Pregando Peças
Nós confiamos a ele nosso segredo e agora caminhamos corajosamente para o nosso último ato...
Sei que de todos os meus amigos, ele era o único em que você não confiava, ou pelo menos, não plenamente. Você sempre me alertava sobre pequenos detalhes em sua personalidade, em como ele parecia dissimulado como um bom e famoso ator. Estranho. As pessoas sempre dizem que mulheres têm um senso melhor sobre os outros... Um sexto sentido. Eu nunca acreditei nisso. Também nunca acreditei que pudesse ser traído por um de meus melhores amigos. Estava enganado.
No palco, o maroto covarde dava início ao primeiro ato. Tudo parecia tão perfeito, como em uma peça Shakesperiana bem ensaiada. Acho que é exatamente por isso que não faltou o nosso final trágico. Era o palco das nossas vidas... E por incrível que pareça, todos fizeram bem o seu papel. Não foi possível perceber quem era mocinho ou bandido.
Os planos foram traçados com perícia e precisão, e não há como nos culparmos de nada, nem a nós, nem a um dos nossos fiéis amigos. Parecia o certo. Detectamos possíveis falhas e eliminamos o óbvio. Antes tivéssemos ficado com ele... Era o início do segundo ato. O desenrolar do enredo... Aquele onde as pistas aparecem, mas estamos cegos demais para perceber... E não tinha mesmo como ter percebido.
Nós confiamos a ele nosso segredo e agora caminhamos corajosamente para o nosso último ato. A luz do palco é intensa e doentia. Esverdeada. Não se preocupe. Eu vou à frente. E quando eu estiver no centro do teatro eu vou pensar em você e em nosso filho... E tudo que eu possa fazer para mantê-los vivos. Ele nos traiu. E é por isso que a morte parece tão próxima agora. Eu encaro um monstro que se ergue da platéia, mas não tenho medo. Porque por mais difícil que seja aceitar tudo isso, não é muito difícil perceber que nunca seria diferente.
A vida vive nos pregando peças...
N/A: Fic participante do XXII Challenge Relâmpago do 6V.
Betada por Phanie e Marcus Vinícius.
