— Então quais são os planos para o final de semana?
— Como se eu tivesse algum – Vampira respondeu brincando com a comida da bandeja, enquanto Risty se sentava de frente pra ela em uma das muitas mesas de piquenique dispostas no pátio da escola.
— A gente podia ir ao cinema talvez – Risty titubeou colocando o canudo de plástico na caixinha de suco de laranja que tinha na bandeja dela.
— Talvez – sussurrou a sulista erguendo os olhos quando alguns dos adolescentes do Instituto que conviviam com ela passaram.
— Garota, você tem que superar – Risty apontou divertida seguindo a visão da amiga.
Scott com um sorriso no rosto, acompanhado por Jean sentava-se á uma mesa, totalmente imerso no que quer que fosse que conversassem.
— É fácil falar – resmungou Vampira torcendo o nariz. — Mas se você quer saber, eu não tô nem aí - disse ela cruzando os braços, desviando o olhar do quase casal para a garota gótica na frente dela.
— Humrum, sei - Risty replicou erguendo abruptamente as mãos quando Vampira a fuzilou com o olhar. — Se você diz, é claro que eu acredito!
A mutante olhou torto para a menina na frente dela mais uma vez antes de suspirar, e retornar a atenção para a salada. Ela era plenamente consciente de que estava condenada a viver uma vida solitária, mas isso não a impedia às vezes; de sonhar que pudesse ter alguém que gostasse.
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— Cara, teste de matemática na segunda! – Kurt gemeu com uma cara de velório sentando-se na mesma mesa que Scott e Jean.
— Veja pelo o lado bom, agora você já tem uma ocupação para o fim de semana – Kitty interveio colocando a bandeja na mesa e sentando-se ao lado de Jean.
Kurt olhou para a garota como se ela tivesse duas cabeças.
— Pra sua informação Srta. Nerdice, não é todo mundo que tem o prazer de passar o final de semana enfurnado no quarto estudando – Evan mal humorado atacou sentado ao lado de Kurt.
— Srta. Nerdice – Kurt repetiu debochado, não conseguindo impedir-se de rir.
— Gente! – Jean interferiu sabendo que a paz estava por um fio.
''Tanto por um momento de paz'' Scott meditou desolado, pela a guerra prestes a eclodir.
— Eu não tenho culpa se eu não deixo só pra estudar nos momentos de prova! – Kitty cuspiu, com uma veia que parecia pulsar na testa dela.
Kurt e Evan se entreolharam não conseguindo segurar o riso no momento em que olharam um pro outro.
— Meninos! – Jean advertiu, soando como uma mãe.
— Deixe eles rirem – Kitty resmungou irritada, elevando e abaixando os ombros como um sinal claro de indiferença. — Vamos ver quem vai rir por último!
— Bom senhor – Scott murmurou desolado. Como um momento pacifico e amigável que ele estava tendo a alguns momentos atrás, com Jean, tinha se transformado nisso?
– Ahn – a telepata hesitou até tomar a mão de Kitty na dela. — Vamos Kitty, vamos nos sentar em uma mesa só nossa e deixar os garotos, assim podemos ter um bate-papo só de menina.
Kitty balançou a cabeça saindo com a ruiva, não antes de lançar um olhar que fuzilaria um pelotão inteiro de soldados na direção de Kurt e Evan.
''Depois conversamos Scott'' a voz calma de Jean soou na mente de Scott em tom de desculpas, enquanto ele a observava se afastar.
— Homem, quando você vai tomar coragem? – a voz de Evan questionou em tom de descrença.
— O quê? – Scott perguntou confuso, ao olhar para o sobrinho de Ororo.
— Estou falando do esmagamento que você tem por Jean, cara.
— E do esmagamento que ela tem por você – Kurt completou observando a cara lívida e pálida do líder.
— Não é assim – Summers prontamente se defendeu. Não era? Era?
Houve um sorriso quase que instantâneo de deboche na cara dos meninos.
Scott prontamente alargou a gola do suéter como se o sufocasse.
— Jean e eu somos amigos.
— E? – Kurt desafiou.
— Melhores amigos – o dono das rajadas ópticas foi rápido em responder.
— E? – Evan cutucou.
Summers suspirou. Ele estava suando?! Ser confrontado em combate era uma coisa, mas ser pressionado sobre a sua possível vida pessoal era outra coisa.
— Eu não sei tá bom? – ele soltou derrotado, com um grande suspiro.
— Não? – Kurt instantaneamente apoiou o queixo sob a mão profundamente interessado.
— Não – o líder passou os dedos pelo o cabelo. — Quer dizer, eu não sou cego. Posso enxergar tudo vermelho, mas eu sei que Jean é maravilhosa e qualquer cara teria sorte em tê-la como namorada.
— E então o quê cara? – Evan questionou solidário.
— Eu não sei – o líder desabafou. — Talvez eu tenha medo de que a tentativa de um possível romance não dê certo, e que estrague a nossa amizade – ele explicou exasperado.
Como um SOS vindo dos céus, o sino estridente soou, alertando os estudantes que o recesso havia terminado. Os meninos prontamente se levantaram agarrando as mochilas e bandejas, enquanto Scott permaneceu para trás ainda sentado. Emergido em uma profunda confusão de sentimentos. Ele não sabia com clareza o que sentia.
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Ela não conseguia dormir. Kitty já repousava pacificamente em sua cama, de forma tão profunda que ela simplesmente, não pôde evitar sentir inveja. Soltando um suspiro, Vampira jogou as cobertas de lado e se sentou no colchão, fitando as horas no relógio digital sobre o criado-mudo ao lado da cama. Meia-noite. Infeliz, de não conseguir dormir como a colega de quarto, e cansada de tanto virar e rolar Vampira se levantou colocando um roupão branco sobre a roupa de dormir.
A sulista caminhou pelo quarto escuro, parando próximo da janela afastando um pouco a cortina, para olhar a noite que desapontava. A lua estava parcialmente já coberta pelas nuvens e as estrelas, eram raras no céu noturno.
Desviando o olhar do céu, Vampira encostou a mão enluvada no vidro da janela. Seu cenho, automaticamente se franziu. Quando foi a última vez, que ela não teve que se preocupar em se cobrir de camadas por medo de machucar alguém?
Sua mente não soube a resposta. Uma fúria cega se apoderou do interior dela, e por um momento, Vampira teve vontade de chorar, gritar e quebrar coisas. Respirando fundo, ela invocou um pouco do Logan que havia dentro dela. Logan, jamais choraria.
Derrotada, Vampira exalou pesadamente, sentido os ombros caírem. Ela precisava urgentemente sair desse quarto. E com pressa, a garota marchou até a porta, abrindo-a e fechando-a enquanto se mesclava aos corredores escuros da mansão.
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Ela não soube o que a trouxe ali. Talvez, fosse a paz que aquele lugar trazia. E era o que ela desesperadamente, precisava naquele momento. Vampira apenas se sentou no orvalho da grama úmida, não se importando nem um pouco com o estado que ficariam suas roupas.
Abraçando as pernas, a garota encostou o queixo sob um joelho e olhou para a paisagem do lago na frente dela pouco iluminado. Uma lágrima silenciosa deslizou pelo o rosto dela, seguida de outra, e mais outra e por um momento; Vampira se permitiu quebrar.
