Protection.
'Sangue-ruim'.
'Vamos, Sev, diga! Ela é mesmo uma sangue-ruim! Diga'.
' Severus, você é um sonserino, não se misture com essa escória'.
' Severus, diga. Diga agora'.
O menino de cabelos negros escorridos mantinha-se atado à idéia de que dizer aquilo implicaria em nunca mais ter a amizade de Lily, porém sentia-se tentado a fazê-lo – o ódio o fazia perder um pouco da racionalidade e, novamente, era tudo culpa do Potter, aquele que nunca deveria ter cruzado seu caminho; o caminho que deveria seguir com Lily, e apenas ela.
Mas ali estava, rodeado por pessoas que nem sequer eram suas amigas, que não podia chamar de colegas, mas que, de certa forma, estavam certas. Ela era aquilo mesmo, e merecia terminantemente uma lição por desmerecer sua atenção em troca da do outro moreno – o de óculos horríveis e cabelos despenteados que o deixavam ridículo.
A ruiva permanecia com os olhos pregados nos do menino, que se perdia em pensamentos. Encolhida entre uma árvore e as agressões, não se incomodava com aquelas palavras rudes. "São sonserinos. Não se pode esperar mais do que isso", pensava. O que deixava aquele coração tão apertado era o fato de que aquelas pessoas estavam impelindo um de seus melhores amigos a dizer coisas tão rudes. E caso ele o fizesse, Lily não seria capaz de perdoá-lo. "Amigos não traem e não magoam".
Pensando em tudo o que sentia, no quão furioso estava por não ser mais detentor de toda a atenção de sua ruiva, Severus deixou-se tomar pelas emoções, e, pela primeira vez, não deu ouvidos a sua razão – justamente nesse momento, no qual não poderia tê-la abandonado.
'Lily, sua sangue ruim'.
E o prazer perverso que a menina viu nos olhos de seu ex-amigo foi tão puro e verdadeiro que compreendeu, de vez, o porquê de ele estar na Sonserina, e não na Grifinória. Severus não era mal, não era cruel, mas poderia ser. Bastava um incentivo, uma fagulha.
'Nunca mais dirija a palavra a mim, Snape'.
Antes, porém, que o menino se desse conta do que havia dito e que pudesse se desculpar, e antes que Lily pudesse se virar para nunca mais encará-lo, um raio azul passou por si, muito perto de sua cabeça, e foi atingir em cheio a boca do sonserino. Os lábios que antes proferiam ofensas agora não poderiam proferir nada – estavam colados. Surpresa e controlando o riso, Lily virou-se a tempo de ver James Potter, seguido de Sirius e Remus, aproximar-se ameaçadoramente do grupinho que a cercava – o qual foi rapidamente disperso, afinal, aqueles três meninos eram conhecidos no castelo pela agilidade que tinham com feitiços (e com peraltices).
'É bom nunca mais falar assim, Snape, ou da próxima corto sua língua fora'.
E o garoto prostrou-se à frente da ruiva com tamanha decisão que fez o moreno de cabelos escorridos e nariz grande demais dar no pé o mais rápido que pode, com os olhos arregalados de medo. Sirius e Remus ainda ficaram a caçoar dele, falando sobre o quão feio era, o quão desleal e seboso. James, ignorando os amigos, virou-se para se certificar se a ruiva estava bem.
'Obrigada, James.'
E foi naquele olhar que trocaram que o menino percebeu que poderia protegê-la do que fosse, apenas para vê-la sorrindo. Lily, por sua vez, embora desaprovasse na maior parte do tempo os comportamentos do menino Potter, sentiu que, ao seu lado, perigo algum correria. Ele, como pensou, seria seu protetor. E gostou da idéia de que não estaria sozinha, desde que ele estivesse ao seu lado. Ele, e seus dois fiéis escudeiros. Estariam juntos, todos eles. Dessa forma, nada os poderia abalar.
