Resumo: Você apagaria as memórias de um relacionamento que se tornou doloroso demais para suportar, mesmo que isso significasse perder também as boas lembranças? É essa a questão com a qual Mu se depara ao voltar para o Santuário. By Calíope e Lili.
Disclaimer: Saint Seiya/ Cavaleiros do Zodíaco pertence a Masami Kurumada. Infelizmente. Fic inspirada no filme "O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", roteiro original de Charlie Kaufman, baseado em argumento de Charlie Kaufman, Michel Gondry e Pierre Bismuth.
Aviso: Essa fic contém temática YAOI.
N/As: Observações sobre o 'tempo' da fic: Para todos os efeitos, considerem que Mu tinha 17 anos ao deixar a Grécia, e retornou aos 20, passando apenas três anos em Jamiel. As alterações foram necessárias para dar coerência aos acontecimentos aqui narrados.
Decidimos alterar a cronologia das situações narradas no mangá/anime, pois a idade que os personagens teriam nessa época de acordo com a história original não permitiria o desenvolvimento da história.
Prólogo
Os cabelos lavanda balançaram, acompanhando o movimento do vento, enquanto a longa escadaria ficava para trás. O jovem levantou o olhar, prendendo a respiração por um segundo diante da imponente construção. Estava de volta ao Hakuyoukyuu¹. A primeira de todas as sagradas casas zodiacais de Athena.
Entrou lentamente; os passos delicados mal ressoavam contra o chão de mármore do templo, mergulhado em um silêncio vazio e acolhedor. Encontrou seu quarto exatamente como havia deixado, os poucos móveis e objetos pessoais intocados. Por um instante, teve a sensação de que abandonara o Santuário apenas no dia anterior.
A pesada caixa dourada foi colocada no chão distraidamente, ao mesmo tempo em que o saco de viagem era depositado em cima da cama. Sentou-se no colchão macio e jogou-se para trás num movimento cansado, observando o teto alto. Franziu a testa ao pensar como sua volta seria recebida pelos outros cavaleiros de ouro. Tudo estava tão mudado. Mas aquela era a menor de suas preocupações. No momento, apenas um assunto dominava a mente do ariano. Ele.
Suspirou. Ao fechar os olhos verdes, lembrou-se das muitas noites que tivera a maravilhosa companhia de seu amado ali mesmo, naquele quarto. Passou as mãos pálidas pelo lençol branco, saudoso da sensação deliciosa que era ter o emaranhado de fios loiros ali espalhados.
Shaka. Apenas três anos passaram-se, mas para Mu aquilo fora uma eternidade cruel. Da qual ele não teve como fugir.
Os cavaleiros de Athena eram destinados. Isso era uma regra. Geralmente o dom surgia muito cedo, e as estrelas do Star Hill indicavam ao Mestre onde buscar as crianças que defenderiam a deusa. Mu fazia parte da mais recente leva dos defensores de elite do Santuário e fora o único treinado por um cavaleiro dourado.
A sina da casa de Áries seguiu. Afinal, apenas o tibetano já possuía um herdeiro para sua armadura, algo que poderia nem ocorrer com os outros dourados.
Para honrar suas responsabilidades, Mu levara o pequeno Kiki para Jamiel, onde ele próprio fora treinado, para passar ao discípulo as técnicas de controle dos poderes que apenas os da raça deles possuíam.
Não que o fato de ter um discípulo o incomodasse. Ao contrário, o aliviava, já que assim a arte de ouvires que ele dominava não corria o risco de se perder. Mas passar três anos sem poder contatar o virginiano nem por telepatia o atormentara de tantas saudades.
Como sentia falta do cheiro de sândalo que Shaka emanava. Da pele alva, sem qualquer marca, dos fundos olhos azuis que se abriam apenas para ele. Da sua arrogante santidade, sua mania de controlar tudo, e seus metódicos ritos. Do leve franzir de testa quando achava que Mu excedia-se nas brincadeiras. Brincadeiras estas que apenas o seu loiro presenciava. Alegria que apenas com ele Mu dividia.
Lembrava-se muito bem da última noite de ambos, na Casa de Virgem, e do fato de o indiano ter lhe pedido para que não se despedissem. Com tristeza, o ariano foi antes do nascer do Sol para Jamiel, sem sequer dizer um adeus.
Talvez tivesse sido melhor assim. Afinal, ele estava de volta. E sabia que nunca desejaria algo tanto como almejava Shaka.
Sorriu, cálido. Levantou-se gracioso e, com a leveza que lhe era peculiar, cruzou o salão do templo, alcançando os fundos. Saiu de volta para o sol quente da Grécia, que sempre castigara sua pele alva. Protegendo os olhos claros com a mão direita, deixou que seu olhar vagasse para a sexta casa do zodíaco. Tantas saudades logo teriam fim.
Antes mesmo de avisar ao Mestre sobre seu retorno, iria ver seu querido.
Os degraus foram vencidos em seu caminhar calmo, mas determinado, e quando deu por si já estava diante da casa de Touro. O agigantado cavaleiro protetor do segundo templo limitou-se a lhe sorrir de longe, subentendendo que a passagem estava livre para que prosseguisse. Com um aceno de cabeça, Mu atravessou o salão, perguntando-se se seria apenas impressão o brilho apreensivo identificado no olhar do taurino.
O ligeiro mal-estar apenas foi intensificado quando se viu diante do templo de Gêmeos. O cavaleiro responsável por aquela casa zodiacal estava desaparecido há anos. O "benevolente" e "poderoso" Saga ainda era tido como um exemplo para os defensores de Athena, e sua falta era sentida por todos. Ou quase.
A estranha e confusa energia que emanava do terceiro templo era a confirmação de que seus sentidos para-normais não lhe enganavam ao desconfiar do Cavaleiro de Gêmeos. Pouco antes de morrer, seu mestre o havia alertado pressentir que uma desgraça se abateria sobre o Santuário. Não entendeu, a princípio. Mas, assim que atingiu a maturidade necessária, as palavras de Shion fizeram sentido, assim como o estranho comportamento do novo mestre, Ares. O ariano decidiu-se pelo exílio voluntário, e o treinamento de Kiki veio na hora perfeita. Mu não tinha como comprovar e nem poderia enfrentar o novo Mestre sozinho. Mas ele simplesmente sabia.
Adentrou no terceiro templo com cautela, os olhos acostumando-se aos poucos à penumbra. Sentiu o cosmo sombrio no qual o local estava envolto rejeitar a sua presença. Seu lado sensitivo o alertou que algo estava muito errado. Era como se o dono daquela casa o desafiasse. Caminhou com firmeza, sem se intimidar com as sensações perturbadoras. Logo avistou a luz do sol novamente e permitiu-se respirar fundo antes de continuar. Saga. Mas, não. Ainda não era a hora certa para dar voz às suas inquietações.
Os longos cabelos violetas farfalhavam contra o vento enquanto mais uma casa se aproximava. Um arrepio seco lhe percorreu a espinha ao adentrar na morada de Câncer. Podia sentir o choro mudo e desesperado de todas aquelas cabeças sem vida que serviam de decoração para o templo, expostas como troféus. Era esse o comportamento que se esperava de um defensor da deusa da justiça?
— Resolveu implorar perdão ao Mestre pela sua fuga, Áries? — a voz sarcástica cortou o ar, seguida pelo eco dos passos largos do guardião do terceiro templo.
— Os motivos do meu retorno não lhe dizem respeito, Câncer. Estou apenas de passagem pela sua casa. Imagino que não irá se opor a isso. — respondeu no seu tom sereno de sempre, ignorando a provocação.
— No. Pode correr para encontrar tuo amico loiro. Tenho certeza que ele irá se surpreender com a sua chegada. — o italiano debochou, imprimindo um tom maldoso às palavras.
— Também não creio que isso lhe diga respeito algum, Máscara da Morte. Com licença.
A lufada de ar fresco no rosto foi revigorante após deixar para trás o ambiente mórbido do templo de Câncer. Desprezível foi o único modo que encontrou para classificar aquele cavaleiro.
O templo de Leão estava vazio, como de costume, já que seu protetor passava a maior parte dos dias treinando na arena. Chegava a ter pena do esforço de Aioria para se mostrar cada dia mais forte e diferente do irmão mais velho. Uma coisa que Mu sabia sobre aquele Santuário é que as pessoas jamais se esqueciam. E o cavaleiro de Leão nunca se desvencilharia do título que lhe fora herdado de Aioros. Seria para sempre o irmão do traidor.
Finalmente Mu alcançou a sexta casa. A sensação de efemeridade que lhe acometia sempre que contemplava o templo de Virgem fez-se presente. Era como se a estátua² à esquerda do templo, Mara, o demônio segundo o budismo, o tentasse, e Siddhartha Gautama, à direita, o protegesse. Como se o próprio Buda olhasse por ele. Não deixava de ser irônico, se pensasse que era ele a tentar a reencarnação do divino.
Suspirou, encarando com um receio inexplicável a entrada do templo de Virgem. Não lhe importava mais o sagrado e o profano. Iria encontrar o seu destino. Shaka.
¹Hakuyoukyuu é o nome original da casa de Áries, em japonês.
²O Kurumada não especificou quais são as estátuas que protegem o Templo de Virgem, e, apesar das imagens de Buda geralmente mostrarem-no na posição de meditação, imagens dele em pé também são encontradas.
Notas das autoras:
Calíope Amphora:
Kamus e Miro, eu ainda amo vocês! (em crise pelo casal 20)
Agora, falando sério: muito obrigada por acompanharem o nosso mais novo bebê. Essa fic é bem diferente do que eu costumo escrever e está sendo um delicioso desafio levá-la em frente. Espero que o resultado agrade!
O resto eu comento no meu blog (caliopeamphora ponto blogspot ponto com), mas não posso deixar de registrar aqui o meu contentamento por dividir esse projeto com a Lili. Querida, escrever com você é o máximo. Que esse seja o primeiro de muitos!
Lili Psique:
Sim, Calíope, escrever com você é tudo. Que todos os nossos projetos e idéias cultivadas a base de muita cerveja venham para o papel! Creia, a experiência está sendo maravilhosa.
E gente, este é apenas o prólogo. Logo o primeiro capítulo deve vir. Mais comentários também aparecerão no meu blog: lilipsique (ponto) blogspot (ponto) com.
