A Lua nova enfeitava o céu numa noite escura e calma, e ao seu lado, incontáveis estrelas brilhavam, algumas mais fortes do que outras. O vento soprava ameno, uivando por entre as árvores e montes da região.
Abaixo da brilhante luz das estrelas, olhos cinzentos fitavam a escuridão através de uma grande varanda. Era o meio da noite, visto que a Lua já estava alta no céu. O silêncio, que avisava que todos estavam adormecidos em seus próprias casas, era tudo o que esperava a dona do belo par de olhos. Com um suspiro, se virou para seu quarto, iluminado pela luz de uma lamparina. Caminhou a passos calmos em direção a cama, onde estava uma pequena mochila, e logo ao lado, sua adaga. Colocou a mochila nas costas, e logo após a adaga, entre a mochila e seu corpo.
Colocando o capuz de sua capa acinzentada, deu uma ultima olhada ao redor, para o lugar que tinha sido seu refúgio por muitas vezes. E assim se virou para partir.
O corredor onde seu quarto ficava estava, também, silencioso e pouco iluminado. Hesitou por uns momentos, se concentrando em escutar atentamente até onde sua audição alcançava, mas nem mesmo o som de passos podiam ser ouvidos; assim, depois de uma olhada rápida na ultima porta que adornava o corredor, se virou para a esquerda e seguiu a passos rápidos e leves em direção a sua liberdade.
Desceu um lance de escadas, ainda atenta a qualquer movimento que anunciaria alguém, e foi em direção ao salão principal do tão conhecido lar. Enquanto andava, conseguiu ouvir vozes distantes, provavelmente dos poucos vigias da noite. Entretanto, contanto que eles ficassem onde estavam, não a incomodavam.
Finalmente, após andar um pouco, encontrou o lugar onde queria chegar. Estava completamente vazio, e iluminado a luz dourada de diversas lamparinas espalhadas pelas paredes, penduradas por suportes de metal. Seguiu em direção a uma das portas, que daria para a cozinha do castelo. Do outro lado, pode ver o trono dourado de seu pai, imponente e belo. Um presente dado há muitos anos ao seu avô e passado para seu pai.
Apesar do enorme objeto lhe dar calafrios, não de medo mas de ansiedade, tirou seus pensamentos dali e continuou o seu caminho. Abriu a porta de entrada da cozinha, e dando uma espiada no salão novamente, para se certificar de que ninguém a vira, entrou rapidamente. O enorme aposento também estava pouco iluminado, e estaria completamente se não fosse pela luz de uma lamparina um pouco maior do que as outras, bem no meio, iluminando parcialmente o local. Também estava vazio; os cozinheiros do reino só apareciam algumas horas antes da alvorada, para preparar o desjejum do Rei.
Passando pelo corredor que dividia o aposento, foi em direção a outra porta, exatamente do lado oposto de onde tinha entrado. Ao chegar, respirou fundo, e tentou ouvir a qualquer som que vinha do lado de fora do aposento. Quando se certificou de que os únicos som eram os "cric-crac" dos grilos, abriu a porta lentamente e atravessou-a em direção a escuridão da noite.
Fechou a porta atrás de si e foi caminhando em direção ao seu destino final nos arredores do castelo: o estábulo. Andando na escuridão, se precavendo de ser vista apesar do silêncio ao seu redor, passou por trás do deposito de barris de vinho, e atravessou um pequeno caminho que direcionava para a frente do castelo. Contudo, antes que chegasse lá, se virou e encontrou o que desejava. Silenciosamente, para evitar que os cavalos se agitassem, entrou no lugar, encostando a pequena porteira para evitar suspeitas. Caminhou no meio, vendo os cavalos dormindo e procurando a sua amiga. Não precisou andar muito até avista-la; estava de pé, diferente de seus companheiros adormecidos, como se já esperasse por ela. Quando a viu, bufou, abaixando a cabeça e fazendo com que sua crina dourada se mexesse.
"Shhhh" murmurou, impedindo que a égua ficasse muito agitada com sua presença. Se aproximou, sorrindo, e passou a mão sobre a cabeça da égua carinhosamente. "Boa garota."
Agilmente preparou o que precisava para montar a égua, o que não era muito já que não usava selas, mas apenas um manto de seda cinza e um colete que cobria o peito da égua, onde se era colocado uma corda para guia-la. Jogando o manto por cima do corpo dourado de Melda, guiou-a para fora segurando a corda fina atada ao seu grande corpo. Alguns cavalos, ao ver o movimento, mesmo que quase imperceptível, bufaram, mas não se levantaram.
Finalmente, saindo do estábulo, foi em direção do que seria sua maior dificuldade até o exato momento. Naquele castelo existiam dois portões, no lado Sul, onde a pequena cidadela ficava, e no Norte, onde ficava o caminho para as vastas plantações de uva, fruta que dava origem ao produto pelo qual a região era tão conhecida, o vinho; o portão Sul, além de ser mais perigoso por causa das diversas moradias, precisamente de todos os habitantes do reino, a desviaria de seu caminho, pois daria para os montes e colinas da região e, para chegar onde queria, teria que dar a volta ao redor do longo muro do reino. Se fosse pelo Norte, contudo, teria que passar por entre as plantações, o que levaria, no minimo, várias horas e o risco de ser pega sob a luz do dia. Entretanto, era o caminho que daria para o Rio Corrente, o qual era o seu maior ponto de referência. E tinha esperanças de conseguir passar por ele no inicio da alvorada, se fosse rápida o bastante.
Então, pedindo para que o seu Destino a ajudasse, foi em direção ao portão Norte; o caminho até chegar as cercas vivas que dariam para as plantações levaria alguns minutos, e assim passaria pela cerca e entraria na plantação. E por fim, ao chegar aos portões, teria que dar um jeito nos guardas que o protegiam.
Passou pelo castelo, e foi seguindo pelo caminho de pedras acinzentadas, ainda guiando Melda. Devido ao horário, ninguém perambulava pelo caminho, como de dia normalmente era. Caminhando calma e rapidamente, conseguiu chegar a cerca- viva em alguns minutos. Fez Melda pular por sobre a cerca, e pulou logo em seguida, pegando novamente a corda e guiando a égua, ao seu lado.
As longas videiras estavam limpas, sem cachos de uvas pois estes já tinham sido colhidos dias atrás; contudo, brilhavam sob a luz das estrelas, que refletiam nas pequenas gotas de orvalho sobre as folhas. O cheiro de uvas ainda pairava no ar, e deu-lhe um aperto no coração saber que talvez nunca mais sentiria esse cheiro novamente. Duvidava que, em qualquer outro lugar de Arda, alguma plantação de uvas era tão bela e vasta quanto aquela de sua casa.
Respirou fundo, tentando de alguma forma deixar aquele cheiro familiar e confortante marcado em sua memória. Sentiu lagrimas em seus olhos, mas se forçou a não deixa-las cair. Ainda não era o momento. Melda a encarou com olhos negros e profundos, como se entendesse sua tristeza em deixar o seu lar; até porque aquele também era o seu lar, desde que era apenas uma pequena égua, cambaleando para dar os primeiros passos.
Percebendo o olhar do animal, sorriu e passou a mão em sua crina em um silencioso "obrigada". Olhando para frente, continuou a andar.
Tinham se passado horas, e já estava a uma boa distancia da cerca viva por onde tinha passado. Estava agora sobre Melda, cavalgando rapidamente, já que estava longe dos ouvidos do castelo. O céu já estava começando a ficar de um azul um pouco mais claro, apesar de ainda estar escuro. Logo amanheceria, pois a lua já estava se virando para o oeste. Mais algumas horas e chegaria aos portões. Com suas esperanças ainda altas, aumentou a velocidade.
Como esperava, após algumas horas e um longo caminho, com o dia já claro sobre a sua cabeça, mas sem sinal do Sol ainda, chegou ao portão. Um pouco antes de chegar, sabendo que o trote de Melda poderia ser ouvido, desceu e foi caminhando novamente, tentando andar o mais leve que seus pés permitiam. Ao aproximar-se, ouviu um murmurio de vozes que pensou ser dos guardas do portão. E não se enganou. Escondida atrás de uma das videiras, contou dois. Estavam conversando amigavelmente, e estavam armados apenas com as adagas que seu povo normalmente usava.
Afirmando o capuz sobre sua cabeça, para evitar ao máximo que vissem seu rosto e a reconhecessem, se aproximou furtivamente. Pareciam distraídos e não perceberam sua chegada; segurando sua adaga, se aproximou do primeiro, que estava de costas para si. Com o cabo de sua adaga, deu lhe uma pancada, forte o suficiente para o desmaia-lo, mas não para mata-lo. O outro guardião se levantou de supetão, com a arma já nas mãos, pronto para ataca-la. Como seu objetivo não era machuca-los e tampouco lutar, desviou do ataque dele e tentou acerta-lo. O guardião, contudo, foi rápido e desviou, dando- lhe um golpe logo em seguida. Dessa vez, ela desviou e agarrou- lhe o braço, dando um giro e colocando-o por trás do corpo do elfo, conseguindo assim dar-lhe uma pancada. Seu corpo amoleceu e ia cair no chão, mas foi segurado e, gentilmente, deitado no chão.
"Desculpem-me." Murmurou ao vê-los, e colocou o braço rente o peito, numa saudação. Assobiou para Melda, que saiu de onde estava, atrás de uma videira alta o suficiente para esconde-la, e veio em sua direção.
Abrindo o portão, deu uma espiada do lado de fora, não vendo nada além do plano terreno esverdeado; trouxe Melda para fora e fechou o portão novamente, mas não antes de dar uma última olhada para as plantações e além delas, para o pequeno castelo ao longe. Parecia apenas um ponto negro distante, opaco, sob a luz do dia.
Subiu em Melda, e a fez caminhar, saindo dali o mais rápido possível, antes que os próximos guardas aparecessem. Na distância de sua casa, sob a luz do sol, se permitiu, então, chorar.
N/A: Olá! Se chegou até aqui, muito obrigada, e espero que continue. Há muito tempo que eu estava pensando em fazer uma fanfic sobre LOTR, usando o personagem Legolas e sua inexplorada história. Comecei a escrever essa estória, e já tenho os próximos capítulos, que serão publicados semanalmente, sem um dia certo. Se gostar e pretende continuar, reviews são bem vindos ^^, nem que seja para apenas dizer que está gostando. Por favor, se for xingar, faça isso por inbox, pois assim posso te responder a altura (brincadeira, não me xinguem por favor). Sou apenas mais uma fã tentando pegar um pedacinho da Terra Média, que eu tanto amo.
~ Os personagens de Tolkien não me pertencem, e NÃO estou ganhando absolutamente nada escrevendo isso. Apenas estou me divertindo, e espero que possa divertir os outros.
~ Talvez algumas dúvidas possam surgir com o desenrolar da estória, mas pode ter certeza de que serão devidamente respondidas.
Obrigada por sua presença e paciência. Até mais!
