noite aqui – Edward respondeu quase sem voz. Deixou de olhar para ela, seria insuportável a ver morrendo de frio por sua causa.
- Assim seja – Isabella o surpreendeu, soou mais decida que antes.
Edward sentia-se observado, sabia que os olhos castanhos estavam pregados em sua imagem de perfil. Desejou poder olhar para ela e conter seus sentimentos que o faziam perder qualquer juízo. Mas não, se limitou a imaginar os olhos dela, sim, como adorava os olhos de Isabella.
Não eram azuis como a maioria das pessoas preferiam, nem verdes. Não, os olhos de Isabella eram de uma tonalidade única de castanho, lembravam chocolate, tentadores, doces. Um convite a desfrutar do prazer só de olhar.
Também lembrou-se dos lábios rosados dela, lembrou de como era bom desfrutar-se dele. E então pensou, o que estava fazendo ali quando podia está na melhor das situação que poderia desejar.
De repente o orgulho parecia dissolver, converte-se em algo tão sem significado e medíocre que Edward desistiu de não olhar para ela.
Talvez muito tempo houvesse se passado desde que resolvera fitar o nada, pois quando voltou seu olhar para aquela que estava ao seu lado, acabou por ter se arrependido de ser tão cabeça dura.
É claro que ela teria muito menos resistência que ele, por mais que estivesse acostumada ao frio, Isabella nem de longe tinha a estrutura para agüentar o desafio que passava naquele momento.
Os lábios que há pouco estavam rosados, agora estavam em uma cor pálida, quase podia se esconder com sua pele que naquele momento estava ficando azulada. Percebeu que ela trincava os dentes em uma intensidade maior que ele. E então veio a necessidade de aquecê-la. Nada podia machucar Edward mais que o fato de ver Isabella em um estado daqueles.
Ele suspirou, alto suficiente, mesmo que não precisasse, pois ela ainda estava o observando incansavelmente. Edward balançou a cabeça, como se negasse algo, e não conseguiu evitar que suas vontades transparecessem em sua expressão.
Isabella já estava achando que precisaria recorrer a ultima carta da manga, pensava em lhe confessar o segredo que queria contar de uma maneira mais especial, e de preferência a meia noite daquele dia. As palavras já formavam varias possibilidades de frases, e ela já pensava em como iria sorrir. Mas quando estava pronta para falar, ele finalmente pareceu reagir.
O sorriso que apareceu naquele rosto tão simétrico e masculino a surpreendeu, conhecia Edward bastante bem para saber que ele não tinha consciência que sorria, também sabia que ele ainda ponderava, esperava alguma palavra sua para ter absoluta certeza do que fazer.
- Por favor – Foi seu cheque mate. Sua voz soou doce, pode sentir que ela estava no tom correto, naquela voz que lembrava uma criança, e que Edward não resistia.
Ele aumentou seu sorriso, conteve a respiração por sete longos segundos, e então se levantou. Ofereceu sua mão, para ajudá-la a levantar. E Isabella aceitou, dando o mais feliz e agradável dos sorrisos. Estava preparada para afastar-se dele, preparada para que quando aquele contato, mesmo que através das luvas, acabasse ela pudesse desfrutar das piores dores que o amor podia trazer consigo. No entanto, surpreendendo-a, Edward a puxou, colando o corpo dela ao seu.
Os rostos ficaram a centímetros quase desprezíveis um do outro. A respiração fria dele chegava ao rosto dela, e Isabella podia sentir o perfume de seu hálito.
- Me perdoa? – Ele pediu. Estava desarmado. O orgulho que antes o fazia tomar decisões suicidas, agora se dissipara, Isabella era mais poderosa que qualquer uma de suas armaduras.
- Não há perdão para quem não tem culpa – Ela respondeu, palavras sabias que o fizera acreditar que ela não se chateara por causa de suas palavras do passado nem tão longínquo.
O beijo que ele dera em Isabella naquele momento, era mais que suficiente para aquecer todo o seu corpo. Edward só precisava dela em seus braços. No lugar onde sempre deveria está, no lugar onde ele a privara durante muito tempo, e que agora se achava um completo tolo.
- Acho melhor entrarmos – Ela falou sem conter a alegria de mais uma vez sentir os lábios dele.
Ele sorriu e, com o braço direito envolto dos ombros dela, caminhou pelo caminho que ela fizera. Ambos em silencio, pensando no que fazer e o que falar naquele momento.
O que fazer? Céus! Essa era a pergunta mais difícil de ser respondida. Tudo o que ele queria era Isabella, mas ficar com ela significaria abandonar a sua vida em Miami, o cargo que acabara de assumir. Ele perderia o calor daquela cidade, as luzes, os milhares de clubes, a vida agitada. E em troca teria ela.
Por que ela simplesmente não desistia daquela vida tão simples para entrar na dele? Tudo bem que era diferente, mas de qualquer jeito um deles teria que sofrer o impacto das mudanças. E seria muito melhor que ela fosse para o mundo dele, pois o emprego dele era melhor, a casa dele era maior... Parecia ser incompreensível entender ela.
Já Isabella estava com os pensamentos pairando sobre o mesmo assunto que Edward. Ela tentava enxergar alguma coisa que o pudesse ficar ali com ela, onde teria paz e descartariam preocupações extras. E o pior que ela tinha sim um argumento para o fazer ficar com ela, mas não o usaria, pois não queria que ele se arrependesse futuramente.
E Deus! Ela o ama, e ele a ama. Isso não é o suficiente? Edward poderia encontrar um emprego em Soleura facilmente, e ela poderia ir morar lá, não seria tão diferente assim, nem chegaria perto do que é viver em um lugar como Miami, pois tudo que Isabella menos concordava era ir morar naquela cidade. Não, ela não iria desistir da paz que era morar naquele lugar para ir viver naquele lugar desconhecido e que parecia ser mais que perigoso.
Por estarem tão absortos em pensamentos, quando chegaram a casa, pareceu que tinha se passado menos de cinco segundos. Agora, mais uma vez, eles teriam A CONVERSA, aquela que sempre tinham depois que a temporada de romance e férias chegava ao fim. Mas dessa vez, ambos sabiam, que seria definitivo.
Edward seguiu Bella ate a sala onde a lareira estava acesa, mas as chamas já estavam fracas, precisando de mais lenha. Ela pegou lenhas e colocou jeitosamente ali, enquanto ele a assistia. Tiraram os casacos, e sentaram-se de frente para o outro nos sofás.
- Eu te amo – Foi o melhor começo que Bella poderia imaginar.
- Eu também – Ele falou bagunçando os cabelos ao passar a mão entre eles, em um gesto de inquietação – Isso não é o suficiente? Em Miami, nós dois, vivendo naquela casa de praia, nosso filhos. Bella seria perfeito.
- Nos primeiros anos, eu acredito, que seria o paraíso. Mas e depois Edward? eu não estou contando nenhuma das coisas que eu imaginei, eu estou falando o que eu vi e ouvi. Você tem noção de quantos casais andam por aquela cidade, fingindo uma felicidade que não existe, um amor que morreu? Você pensa que eu não percebi quantos casais andavam por ali sem se amar de verdade, que não percebi os olhares que os maridos atiravam para todos os lados menos para a esposa?
- Está dizendo que em Miami ninguém se ama? – Ele perguntou mais incrédulo que chateado – O que quer dizer com isso, Bella? Que as pessoas se casam por...
- Não estou dizendo isso, acredito que amor existe. Mas aquela cidade tão agitada e cheia de coisas que podem influenciar sim nos sentimentos que envolvem as pessoas. É claro que se amam, é por isso que se casam, mas Edward, foi mais de uma vez que eu vi casais que se davam as mãos, sorriam um para o outro, mas seus olhares eram mortos, era como se eles olhassem uma pessoa qualquer. Não digo que são todos os casais, mas uma grande parte. E além de tudo, Miami não é meu mundo, eu não conseguiria ter paz, eu jamais poderia sair na rua despreocupada, usando meus colares e coisas com um pouco mais de valor. Não poderia ter a vista fantástica que me cerca agora Edward – Ela falou quase sem fôlego, procurando compreensão nos olhos deles – Eu não quero sair daqui.
- Bella, eu sei, a primeira impressão que você teve de Miami não foi a melhor de todas, eu compreendo. Mas poxa, ali foi onde eu cresci a vida inteira. Foi ali que eu imaginei envelhecer. No calor de Miami, imaginei meus filhos brincando na praia. A casa de praia cheia de vida, é lá que é meu futuro. Eu acabei de ser promovido, falta pouco para mim alcançar o que eu quero no meu emprego, o auge da minha carreira. Lá nós teríamos uma casa grande, recursos melhores, uma lugar maior para se viver.
- Você teria o emprego que quisesse aqui – Bella falou tentando a primeira coisa que lhe veio a mente.
- Mas o prestigio que eu teria lá não pode nem ser comparado com o daqui.
- Então é isso o que você quer? Chegar ao auge de sua carreira? Ter um nome de prestigio e conhecido? Pouco se importa de verdade com o seu trabalho, o que quer mesmo é o prestigio que ele te oferece? É isso? – O controle que então estava prendendo Bella agora desaparecera. Ela não gritava, mas não escondia a dor nas suas palavras, nem as lagrimas que aos poucos enchiam seus olhos.
Era evidente que aquela conversa teria o mesmo fim que as demais. Nenhum deles desistiria de suas vidas. Nenhum deles iria mudar seu jeito de pensar. Nem mesmo o amor que os unia seria capaz de mudar seus pensamentos.
Edward já não tinha mais resposta, não queria brigar com ela, não conseguia. Não tinha nenhum argumento para usar. E logo as palavras desapareceram de sua boca, ela não desistiria, e ele também não.
Não era possível manterem um relacionamento a distancia. Era doloroso demais está sem outro, mas doía mais saber que estavam juntos e separados ao mesmo tempo. Precisavam por um ponto final naquela historia, e ao que parecia, seria um fim doloroso e quase insuportável.
- Vou arrumar o quarto para você – Bella levantou dando fim a conversa. A voz estava embargada, como se ela estivesse chorando desesperadamente por dentro.
Edward permaneceu calado, como se aceitasse o fim da historia. Viu ela subir as escadas, e escutou os passos no andar superior. Ele não sabia o que fazer, não gostara daquele fim, não, não era aquilo que queria.
Estava absorto, agora vendo o que ela falara, e sabia que a única coisa que podia fazer era aceitar, mesmo que se sentisse destroçado por dentro.
Fim do capitulo.
Bom, essa fic é a conclusão de uma história que fiz há um tempo. Mas dá para ter uma pequena noção da história com essa conclusão. Esse não é o fim. O próximo capitulo que é...
Então o que acharam?
O próximo capitulo já ta pronto, e eu posto assim que terminar de revisar.
Espero que gostem. E comentem, por favor.
Beijos.
