O céu sobre a Terra é cinza e escuro.
Abaixo dele, há uma floresta densa, cheia de árvores verdes.
Mas não se ouve um pio de animal.
É dia, mas os animais não acordam.
O clima é fúnebre.
Eis que no meio da floresta se ergue uma montanha majestosa, um vulcão.
Mas os animais fugiram, na medida que a montanha ronca, demonstrando que talvez esteja perto de explodir.
Mas há um animal que não se importa com isso.
Há quem diga que o bicho homem é único em que ele se aproxima do perigo por um desejo de se arriscar.
Mas não é isso que move a figura sombria se arrastando pela montanha, empurrando um caixão.
É a tristeza que se vê de alguém que perdeu uma pessoa com quem se importava.
Ele se cobre com uma capa preta, representando seu luto.
Mas ninguém mais sentiu luto pela pessoa no caixão.
O homem para por um momento, seus olhos amarelos fitam a superfície de madeira, e as memórias vem á tona, como ecos.
Ela queimou a cidade inteira e você quer perdão?"
"Você não viu ela fazer isso."
"Eu preciso de uma explicação?"
"Nenhum sobrevivente. Apenas ela. Eu vi o que essa garota pode fazer. E...olhe pra ela!"
"Hihihih...hahahahah!"
"Ela não tem consciência do que está acontecendo!"
"TUDO ACABA, AQUI E AGORA!"
O áudio é cortado e o vento correndo a montanha é novamente a única coisa que ele ouve.
Então ele coloca as mãos no caixão novamente e continua a empurrar.
A subida e lenta, tediosa até. Demoram minutos, talvez uma hora, até ele chegar ao topo.
Eles negaram a ela um enterro, então ele apenas achou apropriado deixar que a Terra a engolisse, literalmente.
Ele respira um puco ao chegar a borda.
Então, quase que sobrenaturalmente, ele sente a presença esguia de outro indivíduo.
Ele põe a mão a cintura para tirar a espada curta, mas a boca de Yuuki Terumi se abre mais rápido.
"Olá."
O homem permanece silente.
"Belo caixão, eh? Fez você mesmo?"
O silêncio permanece do outro lado.
"Oh qualé, porq..."
"O que você quer?" diz a figura sombria, interrompendo Terumi.
"Uma ajuda. Uma aliança."
"Aliança?" diz o homem, incerto sobre o propósito das palavras da cobra.
"Oh, você é surdo ou o quê? Uma aliança, é claro!"
"Nada que você diz é claro." responde a figura pálida.
Terumi sorri. Isso é verdade. Ele nunca é claro.
"Você quer se vingar de Hakumen, não quer?"
O homem de negro afia os olhos.
"Pensei que você e Hakumen..."
"Oh meu amigo, vã engano. Eu odeio ele. Aquela coisa com a Besta Negra foi obrigação, não companheirismo."
Terumi passa a mão pelo pescoço.
"Muita obrigação."
O homem coloca a espada na cintura novamente.
"Então, amigos?" diz Terumi, estendendo a mão.
O silêncio dura mais alguns ansiosos segundos, mas a figura pálida acaba falando antes de Terumi desta vez.
"Aliados."
Terumi ri, e colocas mãos pro alto, quase como um noivo feliz pela noiva ter aceitado o pedido de casamento. Sua alegria contrasta pesadamente com...basicamente tudo ao redor. O vulcão furioso, o homem triste e principalmente o caixão.
"Bom,bom,bom. Sabe, eu não gosto de ter amigos mesmo. Sempre uns parasitas." diz ele, sorrindo.
Você parece ser um parasita, pensa a figura pálida.
"Pode me ajudar a derrubar o caixão ao menos?" diz o homem de negro.
Terumi para de rir, mas continua sorrindo, e não se importa muito.
"É claro. Tudo que for necessário para o meu novo parceiro." diz ele, erguendo os ombros.
Sem muita dificuldade os dois empurram o caixão, que cai no vazio.
Terumi olha para a névoa e se vira para a figura pálida, pensativo.
"Então, porque aqui?"
"O fogo queimará e purificará seus pecados." diz o homem sobriamente.
"Pensei que você achasse que ela fosse inocente." responde a cobra.
"Nós somos nascidos pecadores, Terumi. É o peso de Eva."
Foi a vez de Terumi ficar silente.
O silêncio permaneceu por vários minutos.
Percebendo que Terumi por alguma razão ainda parecia refletir sobre algo, a figura de negro quebrou o silêncio.
"Então, qual é o plano?"
