"Omnia vincit amor" - O amor vence tudo (Virgílio)

Muitos filmes de Hollywood e alguns romances literários transmitem a mensagem de que o amor deve ser vivido de forma arrebatadora porque, como dizia Platão, "não há ser humano, por mais covarde que seja, que não possa se tornar um herói por amor".

Eu concordo com isso, sou uma garota romântica. Gosto de filmes românticos, amo poemas e tenho fascínio por clichês. Tenho o dom de me apaixonar por casais que nunca ficariam juntos. Choro, rio e torço muito para um final feliz. Seja na vida real, ou na fantasia. Mas eu não tenho uma história de amor.

Eu sou neutra. Não digo que nunca me apaixonei, já gostei de alguns garotos, já torci para que me notassem, mas nunca cheguei ao ponto de querer ficar tanto com alguém, de lutar por essa pessoa.

Já passei da fase de não gostar da minha aparência. Eu me aceitava. Amava usar meus óculos redondinhos, e achava que meus olhos verdes não ficavam tão escondidos. Minhas roupas eram normais, do tamanho certo. Eu só não usava roupas tão femininas, pois tinha muito mais a me preocupar, do que com minha aparência. Ao invés de comprar roupas caras, eu preferia poupar para a faculdade. E assim me sentia confortável.

Eu estudava muito e era a referência de emergência estudantil para meus amigos. Caso ficassem de recuperação, eles me procuravam para ser tutora. Eu gostava de ajudar, e já era um treino para a faculdade – eu pretendia lecionar.

Meu sonho logo se tornaria realidade, faltava apenas um ano para o fim do ensino médio e eu me sentia aliviada.

Antes de sair de casa, dei uma última checada no espelho. Jeans escuros, camiseta preta com um desenho do Pernalonga – presente da minha tia.

Deixei meus cabelos róseos soltos, que estavam um pouco mais curtos do que eu gostaria – na altura dos ombros. Fiz a besteira de corta-los sozinha e acabei deixando-os tortos, por conta disso, acabei tendo que ir ao cabeleireiro e acerta-los.

Peguei protetor labial e passei nos meus lábios, que constantemente estavam rachados. Ajeitei meus óculos. Peguei minha mochila e sai do quarto. Minha mãe não estava em casa, era enfermeira e sempre saia muito cedo. Peguei o dinheiro do lanche e sai de casa.

Minha casa era perto da escola, por isso podia ir a pé. No caminho entrei em uma cafeteria. Estava uma fila grande e eu tive que esperar impacientemente. Na minha frente havia um homem. Ele se virou e me olhou.

— Você vem sempre aqui? — ele questiona. Perdi alguns segundos o olhando.

Olhos e cabelos negros, pele clara e uma voz tão sedutora. Seu corpo era magro e definido, eu supus, ao avaliar pela roupa. Em sua tênue expressão facial surgiu um belo sorrido resplandecente.

Eu fiquei um pouco desconcertada.

— Às vezes — respondo. De acordo com os filmes românticos, é assim que começa um flerte.

— Legal. E o que sempre pede?

— Café com uma dose extra de creme e um toque de baunilha — falo.

— Com um toque de baunilha? Interessante. Acho que vou pedir isso também — ele diz. E então não fala mais nada. Eu fico na fila me sentindo muito idiota por estar com as bochechas queimando. Minhas mãos suavam pra caramba. Para minha sorte a fila não demorou muito pra andar. O homem na minha frente pediu o café e ao sair da fila olhou pra mim e piscou.

Meu coração disparou. Aquilo definitivamente era uma paquera.

— O que vai querer? — o atendente pergunta.

— Café expresso — digo. Um café expresso para me manter acordada.

Suspirei. Aquilo era patético. Estava na hora de voltar à realidade. Paguei o café e fui para a escola. Na entrada vi Karin e Ino— que estava praticamente irreconhecível —, elas eram minhas melhores amigas.

Karin era uma garota divertida, mas um pouco insegura com sua aparência por ter tido muitas espinhas. Por sorte, seus pais pagaram um bom tratamento, contudo, ainda não foi o suficiente para acabar com elas. E ela ainda lutava contra isso. Ino era um pouco reclusa, principalmente por ter passado o ano anterior lutando contra a balança.

Abracei Karin e logo após abracei Ino.

— Ino, você está tão magra! — digo. Ela passou as férias na casa do pai, e por isso não conseguimos manter contato.

— Emagreci nove quilos no verão! — ela vibra. — No total perdi vinte quilos em um ano, estou muito feliz.

— Uau, isso é incrível — falo. Karin me olha um pouco aflita.

— Ino, você não acha que está exigindo muito de si mesma? — Karin questiona.

— Karin, você não sabe o que é ser gorda. Eu tive que me esforçar muito. E não, não estou doente, antes que você pergunte — Ino rebateu.

— Ino, calma. A Karin só esta preocupada com você. Queremos o seu bem. Você está linda, aliás, sempre foi.

— Tudo bem, eu só não quero voltar a ser a mesma garota de antes. Quero finalmente ser uma adolescente normal. — Ela deu um sorriso fraco.

— Ok, e o que você quer fazer como uma adolescente normal? — Karin questiona.

— Namorar, óbvio! — Ino exclama e Karin e eu rimos.

— Você pode namorar a vontade, eu pretendo focar nos estudos — falo.

— Eu te acompanho nessa Ino. Ficamos muito tempo em casa estudando nesses últimos anos, acho que temos que aproveitar um pouco mais. — Karin diz.

— Vamos pra aula — digo, antes mesmo que o sinal toque. Eu gostava de entrar antes na sala de aula e me organizar.

— Calma Sakura, toma seu café antes. Tenho uma coisa pra contar pra vocês — Karin sussurra.

— Por que está falando tão baixo? — questiono.

— Porque é segredo, óbvio! — diz e Ino e eu nos aproximamos para ouvir.

— Conheci um cara — ela diz. E quase solta um gritinho de alegria.

— E qual a novidade nisso? Conheço muitos caras — Ino expõe.

— Calma, me deixa terminar de contar. — Karin suspira antes de continuar. — Bom, conheci ele no café Vanilli, ele puxou conversa comigo de repente... — Isso me pareceu tão similar ao que aconteceu comigo pela manhã, que senti uma ponta de frustração. — Nós conversamos e marcamos de sair.

— Uau Karin, e como ele é? Bonito? — Ino indagou.

Tomo vários goles do meu café.

— É perfeito. Bom, ele é mais velho — Karin responde, e minha frustração começa a crescer.

— Mais velho? E o que mais? — pergunto.

— Ah ele é alto, charmoso, tem os cabelos grisalhos — ela continua. E suspiro aliviada. O homem que encontrei de manhã, não tinha cabelos grisalhos, e não parecia tão mais velho.

— Grisalho? Você está maluca? Homens assim na maioria das vezes são casados, ou psicopatas, nenhum homem mais velho em sã consciente marca encontro com uma colegial — Ino diz, jogando um balde de água fria em Karin.

Karin encara Ino com desgosto e diz:

— Vou pra aula, vocês não tem maturidade pra lidar com isso.

— Karin, não fica chateada — tento amenizar. Mas não adiantava, pois Karin não mudou a expressão.

— Vamos pra aula. — Ela diz.

A primeira aula era de Literatura. E nós três tínhamos essa aula. Por isso, logo entramos e ficamos na fileira da frente. Sentei-me no meio de Ino e Karin, para garantir que elas não brigassem mais.

Vejo que na mesa havia um copo descartável do café Vanilli. E na lousa estrava escrito.

"Mrs. Sasuke Uchiha"

Vejo que o professor ainda não está na sala. Alguns alunos entram e vejo que Haruki — a garota mais popular do último ano — também estava nesta aula. Ela era um pouco metida e esnobe. E também gostava de colocar apelidos em Ino.

— Meu Deus, você fez cirurgia bariátrica? — ela questiona a Ino, assim que a vê.

— Claro que não. — Ino rebate.

— Lipoaspiração?

— Eu não precisei de intervenções cirúrgicas pra emagrecer. — Ino diz e sua expressão se contrai. Ela não aguentava mais as grosserias de Haruki.

Haruki joga os longos cabelos pretos para trás e faz uma expressão de espanto.

— Não acredito que você está... — ela coloca o dedo na boca e fingi que vai vomitar.

Olho para Ino, e percebo que seus olhos estão cheios de lágrimas.

— Para com isso Haruki — me intrometo.

— Fracassadas — ela diz e vai para o fundo da sala.

— Não ligue pra ela Ino. Nós sabemos que você se esforçou para emagrecer. — Karin a conforta. Mas Ino não diz nada.

E então o sinal toca, para meu alívio.

Os alunos entram na sala e logo após vejo um homem entrar. Era o mesmo que vi na cafeteria. Ele entra, e dá um meio sorriso.

— Bom dia turma, sou o novo professor de literatura, Sasuke Uchiha.

Não existia mais nada naquele instante, não havia cenário, personagens, contexto. Existia apenas ele. Meu professor.