Mudança de Comportamento

Capítulo 1

Nota: este é um fanfic de Neon Genesis Evangelion. Ele não se passa em nenhum momento específico da história original de Eva, mas também não a segue; é uma estória à parte. Bom, sem mais delongas, vamos ao fic.

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Ayanami Rei sempre foi uma menina apática. Nunca tinha demonstrado quaisquer sinais de emoção. Ela era conhecida por todos, na escola e na NERV, por essa personalidade. Muitos acreditavam que ela não fosse humana, mas algum tipo de andróide, pois não aparentava ter qualquer tipo de emoção.

Até que, um dia... alguma coisa aconteceu.

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"Parem o teste! Ejetem o plug imediatamente!", esbravejava a Doutora Akagi Ritsuko.

"Não dá! A Unidade-1 está rejeitando todos os sinais!", respondia Ibuki Maya, a operadora do MAGI.

"Taxa de sincronia disparando! 80%... 85%...", informou Aoba Shigeru.

"Desliguem a força principal antes que chegue a 100%!", ordenou a cientista.

A ordem foi cumprida de imediato. Em seguida, a câmara na qual se encontrava o Evangelion Unidade-1 mergulhou na penumbra. Shigeru continuou monitorando a taxa de síncrona entre Rei e o Eva.

"Taxa de sincronia... 95%!"

A taxa não parava de subir. A monitoração havia sido cortada, e por isso a situação da jovem piloto era desconhecida.

"Síncrona... 98%!"

Crescendo inexoravelmente, a taxa de sincronia era a única informação que eles conseguiam obter na sala de controle. O Evangelion não aceitava qualquer sinal que eles enviassem, e por isso nada que eles fizessem seria capaz de impedir o evento iminente.

"Taxa de sincronia se aproximando de 100%!"

Finalmente a sincronia atingiu 100% e, de repente, caiu a zero e o Evangelion foi desativado.

"A sincronia... foi a zero! Taxa de sincronia nula!"

Ritsuko não pensou duas vezes:

"Ejetem o plug! Agora!!"

Com a Unidade-1 inativa, isso foi feito sem maiores problemas. O plug foi ejetado e Rei, inconsciente, foi retirada dele e levada para a enfermaria da NERV.

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Duas semanas depois do acidente, Rei acordou sentindo-se... diferente. Abriu os olhos e viu o teto, que para ela já era familiar. Respirou fundo e, lentamente, levantou seu tronco, sentando-se na cama. Tentou se lembrar do acidente, da confusão que sentira no entry plug da Unidade-1. Ela não conseguia explicar o que sentira naqueles poucos momentos entre a perda do controle do Eva e o seu desligamento.

As memórias eram vagas; ela se lembrava de estar participando de algum teste com o Evangelion, mas não se lembrava do motivo. De repente, alguma coisa aconteceu e a Unidade-1 entrou em modo berserk. Depois disso, redstavam apenas flashes momentâneos. Imagens que ela nunca tinha visto de Shinji quando criança, do Comandante Gendou, do professor Fuyutsuki... até mesmo de Akagi Naoko, a mãe da Dra. Ritsuko. Mas não eram as lembranças dela; eram de alguma outra pessoa. Mas como essas memórias tinham vindo parar em sua mente? A única coisa de que ela se lembrava é que a ligação entre ela e a Unidade-1 parecia ter se intensificado incrivelmente naquele curto espaço de tempo.

Rei estava tentando encontrar respostas para suas perguntas, quando a enfermeira entrou no quarto, indo abrir a janela. Rei era uma presença razoavelmente freqüente na enfermaria, e por isso o pessoal que trabalhava ali conhecia a sua personalidade... singular.

Talvez tenha sido por isso que Kimiko, a enfermeira que acabara de entrar no quarto, tivesse ficado tão pálida de susto quando Rei a cumprimentou com um largo sorriso:

"Bom dia!"

Depois de alguns segundos de profundo silêncio Kimiko já estava absorvendo o impacto de alguém como Rei tê-la cumprimentado. Quando finalmente recuperou o controle, Kimiko foi novamente pega de surpresa:

"Nossa... você está tão pálida... está com algum problema?" disse Rei, com uma expressão preocupada.

"Ahn... não! Me desculpe. É que você é meio... reservada, e por isso eu me assustei quando você me deu bom dia. Está tudo bem. Bom dia pra você também!", disse a enfermeira, recuperando a compostura.

"Ah... que bom. Que bom que você abriu a janela! Está fazendo um dia tão bonito lá fora... pena que eu não possa sair pra dar uma volta por aí."

"É melhor não... você ainda não está 100% recuperada... o doutor pediu que você ficasse aqui mais uns dois dias depois de acordar, antes de ter alta", disse Kimiko. Coomo se tivesse pensado em algo, completou:

"Eu espero que o Comandante dessa vez deixe você descansar um pouco... ele nunca te dá uma folga, não?"

"Folga...?"

"É. Você sabe, ele está sempre atrás de você, te colocando naqueles robôs gigantes, fazendo inúmeros testes... e você é sempre a primeira a se sacrificar..."

"Talvez você esteja certa. Vou tentar falar com ele..."

Rei disse isso e pegou um copo de água que estava colocado no criado-mudo, ao lado da cama. Tomou um gole, olhou pensativamente pela janela, e deitou-se novamente, deixando os olhos passearem pelo teto livremente, enquanto seu pensamento, da mesma maneira, corria livre pelas suas memórias.

Kimiko, acreditando que ela pretendia voltar a dormir, saiu do quarto. Ao ouvir o clique da porta sendo fechada, Rei notou que algo mais estava diferente. Não eram apenas as suas memórias que pareciam ter sido alteradas pelo acidente... mas ela própria. Algo parecia estar muito errado com aquela situação. Relembrando o passado, Rei notava que seu comportamento tinha sido sempre no mínimo apático. E, de repente, ela tinha, espontaneamente, dado bom dia à enfermeira e conversado com ela, e sobre um assunto que não tinha, aparentemente, nenhuma importância.

"O que está acontecendo comigo...?" murmurou Rei, para si mesma. Muitas coisas estavam diferentes, e isso tudo a fazia perguntar a si própria se aquela que estava ali na cama do hospital naquele momento tendo aqueles pensamentos era realmente ela; uma grave crise de identidade parecia prestes a se abater sobre a menina de cabelos azuis.

Entretanto, ela decidiu não se deixar abater. Por mais estranha que fosse a situação, pensou, haveria de existir uma explicação para tudo.

Era atrás disso que ela iria, assim que saísse do hospital.

"E além disso..." disse para o teto, sua voz ecoando no quarto vazio, "eu até que gosto dessa nova personalidade..."

Dois dias depois, como previsto, Rei teve alta do hospital. De fato, ela nunca deixava de surpreender o clínico geral, já que tinha um poder de recuperação incrível. Nunca apresentara nenhuma cicatriz ou qualquer tipo de seqüela causada por algum acidente.

Ela foi para casa e, ao encontrar a desarrumação habitual, teve um calafrio: ela precisava arrumar aquilo. 'Não vou conseguir fazer isso sozinha', pensou, e decidiu buscar ajuda.

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Shinji e Asuka haviam chegado da escola fazia algum tempo quando a campainha tocou. A garota ruiva mandou que ele atendesse imediatamente e, sem querer contrariar, Shinji resolveu obedecer. Sua reação não foi muito diferente da reação da enfermeira no hospital ao ver Rei à porta, um sorriso no rosto.

"Oi! Como foram as aulas enquanto eu estive fora?" perguntou, amistosamente.

Shinji não conseguiu responder de imediato: gaguejou um pouco, pensou no que falar, fechou o punho umas duas ou três vezes. Nesse meio tempo, Asuka, que tinha ficado curiosa, resolveu ver quem tinha resolvido fazer uma visita.

"Ei... o que você está fazendo aqui, Garota Maravilha?!" exclamou, ao ver quem era.

"Eu vim pedir ajuda, meu apartamento está uma bagunça e queria pedir pra vocês me ajudarem a arrumar. Do jeito que está é que não pode ficar..." respondeu Rei.

"E desde quando você se preocupa com isso? Você sempre morou naquele chiqueiro!"

"Ué, e daí? Uma pessoa não pode mudar de hábitos não?" respondeu Rei, sem deixar transparecer que essa pergunta a perurbava mais que Asuka pudesse imaginar. "Eu só estou pedindo ajuda pra limpar meu apartamento! É normal alguém querer viver num lugar limpo."

Shinji, enquanto as duas discutiam, finalmente tomou coragem e convidou Rei para entrar.

"Você quer alguma coisa? Um café?" perguntou, por delicadeza. Ele estava certo de que ela não ia querer nada.

"Ah, vou aceitar um copo de água, por favor", respondeu Rei para um Shinji estupefato.

"Ahn... certo... um minuto que eu vou buscar..." disse ele, hesitante, indo para a cozinha. Rei, então, entrou, fechando a porta atrás de si.

Asuka, com cara de pouquíssimos amigos, apenas observou-a descalçar os sapatos e ir se sentar, ajoelhada, com as mãos sobre os joelhos, no tatami da sala. 'Isso não está me cheirando bem', pensava ela.

Shinji voltou da cozinha trazendo o copo de água, entregando-o para Rei. Depois de um momento de hesitação, resolveu se sentar também, da mesma maneira que Rei, de frente para ela. Asuka soltou um suspiro e foi para seu quarto.

"Ahn... pra que você precisa de ajuda mesmo?" perguntou Shinji, tentando puxar conversa.

"Pra limpar o meu apartamento" respondeu Rei, apoiando o copo sobre a mesa de centro. "Aquilo está uma verdadeira bagunça, e não sei porque não agüento olhar para aquilo. Preciso arrumar tudo, mas é muito serviço pra uma pessoa só. Aí eu lembrei de uma vez que você foi lá e deu uma arrumada em algumas coisas, e até me ajudou quando eu queimei a minha mão. Por isso resolvi passar aqui e pedir a sua ajuda pra arrumar."

Assustado por nunca ter ouvido Rei falar tanto assim, Shinji demorou a compreender o significado das palavras que ouvia. De fato, enquanto ela falava, ele se lembrou da ocasião em que estava dentro do Eva-1 e a vira conversando com seu pai; a situação era semelhante, mas ao mesmo tempo diferente: Apesar do comportamento de Rei, enquanto falava, ser semelhante ao daquela vez, algo nela estava diferente. Algo nela chegava a lhe parecer familiar. Como se isso não bastasse, não era com o Comandante que ela estava falando agora, mas com ele, e Shinji podia ouvir claramente a sua voz suave e inconfundível. De certa forma, ela era até mesmo hipnotizante, e Shinji ficou distraído, levanto algum tempo para realmente registrar o sentido das palavras que ouvia em sua mente.

O dia avançava rápido [1], e Misato logo chegou em casa.

"Hein? Rei? Oi, não sabia que você tinha saído do hospital", disse.

"Saí hoje depois do almoço, major. Quando eu cheguei em casa, encontrei uma bagunça muito grande, e por isso vim aqui pedir pro Shinji me ajudar a arrumar meu apartamento", respondeu Rei.

"Ah... entendi..." respondeu Misato, estranhando o fato de Rei estar tão... falante. "De qualquer forma, já está meio tarde pra isso. Amanhã é sábado, e aí eu vou junto com o Shinji, e até a Asuka, se ela quiser ir também, e a gente te ajuda e limpa o apartamento num instante."

"Ah, obrigada major", disse Rei com um sorriso. "Mas é que o apartamento está realmente bagunçado e eu não queria dormir sem limpar pelo menos a cama..."

"Não se preocupe com isso! Você pode dormir aqui hoje à noite, e amanhã vamos todos juntos pra lá", respondeu Misato.

"Então está bem. Muito obrigada de novo, major" respondeu Rei, sorrindo novamente.

Misato estranhou essa repentina mudança de comportamento de Rei, mas considerou isso algo positivo.

"Não precisa me chamar de major, pelo menos não fora da NERV. Me chame de Misato!"

"Está bem... Misato-san."

'Misato-san...? Parece até o Shinji' pensou Misato enquanto ia até a geladeira pegar uma cerveja e, em seguida, tomar um banho.

(continua)

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Bom, é isso por enquanto. O fic continua!! É uma história bobinha, mas já rendeu bastante, e pelo jeito ainda vai continuar por mais uns capítulos.

[1] No Japão as escolas têm atividades letivas até as 15:00.

Escrito em 05/08/2004

Revisado em 11/08/2004