Disclaimer: Harry Potter e todos seus personagens não me pertencem, e eu não ganho nada com isso aqui.
Rebeca, é sua.
MUROS
Seu cabelo é fogo do inverno,
Brasas de janeiro.
Meu coração também se queima nele. ¹
Tem um muro alto em sua volta.
Ele não existe de verdade, você sabe. Porém, a sensação de claustrofobia, essa sim, existe, e a escuridão proporcionada pelo muro também. É difícil falar com um muro em volta de si. Você abre a boca e volta a fechá-la. Abre-a e a fecha. Limpa a garganta e tenta mais uma vez, e... nada. Não sai som de sua boca.
Você não pode falar – não com um muro alto em sua volta –, você só pode ouvir e ouve.
Ouve seu pai gritando e tem a certeza de que ele poderia muito bem ser um dragão cuspindo fogo. Ouve os resmungos de sua mãe e acredita que ela, também, poderia muito bem ser outro dragão engolindo o fogo. E você sente um calafrio e se afasta. Dragões são seres perigosos, queimam as pessoas em volta. São seres teimosos e difíceis de conviver. São solitários e não conseguem viver em grupos sem criarem rixas internas que façam com que cabeças rolem aos seus pés. Seus pais, criança, você sabe, eram dragões disfarçados de pessoas normais (ou não). E você também sabe que, para viver com um, é preciso de um muro enormemente forte para se proteger das bolotas de fogo arremessadas pelos mesmos; você criara o seu.
E isso o confunde.
-x-
Você tem nove anos e seu próprio muro em volta.
Você não gosta de ficar em casa; seus pais (dragões) lhe perturbam com tanta gritaria e ofensas (bolotas de fogo). Sua casa tem cheiro de mofo e intriga e frutas podres. Os tijolinhos, que eram as paredes, são decorados com transgressões e discórdia em formas de livros com capas escuras. Você acha que esse não é um lugar certo para uma criança morar. Há guardanapos em cima da mesa e você se perde em meio aos desenhinhos no pedaço de pano; pensa em como seria bom se seu pai calasse a maldita boca e, ao mesmo tempo, se repreende por tal pensamento - não devemos pensar coisas assim de nossos pais.
Você sai de casa. O muro em sua volta lhe dando a (falsa) sensação de proteção.
O caminho pela Rua da Fiação ao parque no final da mesma é curto, dá para andar sem prestar atenção em sua volta. No chão há pedrinhas de formatos estranhos; você as chuta e ouve sons engraçados. Não fala nada. A vizinhança esta calma, e há um vento soprando seus cabelos tão pretos em seu rosto. Há um sol, também, mas ele é fraco e não ultrapassa seu muro. Tudo é vago - e você tem a impressão de ser tudo uma ilusão, talvez seja, não é?
.
Há um parquinho no fim da rua e você repete como um mantra: 'Que não haja ninguém lá; por favor, por favor, por favor, por favor...'; pessoas estranham seu grande muro, fazem-lhe perguntas que você não quer responder e nem pode pois não possui as palavras certas.
Mas, hoje, ninguém perguntará nada, você pensa. Continua seu caminho até o parque, com seu objetivo direto de se sentar em um dos balanços enferrujados que fazem um som estranho com o atrito dos metais, e não pensar em nada.
-x-
Há um tijolo faltando em seu muro.
Você não sabe quando isso aconteceu; ele estava lá firme e, quando você se deu conta, ele havia sumido. O sol, agora, entrava por entre esse buraco atingindo sua face e o fazendo levar uma mão à testa para tampar seus olhos acostumados com o negrume; há partículas de pó levitando de suas roupas e flutuando em direção à luz. Você não tem certeza, mas acha que a culpa "da queda de seu muro" é por causa dela.
Quando chegou ao fim da rua, toda sua suplica caiu por terra. Inferno, havia gente no parquinho. Você não via as pessoas ainda, porém, podia ouvir-las bem. Eram duas meninas e ao redor delas não havia muros, havia risadas.
.
Ela tinha os cabelos mais vermelhos que você já tinha visto, doíam os olhos, eram vivos demais e você quase podia jurar que eles tinham uma vontade própria e aristocrática. A pela dela era branca e suas bochechas estavam vermelhas pelo que parecia ser adrenalina; ela provavelmente tinha a sua idade, nove ou dez anos, porém, não dava para ver muito bem, havia uma boa distancia entre vocês. A saia de seu vestido rosa se agitava conforme o movimento do balanço. Havia outra garota mais velha com ela que você não se lembra como é, e nem se importa.
A distancia entre vocês era latente. Começava com o fato dela nem saber quem você era, passava pelos seus pais-dragões e terminava com um arbusto onde você se escondia. Já havia um muro ali para separar-los.
-x-
Há uma incerteza pairando sobre a sua mente.
Frase aqui que não possuiu nenhuma explicação, porque não há nenhuma clareza. Você sente-se seguro com seu muro, mas, ao mesmo tempo, sente vontade de derrubá-lo. Queria trazer mais uma pessoa para dentro da proteção que o muro lhe proporcionava, mas não há espaço. Você tentou com toda possibilidade que havia para tentar adaptá-lo, mas muros são objetos egoístas, individualistas demais. São feitos a base de orgulho, e orgulho é uma rocha razoavelmente forte. Você até tentou pedir 'hey, por favor, compreenda-me.', mas não adiantou.
Você ainda estava se escondendo atrás do arbusto quando a viu fazer um pequeno truque de mágica, tão pequeno e inofensivo, mas para você valeu tudo. Ela era igual a você e a sua mãe, também era bruxa. E isso o deixou feliz. E fez com que caísse mais um tijolo de seu muro. Você não estranhou dessa vez, um tijolo a menos seria ideal para você poder vê-la melhor. Saiu de trás do arbusto e ouviu a outra garota gritar-lhe algo, mas não se importou.
.
Ela está ao seu lado, está lhe perguntando coisas sobre o mundo bruxo, você lhe fala tudo o que sabe, e ganha como brinde um sorriso com dentes bonitos e lábios rosados. Você sabe que ela é Lily e ela sabe que você é Severus, e isso está bom para você. Vocês são só duas crianças, entre as casas na Rua da Fiação, e você não sabe o porquê, mas sente seu peito queimar porque ela está próxima demais de você.
-x-
Você não sabe se ela via o muro em sua volta.
Ele está lá lhe protegendo, porém, ele é invisível. Mas algo lhe diz que ela conseguia vê-lo. Talvez, fossem os olhos dela; tão verdes, tão vivos, e, tão, tão penetrantes. Você, no início, achava que ela tinha algum tipo de dom, mas depois esse pensamente se perdeu. Você notou que ela era a única que, não só notava, mas tentava quebrar esse muro – e isso lhe reconfortava.
Os cabelos vermelhos dela caíam por suas costas como cascatas, a lateral do braço dela esbarrava com a lateral do seu braço toda vez que ela, enquanto falava, fazia algum gesto expansivo e você sentia um calafrio por isso. Eram situações totalmente novas para você, você nunca havia sentido isso por ninguém, você só tinha nove anos.
E isso assustava.
E te afastava.
Um passo ao lado e seu autocontrole ligado, obrigado.
-x-
Ela gostava de ouvir histórias sobre Hogwarts e sobre o Ministério da Magia, e você gostava de contá-las. Ela tinha um perfume agradável; tinha cheiro de alguma flor e você sabia que ela gostava de perfumes e decidiu, dessa maneira, que um dia criaria um perfume muito gostoso e daria de presente a ela.
O sorriso dela era o mais divertido que você já vira; você um dia se atreveu a falar isso para ela e ela, rindo, lhe responderá que você não tinha visto muitos sorrisos por aí. Ela estava certa, afinal. Lily sempre estivera certa – mesmo que fosse você o contador de histórias.
Com Lily, suportar os dragões em casa já não era problema. Nem seu muro que, a cada dia, ia diminuindo.
-x-
Você a amava.
Não que você saiba, na realidade, o que é esse sentimento. Mas, sabe que por ela você destruiria todo o muro ao seu redor. Abriria mão de seu abrigo seguro e tão amado por ela, e lutaria com todas as forças para construir um em que caibam os dois.
Era um bom sentimento, você só não conseguia lidar com ele.
Nem com a distância entre vocês dois.
Entre você e ela sempre havia certa distancia, como se o universo inteiro fosse criado simplesmente com o propósito de separarem vocês. A distancia era como se fosse um muro enorme: construídos com tijolos sujos, rebocado com orgulho, e sua base era o preconceito. O muro continuava ali, afinal, mesmo que ela estivesse sentada ao seu lado, seus braços se roçando e o perfume dela lhe embriagando, mesmo você a amando, havia a distancia. Ela nunca estava próxima demais. Você não podia tocá-la, não podia alcançá-la. Não podia saber se, ao tocar em seus cabelos cor do fogo, as pontas de seus dedos iram queimar com o contato, como você sempre imaginava. Sempre haveria um muro para envergonhar-te, e que, mesmo com seus esforços para derrubá-lo, insistia em existir.
Isso era triste, e você não gostava disso.
E, também, não compreendia.
Aquele muro era a sua forma de se proteger, de se esconder. Era apenas atrás dele que você se permitia a fraquejar.
-x-
Seu muro agora era criado à base de arte das trevas, gritos, casas diferentes, anos que se passaram, mentiras e uma marca estranha em seu braço.
Você viu a distancia entre vocês aumentar; viu e tentou olhar para os lados, tentou ver se havia alguma saída, mas não havia nada. Havia muros, e você se escorou neles e em sua infelicidade apodrecida. Ela já não era mais a Lily que você conhecera naquele antigo parquinho na Rua da Afiação. Ela agora era Lily Potter, casada e muito feliz com o maldito Potter. Para ela, alguma coisa lhe sussurrava em seu ouvido, não havia mais Severus Snape.
Esconder-se atrás de um muro – mesmo que não literalmente –, se tornara um hábito que acompanhou Snape pelo resto de sua vida. Sempre haveria um muro; tanto pelo lado Voldemort, tanto pelo lado Dumbledor.
Mas, tudo ainda é vago, não é?
Sim, é tudo vago e nada existe.
FIM.
Ei, Rebeca, essa fanfic é sua. A menina que ama tanto o morcegão carrancudo e que adora tudo relacionado ao mesmo. E eu espero que você não me bata depois de terminar de ler ela. Eu estava tentando criar um haikai com um pedido de desculpas a você, mas, obviamente, não deu certo, bláh!
A cerveja amanteigada aqui em casa ainda está de pé.
Eu amo você.
¹ - 'A Coisa - Stephen King'. Ben escreve esse haikai para a Bev, e toda vez que eu leio essa parte do livro eu lembro do amor do Snape com a Lily.
Nota da Autora: Na realidade, eu não sei como essa fanfic saiu. Eu tenho pouco ligação com esse casal e tudo o mais, e não sei se escrevi algo errado e nem sei se alguém vai conseguir entender tudo o que quis passar por meio dessa fanfic.
Ok, explicando: eu queria escrever algo sobre o Snape. Algo sobre sua infância, e, se tem infância e Severus numa mesma fic, acredito eu, que essa envolve a Lily. A fanfic retrata isso: a infancia de Snape e sua paixão pela Lily, e, ao mesmo tempo, a distancia que existia entre os dois. Eles eram amigos, sim, eram, mas eu acho que nunca chegaram a serem próximos como, por exemplo, os marotos. E eu acho que isso tudo é pelas barreiras impostas por tudo, como um muro os separando. É, foi daí que a fanfic saiu.
A fanfic ficou estranha, eu particularmente achei estranha, mas... reviews?
