Frozen e seus personagens não me pertencem.

*Redenção*

Capítulo 1

Quando minha jornada começou, eu era um homem muito diferente do que sou hoje. Eu era mais egoísta, mais arrogante, mais insensível e tão, tão mais tolo. Naquela época, anos atrás, julgava-me ser tudo, no entanto, mal sabia eu que nada era. Julgava-me dono da razão e da verdade absoluta, todavia, não poderia estar mais enganado! Se ao menos soubesse o quanto estava errado, se ao menos soubesse o quão parvo e ignorante era, se ao menos soubesse um pouco – um milésimo, talvez – do que hoje sei, quem sabe meu futuro não teria sido menos solitário.

Quem sabe o meu mundo e a minha alma não teriam se tornado tão... vazios.

Porém, naquela época escura da minha existência, eu nada sabia. Meu cerne estava insanamente corrompido pelo desejo cru de vingança, minha razão encontrava-se cega por um ódio ferrenho, e os sentimentos mais nefastos e torpes guiavam-me por estradas sinuosas e errantes. Tornei-me um homem bruto, apático e cruel, que não se importava com mais ninguém além de mim mesmo, e que julgava-me ser superior a tudo.

E a todos.

Eu não me orgulho do meu 'eu antigo'. Quando recordo-me do sorriso dissimulado que brotava em meus lábios, da frieza que meu olhar possuía e do gelo que encobria e moldava o meu coração, sinto minhas costas murcharem e meu peito apertar sofrivelmente. Sinto vergonha de mim mesmo e daquele que fui um dia, e a culpa pelas minhas ações corrói-me por dentro como um ácido impiedoso. No entanto, há algo que preciso admitir, pois se não tivesse percorrido um caminho tão imundo, baixo e terrível, se não tivesse visto o pior de mim, nunca teria visto o meu melhor. Assim como nunca teria encontrado a minha salvação.

O meu desejo de vingança, que era tão intenso e violento, me impeliu a fugir da prisão na qual encontrava-me encarcerado há anos, e percorrer um longo caminho até Arendelle. A viagem foi exaustiva e por demais fatigante, e meu corpo sofreu demasiado. Entretanto, o ódio alimentava a minha alma trevosa, e o meu orgulho exacerbado impulsionava as minhas pernas para frente, impedindo-as de pararem. No entanto, às vezes, o cansaço me vencia e acabava por derrubar-me de vez, e eu era obrigado a deitar a cabeça sobre a relva e fechar os olhos. Dormia um sono que era agitado demais, e sonhava sonhos delirantes.

Sonhava com a dama de gelo.

Despertava sempre aturdido e depressa, um suor frio cobrindo a minha testa numa camada fina, e meus dentes brancos batendo um contra o outro. Minha mão coçava e, inconscientemente, dirigia-se até a minha cintura, como se procurando por uma espada embainhada que não existia. Nos sonhos, eu fincava na feiticeira das neves a lâmina afiada da minha arma, tingindo o vestido cintilante que ela usava com tanta exuberância de um vermelho que era vivo e intenso. Nos meus sonhos, eu clamava a minha vingança, e a tinha! As imagens irreais e fantásticas rodopiavam em minha mente louca, e eu me punha de pé, dando continuidade à viagem.

E assim, andei e andei e andei, até que, finalmente, cheguei ao meu destino.

O reino de Arendelle.

Ó, como fui tolo! Como fui ignorante! Iniciei minha jornada compelido por uma força desgraçada e medíocre, acreditando ser a Rainha do Gelo a responsável pelo meu exílio, pelo meu cárcere, pela minha ruína. Acreditando que o sangue dela cicatrizaria o meu orgulho ferido, e que a visão do seu corpo sem vida tranquilizaria o meu espírito irrequieto. Iniciei minha jornada motivado pelo ódio e pelo rancor, mas a terminei salvo pelo amor. Sim, sei que parece ser surpreendente e, até mesmo, inacreditável que alguém como eu - que um dia já tenha sido tão sinistro e cruel - seja capaz de fazer uso de uma palavra tão sublime quanto o 'amor', mas foi exatamente o amor que me salvou e que me fez abrir os olhos e enxergar a verdade maior. Foi o amor que transformou a minha alma transtornada e que curou as feridas do meu coração. Foi o amor que me mostrou o caminho que eu deveria seguir.

O meu amor por Elsa, a Rainha de Arendelle, mostrou-me o caminho para a minha redenção.

Assim como mostrou-me o caminho para a minha salvação... e para a minha destruição.