N.A. - Eu sei que deveria continuar algum dos fics em aberto antes de começar um novo, mas é irresistível. Isso não quer dizer que não terminarei os outros. Estou escrevendo e atualizarei assim que terminar algum capítulo. :D

Por enquanto, só posso pedir paciência, e desejar que gostem dessa nova história.

Beijos,

O prólogo é resposta ao desafio 140 Temas do Fórum Mundo dos Fics. - Sim, apenas o prólogo é a resposta. - Para o tema 'escuridão'.



Until Death

Prólogo

Existem vários tipos de escuridão em nossas vidas.

Algumas surgem naturalmente, e se vão depois de algum tempo.

Outras são duradouras e profundas, e não importa o que se faça, você não consegue se livrar delas.

Eu invejo a escuridão da noite, porque ela se acaba com o primeiro raio de sol tocando a Terra.

A minha escuridão, é eterna.

oOoOoOoOoOo

Kagome Higurashi tivera a vida perfeita até completar dezesseis anos. Havia problemas em sua vida, mas isso não era diferente do resto das pessoas, e sempre podia contar com sua pequena família para superá-los.

Sorria para as amigas que a cercavam a cada manhã na escola, oferecendo ajuda para os deveres, compartilhando as últimas fofocas, suspirando por este ou aquele garoto perfeito.

Sua vida era perfeita, normal, rotineira, e isso as vezes a deixava chateada, desejando ser diferente de todas as outras pessoas. Desejando ser mais do que apenas mais uma.

Sim, sua vida era perfeita, e ela deseja coisas impossíveis, pensando que isso a tornaria realmente feliz.

Quando ela se tornou especial, quando tudo o que desejava se realizou, ela percebeu sua tolice, e desejou voltar ao tempo que era 'apenas mais uma'...

Era tarde demais.

Não havia mais o riso infantil do irmão caçula preenchendo o silêncio da pequena casa, os resmungos do avô por coisas inúteis, ou os conselhos estranhos de sua mãe. Tudo havia se perdido.

Não havia mais luz em sua vida, apenas medo, sofrimento e solidão.

Naquele momento, poucos meses depois de seu aniversário ela pensou que tinha perdido tudo, mas estava errada.

Cansada demais de viver fugindo, ela voltou ao colégio, desejando apenas poder, por alguns momentos, voltar a sua vida perfeita e despreocupada. E foi nesse momento, que tudo realmente desmoronou.

oOoOoOo

InuYasha abriu os olhos para a escuridão.

Por um momento imaginou que lugar seria aquele onde nem um minúsculo raio de luz entrava, mas a dor persistente em sua têmpora o fez esquecer-se do assunto.

Piscou, erguendo a mão para tocar o local, franzindo o cenho ao sentir a bandagem sobre seu rosto.

Tentou se sentar e foi impedido por mãos fortes, empurrando-o de volta ao chão. Ele lutou, ou tentou, para se livrar, mas foi inútil. A única coisa que conseguiu foi descobrir que haviam mais pontos doloridos em seu corpo.

- InuYasha... Fique calmo.

Ele reconheceu aquela voz. Feminina e doce, apesar de dura.

Parou de lutar, e um suspiro aliviado chegou a seus ouvidos em resposta.

- Sangô... - Mal reconheceu a própria voz, naquele som grotesco e rouco.

- Vai ficar tudo bem.

- Kikyou... Ela... Está bem? – Cada palavra fazia sua garganta doer. – Sangô?

- Descanse.

A voz da garota mudou, tornando-se dura e seca. Ele reconhecia esse tom, ela só o utilizava quando estava chateada.

- Sangô... Onde... Onde ela está?

- Ela está bem.

- Mentira.

- Volte a dormir.

InuYasha fechou os olhos, cansado demais para continuar tentando. Poderia arrancar a verdade dela depois quando seu corpo não doesse tanto, e cada palavra não fosse tão difícil de pronunciar.

- Sangô? – Um rapaz moreno chamou da porta, recebendo um olhar irritado em resposta. Lançou um olhar para a figura deitada na cama, antes que a garota passasse por ele e fechasse a porta do quarto. – Quando vai contar a ele?

- Quando chegar o momento.

O rapaz baixou a cabeça, observando os próprios pés com grande interesse. Sabia que ela tinha razão, não faria bem algum a InuYasha descobrir o que tinha acontecido com Kikyou, mas mesmo assim...

- Eu sei o que pensa. – Sangô falou em voz baixa, encostando-se à parede. – Já discutimos isso antes.

- Eu sei. – Ele respondeu simplesmente, erguendo a cabeça para observar a expressão cansada da garota. – Eu sei que não adianta incomodá-lo com a verdade agora.

- Miroku... – Sangô virou o rosto para o rapaz, sem esconder a tristeza que sentia. – Nós quase o perdemos também... Eu... – Ela parou de falar quando o rapaz a abraçou com força.

- Eu sei. – Ele repetiu, baixando a cabeça para depositar um beijo leve na testa da garota. – Eu sei.

Sentiu os braços de Sangô rodearem sua cintura, e o corpo delicado estremecer entre seus braços quando ela afundou o rosto em seu peito, deixando que as lágrimas finalmente fluíssem. Lançou um ultimo olhar para porta, acariciando suas costas em uma tentativa muda de consolá-la.

- Você está certa, Sangô. – Murmurou, abraçando-a mais forte. – Vamos esperar até que ele se recupere.

Não havia nada que pudesse ser feito agora.

oOoOoOo

Kagome sentia o rosto inchado pelas lágrimas que derramara nas últimas horas. Não chorava por si mesma, ou pelo destino incerto que teria, e sim pelo que sua inconseqüência tinha causado. Uma parte de sua mente dizia que era a culpada por tudo, desde o primeiro momento, afinal não passara os últimos anos desejando ser 'especial'?

Esfregou os olhos, abraçando o próprio corpo com mais força, sentindo o ar gelado rodeá-la. Sim, era culpada.

Antes ela ainda podia acreditar nas palavras do Avô quando lhe dizia que era seu destino ter aquele poder. Vinham de uma antiga linhagem de sacerdotisas, ela não tinha culpa se depois de cinqüenta anos os poderes voltaram a se manifestar.

Só que eles estavam seguros, até sua pequena saída naquela tarde. Fora egoísta, e apesar dos avisos da mãe, deixara a pequena casa no interior e fora de trem até sua antiga escola. Tudo o que queria era reencontrar seus antigos colegas, e por algumas horas esquecer que passaria o resto da vida fugindo e se escondendo.

- Perdoem-me.

Ela fechou os olhos, desejando poder voltar no tempo e não deixar a casa naquela manhã, mas sabia que era um pensamento inútil. Não havia nada que pudesse mudar seu destino... Ou o deles.

- É tudo minha culpa.

Estremeceu, lembrando-se daquela tarde. A reação dos 'amigos' ao vê-la, o desconforto palpável com que sentira enquanto conversavam, a chegada do carro negro, e como todos haviam lhe dado as costas enquanto era puxada para o interior do veiculo.

Por alguns momentos pensara que poderia dar um jeito em tudo, escapar e avisar a família... Fugir novamente, mas fora tudo em vão. Sentira o coração falhar ao reconhecer a rua que percorriam, e as casas do local que pararam.

Sua mente gritara, indignando-se com o que acontecia. Sua mão tocara a maçaneta da porta inutilmente antes que uma detestável voz masculina lhe informasse o que aconteceria se tentasse impedi-los.

Pudera ver pela janela do carro em que a mantinham presa, sua família ser colocada dentro de um furgão.

Tentara correr de encontro a eles, mas a mão apertando seu braço violentamente fora um lembrete de que aquilo seria um erro. Fora avisada do que aconteceria se tentasse fugir ou ajudá-los a escapar.

As lágrimas borraram sua visão enquanto a porta do furgão era fechada e a ultima coisa que viu foi o irmão chorando de encontro ao peito da mãe. Soube naquele instante o que lhe custara sua pequena imprudência: Não apenas acabara com o que lhe restara de felicidade, como também condenara sua família.

Nunca mais os veria.

Nunca mais desfrutaria daquela rotina de discussões alegres durante as refeições.

Nunca mais seria feliz.

Tudo o que lhe restara era a escuridão.

(Continua)