The Forgotten
Draco não sabia que Hermione tinha apagado a memória de seus pais e os mandado para a Austrália.
Se soubesse, teria achado muito irônico.
E era, realmente, irônico, pois eles tinham sido obrigados a ir até lá e a esquecerem para se protegerem de uma dor que não era deles.
Ele estava lá tentando esquecer-se de uma dor que era tão profundamente sua que não poderia dividir com mais ninguém.
Draco se obrigava a esquecer sozinho e em silêncio.
Quem entenderia?
Seus pais não entenderiam.
Theodore não entenderia.
Blaise não entenderia.
Goyle não entenderia nem que fosse muito simples.
Pansy não o entenderia - e o odiaria.
Ninguém a não ser ele sabia o que era ter amado o inimigo e sido esquecido como em um passe de mágica.
Justamente em um passe de mágica.
Pois essa era a grande habilidade de Allecto Carrow, alterar memórias.
A última e maior punição para o garoto que traíra sua causa, sua casa, seu sangue.
Para o garoto que ousara perder-se nos olhos, braços e lábios de Ginny Weasley, que ousara se apaixonar por seus cabelos ruivos, que ousara ficar ao seu lado independente do que acreditasse.
Eles acreditavam em coisas tão diferentes. E tinha sido tão difícil fazer aquilo funcionar. E quando finalmente pareceu que sairiam do purgatório para uma nova aurora, uma nova vida, um amor gritado aos quatro ventos, surgira Alecto com seus olhos atentos e fizera tudo desaparecer.
Draco poderia até ter procurado uma forma de mudar aquilo, de ganhar o que perdera, mas os lábios de Ginny encontrando os de Potter e o brilho nos olhos dela doiam demais. Ele a amava demais para tirar dela seus sonhos de contos de fada, e se tivesse que sofrer por isso, sofreria.
Tentou se convencer que realmente não teria dado certo.
Tentou se acostumar a idéia de que ela seria feliz mesmo assim.
Tentou acreditar que era um altruísta.
Mas ele sempre fora um egoísta covarde - como ela fazia questão de lembrar - e só todas as terras e mares do mundo poderiam fazê-lo manter sua decisão.
Draco seria esquecido por Ginny, e talvez um dia, a esquecesse também.
Ele sentava-se por toda a tarde na praia cheia de gente. Via sorrisos, brincadeiras, crianças, ondas, mas não via nada.
Estava rodeado de gente, mas estava sozinho.
Era ele e a areia quente embaixo de seus pés, a imensidão azul que se perdia em profundezas tão grandes quanto a de seu desespero.
Seu corpo estava dourado, seus cabelos estavam secos, sua pele estava salgada pelo beijo constante da maresia.
Mas ele não fazia nada para mudar aquilo, apenas observava o mar e as areias, e a vida que passava por ele sem encostar.
Esquecido.
Para sempre.
