Mais uma movimentada noite em Nova York. O frio cortante atravessa a cidade, mas não o suficiente para apagar seu brilho. Broadway e a 5ª Avenida fervilha com seus personagens característicos, turistas, artistas de rua, prostitutas e seus imensos painéis luminosos.

No quartel Central do Departamento de Polícia da cidade, a movimentação era a típica de toda noite.

Dois policiais entram no local escoltando três mulheres que protestavam:

_Cala a boca! Vamos! Andando! Andando! – Ordena o Detetive Carlos Alba, empurrando a corpulenta ruiva que chorava.

_Isso é uma injustiça! Eu não estava fazendo nada! – Esbraveja, algemada, em nítido desespero.

_Eu sei ruiva...eu sei...a gente está fazendo só um passeio turístico pela delegacia... – Debocha o policial.

Enquanto isso, no subúrbio, a Divisão de Narcóticos faz uma operação acompanhada de membros da Divisão de Homicídios. Legistas coletam provas dos corpos distribuídos pelo pátio que funcionava como laboratório do tráfico local, enquanto alguns detetives observavam o trabalho e conversam entre si.

O detetive Mark Truman, caminha entre os corpos e observa os detalhes da perícia. Mark é conhecido por sua competência e dedicação, além do charme que lhe é peculiar. Bonito e de boa família, foi uma decepção para seus pais quando optou em servir à polícia de Nova York.

Consciente de todas as qualidades que reúne, não é modesto, mas, também, não é arrogante. E foi desta forma que conseguiu a admiração de toda a corporação, especialmente da ala feminina, embora fosse sabido que seus belos olhos, de um azul límpido e cristalino, já faz algum tempo, são capazes de enxergar apenas uma única mulher.

_O que acha? – Indaga um colega, tomando sua atenção.

_Não sei se os detalhes batem com o relatório dos caras... – Sussurra Mark na tentativa de não ser ouvido pelos demais.

_Execução?

_Possível...

_Escuta, cara...neste final de semana será o aniversário da minha filha, passa lá em casa para tomar uma cerveja! Chame a May! Já que a coisa anda séria entre vocês.

_Tudo bem...vou ver com ela...

Com passos firmes, fazendo com que o atrito entre seus saltos e o chão ecoassem, uma elegante mulher chega até o balcão da carceragem da Central, onde se escora:

_Boa noite, Beth! – Cumprimenta simpática, estufando o peito, ressaltando a abertura de sua blusa que realçava seu colo, passando a mão pelos cabelos castanhos e bem cortados na altura dos ombros.

_Boa noite May! – Sorri a policial, um largo sorriso que contrasta com sua pele negra.

_O que temos para hoje, lindona?! – Pergunta, recebendo alguns papéis.

_O de quase sempre...moças de família... – Ri.

_Então vamos lá bater um papinho com as amigas e ver o que elas tem para nos contar de novo! Até mais! – Suspira tomando fôlego, dando um tapa sobre a mesa, mostrando-se determinada, girando em seus calcanhares.

_Boa sorte!

A Sargento May Addams segue até as celas de triagem e entra numa ao qual encontra as três mulheres:

_Boa noite Meninas! – Cumprimenta de forma serena, sem levantar o olhar, examinando a documentação em mãos, presa sob o grampo da prancheta. – Eu sou a Sargento May Addams, Psicóloga e membro da corregedoria. – Apresenta-se. A Ruiva a olha com certa surpresa.

_Er...eu...eu acho te conheço!

_É possível...se esta não for a primeira vez que vem aqui...certo Cinthya?! – Dirige-se para a transexual sentada à sua direita, que balança os ombros com certo desdém. – Não deu certo aquela indicação de trabalho que eu te dei?

_Meu lugar é na rua... – Responde sem qualquer pudor, tirando um sorriso compreensivo de May.

_Pois é...mas você os deixa te pegarem em flagrante...fica complicado de defender para estabelecerem uma fiança! No seu caso, já sei que vamos ter que acionar um defensor público... – Diz fazendo as devidas anotações.

_Eu sei...

_Então... – May olha novamente os papeis. – Sandra, você também já é "habitué" da casa, pelo que vejo... eu sou boa fisionomista! E...Natasha...? É verdadeiro ou nome de guerra mesmo?

_EU NÃO SOU PROSTITUTA! ISSO É UM ERRO! – Esbraveja, levantando-se, obtendo a atenção da policial, que lança um olhar vazio e indiferente.

_Vamos ver isso...mas, antes de tudo, abaixe o tom de voz e não se altere tanto...só te prejudica. – Diz, fazendo a ruiva dar um passo para trás. – Bem, Espero que o Detetive Alba e o Oficial Evans não tenham lhes tratado mal. Eu tenho aqui o formulário de vocês...fiança já vai ser estabelecida pelo juiz de plantão...ainda não fizeram a ligação a quem tem direito...Vou pedir para acompanharem uma à uma até o telefone. Cinthya e Sandra já sabem...mas, Natasha: Dois minutos! Uma única ligação! Aproveite cada minuto! Não pode duas ligações de um minuto e a única pessoa que vai poder entrar aqui sem que você pague a fiança, é o advogado ou o defensor público. Não adianta chamar a mãe, o pai, o irmão, o tio ou o cachorro. Talvez o cafetão...porquê ele vai pagar a fiança...fora isso, não.

Se em doze horas não tiver pago a fiança, vai para o presídio esperar o julgamento. E, depois, alvará de soltura...pois não creio que fique em detenção. Alguma dúvida?

_EU NÃO SOU PROSTITUTA! EU NÃO ESTAVA ME PROSTITUINDO... – Grita.

_Não adianta gritar, minha cara. Ainda mais comigo, repito, Só te prejudica. Mas eu tenho um bom coração, entendo que você deve ser nova na coisa...Vou deixar passar. De toda forma, será a sua palavra e o que está escrito no seu auto de prisão. O Juiz vai avaliar. Se você estudasse ou trabalhasse, faria diferença...mas pelo que estou lendo aqui, acho que não. A Minha missão aqui é te ajudar. Posso te indicar alguns centros de tratamento, agências de emprego...ou até dar algum aconselhamento. O Resto é com você. A gente só pode ajudar quem quer ser ajudado!

As três a observam, Cinthya e Sandra, já familiarizadas com o procedimento, mostram-se tranquilas, enquanto a ruiva chora copiosamente, até que segura May pelo braço, impedindo-a de retirar-se:

_LEMBREI! Eu sei quem você é! – Diz.

_Sim...eu me apresentei! Sargento May Addams. Agora, afaste-se, antes que as coisas piorem para você. – Adverte May olhando-a de forma ameaçadora, fazendo com que se afaste. - Pelo adiantar da hora, não tem mais como fornecer um jantar...Cinthya, se te conheço, deve estar com fome. Mas vou pedir que lhes tragam um pedaço de pão e um copo d'água, só para dar um conforto ao estômago de vocês, antes de dormir.

_Eu não posso passar a noite aqui! – Desespera-se a Ruiva.

_Então torça para alguém pagar a sua fiança. Agora, com licença. Boa noite meninas!

A Sargento sai da cela e pisca um de seus expressivos olhos castanhos para a policial que a tranca novamente. Ao passar por Beth, joga os documentos que carregava sobre o balcão:

_Cuide bem delas para mim, Beth! Fique de olho!

_Pode deixar May!

Na saída do trabalho, encontra com Carlos Alba e John Evans encostados em sua viatura:

_Andaram fazendo pescaria de piranha hoje né? – Insinua a Sargento, com um ar de deboche.

_Pesca esportiva! – Ri John Evans, com seu típico tom italiano.

_De saída? – Pergunta Carlos, com seu ar sedutor, típico do bom latino que é.

_E não acha que já estou saindo tarde?

_Ao menos não precisa dar plantão de vinte e quatro...

_Aí é que você se engana... – Ri.

_Estão pegando pesado na corregedoria, né?!

_Desculpe, detetive, mas é assunto confidencial! – Pisca um dos olhos para o colega de farda. – Obrigada pelos três presentinhos que me deixou lá dentro...

_Ao dispor, caríssima!

_E Mark? Sabe dele?

_Batida no Queens e parece que foi bem feio.

_Boa noite, então, "hombres"!

_Boa noite Sargento!