Eles estavam sentados em um dos luxuosos sofás do Host Club, apreciando a vista da bela e enorme janela. O mais novo foi o primeiro a falar.
— Ei, Hikaru, você acha que a Haruhi é bonitinha?
— Hein? Bonitinha?
— É... Você acha?
— Sim, ela é... Mas não tanto quanto você, irmão!
— Estou falando sério! — ralhou Kaoru.
Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, observando pela janela a poderosa cerejeira que se erguia no jardim.
— Acha que o tono gosta dela?
— Hum... – fez Kaoru — Eu acho que é impossível não gostar...
— Ela é uma graça... Se não fosse tão fria de vez em quando, poderia ser uma hime!
— Talvez... Ei, será que o King a vê como uma Queen?
Hikaru hesitou um pouco.
— Imagino que a pergunta seja: será que a Haru-chan vê o tono como King?
Os dois gêmeos começaram a rir. A porta do Host Club abriu-se nesse momento e o "rei" Suou entrou no salão.
— Vejo que meus caros amigos estão a rir! — disse Tamaki — Qual será o motivo de tanta alegria? Minha presença, talvez?
— Ah, não... — disse Hikaru — A felicidade passou...
— Incrível! Foi só o tono aparecer! — completou Kaoru.
— Filhos ingratos... — murmurou Tamaki, caminhando até sua poltrona favorita — Ficarão sem mesada!
— Oh! Que horror! Não vamos poder comprar aquelas lindas camisetas do Dr. Seuss com os dizeres Thing 1 e Thing 2! — Hikaru fingiu choramingar.
— Não se esqueça da camiseta Thing 3, irmão. Afinal, também tem a Haruhi...
— Haruhi?! — berrou Tamaki, levantando-se da poltrona — Como se atrevem a chamá-la de "coisa"?
— Que feio, tono! — exclamou Kaoru.
— Ouvindo a conversa dos outros! — completou Hikaru.
— Ouçam, vassalos! A Haruhi é uma bela princesa que deve ser defendida, protegida e, acima de tudo...
— Acima de tudo o quê? — indagou uma voz feminina.
Tamaki engasgou e olhou na direção da porta do clube. Haruhi estava parada ali, vestindo seu costumeiro uniforme masculino.
— Nee-chan! — disseram os gêmeos.
— Já disse para ficarem quietos, vassalos! — ralhou Tamaki.
— Ei, fica frio, tono. — disse um dos gêmeos.
— Hikaru-kun, Kaoru-kun, por acaso algum de vocês viu meu caderno? Ele sumiu durante a aula de história... — perguntou Haruhi, aproximando-se do sofá.
— Um crime! — disse Tamaki, tirando uma lupa do bolso — Precisamos fazer uma investigação! Gêmeos Hitachiin, vocês são os maiores suspeitos!
— Somos apenas humildes vassalos! — protestou Kaoru.
— Somos inocentes até que se prove o contrário! — disse Hikaru.
— Por que você anda com uma lupa no bolso? — Haruhi ergueu uma sobrancelha.
— Eu não cessarei minha investigação até encontrar uma resposta. — Tamaki ignorou-os - Nada escapa aos meus olhos. Esperem para ver!
Com essa última ameaça, Tamaki pôs-se a andar pelo salão, examinando com a lupa tudo que parecesse interessante.
— James Bondes? — Kaoru coçou a cabeça.
— Não é James Bondes, não, irmão. É James "Bobo"! — Hikaru riu.
— Ei... Hikaru-kun?
— Si-sim? — ele se assustou com a voz de Hikaru tão perto de si.
— O que é essa coisa quadrada e colorida debaixo do seu bumbum?
— Fomos descobertos! — berraram os gêmeos.
— Ahá! — disse Tamaki — Achei seu caderno, Haruhi!
— Tamaki-kun, isso é o álbum de fotografias do Kyoya-kun. — disse a garota, olhando de esguelha o objeto que o King apontava — Hikaru, Kaoru... Podem me devolver meu caderno? Eu preciso estudar a Revolução Francesa...
— Revolução Francesa? — os gêmeos trocaram olhares.
— O movimento que acabou com o absolutismo na Europa! — disse Kaoru.
— Nyah! Fanfic também é cultura!
— Por que disse isso, Hikaru? — indagou Haruhi.
— Porque estava escrito no scripit. Não é óbvio? — ele deu de ombros.
— Deixa para lá... Só quero meu caderno de volta... — ela pegou o caderno de capa roxa e começou a folhear — Por que tem desenhos de corações com o nome "Hiruka" na última página?
— Hiruka? Quem é ela? — perguntou Tamaki.
— Hiruka, hein? — Kaoru encarou o irmão, que abaixou a cabeça, envergonhado.
— Quem é ela? Querem me dizer? — insistiu Tamaki.
— Hikaru escreveu o nome dele errado no meu caderno. Isso não é óbvio, Tamaki-kun? — disse Haruhi, em sua frieza incontrolável.
O King do Host Club sentiu sua autoestima chegar a zero e se encolheu em um canto qualquer, choramingando.
— O tono perdeu seu poder de suserano com a Revolução Francesa! — disse Hikaru.
— Não seja bobo, irmão, o feudalismo já tinha acabado muito antes disso! — replicou Kaoru.
— Na verdade... — disse Haruhi — A Revolução Francesa aconteceu na Europa, não? Não foi no Japão...
Dessa vez, os dois gêmeos sentiram-se envergonhados e sem graça.
— Como ela é má... — sussurrou Kaoru.
— Não vamos dar a ela a camiseta do Thing 3!
— Por mim tanto faz. — ela deu de ombros — Vou adiantar o dever para depois cuidar das clientes. Até mais.
Haruhi caminhou até um canto distante, sentou-se à mesa e começou a escrever a redação sobre a revolução burguesa. Tamaki, Hikaru e Kaoru olhavam-na de longe. A luz da tarde penetrava por uma das janelas do salão e iluminava a garota, dando-lhe uma beleza angelical.
— É uma hime... — disse Kaoru.
— É uma Queen... — disse Hikaru.
— É a Joana D'arc! — disse Tamaki, emocionado.
—Ela veio antes da Revolução Francesa, tono. Na Guerra dos Cem Anos, para ser mais exato.
— É, seu baka!
— Não digam isso de mim, seus... — Tamaki suspirou — Ah, mas não podemos duvidar de uma coisa...
— Ela é uma graça! — os três disseram em coro.
— Poderosa e fria como uma rainha. — proferiu Kaoru.
— Bonita e inteligente como uma princesa. — entoou Hikaru.
— Graciosa e meiga como um coelhinho. — disse Tamaki, voltando a suspirar.
Eles ficaram em silêncio.
— Espera aí... Coelhinho? — disse Hikaru.
— O coelhinho... do Mitsukuni? — murmurou Kaoru.
Arrasados, os três abaixaram as cabeças, deixaram-se cair sobre o sofá luxuoso e apreciaram juntos a paisagem de final de tarde.
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Mini Dicionário:
King – rei
Queen – rainha
Thing – coisa
Kun/chan – tratamentos próprios para meninos e para meninas, respectivamente
Tono – tratamento próprio para senhores feudais
Nee-chan – significa "irmã"
Baka – idiota
Nyah – onomatopeia para o miado do gato
Suserano – aquele que doa a terra (senhor feudal)
Vassalo – aquele que recebe a terra do senhor feudal
