Essa história se passa há muito, muito tempo, pós-sumiço dos deuses.

Mistura personagens de vários arcos de Saint Seyia além do arco principal, há vários personagens de Lost Canvas, por exemplo. Quero me divertir e alguns personagens do arco principal me dão preguiça hehehe.

Tem clichê, tem mitologia e tem romance, não apenas de Marin e Aiolia (o foco), mas alguns outros personagens terão seu direito à felicidade *?!

A história é contada em forma de flashback (por isso epílogo no nome do primeiro capítulo, aliás), e eu realmente não estou com pressa, então tenham paciência para entender o enredo =] . Espero que gostem. (L). E se não gostarem, comentem no review, de qualquer jeito comentem. Os comentários de vocês são o salário dos escritores.

SS não é meu etc e talz e não estou ganhando dinheiro com isso, lógico..


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Epílogo

Aiolia

O cheiro de Sol inflou seus pulmões. As folhas verdes pareciam gritar vida tamanha beleza e ele inspirou fundo mais uma vez, ainda atônito como o ar lhe preenchia com uma energia quente, salgada, a cada respiração. Alguém mais naquela excursão percebia todas as nuances que despontavam no ambiente? Quanto maior a proximidade das planícies atenienses mais e mais o cavaleiro dourado sentia o peito pesar de saudades daquela região. Se estivesse sozinho teria acelerado as passadas de seu cavalo e já estaria em seu destino. Foram 8 anos tortuosos afastado de tudo o que amava. Era seu dever, fora enviado para conter a ira de Poseidon contra o Norte e não deveria se queixar, contudo era impossível ignorar a sensação de vazio ao se lembrar de todos os momentos de neve, trevas e solidão:

- Senhor. Falta muito? - perguntou um dos líderes de sua comitiva. - Estamos com pouca água.

Aiolia observou os homens que o acompanhavam e reconheceu o cansaço nos rostos suados de cada um. Até os cavalos aparentavam a exaustão da longa viagem de navio:

- Em breve cruzaremos uma ponte, paramos um pouco lá para abastecer as garrafas.

O soldado assentiu e continuou a cavalgar paralelo à fileira. Ele não fazia parte de sua comitiva originalmente, foi Lyfia quem o escalou para completar seu grupo escasso e há anos se dedicava a provar seu comprometimento em se igualar aos gregos.

Aiolia respirou fundo e acariciou a crina de seu cavalo. Seria injusto ignorar o quanto algumas pessoas se esforçaram para fazê-lo considerar a cidade gélida um lar. Fizera novos amigos e jamais esqueceria da gentileza de algumas pessoas, contudo a cada manhã de vento gélido seu coração apertava angustiado. Pedia mais, queria o calor de sua terra natal, o calor da risada de seus irmãos. O calor do hálito dela.

Desde criança Aiolia estava preparado para cumprir suas obrigações como representante de seu sangue e ele foi prometido àquela terra longínqua como um pacto para ajudá-los a se fortalecer. Somente um jovem idiota acreditaria que isso seria fácil, a prática provou-se tortuosa e questionava-se ocasionalmente o quanto teria resistido se as consequências daquela terrível luta não tivessem sido diferentes.

Ele quase morreu, passou meses em uma cama recuperando seu físico e tentando entender quem era. Buscar qualquer tipo de conexão com aquela garota de cabelo azulado não facilitou o processo. Muito menos olhar para a janela e ver o lugar dominado pela neve… Foram os sonhos com as paisagens gregas que o tiraram da penumbra. Os sonhos com as risadas de seus irmãos. Os sonhos com o cheiro dos fios ruivos acalentando seu rosto. Aos poucos as memórias retornaram, mas a coragem para romper seu juramento se esvaiu nos longos anos de guerra.

Tocou o invólucro dourado que levava nas costas, a caixa brilhava esplendorosa parecendo querer confortá-lo sobre o que realmente o fizera ficar tanto tempo longe. A responsabilidade que herdara era sagrada, se orgulhava dela, mas quando Mu apareceu nas portas do palácio de Hilda há alguns dias, foi difícil disfarçar sua felicidade. A convocação o despertou da dormência emocional e, desde então, mais de uma vez ouviu Lyfia lhe questionar, como uma alfinetada, o motivo do sorriso constante. Não se importava, poderiam pensar o que quisessem, a felicidade em retornar a suas origens não antagonizava à lealdade de sua promessa. Mu respeitava essa ansiedade e, quando a comitiva atracou no território, sugeriu que Aiolia fosse o responsável para ir antes e comunicar a chegada dos nobres convidados. Seria eternamente grato ao amigo por liberá-lo das companhias pomposas para apreciar silenciosamente aquele retorno. Aquela uma hora de privacidade, mesmo com sua guarda pessoal, era um presente inestimável.

Seu sorriso se desmanchou ao perceber a aglomeração se formando logo a frente. Procurou Gallan, o responsável para guiar a pequena tropa, mas antes mesmo de avistar seu homem de confiança conseguiu entender o que estava acontecendo. Entre as árvores pôde ver que a estrada estreita estava interrompida pela água. Desceu do cavalo e passou pelos homens, seus rostos denunciavam tamanha frustração que Aiolia sentiu-se culpado por ignorar que muitos deles também sentiram falta daquele lugar. Nem todos estabeleceram uma família no norte, muitos deviam estar ávidos por rostos conhecidos, pelo abraço de um ente querido. Ou pelo reencontro com uma antiga amante:

- A ponte está destruída. - Ouviu Gallan dizer ao seu lado.

Aiolia ignorou os escombros espalhados e foi até a margem. Observou a forte correnteza. Seria impossível atravessar por ali, não apenas o diâmetro do rio era desafiador, mas também sua profundidade. Havia fragmentos perdidos em sua memória, fato, mas lembrava-se claramente de quando avistou os fios longos e ruivos flutuando naquelas águas. Do beijo roubado no melhor verão de sua vida. A lembrança daquelas colunas era uma peça confiável de seu quebra-cabeça mental, já nadara ali, sabia dos riscos, não precisava ver a expressão soturna de Gallan para atestar a impossibilidade de travessia com aquele grupo:

- Era uma ponte forte… - o loiro murmurou observando o corte em cada estrutura aos seus pés – quem fez isso, fez usando o Cosmo.

- Isso não é de hoje. Estranho Mu não ter lhe dito nada.

Aiolia deu de ombros e se inclinou para o rio:

- Mu vive ao leste. Nem deve saber o que aconteceu com essa ponte. - Colocou as mãos na água e imediatamente levou o líquido à boca, o gosto lhe deu novo ânimo para continuar a aproveitar sua chegada. Molhou o rosto e o cabelo e se voltou para seus seguidores – Encham suas garrafas e descansem, vou precisar que alguns de voc – parou de falar ao ouvir um farfalhar diferente entre as árvores e levou o dedo a boca pedindo silêncio.

Gallan também ouviu, pois se virou imediatamente para o lugar suspeito e apertou o punho de sua adaga. Os demais nada ouviram, mas não estranharam a reação, já estavam acostumados às habilidades peculiares dos dois superiores e observaram atentos a mata cerrada.

Quando uma discussão hostil substituiu o som suspeito, Aiolia imediatamente correu em busca da origem daquele burburinho. Não conseguia entender perfeitamente as palavras trocadas, contudo o "por favor, não faça isso!" foi perfeitamente audível. Ignorou o que Gallan falou após sua reação impulsiva, continuou a corrida deixando sua tropa para trás sem pestanejar. Conforme se aproximava, mais era claro que o conflito era um assalto. "Que heresia cometer um crime desses tão próximo ao Templo de Apolo!" pensou mantendo suas passadas velozes, mas determinado a não fazer barulho algum no atrito com o solo. Desacelerou ao ver os vultos se distinguindo entre as árvores e observou cauteloso o trio que assaltava o casal de idosos.

O ancião estava detido com um dos bandidos e Aiolia cerrou os punhos ao notar o nariz ensanguentado da vítima. A senhora repetia continuamente que não tinham mais nada de valor além das sacas de alimento, entretanto os outros dois criminosos furavam e sacudiam os pacotes ferozmente. Ela não estava sob risco algum de vida, então poderia facilmente se concentrar em atacar somente o grandalhão que ameaçava o senhor ferido. Aiolia colocou silenciosamente a caixa dourada no chão e… hesitou. Notou uma energia peculiar no local. Seria um animal selvagem?

Cerrou os olhos vasculhando os arredores da estrada até que subitamente uma pedra atingiu a testa do grandalhão. Uma não, duas, três, quatro. Ele urrou de dor e soltou o senhor sem pestanejar, tocando o local ferido desnorteado e ficando totalmente vulnerável ao ataque que se seguiu. Muito antes que Aiolia pudesse agir, uma pequena figura apareceu e socou precisamente os joelhos robustos do assaltante.

"Aí está o 'animal selvagem'… um garoto?!"

Sua força e agilidade eram surpreendentes, mas não foram suficientes para lidar com o grupo, em poucos segundos ele até conseguiu derrubar seu alvo, mas foi cercado pelos outros dois e caiu ao receber um chute. Aiolia não hesitou dessa vez: aproximou-se e socou um dos sujeitos contra uma das árvores. Imediatamente virou o corpo para segurar o braço do que estava prestes a esfaquear o garoto caído:

- Dois anciões e uma criança? Você não tem medo do Julgamento de Minos? - rosnou comprimindo os ossos do ladrão, ele já havia soltado a arma, mas isso não satisfez a ira de Aiolia. Aumentou seu aperto sobre o pulso até deixá-lo de joelhos. – Só tem vocês três por aqui?

Antes de ouvir a resposta, percebeu que o grandalhão estava prestes a se levantar e chutou-o no peito ainda sem largar o pulso do esfaqueador. Agora eram dois desfalecidos contra as árvores:

- Sim, somos só nós três – gaguejou seu oponente. Aiolia encarou-o com olhos furiosos, desafiando-o a falar alguma mentira – É verdade… o restante, ai … o restante está na vila.

- Ele está falando a verdade. - disse Gallan. Estava ofegante e com uma cara nada satisfeita pela impulsividade de seu mestre – Eu chequei os arredores, não há mais ninguém.

Aiolia assentiu com a cabeça e empurrou o sujeito para que o amigo o imobilizasse. Gallan naturalmente ordenou que alguns homens da tropa viessem também e enquanto estes prendiam os atacantes à sela de seus cavalos, Aiolia pôde verificar como estavam as vítimas. Voltou-se para os dois anciões, se abraçavam trêmulos e murmurando agradecimentos, apesar do nervosismo estavam bem e não aparentavam nenhum ferimento grave. Aliviado, o loiro se ajoelhou para observar a criança, ele foi incrivelmente esquivo e forte para seu tamanho, porém seu corpo ainda era frágil e naturalmente ainda estava desnorteado com o soco:

- Ai… - murmurou quando Aiolia o puxou levemente para que se sentasse. Tocou a têmpora ferida fazendo uma careta, mas logo sua expressão de dor se desmanchou e fitou o Cavaleiro – Estou bem, só um pouco tonto.

Aiolia o observou. Os olhos de azul ígnea encaravam-no seriamente, como se pedissem para que confiasse em seu veredicto. Era alto, talvez tivesse dez anos, mas sua voz e expressão esboçaram uma inocência juvenil que o fez desconfiar dessa suposição. Havia algo estranhamente familiar em seus traços emoldurados por uma cabeleira de fios claros e rebeldes. Seu braço estava enfaixado e manchas de sangue começaram a aparecer, era um ferimento antigo que se reabrira durante a luta. Aiolia sentiu um aperto no peito imaginando a dor que sentia. Tsc, era apenas uma criança, como podia achar que conseguiria dar um jeito em três adultos armados?

- Você é muito rápido, mas podia ter morrido…

- Ele enfrentou os ladrões? - Gallan questionou fitando o menino com curiosidade. Havia dado água para os idosos e agora dedicava-se a juntar os frutos ainda intactos derrubados no chão. - Você é um guerreiro em treinamento, garoto?

Sim, Gallan tinha razão, fazia sentido com toda a habilidade e coragem que presenciou. Porém, para sua decepção, a criança desviou do olhar dos dois e negou com a cabeça. Aiolia levantou e ofereceu uma mão para ajudá-lo, estudando cada nuance da expressão misteriosa.

Ele estava mentindo, mas por quê? Temia que um Cavaleiro de Ouro desaprovasse a causa pela qual ele escolhia lutar?

Gallan se aproximou dos dois, claramente desconfiado. Apontou para o braço enfaixado da criança:

– Como conseguiu esse ferimento?

O menino bufou e abaixou a cabeça envergonhado. Aiolia simpatizou com a criança e teve certeza que ele não era um pré-adolescente, não disfarçava suas reações como um. Murmurou transtornado:

- Foi um leão… - Aiolia ouviu um dos homens da tropa dar um riso engasgado e ele próprio não sabia como reagir ao ouvir essa ironia. Contudo podia perceber a sinceridade naquela voz inocente, não sabia como, mas acreditava que aquilo ocorreu – Um leão me mordeu, está bem?

Aiolia queria tocar seu braço e refazer o curativo que a cada minuto aumentara mais e mais de sangue. Porém claramente sua tropa achava que o garoto estava fazendo uma história maluca pegando elementos do que via no momento. Se ele tivesse dito qualquer outra coisa, provavelmente era isso que teria feito, mas falou o nome do animal errado. Uma afronta para sua insígnia:

- Garoto. Levante o rosto. - Gallan ordenou com uma voz paciente. Aiolia conhecia aquele tom, ouvira-o mais de uma vez quando o homem, mais velho e experiente, tentava lhe persuadir a não fazer uma besteira. - Se você é um guerreiro, você sabe que é uma afronta mentir para um Cavaleiro de Ouro.

Imediatamente a expressão envergonhada transformou-se em surpresa. A criança voltou o rosto para Aiolia e dessa vez quando seus olhos se cruzaram a estranha sensação de familiaridade retornou. Já se conheceram antes? O garoto estudou as formas de Leão desenhadas em sua armadura leve e viu seus traços esboçarem assombro:

- Você é … então o cosmo que eu senti era.. Você é o Cavaleiro de Leão?

Dessa vez o loiro não disfarçou o sorriso. Ele não tinha mais 15 anos, era um homem maduro, não se importava se seus guerreiros duvidavam ou não da seriedade da criança. O leonino acreditava em sua ingenuidade e isso deveria bastar. Ia lhe dizer seu nome, mas antes que as letras se agrupassem ouviu-o da criança:

- Aiolia, não é? - olhou a tropa - Você foi convocado também?!

A pergunta confirmou o que Gallan desconfiava, o garoto não era um camponês ou um cidadão ateniense perdido. Ele no mínimo era servo de algum Cavaleiro e, por saber seu nome, desconfiou que talvez fosse pupilo de algum antigo amigo. Talvez de um de seus irmãos? Torceu para que fosse. Estendeu-lhe a mão para ajudá-lo a se colocar de pé e lhe deu a própria garrafa d'água:

- Sua armadura está aqui? - ele tomou a água de suas mãos animado. Ignorava completamente que a ferida em seu braço sangrava. Não havia dor alguma em seu tom de voz entusiástico – Ela foi moldada próprio Apolo mesmo?! Quero vê-la!

O comentário mitológico fez Aiolia abrir um sorriso orgulhoso. Às vezes se esquecia dos mitos relacionados a sua família e era bom ouvi-los em um mundo cada vez mais distante dos deuses. Contudo não o respondeu, queria entender direito o que estava fazendo ali e se aquele trecho daria acesso ao Templo de Atena:

- E o que você estava fazendo por aqui? É perto de seu acampamento?

- Não… - observou-o beber sedento até que parou tentando recuperar o fôlego – Vim pegar água, já estava voltando quando vi esses vagabundos na estrada.

- Por que você mentiu? - Gallan perguntou, ainda desconfiado. Mantinha uma estranha expressão no rosto, o olhar distante analisava milimetricamente a criança como se fosse um pergaminho contendo informações de guerra. O leonino não conseguia distinguir se era aborrecimento pela presença do garoto ou se desconfiava do que ele falava.

- Eu vi sua comitiva na outra estrada. Ninguém mais do Templo usa aquele trecho, achei que vocês só estavam tentando ir a Atenas, e… - abaixou o tom de voz - nunca se sabe qual cidadão é a favor da construção do Santuário. - O menino fitou os poucos cavalos presentes – Vocês vão ter que usar outro caminho para ir. Não sei se com cavalos vão conseguir daqui. Posso te ajudar se quiser, mas… posso ver a caixa da sua armadura antes?

- Ah, claro… - Aiolia respondeu, ainda estranhando as falas rápidas do menino. Seu carisma era contagiante ao ponto de fazê-lo quase esquecer que o casal de idoso ainda estava ali se recuperando do assalto. Tocou em seu ombro - Espera só um pouco está bem?

Voltou sua atenção para as duas vítimas verificando se estavam bem para seguir viagem. Retornou ao garoto e apontou para o local que havia deixado a armadura.

- Podemos ir.

Assim que começaram a caminhar, Gallan se aproximou. Mantinha a mesma expressão indagadora de outrora:

- Qual seu nome? - questionou em um tom duro.

- Régulus.

- Régulus?! - Aiolia murmurou e trocou olhares com Gallan cuja carranca mudara para surpresa genuína.

- Sim.

Os três permaneceram em silêncio. Aiolia constrangido em lhe perguntar se ele sabia que aquela era uma das estrelas da constelação de Leão, Régulus curioso demais com o artefato dourado para perceber que os dois queriam entender aquela coincidência:

- Eu posso te mostrar um dos trechos que fizemos para avançar para mais perto do Santuário, mas não sei se vai te ajudar, estamos descansando com outro grupo de cavaleiros para seguir viagem. Talvez algum deles saiba um caminho por essa rota.

- Pode ser, mas, Régulus, podemos dar uma olhada nesse seu machucado? Eu posso te ajudar com o ferimento.

- Ah, não, não! Se eu deixar, minha mãe ficará furiosa, só ela mexe nisso. Eles estão há pouco tempo daqui, não se preocupe, é superficial, arrumamos isso rápido.

Mãe? Então era daí que vinha seu conhecimento, ele era treinado pelas amazonas:

- Você está com as amazonas? - Gallan expressou sua dedução em voz alta - Elas não vão aceitar nossa aproximação, Aiolia…

- Eu vou. Faça os homens descansarem na margem – o loiro colocou a Armadura de Leão nas costas. - Volto assim que tiver um trajeto melhor, ok?

Gallan o repreendeu com o olhar:

- Elas estão aqui por Atena, Gallan, não são amazonas de Artêmis.

- Elas sempre serão de Artêmis – ouviu-o murmurar antes de se voltar para os homens e continuar suas ordens.

Se Régulus ouviu aquele comentário, não demonstrou nenhuma reação. Ocupou-se em pegar os sacos de água que escondera anteriormente e atravessaram a mata:

- Deixa eu segurar um pouco disso - Aiolia pediu já se apressando em tirar o amontoado sobre o braço ferido do menino.

- Não é tão pesado… não tanto quanto deve ser sua armadura.

- Sinceramente, nem sinto mais o peso dela – sorriu. Não quis soar arrogante, mas após tantos anos as peças douradas passaram a ser uma extensão de seu próprio corpo. - Você vai ver quando tiver a sua.

Ele pareceu que responderia algo, mas ficou em silêncio, haviam chegado nas limitações da mata cerrada e encararam uma planície descampada. O garoto apontou para a reunião de guerreiros e cavalos no outro extremo do campo:

- Chegamos. - Régulus apressou sua caminhada distanciando-se sem esperá-lo. Não era apenas determinação para chegar em seu grupo, a criança estava chateada com o que ouvira. Quando Aiolia alcançou seus passos, disse com um tom adulto – Veja, são guerreiros de Atena. Como eu te contei.

Aiolia ia lhe pedir desculpas pelo comentário de Gallan, contudo preferiu não incentivar a polêmica sobre as amazonas. Seguiu-o em silêncio e ignorou os olhares surpresos dos guerreiros que o avistavam. Eram muito jovens e duvidava que o reconheciam de alguma campanha que fizeram juntos. Imaginou o que sabiam realmente sobre sua trajetória. Admiravam-no somente pela armadura ou sabiam de todos os sacrifícios que sua família fizera para conseguir achar e proteger a reencarnação de Atena?

- Ali … - Régulus murmurou guiando-o até uma tenda azulada e Aiolia sentiu o peito apertar ao reconhecer as aves douradas que ornavam o tecido. Águias. Nada o preparou para o momento que o garoto afastou um dos tecidos e ele ouviu a voz familiar:

-… não vejo problema algum, podemos esperar pelo menos mais duas comitivas aqui, vocês seguem o caminho e voltam logo para o Santu... - a amazona ruiva interrompeu sua fala e Aiolia pôde ver o rosto prateado observando-os antes que Régulus afastasse o último véu.

"Marin…!"

Marin. Águia. Seu peito acelerou ao fitar a mulher que embalara seus sonhos por tantos anos. A máscara emoldurava uma expressão indiferente, mas os olhos expostos não disfarçavam sua surpresa. A íris azul ígnea o hipnotizou instantaneamente e ele ignorou todos os demais naquele ínfimo segundo de reencontro. Foi Marin quem interrompeu a conexão, piscando e dando atenção ao que Régulus falava:

- Mãe.. desculpa interromper, mas eu achei outro grupo e… - antes mesmo de processar a palavra que Régulus falou, o leonino sentiu seu corpo ser abraçado:

- Aiolia! - ouviu uma voz animada e reconheceu Sisifos puxando-o. Apertou o enlace para aproveitar o acalento do saudoso irmão, contudo não conseguia deixar de encarar Marin. Ou melhor, Marin e Régulus.

Ela se ajoelhara e já se dedicava a observar os machucados do menino loiro. Sentiu o peito se aquecer com a imagem e finalmente entendeu de onde vinha aquela sensação de familiaridade. A cor dos olhos era dela, mas os traços e formato do rosto lembravam o de seus irmãos. Ora, enxergava ele próprio no garoto.

Régulus não tinha 10, mas sim 8 anos. E era seu filho.