Na pontinha dos pés

"Sasuke não imaginava figura mais perfeita do que o bailar do cisne perolado, na pontinha dos pés, com sapatilhas iluminadas e um coração de vidro."

Capítulo um

Considerações Iniciais

Sasuke Uchiha sentou-se a beira da praia, sentindo-se normalmente vazio. Naquele fim de tarde, estava vestido de preto, com seu cabelo um pouco maior do que de costume, olhos tão enigmáticos quanto ao próprio ser, e a costumeira barba por fazer. Parecia o de sempre: reservado e elegante. Ele era um administrador bem sucedido de vinte e oito anos de idade.

Enquanto olhava o movimento das ondas, não deixava de pensar o quanto poderia ficar apreciando aquela sintonia e calmaria que o mar possuía. Ele admirava aquilo, desde sempre. Era sua descrição para a primeira forma de amar. Admiração.

Desviando o pensamento das ondas, voltou atenção para um casal de namorados sentados um pouco mais distante dele. Eles tiravam fotos e sorriam. O pôr-do-sol realmente era um ótimo momento para fotos apaixonadas. Lembrou-se de que sua filha amava o pôr-do-sol visto daquele lugar da praia de São Francisco, na Califórnia. Desejou que ela estivesse ali com ele, para deleitar-se pela ultima vez por um longo período daquele mar, daquele lugar.

Mia, sua filha, tinha apenas cinco anos. Não entendia ao certo os motivos de ter de ficar longe de sua mãe, ter de morar com ele em outro país. Mas, Sasuke nada podia fazer para explicar para Mia o porquê de estar se mudando da maravilhosa Califórnia dos EUA para o Canadá sem sua mãe.

O fato era que o casamento de Sasuke e Sakura havia acabado há muito tempo, simplesmente porque nunca foi um casal de verdade. Os sonhos eram diferentes, assim como as escolhas, gostos, conversas, tudo.

Sakura e Sasuke nunca tiveram um relacionamento de amor, sempre fora de respeito, pois, nenhum dos dois sabia o que era amar. Eles apenas se saciavam como homem e mulher. No que resultou no nascimento da pequena Mia, que era a única razão de continuarem casados por tanto tempo. Porém, dessa vez Sakura dizia ter encontrado um verdadeiro sentido, amor e caminho.

E de jeito nenhum Sasuke se sentiu rejeitado ou enciumado com o fim do casamento, ele estava aliviado, e apenas desejou uma boa sorte mentalmente. Porque sinceramente era o que ele desejava a mulher que por anos dividiu a mesma casa, e querendo ou não o apoiava.

A partida de Sasuke para o Canadá não tinha relação ao término do casamento. Somente foi coincidência do destino a proposta da empresa que trabalhava ser firmada logo no fim do matrimônio. A empresa ofereceu o dobro do seu salário para investimentos na sétima unidade que ficava em Montreal, no Canadá. Então, ele simplesmente não pode recusar.

Tudo estava definitivamente indo bem, ele estava com uma nova proposta de emprego e enfim separado. Mas, Sakura também estava com novos negócios profissionais e a sua era bem mais improvável que a dele. Pois, sendo uma médica renomada, teria sido convocada pelos superiores do governo dos EUA a participar de uma ação voluntária para a população africana, prestando serviços e cuidados médicos àquele povoado que sofre tanto com doenças.

Ela não tinha escolha, teria de ir para a África, era seu dever. Mas, Mia não podia. Então, Sakura apenas decretou que Mia ficasse com Sasuke nesse período.

O que o deixou internamente intrigado. Amava Mia. Ela era o que ele intitulava de segundo significado do amor. O carinho.

Por Mia ele faria qualquer coisa, morreria se precisasse. E apesar de não demonstrar este sentimento, nem ao menos parecer se importar ou gostar, ele sabia o quanto o amor de pai era poderoso.

O grande problema é que sempre Sakura esteve ali, nos exatos cinco anos de vida de Mia. Sempre. Mesmo que com o passar dos anos Sasuke tenha deixado o lado rude e atroz, ele ainda era muito superficial e indiferente na maioria das vezes. A ideia de cuidar dela sozinho o assustava, mas ele não demonstrava, é claro. Não ele. Nunca ele. Ele ainda era Sasuke Uchiha.


Montreal é definida por ser uma das maiores regiões francófonas do mundo depois de Paris. E mesmo com muitas dificuldades para entender a linguagem mais utilizada na cidade, Sasuke e Mia já estavam bem acomodados três semanas depois.

A empresa deixou tudo organizado para sua chegada. Escolheram uma pequena casa mobiliada num bairro, perto do imenso parque Mont Royal, e também perto de onde Sasuke trabalhava das sete às três da tarde.

A secretária pessoal de seu chefe havia indicado duas escolas pequenas que ficavam no mesmo bairro para Mia. Sasuke apenas aceitou a que ficava mais próximo e a que a língua fosse inglesa. Ela ficava a manhã toda lá, e à tarde, Mia era buscada por uma das empregadas da empresa e ficava na sala de Sasuke.

O Uchiha que nada sabia cozinhar além de instantâneos, nessas três semanas havia se habituado muito rápido ao caminho de um restaurante na esquina de sua rua. E comia lá todos os dias.

Mia nesses dias sempre perguntava por Sakura, e se dizia chateada por não ter nenhum amiguinho para brincar e que na sua escola todos falavam complicado.

- Venha cá. – disse Sasuke seco, pegando Mia no colo na volta dos dois do restaurante de esquina, já que a garotinha não queria sair da varanda da casa, ouvindo a conversa em francês de alguns canadenses. Colocou-a no sofá e buscou dois copos de leite. – Beba.

- Papai... o senhor sabia que na minha nova escola tem uma garota que fica na ponta dos pés?

Sasuke ficou calado. Ele definitivamente não tinha jeito com crianças. Apenas sentou ao lado de Mia, e bebericou do leite, ligando a televisão, que não era no seu idioma.

- Papai... quando vamos passear pelo parque que eu vi quando chegamos?

A mulher que falava sem parar na televisão e apontava para um mapa, provavelmente deveria ter saído de um museu, de tão velha que aparentava. Mas, Sasuke não entendia nada do que ela falava mesmo, então desligou a TV. Ele já estava enjoado de ouvir aquela língua enrolada. Sorte, que a empresa em que estava era bilíngue, então não tinha problema nenhum lá. Diferente de qualquer lugar que ele fosse, onde só se ouvia aquele francês prêt-à-porter*. É, algumas palavras ele tinha de aprender daquela maldita língua.

- Papai... quando a mamãe vem morar com a gente?

Ele fechou os olhos. Aquilo realmente não era o que ele esperava. Sempre que estava com Mia, Sakura estava junto. Então tudo que ela perguntava era direcionado a Sakura, e nunca ficava tanto tempo junto das duas para lembrar o que a mulher respondia.

- Papai... o senhor me ensina a falar do jeito deles?

Ele continuava de olhos fechados. Mia falava muito, assim como Sakura. E ele não tinha paciência, mesmo. Nunca teve. Sakura sempre fora muito irritante com suas perguntas, e então teria de ensinar Mia a ser calada.

- Papai... o senhor tá com bigode! – ouviu a gargalhada infantil dada por Mia.

Abriu os olhos devagar, e pode observar Mia se contorcendo de tanto rir. Ele bebericou novamente o liquido branco que deixava sujo seu buço. E isso causou mais histerismos de Mia, que achava super engraçado. Sasuke limpou a boca com as costas da mão.

- Está na hora de dormir Mia.

Ele precisava urgente de uma babá, constatou quando finalmente conseguiu fazer Mia dormir e calar a boca, depois de fazê-la escovar os dentes e contar, muito mal contado, uma história mentirosa para a pequena cair no sono.


O inebriante cheiro panquecas tomava conta do restaurante chamado À l'heure du repas**.

Um rapaz gordinho que parecia ser o cozinheiro gritava alguma coisa em francês de dentro da área reservada. Fazendo com que uma mulher, a garçonete que atendia Sasuke e Mia todos os dias retrucasse de volta em inglês e se iniciasse uma pequena, mas barulhenta discussão.

- Vá se ferrar, Chouji. Estou trabalhando feito louca aqui. Não to nem ai se você não sabe mais cozinhar.

- Avec le secours de Dieu, Tenten, SE TAIRE!***

Sasuke levantou levemente a mão, para alivio da garçonete que se desviava do bate-boca.

- Pois não, senhor?

A garçonete rapidamente anotou o pedido de Sasuke. Ele havia se tornado um cliente fiel, constatou. Todos os dias, ele e a garotinha estavam lá.

Depois de alguns minutos de almoço, Mia já estava na sobremesa. Uma torta de morango que até Sasuke resolveu provar um pouco.

Mas, ao que parecia o homem estava com problemas com a garotinha, já que ela estava toda lambuzada.

- Mia, preste atenção. – Sasuke dizia com uma cara de poucos amigos tentando limpar o vestidinho da garota que agora estava todo sujo de torta.

- M-mas eu não f-fiz nada, papai – disse a pobre choramingando.

A garçonete que estava limpando uma mesa ao lado deles virou-se e interrompeu a explicação de Mia.

- Ah, deixa que eu limpo, crianças são assim mesmo – Ela já estava inclinada limpando o vestido – Qual é o seu nome docinho?

- M-mia, meu nome é Mia – Ela deu uma fungadinha de um jeito fofo.

- Mia? Que nome lindo. Sou Tenten, é um prazer conhecê-la.

- Nhaa, obrigada tia Tenten – ela respondeu desta vez sem chorar, já se enturmando.

- Não se preocupe com seu vestido, não vai manchar, é só chegar em casa e pedir para o seu papai aqui do lado ou sua mamãe colocar de molho. Sai rapidinho – Tenten disse, dando uma piscadela para Mia, que riu cheia de carisma.

- Acho que o papai não sabe fazer isso, né papai?

Sasuke olhou para Tenten, a garçonete parecia bem enturmada com crianças.

- Você é babá? – Sasuke perguntou aparentemente apático.

Tenten apenas levantou e o olhou meio confusa.

- Não. Sou garçonete – Ela riu e tirou os pratos sujos da mesa de Sasuke, colocando-os na bandeja ao lado.

Sasuke a olhou de canto.

- Mas, eu conheço uma. Caso o senhor queira entrar em contato, ela é de confiança e também fala inglês – Ela completou, vendo o olhar nem um pouco carismático como o de Mia.


Sasuke pegou o número da babá, que Tenten ofereceu, de cima de sua mesa do escritório. E imediatamente tinha planos para ligar e fazer uma mini seleção. Não ele, claro. Pediria para sua assistente chamar mais babás e fazer entrevistas, ou algo do tipo.

Porque ele se preocupava com a segurança de Mia, e escolher qualquer louca pra cuidar de sua filha, não estava nos seus planos.

- Karin! – Sasuke chamou autoritário e em menos de dois segundos a porta de sua sala se abriu, mostrando uma ruiva extremamente alta, com um batom carmim e vestimentas justas demais para uma secretária.

- Oui, Sr. Uchiha – ela disse ajeitando os óculos, notavelmente jogando charme.

- Quero que faça uma seleção de babás e as entreviste ainda hoje – Sasuke ofereceu o papel que Tenten havia lhe dado com o nome da babá.

- Maintenant, sans plus ni moins? – Karin falou em francês "Agora, sem mais nem menos?" sabendo que Sasuke não entenderia – Quantas, hmm, mais ou menos? – Havia suspiros demasiados quando Karin falava com Sasuke e ele nestas pequenas três semanas que havia chegado já estava de saco cheio quando ela fazia isso, ou falava algo em francês para que ele não entendesse.

- Eu só preciso de uma, o resto você se vire.

Ele respondeu seco pegando o telefone e ampliando alguns anexos do último investimento da empresa em marketing no seu computador. Essa era a deixa para que Karin se retirasse. E ela se retirou, soltando mais um suspiro deleitoso, que ao ver de Sasuke era insignificante.


- Preencham os formulários e deixem seus documentos sobre a mesa.

Era voz forte e imperiosa de Karin que soava em toda a minúscula sala, a única que os superiores disponibilizaram no dia para fazer a seleção, já que não era do interesse da empresa.

Tinham exatamente sete candidatas, todas bilíngues e com fluência no inglês. Elas teriam apenas de preencher os tais formulários com perguntas pessoais e profissionais, e depois disso Karin entrevistaria uma a uma. E tinha apenas três horas para fazer tudo aquilo. Assim que Sasuke pediu a seleção pela parte da manhã, ela se apressou em marcar a entrevista, porém teria de ficar até mais tarde na empresa, e aquilo tinha feito sua mínima paciência ir para bem longe.

- Vocês terão apenas meia hora para preencher, então pode começar.

As moças assentiram, e apenas duas das presentes ali eram senhoras. Karin pensou que era uma verdadeira frescura de Sasuke não escolher por si próprio uma babá pra cuidar da pestinha dele. Ela não havia gostado de Mia, desde o dia em que ela teve de ir buscá-la na escola e ainda cuidar dela, pois a pestinha falava muito, não parava um segundo. Mas, o que ela nessas três semanas não fazia para agradar Sasuke? Ela aguenta todas as tardes a pirralha, porque se queria Sasuke teria de aceitar Mia, e oh céus... como ela queria Sasuke! Ela faria de tudo o melhor para ter aquele homem, oh se faria.

O bipe de seu relógio soou, marcando que já havia meia hora desde o início do preenchimento dos testes.

- Tempo esgotado, virem seus formulários, enquanto eu os recolho. E agora, por ordem alfabética eu irei entrevistá-las.


Sasuke remexeu-se na cadeira móvel de seu escritório. Karin, ele tinha que ser sincero, era muito eficiente. Quando ele pedira que fizesse a seleção, esqueceu-se de informá-la que ele ainda teria de falar com essas tais babás, por pura precaução com sua filha. E Karin, com sua devida eficiência, fez exatamente isso.

- Sr. Uchiha, selecionei as três melhores, e já vi o histórico delas. Agora só falta o senhor avaliá-las – Ela estava dizendo com uma ponta de orgulho notável, como se soubesse que havia impressionado Sasuke com a eficiência.

- Mande-as entrar.

Mas, esperar que Sasuke agradecesse ou ao menos elogiasse pelo bom trabalho era querer demais.

Entrevistou as duas primeiras, que eram senhoras de meia idade um pouco faladeiras. Sasuke não gostou. Não seria prazeroso chegar em casa cansado e ter alguém tagarelando mais que sua filha, além do que o inglês de uma delas era totalmente confuso. Depositou uma esperança na última babá que atravessasse aquela porta, já que o cansaço tomava conta dele e era difícil imaginar outra seleção e mais dias sem auxilio para cuidar de Mia.

As batidas suaves na porta de sua sala indicavam que a última candidata estava pronta.

- Entre – Sasuke disse com um pouco de rouquidão na voz, fazendo Karin que estava atrás da porta ter alguns delírios insanos.

Erguendo os olhos, viu uma imagem mediana adentrar na sala, usando jeans, botas e um suéter rosa claro.

Diferente das duas velhas que passaram por ali, esta parecia ser genuinamente nova e tinha cabelos longos que batiam levemente abaixo de seu busto. Sua pele, branca e fina, dispensava o uso de maquiagem, mas foi a cor dos olhos grandes que o impressionou: de onde estava poderia jurar que ela era cega. Mais de perto ele pode distinguir o tom perolado deles.

Sasuke se endireitou na cadeira e acenou para o lugar a frente de sua mesa, indicando onde ela deveria se sentar. Observando atentamente os passos da mulher, percebeu que eram firmes e ela tinha uma postura perfeita.

O susto de Sasuke veio logo em seguida, quando ouviu a voz que mais parecia sinos tocando a canção de ninar preferida de Mia.

– Boa t-tarde. S-sou Hinata Hyuuga.


N/A:

*Prêt-à-porter: Pronto para vestir. No caso da frase no texto, seria 'pronto para usar'

**À l'heure du repas: A hora do rango.

***Avec le secours de Dieu, Tenten, SE TAIRE!: Com a ajuda de Deus, Tenten, CALA A BOCA!

UHU! Chega de Sasuke-o-garoto-mau-da-história! Vamos deixar o coitado ser um pouco feliz na busca de um amor *.*

Na pontinha dos pés é um romance açucarado, em que Sasuke no fim de carreira – sim, 28 anos e com uma filha – ainda é amargo pela falta de mulher descente. Eis que aparece Hinata-linda-que-combina-com-todos, porque venhamos e convenhamos, Hinata faz casal com quase todos do anime \o/ - quem pode, pode. Eles vão se envolver eternamente, porque eu gosto de finais felizes. E Mia? Bom, ela foi uma válvula de escape para esta história não ficar idêntica a algumas (especificamente 57415268) fics de romance! E se tiver igual, por favor avisem.. é impossível descobrir isso sozinha.

Mas eu gostei dela existir, Mia vai ser muito importante para o inicio do romance e ela é fofa (: O local da história se passa em Montreal, onde basicamente é a cidade do Canadá onde mais se fala em francês. E também é uma das mais bonitas (:

Mas tá tudo certo, porque esse só foi: Considerações Iniciais!

Próximo capítulo: O bailar de seus olhos.

Espero que alguém leia toda essa asneira :D e mande reviews CLARO *-*