Por favor, dê uma olhada no projeto Nu em Pele, fonte de inspiração para esse texto e feito como presente ao Nilton Kaz.
Queria eu ser como essas criaturas
Eu tenho um amigo que captura ninfas. Não, não me leve a mal pensando que ele as coloca em minúsculas gaiolas, ou as amarra em correntes como outros homens cruéis em nosso reino. Ele tem um tom de maior proximidade com a presença delas e consegue, não necessariamente reter seus corpos, mas sim suas energias, suas pequenas almas puras.
Eu moro em uma cidade distante agora, mas posso ver e ouvir rastros de suas "caçadas". E como é impressionante seu profissionalismo, sua delicadeza e dedicação em trazê-las para nós. Essas pequenas criaturas tão frágeis em presença humana, tão retidas e sufocadas pelo nosso cotidiano apressado, individualista e poluído; parecem tão vivas, fortes e naturais como os rios, as árvores ou o solo nunca antes tocados.
Esses registros são mágicos. Podemos observar que elas surgem pouco a pouco do chão e das plantas, possuem rostos apaixonados pela própria existência, um brilho no olhar, alegre, bem próxima à inocência infantil, e os corpos cheios de movimentos leves e livres, como as folhas dançando pela força do vento. Algumas se escondem em pequenas sombras de locais abandonados, locais que a natureza retoma o espaço e se mistura com a madeira, o metal e o concreto. Onde o cinza ganha cor no brotar de flores coloridas, igualando-se aos seus cabelos e olhos. Onde a terra tem raízes trançadas e pequenos animais rastejando, arabescos que também estão em suas peles.
Particularmente eu adoro aquelas que brotam da luz. Elas me lembram prismas muito bem lapidados, em frente de janelas com os raios espalhando calor e feixes de cor. Sua presença geralmente envolvida num véu de névoa, torna suas curvas translúcidas, mas ainda deixa escapar seus sorrisos sapecas, salpicando pontos brilhantes nos chãos e paredes da casa.
E eu me pergunto, enquanto observo encantada esse renascimento, como fomos capazes de prendê-las, subjugá-las ou humilha-las? Assim elas sendo seres tão mais verdadeiros, mas tão iguais a nós? Que tipo de "evolução" foi essa em que perdemos nossa natureza, nosso amor, nossas almas?
