Para o Outsiders Inside (Verão) da seção R/Hr do fórum Seis Vassouras.


Das cores que eu odeio

Por um instante eu não me lembrei que havia mais alguém dentro de casa. O barulho de algo muito duro e pesado quebrando no andar de cima me fez sair correndo com medo de supostos ladrões, já que meu marido tinha levado minha filha no hospital – ela parecia muito doente no último mês e o pai não confiava em curandeiros do hospital St. Mungus.

Era o primeiro ano de casamento dela, e as primeiras férias que eles passariam na nossa casa de praia.

Eles. O garoto da cabeça laranja veio junto.

Nunca consegui me acostumar com ruivos dentro de casa. Deixe-me explicar: meu marido e eu temos cabelos castanhos. Minha filha também. Meus vizinhos, em sua maioria, também são morenos. No máximo dos máximos tem uma família de louros que mora na mesma rua que nós. Conheci poucos ruivos.

E todos, todos me deram problemas.

Meu primeiro professor de Educação Física era ruivo e foi por causa dele que eu ganhei uma espécie de tique nervoso que me faz ter falta de ar sempre que penso em correr. Meu primeiro namorado era ruivo, e ele me traiu com outra que tinha cabelos pintados de laranja. Meu primeiro chefe era ruivo e me demitiu por injusta causa.

E agora o meu genro – ruivo, óbvio – resolveu quebrar a pia do banheiro.

Não precisei chegar ao andar de cima para tirar essa conclusão: já tinha água na escada. No lugar onde devia estar a torneira havia um grande jorro de água, que Ron tentava estancar em vão com a toalha de rosto. Ele e todo o meu banheiro pareciam prestes a se afogar.

- Oi, senhora Granger! – ele exclamou, sem me olhar, ainda segurando a toalha. Suas orelhas estavam vermelhas. – Se eu disser que com todo esse calor seu banheiro resolveu tomar um banho... você acredita?

Contei até dez milhões, de olhos fechados, respirando profundamente, antes de descer as escadas, desligar o registro e encontrar as ferramentas. Não adiantou muito pois, afinal, quem disse que ele sabia usar as ferramentas?

Primeiro ele tentou usar o martelo para encaixar a torneira no lugar. Depois, a chave inglesa para bater a torneira em cima do espaço vazio na pia. Estava tão quente que lentamente a água do banheiro ia secando – e nós começamos a suar demais.

Ficamos muito, muito tempo tentando consertar aquilo e eu só conseguia pensar que apenas um maldito ruivo poderia acabar com o meu sossego no sábado pela manhã.

E então ele me olhou.

- Você poderia... sair de casa? – perguntou, sorrindo, o rosto banhado em suor.

- O quê? - ótimo, o ruivo queria que eu saísse da minha própria casa!

- Se você não estiver em casa... eu posso usar magia parar consertar... – olhando para os tapetes, completou. – E limpar!

- Você está me dizendo... - a história de respirar fundo e contar até dez milhões já tinha ido para o espaço. – Que nesse tempo todo você poderia consertar com magia... e não fez?

Ele coçou a nuca, totalmente sem jeito e deu de ombros, sem saber o que falar. Eu suspirei alto e saí do banheiro, furiosa. Por que diabos ela tinha que casar com um ruivo?

- Ei, senhora Granger! – ele me chamou, antes que eu alcançasse as escadas. Tinha os pés molhados, o rosto suado, as ferramentas na mão e o rosto tão vermelho quanto os cabelos. – Desculpa pelo seu banheiro. – e sorriu, envergonhado.

Então eu notei que ele tinha olhos azuis. Sempre me dei bem com gente de olhos azuis. A professora de biologia que me apoiou quando eu quis ser dentista tinha olhos azuis. Meu primeiro paciente tinha olhos azuis. Meu marido tinha olhos azuis.

Dei de ombros e sorri, descendo as escadas para deixá-lo fazer magia. Ronald não era tão ruim assim. E eu fiquei feliz quando Hermione, voltando do hospital, disse que estava grávida. Não seria mal ter alguns netos ruivos.