Todo o reino de Hogsmeade estava em festa. Naquela mesma manhã tinha nascido a herdeira dos McKinnon. Marlene era uma recém-nascida encantadora, que tinha sido vista pela sacada do quarto dos reis — assim que a soberana Susan já estava recuperada do parto —, mas o que realmente chamou a atenção do povo foi o seu cabelo. Ou melhor, a coloração dele.

Ambos os reis tinham cabelos castanhos, mas a princesa ostentava brilhosos fios loiros, não herdados de nenhum ramo da vasta árvore genealógica. Os boatos não demoraram a vir, iniciando-se pela boca dos empregados do próprio castelo.

— A rainha ficou muito doente — confidenciou Augusta Longbottom, uma das criadas mais fofoqueiras — E o rei mandou buscar uma cura, ela já estava grávida. Tenho certeza de que há uma relação, escutei-os conversando sobre isso enquanto arrumava a sala de jantar.

— Você não deveria escutar a conversa de nossos senhores — disse Bartemius Crouch.

Com o começo da discussão dos dois servos, ninguém do bar notou uma mulher encapuzada saindo do bar, parecendo um bocado conturbada com o que tinha acabado de escutar.

— Será possível? — murmurou para si mesma, antes de partir para longe da cidadela protegida pelos muros.

Subiu a uma das carruagens, e o cocheiro apenas fechou a porta, sem dizer uma única palavra, antes de dar a partida em direção à estrada de chão pedroso.

— Senhora Black? — ele chamou-o.

— Rosier — a mulher retrucou, ríspida — Senhorita Rosier. Eu tenho cara de uma senhora?

— Não, senhorita — ele corrigiu-se a tempo.

Druella olhou para a pequena janela, arrogantemente. A paisagem passava lentamente, considerando a sua pressa em chegar em casa.

Qualquer pessoa que a visse no vilarejo fugiria ou procuraria por alguma forma de hostilizá-la diante de todos. Era uma bruxa conhecida. Mesmo que não o fosse, notariam o fato de morar no meio da floresta, cercada de perigos e saqueadores, principalmente ao anoitecer.

Assim que chegou ao seu destino, o cocheiro desceu de seu assento para ajudá-la a descer.

— Aguarde-me aqui — instruiu Druella.

O seu capuz ainda estava erguido quando ela entrou pela porta da frente da casa.

— Onde esteve? — perguntou Cygnus, o seu marido, que esteve sentado esperando por seu retorno.

A mulher deixou um saco de couro em cima da mesa, onde tinha dentro cada uma das ervas que ela tinha ido buscar.

— E a flor? Encontrou-a? — Druella perguntou-o, sem responder.

O homem desviou o olhar sem parecer ter uma resposta.

— Sem isso, todos morreremos, e você sabe disso — ela disse.

— Por que você precisa justamente daquela flor? — Cygnus perguntou, sem conseguir entender — Você é uma bruxa! Pode fazer o que quiser com que tiver!

Druella negou com a cabeça, uma risada quase que debochada.

Ninguém nunca se casaria com uma bruxa, a menos que fosse um semelhante, ou um homem muito ambicioso, sendo que Cygnus se encaixava perfeitamente ao último quesito.

Mesmo depois de tantos anos de casados, e com três filhas, ele ainda não entendia que toda magia tinha os seus limites.

— Bem, isso não importa, eu tenho uma solução para os nossos problemas — ela disse — A rainha curou-se de uma doença com a nossa flor, a sua criança nasceu com propriedades mágicas dela.

— Está sugerindo sequestrarmos a garota? — perguntou Cygnus, incrédulo — Poderíamos ser presos!

— É a nossa única solução! — Druella retrucou, sem entender a sua resposta.

Apesar de ser ambicioso, a sua covardia era bem maior que tudo. Se dependesse dele, nunca sairia por trás da segurança que a feitiçaria o causava.

— Vá embora! — ele disse, sem olhá-la.

Ela esticou a mão em direção ao saco de couro, pegando-o sob o olhar indeciso do marido. Tudo o que precisaria estava ali, o resto conseguiria sem maiores problemas.

— Eu já volto, e não tente me impedir.

Cygnus permaneceu sentado, sabia do que a esposa era capaz de fazer quando contrariada. Apesar de já esperar por aquilo acontecer há muito tempo, não conseguia conformar-se. Ela não se prendia a ninguém, nem à sua família, somente aos seus objetivos.

Somente Bellatrix estava em casa. Druella não podia negar que, entre suas filhas, a sua mais velha era a favorita.

— Bella, eu estou partindo — ela disse, ao lado da porta, olhando para a filha, que estava observando-se no espelho da penteadeira — Quando você estiver mais velha, me procure. Você sabe como fazer.

— Onde você vai? — Bellatrix perguntou, enquanto ela afastava-se.

— Resolver algumas pendências.

Qualquer um pensaria que deixando a sua família para trás causaria um mínimo de dor ou remorso de sua parte, mas ela nada sentiu. Não era como se nunca mais fossem se ver.

A carruagem parou novamente à frente da fortaleza, mas já estava perfeitamente escuro. Druella retirou as luvas de suas mãos, e o toque de seus dedos entre si causou uma pequena corrente de eletricidade.

Os portões estavam fechados, mas, para o que faria, não seria inteligente entrar pela porta da frente.

A rainha Susan despertou logo que amanheceu, sentindo que algo de muito errado estava acontecendo. Não sabia definir exatamente como sabia disso, mas não demorou a arrumar-se, sem nem esperar para chamar a sua criada, partindo imediatamente para o quarto de sua filha.

Ela encostou-se à parede, sentindo uma grande angústia ao ver a cama de sua filha vazia e a janela aberta, o vento ondulando as cortinas.

— Jeremy! — ela gritou.

Não só o rei como todos os criados próximos foram ver o que tinha ocorrido.

— Ela desapareceu — disse Susan, chorando, desesperada — A nossa filha desapareceu!