Prólogo
"Uma luz iluminou as nuvens carregadas por cima da cidade, o vento castigava a orla das arvores e a Lua era o holofote da noite sobre a campina. Tudo parecia tão familiar, tão aconchegante, mas ao mesmo tempo era tão desconcertante e desconhecido. As arvores eram as muralhas contra o mundo de fora, eram nossa cobertura. As coisas estavam confusas, estavam soltas, jogadas ao acaso. A luz da lua cegava mais do que a escuridão. Era tudo muito rápido e tudo muito lento. Outra claridade exibiu-se sobre a cidade. Havia muita gente ali na campina, não percebíamos, não sabíamos. O nada que conseguia ver era muita coisa para que pudesse assimilar, era muita informação e tudo se misturava. Havíamos nós e...algo mais.
...ice...
...is…
...am...
...cent..."
- Alice? – Eu perguntei com medo de estender minha mão para toca-la, não sabia se podia encostar nela nesses momentos onde ela previa algo. Já era a terceira vez que eu presenciava essas premonições. A primeira foi no campo de beisebol quando James, Laurent e Victoria apareceram, a segunda quando ela, Jasper e eu estávamos nos escondendo, ela viu minha quase morte e essa. Estávamos na cozinha dos Cullen só Alice e eu, éramos boa amigas e conversávamos com freqüência. Gostava de Alice, do modo como ela me tratava agora e do modo como sempre me tratou, não precisava ter seu dom de premonição para saber que seriamos amigas para sempre. – Alice? – eu repeti.
Dessa vez ela me ouviu, virou os olhos de fada para mim e sorriu. – Me desculpe, eu...
- Viu alguma coisa? – Era Rosalie. Ao contrario da minha perfeita relação com Alice, Rosalie e eu nunca nos entenderíamos e eu não precisava ser vidente para perceber aquilo também. Ela entrou na cozinha e eu afundei na cadeira tentando me esconder o máximo possível para que ela não notasse minha presença. Era inútil eu sei, mas esse era a esse ponto que chegava o meu desespero de sair do caminho de Rosalie. Estar com Alice me deu alguma segurança, ela olhou para Rosalie balançou a cabeça positivamente. Talvez as duas ficassem absortas em alguma conversa e esquecessem da minha presença até Edward voltar. – Vamos ter mais visitas? Alguém mais quer ver você, Bella? – Me encolhi um pouco mais, talvez não. Ela sempre me odiou e o episódio com James não ajudou em nada. Ela não entendia e não aceitava como a família inteira pôde se mobilizar, fugir, correr, lutar por uma simples humana. Achava loucura. Era loucura.
- Rose... – Alice disse em tom de censura. Rosalie suspirou impaciente enquanto Carlisle entrava na cozinha.
- Bom dia. – Nós respondemos.
- Alice viu alguma coisa. – Rosalie anunciou rapidamente. – Melhor começarmos a fugir agora mesmo, quer meu carro? – Ela se virou para mim com os olhos faiscando.
- Rose... – Carlisle usou o mesmo tom que Alice alguns momentos antes e Rosalie saiu visivelmente irritada da cozinha. Eu afundei mais ainda na cadeira. Sei que eles faziam aquilo porque gostavam de mim e queriam ajudar, mas queria que parassem, aquilo não ajudaria nada, só faria a antipatia de Rosalie por mim crescer ainda mais. Além de ter colocado a família inteira em perigo, todos a repreendiam por minha causa, não tinha como ela gostar de mim. Eu suspirei desanimada, nunca nos entenderíamos. – O que você viu?
- Não estava claro, como sempre. Havia a campina e uma tempestade, estava tudo meio fora de foco, meio escurecido. Foi estranho dessa vez, os fatos, os quadros pareciam fugir de mim sempre que eu tentava coloca-los em ordem. – Alice estava sentada ao meu lado enquanto ia relatando a Carlisle o que havia visto. Me senti bem fazendo parte daquela família peculiar. Antes, quando Edward havia me apresentado a eles pela primeira vez, eles conversavam através de olhares, murmuravam tão rápido que eu mal podia ver suas bocas se mexendo, mas agora não se importavam em comentar sobre os segredos de família comigo ali. Aquilo tirou um pouco do meu desanimo por causa de Rosalie. – Havia também uma voz. Dizia "Is trice am cent"
- Alice... – Ela se virou para mim com os olhos gentis. – Essas palavras, foi você quem disse. A voz era sua. – Alice pareceu confusa por um momento.
- Fui eu quem disse? – Ela me perguntou novamente. Eu confirmei com a cabeça. – Bom, isso nunca aconteceu antes. – Ela se virou para Carlisle.
- Você sabe o que significa? – Carlisle perguntou. Alice balançou a cabeça negativamente.
- Para mim parecem palavras em inglês. – Eu disse. Os dois me olharam me incentivando a começar, senti o rosto queimando, mas continuei sem vacilar. Queria ajudá-los, eu era parte da família. – Bem, você disse Is trice am cent. Is é como nosso "é". Am significa "sou". Cent é dinheiro, centavo. – Eu ia escrevendo na medida em que as palavras iam saindo da minha boca. – Só trice que eu não sei o que é. Pode ser um nome.
Alice se debruçou sobre o papel na minha frente e leu. – Então, traduzindo, eu disse "É Trice sou centavo"?
- Não faz muito sentido. – Carlisle disse. – Você pode ter traduzido errado?
Me senti meio contrariada eu admito, mas sei que Carlisle não fez por mal, eles não deviam estar muito acostumado em receber ajuda de garotas de 16 anos em suas premonições. – Sim. – Eu confirmei. – É só isso que essas palavras podem significar.
Ficamos em silencio pensando nas mesmas coisas, provavelmente. Foi Carlisle quem falou primeiro. - Bem, desconfio que no tempo certo vamos descobrir o que tudo isso significa. Vou avisar os outros por desencargo de consciência. Edward leria a mente e Alice de qualquer maneira. Agora, Bella, ficará para o jantar? – Eu os amava. Amava como tentavam me fazer sentir em casa e como conseguiam sempre.
- Como algo com Charlie quando chegar em casa, não se incomode.
- Não é incomodo algum. Será um prazer.
- Mas vocês nem comem.
- Esme comprou um livro de culinária esses dias e está louca para experimentar algumas das receitas em pessoas que realmente apreciem comida. – Alice sorriu para mim virando os olhos. – Afinal de contas sua companhia é sempre um prazer. E não se esqueça, temos um jogo semana que vem. – Eu sorri. Esportes me odiavam e eu posso dizer que era recíproco, mas adorava ver os Cullen jogar. Era melhor que a liga profissional e se Charlie visse tenho certeza que ia passar a achar Edward um bom rapaz novamente.
Alice se levantou mais uma vez e apoiou no balcão, cuidadosamente deixei meus olhos a seguirem, havia algo errado. Ela estava...tensa? Alice Cullen tensa? Não podia ser, eu devia estar enganada ou ela devia estar me pregando uma peça ou algo parecido. – Alice? Tudo bem? – Me preocupava com ela, éramos família.
Ela se virou e sorriu para mim. – Sim, tudo bem. – Ficamos naquela posição, eu sentada e ela de pé contra a pia, nos olhando até que Alice finalmente falou. – Fiquei intrigada só isso.
- Com a visão?
- Mais ou menos. Estou acostumada com visões enigmáticas que quando entendemos o que querem dizer tudo já está bem ali na nossa frente. – Ela girou os olhos e eu sorri. – Não, não é a visão. Não sei estou inquieta. – Voltamos ao nosso silencio compreensivo. – Bem, deve ser a proximidade do jogo, só isso. Você sabe como eu adoro jogos.
- É eu sei. – Ficamos ali mais alguns minutos jogando conversa fora. Quem diria. Eu Isabella Swan batendo papo com uma vampira, na cozinha de um casa onde só moravam vampiros e namorando um vampiro. E falando nele, lá estava o meu Drácula favorito com seus cabelos castanho-avermelhados e aquele sorriso torto que eu amava.
